sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Revista de blogues (11/1/2013)

  • «(...) Um cão de uma raça perigosa matou uma criança de 18 meses. Foi decidido o seu abate. 11 mil pessoas assinaram uma petição para impedir uma decisão (...) de evidente bom senso. (...) A decisão de abater um cão não é uma forma de fazer justiça (por isso os motivos pouco interessam), mas de segurança. Escrever que "a criança e o cão são os dois inocentes desta história" é pornográfico. Crianças e cães, para os humanos, não estão no mesmo nível. Nenhum animal é abatido por ser "culpado" de nada. Até porque tal conceito é inaplicável a não humanos. Um animal doméstico, se se revelar perigoso para os humanos, não pode conviver com eles. É apenas disto que se trata e não de qualquer ato de justiça. Os donos e pais foram negligentes? Isso sim, resolve-se na justiça. O abate do cão é outra coisa: um cão que mata uma criança com quem convive deixou de ser um animal doméstico. Porque o que o torna doméstico é ser controlável por humanos. (...) Diz a petição: "Se não se abatem pessoas por cometerem erros, por roubarem, por matarem...então também não o façam com os animais!" A comparação é de tal forma grotesca que chega a ser desumana. Eu sou contra a pena de morte. Eu como carne de animais que foram abatidos. Serei incoerente ou limito-me a não comparar o incomparável? Os animais não têm, para os humanos, o mesmo estatuto das pessoas. E quem acha que têm não percebe porque consideramos a vida humana um valor absoluto e indiscutível. Resumo assim: a vida do humano mais asqueroso vale mais do que a vida do animal doméstico de que mais gostamos. Sempre. Tendo tido (e continuando a ter) quase sempre animais domésticos (de que gosto imenso), parece-me haver em muitos defensores mais radicais dos direitos dos animais um discurso que relativiza os direitos humanos. Porque não compreendem a sua absoluta excepcionalidade.» (Daniel Oliveira)

4 comentários :

João Vasco disse...

Tenho pena deste blogue também ter dado os seus 5c sobre essa "grande questão nacional" que é o cão que vai ser abatido.

E logo pela mão do Ricardo Alves, que tantas vezes alerta para notícias importantíssimas às quais ninguém dá ouvidos, ignorando as "polémicas da moda".

Ricardo Alves disse...

João Vasco,
a existência de uma corrente política fundamentalista, bem organizada (conseguiu reunir 39 mil assinaturas em poucos dias), é preocupante. Neste blogue sempre se denunciaram todos os extremismos.

João Vasco disse...

«corrente política fundamentalista, bem organizada (conseguiu reunir 39 mil assinaturas em poucos dias)»

Provavelmente foram aquelas petições que se espalham na internet e se enchem em menos de um fósforo, não precisa de existir uma corrente muito bem organizada. Nem tem de ser fundamentalista, basta gostar mais de lamichices e menos de reflexão, que como se vê pelo facebook é uma situação muito comum.

E digo isto porque mesmo para quem dá valor aos animais, preocupar-se com este cão quando todos os dias se consomem toneladas de carne e leite com milhões de mamíferos a ser tratados toda uma vida em condições que a legislação poderia potencialmente alterar, é uma falta de sentido das prioridades e do que é importante que me choca deveras.

Mas o ser humano é assim: mais facilmente se consegue uma contribuição de 5e caso se diga que dá para salvar a vida da Martinha coitadinha com a fotografia lá espetada e um olhar doce e sofrido, do se for para salvar 500 crianças com os mesmos recursos. Não é invenção minha: isto já foi confirmado empiricamente. É triste mas é assim.

E eu, ao responder-te, fiz parte do problema ;)

Ricardo Alves disse...

João Vasco,
a petição pró-Isabel Jonet teve umas sete mil assinaturas. As contra a Isabel Jonet tiveram 3700 uma, e 1700 outra. E foram faladas nos jornais, na TV e no Facebook. A petição para que um cão comprovadamente perigoso seja morto já passou das 60 mil. Há aqui uma diferença enorme.

Quanto à humanização do cão que mata, sim, há muita pieguice há volta disso. E se não compreendes como é assustador, bem, nem sei que te dizer...