terça-feira, 30 de março de 2010

Juventude republicana

Com jovens assim, a República está segura(!). O discurso de proclamação da República do aluno Xavier Rodrigues, do 12º ano de uma Escola da Figueira da Foz, pode ser lido na íntegra no Almanaque Republicano. Aqui, fica só um excerto.
  • «Cidadãos!

    Depois desta noite de intensa peleja, começo por vos agradecer e vos saudar fraternalmente, em nome do Partido Republicano Português, pela vitória retumbante que alcançámos! (...) Foram precisos séculos para chegarmos aqui, a este dia em que nos libertamos finalmente deste regime de ignomínia, de arrogância e de tirania. (...) Amigos! No reino de Portugal a Lei é de estatura baixa - daí que não alcance a varanda de um palacete, nem suba as escadas de uma abadia, nem chegue às janelas de uma casa brasonada – mas tem altura para atormentar o povo, que no labor do dia-a-dia, anda pelas ruas rasas das cidades e dos campos. Mas de hoje em diante, a Lei estará por toda a parte, vertical e não inclinada; absoluta e não relativa; instrumento de união e nunca de segregação. (...) Meus irmãos! Somos os fundadores de uma Hora nova e, com ela, uma nova Nação! Hoje, Portugal afirmou que quer dar o salto. O salto do reino do opróbrio em que vivíamos, para uma Pátria em que a todo e mulher é concedida a dignidade de um cidadão. O grande salto da carruagem decadente da Monarquia para o comboio veloz da República, alimentado com o carvão da Democracia e sobre os carris firmes da Liberdade.

    Neste novo país, não há nenhum rei que não seja cada um de nós. Juntos, sentar- nos-emos no trono da Igualdade, gritando alto ao mundo que a nobreza não está na cor do sangue, mas no tamanho do coração.


    Viva Portugal! Viva a República!»

18 comentários :

Anónimo disse...

Só foi pena que, na verdade, nada tivesse melhorado e tudo tivesse piorado: liberdade de expressão, acesso ao voto, caciquismo, banditismo político, repressão religiosa, encerramento de sindicatos e deportação de sindicalistas sem julgamento.

A única coisa que aumentou a níveis nunca antes vistos foi o ódio entre os portugueses.

E tudo terminou num dia de Junho de 1926 quando os militares do 28 de Maio foram recebidos em Lisboa no meio de um ajuntamento popular de dimensões nunca antes vistas em Lisboa: A República sectária tinha acabado de parir a República católica sem ser necessário disparar um único tiro.

Ricardo Alves disse...

Caro Anónimo,
poucas coisas pioraram e muitas melhoraram.

1) Liberdade de expressão: foi abolido o delito de blasfémia. Uma melhoria histórica.

2) Acesso ao voto: manteve-se essencialmente na mesma, mas a questão do voto das mulheres passou a ser discutida.

3) Repressão religiosa: os protestantes e os judeus saíram da clandestinidade, deixaram de ser exigidos juramentos católicos para uma série de actos oficiais. Foi instituído o registo civil. Melhorias muito significativas.

4) Encerramento de sindicatos e deportação de sindicalistas: pouco progresso nessa matéria, apesar do alargamento do direito à greve.

Ódio entre portugueses: creio que terá sido pior durante o pogrome de 1506, durante a inquisição, ou mesmo durante as guerras civis.

28 de Maio: houve centenas de mortos nas revoltas contra a ditadura militar. Centenas.

Anónimo disse...

Caro Ricardo,

- o direito de voto das mulheres já era discutido antes de 1910. O que nunca se tinha sido feito foi, expressamente, proibir as mulheres de votar, como aconteceu a partir de 1913;

- mudaram-se os nomes e os santos, mas as "blasfémias" continuaram: era interdito atentar contra a república; o conceito era suficientemente elástico para prender sem culpa formada e sovar publica e impunemente opositores (monárquicos, católicos, republicanos não fundamentalistas e sindicalistas);

- os protestantes e os judeus não viviam na clandestinidade. A liberdade religiosa estava garantida deste 1820 em Portugal. Repare que os padres "inglesinhos" (os da igreja anglicana) puderam continuar a usar as suas batinas em público na república, tal como já podiam na monarquia. No entanto, os padres católicos passaram a ser proibidos de usar batinas em público. Portanto, tudo mudou para pior;

- no que toca ao direito aa greve, tudo, efetivamente, se inverteu; no tempo da monarquia não havia direito aa greve mas havia inúmeras greves e sem repressão; no tempo da república passou a haver direito aa greve mas estas passaram a ser serevamente reprimidas. Os jornais dos sindicatos foram diversas vezes suspensos e com edições apreendidas, sedes sindicais assaltadas e encerradas, sindicalistas deportados sem julgamento. Nada disto encontra na monarquia constitucional.

- sobre o progrom de 1506; é significativo que tenha de recuar quatro séculos para poder encontrar uma situação de ódio comparável com a que se viveu em Portugal na I republica. Em todo tenha em atenção que uma coisa era o anti-semitismo generalizado entre os portugueses de 1500 e outra era o ódio entre os 400 mil portugueses que podiam votar e todos os outros que não podiam votar entre 1910 e 1926.

- Houve milhares de mortos nas revoluções falhadas e bem sucedidas nos quinze anos de I república, nada que se compare aos 48 de II republica.

Ricardo Alves disse...

Caro Anónimo,

1) O direito de voto das mulheres não era uma questão pacífica na Europa da época. Mas era uma reivindicação de alguns sectores republicanos. A primeira mulher que votou em Portugal era republicana e votou apoiada por outras mulheres republicanas.

Sendo positivo que os monárquicos de 2010 sejam favoráveis ao sufrágio universal, não deixa de ser de justiça recordar que em 1910 os monárquicos eram indiferentes à questão, senão mesmo hostis.

2) Como foram hostis às leis da família promulgadas pelo Governo Provisório e por Afonso Costa, e que satisfizeram as principais reivindicações feministas (igualdade no casamento, divórcio, igualdade no código civil).

3) Como sabe, ainda hoje é proibido atentar contra os símbolos da República. Sou contrário a esse género de leis. Mas espanta-me que sejam aplicadas com maior severidade a um jovem que a queima numa manifestação anti-touradas do que a um menino-bem que acha engraçado fazer um ponto político cometendo um crime de furto.

De qualquer modo, poder discutir-se religião livremente é uma das pedras fundamentais de qualquer sociedade moderna e civilizada. Proibir o desrespeito aos símbolos nacionais, embora disparatado, é um mal generalizado em todo o mundo.

4) Está mal informado sobre a situação das minorias religiosas antes de 1910. A própria Carta proibia que tivessem edifícios com aparência exterior de templo e fachada para a rua. A liberdade religiosa estava garantida aos estrangeiros, é certo, mas os protestantes portugueses eram perseguidos e mandados para a prisão (e há o caso dramático das perseguições na Madeira, que levaram milhares ao exílio). Quem renunciava publicamente à crença católica perdia os seus direitos políticos. Para não falar de que era crime não tirar o chapéu à passagem de uma procissão...

As vestes talares são uma bagatela comparadas com isto.

5) A verdade é que com o direito à greve veio também maior liberdade e afirmação sindical. Os sindicatos cresceram e ganharam poder depois de 1910. Antes, eram muito menos relevantes.

6) Eu não mencionei apenas o pogrome de 1506. Mencionei também a Inquisição e as guerras civis. Estas últimas duraram até 1846.

7) Em toda a Europa houve conflitos internos graves entre 1910 e 1926. Que, na maior parte dos casos, têm a mesma determinante ideológica. Se pensar que aqui ao lado houve meio milhão de mortos, talvez os «milhares» da 1ª República pareçam menos.

(Já agora: quantos «milhares» e exactamente quando? Parece-me um número exagerado.)

Mastermind disse...

Estou comovido.
E viva a república! :D

Anónimo disse...

Republica? um bando de arruaceiros conduzidos por um bandido chamado afonso costa

sabe qual e o pais no planeta com maior numero de assassinios politicos? aqui mesmo, neste pais "de "brandos" costumes" e durante a I Republica.

Ide ler Eça de Queiroz e ramalho ortigao

e não renegue quase 1000 anos de estoria por um golpezeco que depois foi difundido pelo pais por telegrama. golpezeco esse que se comecou no covarde regicidio. ou seka, onde a desgraça começou, até chegar Salazar.

no mais, esta III republica esta podre. tal como alais este sistema semi-presidencialista

recomendo vivamente ver o "V for Vendetta". talvez aprenda alguma coisa sobre a verdadeira liberdade e sobre os ideias das verdadeiras revoluções. este pais esta farto dos boys, dos que vivem dos subsisidios, dos xicos espertimos. este pais precisa de um lider como alberto joao, nao fosse a sua brejeirisse

Ricardo Alves disse...

Caro Anónimo (não sei se é o mesmo de mensagens anteriores),
dado o teor da sua intervenção, tenho que me render à sua sapiência, pois não sabia nem que Eça de Queiroz tinha vivido até 1910 (sempre pensei que tinha morrido em 1900), nem que Portugal detinha o recorde de assassínios políticos (pensava que a China de Mao, a Rússia de Estaline a Alemanha de Hitler estivessem muito acima), nem que mudar de regime significa renegar a «estória», nem que se escrevia «xicos espértimos», nem que Alberto João poderia ser considerado por alguém fora da Madeira como um líder recomendável.

Não há dúvidas de que se aprende muito nestas caixas de comentários.

Anónimo disse...

EÇA descreve a sociedade portuguesa na altura, e passados mais de 100 anos, parece que o passado não deixa de ser o presente, independentemente do regime..

...mas que seja um regime que faça os portugueses orgulhosos, que não será com certeza o estado lastimável desta III republica

...o custo de uma monarquia constitucional e bem inferior à presidência da republica e, pelo menos, representava 1000 anos de "historia"

fiz me entender mal: brandos costumes uma ova, o numero de politicos assassinados durante a I republica está ao nível de qual ditadura - adelino maltez dixit, suponho que o conhece...


xicos-espertismos é o que maias "reina" nossa sociedade, marcelo rebelo de sousa dixit

alberto joao, para o bem e para o mal, e um lider. basta ver o trabalho de reconstrução na madeira

por fim:

estamos fartos desses senhores de avental do ps que nao representam senao o pior que alguma vez governou este pais (envergonha ate o governo de santana lopes, durao barroso e antonio guterres)

valores de esquerda e republicanos?lol, o inferno está cheio de boas intenções

Ricardo Alves disse...

Ainda bem que reconhece que os valores republicanos e de esquerda são os melhores, «corajoso» anónimo. ;)

Cumprimentos ao Alberto João, esse grande democrata. Acha que daria um bom rei?

Anónimo disse...

Caro Ricardo,

Sobre o voto feminino em Portugal há pouca volta a dar: foi expressamente proibido a partir da lei eleitoral de 1913, forma de tratar e curtar curto e grosso o assunto. Afonso Costa, Pinheiro Chagas, Teófilo Braga e outros expoentes do republicanismo portuguez, defenderam a lei e a interdição do voto das mulheres com unhas e dentes. Tudo o que diga que fuja disto é como pintar uma porta na parede e dizer depois: "como se pode ver, estah ali uma porta".

Sobre as referências que faz à Carta Constitucional, por favor peço-lhe que cite. De resto, o dereito a eleger e a ser eleito não dependia da fé católica de ninguém. A eleição de deputados republicanos na monarquia constitucional é exemplo acabado disso mesmo. Qt aa obrigatoriedade de tirar o chapéu qd passava uma procissão, desconheço também onde constasse na lei. Mas a esse respeito convém lembrar que uma das razões de tomultos públicos nos primeiros anos de republica era a presença de republicanos de chapeu qd passava uma procissão (depois de devidamente autorizada pelo governo civil, claro). Em geral os chapéus acabavam por ser sair das cabeças à força das chapadas dos populares. Ódios. Ódios que, felizmente, passaram. Só não entendo que ache "normal" que um regime proiba um sacerdote da religião de grande maioria da população usar vestes taleres e autorize um "inglesinho" a usar as mesmas vestes talares. É um conceito de tolerância que me eh estranho.

No que respeita à lei do divórcio, é suposto que conheça três coisas: primeiro, não havia uma fratura monarquia/republica sobre o assunto mas sim uma fratura catolicismo/laicismo, afinal, o mesmo que hoje acontece já que existem regimes monárquicos com divórcio há mais anos que em Portugal. A questão da lei do divórcio aa época deve antes ser entendida pelo beneficiário. E os beneficiários foram, essencialmente, os homens, já que eram os homens quem trabalhava numa sociedade ainda tradicional como era e continuou durante muito mais anos a ser a sociedade portuguesa. Qt ao mais, a lei foi excepcionalmente aplicada pq o divórcio era, e continuou sendo, socialmente mal visto pelos padrões da época.

Sobre as "blasfémias", entendeu-me mal; o que eu disse foi que se "os santos" e a designação de "blasfémias" foi transposto para outros campos e o espírito de ostracização e diabolização do "herege" subiu muito de tom na I republica.

É certo que o sindicalismo foi aumentando de força em Portugal, mas não por via da implantação da republica que o reprimiu severamente, mas sim por via das grandes forças idelógicas do tempo. O que não adianta, por ser contraproducente, é referir direiros concedidos por um regime que reprimiu com toda a dureza o sindicalismo, tanto mais que alguma da base social da republica era, incialmente, composta por anarco-sindicalistas. Não passaram meses até esses mesmos anarco-sindicalistas (primeiro) e os socialistas (depois) perceberessem que estavam a mais no novo regime, como tinham estado a mais no anterior. O que tinha mudado era a brutalidade da repressão e a deportação sem julgamento.

Por fim os milhares de mortos na I Republica; eh simples: pegue num livro de história da I repulica (autor aa sua escolha) conte as revoluções, contra revoluções, tentativas de golpe de estado e respectivo número de mortos. Vai ficar ainda mais espantado. Vai necessriamente concluir que o "reviralho" da ii republica teria cabida na cova do dente da i republica.

Anónimo disse...

e falando dos assassinios politicos da I Repulbica (ou II, ou III...)

http://www.ionline.pt/conteudo/53490-quem-matou-sidonio-pais-autopsia-poe-em-causa-versao-oficial

ou tambem vao censorar e/ou ignorar?

Ricardo Alves disse...

Anónimo de quinta-feira, 6:21 PM:
li o artigo que recomendou e não percebi que facto concreto põe em causa a versão oficial, nem como impossibilita que o assassino de Sidónio fosse José Júlio Costa (que aliás disse a várias pessoas que fora ele a disparar, o que torna tudo bastante difícil de refutar).

A principal novidade do artigo parece ser que o presidente da Câmara de Santarém vai publicar um livro. Parabéns.

Não pense que não acho bem que se investiguem os assassinatos políticos. Por exemplo, acharia muito bem que se voltasse a olhar para os assassinatos políticos cometidos pelas redes de extrema-direita e de ex-pides nos anos 80 e 90.

Quanto à acusação de «censora», tenha lá paciência mas é muito parva. Alguma vez lhe «censorei» algum comentário? Nem sequer «censoro» os comentários de anónimos cobardolas que não sabem escrever «censurar»...

Ricardo Alves disse...

Vou agora responder ao anónimo de quinta-feira às 3:43 PM. Devo dizer que não sei, em rigor, se há dois, três, quatro ou até seis anónimos monárquicos diferentes nesta caixa de comentários, mas tendo em conta que já é a vigésima vez (no mínimo) que acabo a discutir com monárquicos anónimos, o que se pode concluir é que a coragem e a frontalidade não são valores monárquicos (o que explica, em parte, o desprezo a que os portugueses votam essa forma de regime).

1) A República de 1910 deveria ter dado o direito de voto às mulheres. Ponto.

Mas é um «bocadinho» fácil demais estarmos a discutir isto na internet de 2010. É que em 1910 as poucas pessoas que defendiam o direito das mulheres a votarem eram republicanas. As sufragistas portuguesas eram republicanas. Não eram monárquicas. Ana Castro Osório era republicana. Carolina Beatriz Ângelo era republicana. Colaboravam em organizações republicanas. Ana Castro Osório assumiu publicamente que exultara com o poema «O Caçador Simão», que é lido pelos monárquicos como uma apologia do assassinato do rei Carlos.

Estavam em minoria no movimento republicano? Sim, infelizmente estavam. Mas dentro do movimento republicano (que me interessa mais do que o regime) existia polémica sobre essa questão. No campo monárquico não havia.

Ou vão dizer-me que a grande reivindicação do Paiva Couceiro, quando andou a armar guerrilhas a partir da Galiza, com o apoio do clero reaccionário (é o termo correcto), era o sufrágio feminino?

Não era. Os monárquicos eram todos contra o direito de voto das mulheres. Os republicanos dividiam-se.

2) A Carta Constitucional de 1826 continha maravilhas destas:

ARTIGO 6
A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Reino.
Todas as outras Religiões serão permitidas aos Estrangeiros com seu culto
doméstico, ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma
exterior de Templo
.

ARTIGO 72
A Pessoa do Rei é inviolável e sagrada; ele não está sujeito a Responsabilidade
alguma.

ARTIGO 73
Os seus Títulos são, Rei de Portugal e dos Algarves, daquém e d'além mar, em
África Senhor da Guiné, e da Conquista, Navegação, Comércio da Etiópia,
Arábia, Pérsia, e da índia, etc.; e tem Tratamento de Majestade Fidelíssima.

Ponto fundamental: na República, deixou de ser crime mudar de religião ou afirmar publicamente que não se tem religião, ou criticar publicamente a religião. Se hoje se critica publicamente a religião em Portugal, inclusivamente publicando cartoons satíricos, também a Afonso Costa isso se deve. Antes de 1910, as religiões minoritárias estavam na clandestinidade. E ia-se para a prisão por criticar a religião «do reino». Antes que venha outra vez dizer que hoje não se pode queimar a bandeira: todos os Estados têm leis semelhantes sobre a bandeira nacional. Mas os sensatos não mandam pessoas para a prisão por roubarem bandeiras.

Já agora: acha que deve ser crime não tirar o chapéu à passagem de uma procissão? Ou que isso deve ser causa de tumulto entre gente civilizada?

Prefere viver na Arábia Saudita ou em França?

Ricardo Alves disse...

3) Quer queira quer não, o divórcio era uma reivindicação feminina, das mesmas mulheres que a seguir reclamaram o direito ao voto. Dá-lhe jeito falar nas sufragistas porque foram contra as decisões efectivas dos governos republicanos; se Afonso Costa não tivesse instituído o divórcio (e faria mal) seria hoje criticado por não o ter feito; como não instituiu o voto feminino (e fez mal), é hoje criticado por não o ter feito.

4) Blasfémias. Vamos a ver se nos entendemos: deve ser crime meter um preservativo no nariz do Papa? Ou uma bomba no turbante do Maomé? Ou o que é realmente grave é a SIDA real e as bombas reais? É só isto.

5) Houve socialistas no parlamento e até no governo durante a 1ª República. Não tenho conhecimento de que tal tenha acontecido antes de 1910. E Salazar, por exemplo, foi deputado durante a 1ª República. Já o Afonso Costa, nem o cadáver o Salazar quis deixar entrar no país.

6) Contabilidades macabras.

Não vou consultar livros, embora já tenha lido uma boa dúzia.

Assim de cabeça: uns 80 mortos no 5 de Outubro, não sei realmente quantos nos combates contra a guerrilha de Paiva Couceiro (creio que menos de 50), entre 200 e 300 na revolta contra a ditadura de Pimenta de Castro, entre 300 e 400 na implantação do sidonismo, e entre 100 e 150 no assalto a Monsanto depois da queda de Sidónio. Tudo junto com os casos dispersos ao longo de dezasseis anos, chega-se facilmente ao milhar, mas os seus «milhares» serão, no máximo, dois.

Mas o que realmente me interessa é que, comparado com o que se passou na Europa entre 1910 e 1930, Portugal é um país pacífico.

Achar que Portugal, se o movimento republicano não se tivesse tornado hegemónico, não teria um único morto em confrontos políticos entre 1910 e 1931, é um disparate a-histórico.

Em toda a Europa, e particularmente na Europa latina, houve confrontos políticos violentos neste período. Entre fascistas e comunistas, entre católicos e anticlericais, entre operários e patrões. Imaginar que Portugal teria ficado imune aos ventos históricos deste período se a casa de Bragança se tivesse mantido no poder, é como supor que Portugal poderia não ter descolonizado em 1975, nem em 1985, nem em 1995.

Não gosto de assassinatos políticos. Mas é ridícula a insistência monárquica numa visão a-histórica de um passado que, para mais, não é alterável.

(E, já agora: a culpa das mortes causadas pelas guerrilhas do Paiva Couceiro é dos republicanos? E a repressão violenta do Sidónio Pais sobre os sindicalistas e os republicanos, com um governo cheio de monárquicos, também é dos republicanos?)

João Vasco disse...

Ricardo:

A propaganda anti-"primeira república" é quase omnipresente.

Rebates com factos e observações muitas das alegações que são feitas constantemente, mas infelizmente isso acontece aqui nestes comentários que poucos lerão.

Seria interessante escreveres um artigo em que expões de forma mais clara todas estas respostas às alegações "do costume".

Ricardo Alves disse...

Tens toda a razão, JV.

Anónimo disse...

so para acabar: Afonso Costa foi um criminoso do pior, se a igreja perseguia (injustamente) outras religiões, este ultimo perseguiu até à exaustão a igreja. portanto no me venha com historias.

A I republica foi uma mancha negra na historia deste pais, feitapor uma duzia de bandidos de avental. so salazar conseguiu por este pais em ordem, mas ai ja em ditadura, que claro é anti-democrática.

A republica tem um numero de crimes politicos selecionados que a torna por si so uma mancha negra na histora deste pais

Ricardo Alves disse...

Anónimo de segunda-feira, 11:01:

a monarquia tolerava a liberdade religiosa aos estrangeiros (e só a esses), e só autorizava templos não católicos sem forma exterior de templo e sem fachada para a rua. Era isto «perseguir à exaustão»? Eu acho que não. «Perseguir à exaustão» foi o que a ICAR e a monarquia fizeram ao Islão, por exemplo, que foi efectivamente extinto em Portugal (por uma mistura de deportações, eliminação física e repressão inquisitorial).

Depois de 1910, a ICAR continuou a ter templos com fachada exterior para a rua, e continuou a ser permitido ser católico. De todas as formas. Mais, os templos até eram pagos pelo Estado e os padres receberam uma pensão atribuída por... Afonso Costa. Isto é «perseguir à exaustão»?

A menos que considere «perseguir» deixar de ser obrigatório fazer juramentos religiosos, ou os padres deixarem de ser funcionários públicos. Ou o divórcio ser legalizado. Como ainda hoje há quem considere «perseguição» legalizar-se o casamento entre pessoas do mesmo sexo, não me admira que considere o divórcio uma «perseguição»...