sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Totalitarismo linguístico na Junta de Benfica

  • «De um lado está Glória Monteiro, funcionária da Junta de Freguesia de Benfica, em Lisboa; do outro, o presidente, Domingos Alves Pires. Entre um e outro há uma barreira da língua a separá-los. Glória diz que está proibida de falar em crioulo (dialecto de Cabo Verde) no local de trabalho e o autarca responde que a sua funcionária estava a destabilizar o ambiente de trabalho ao usar um idioma que os outros não entendem. (...) A discórdia começou em finais de Abril e culminou há poucas semanas com a suspensão de Glória Monteiro por um período de 30 dias. (...) A funcionária conta que há 20 anos trabalha no pelouro da Cultura e nunca a tinham impedido de falar em crioulo com a sua irmã, que também pertence aos quadros da junta.» (Diário de Notícias)

Se a moda pegasse, a seguir proibir-se-ia as pessoas de falarem entre si, no local de trabalho, em Inglês, Alemão ou Espanhol. Não se tratando do atendimento ao público, é incompreensível que se imponham proibições quanto ao idioma que as pessoas falam entre si. A menos, é claro, que o Presidente da Junta não goste, por princípio, de cabo-verdianos...

7 comentários :

Marco Oliveira disse...

E se a Glória Monteiro fosse muçulmana e manifestasse as suas raizes culturais com o uso de um véu islâmico? Também teríamos aqui um post a defender os seus direitos?

:-)

Ricardo Alves disse...

Se estivesse a atender ao público de lenço ou emblema partidário, claro que não.

dorean paxorales disse...

Não faço idéia do formato dos diálogos, da sua frequência ou aplicação. Se calhar foi mesmo uma embirração ou exagero do presidente.

Mas é a coisa mais vulgar do mundo existir apenas uma língua em uso num local de trabalho. Como já tive ocasião de assistir, o contrário desestabiliza, e muito. Muitas empresas e institutos, inclusivé, estabelecem uma língua oficial (que até nem precisa de coincidir com a do país onde estão).

Para além de tudo mais, é regra de bom senso e de respeito para com os colegas. Se os colegas se queixaram, é razão suficiente.

Nuno Castelo-Branco disse...

Também me parece que neste caso o Ricardo Alves não está a ver bem o "problema". Seria necessário conhecer bem a "estória" para nos pronunciarmos, mas enfim, uma secretaria pública onde existem funcionários que desatam a falar uma língua incompreensível para todos, é no mínimo, uma originalidade. A Lei deve ser igual para todos. Consulte a Constituição - goste ou não dela - e verifique qual é o idioma oficial do Estado. Pois...

* No caso do presidente da Junta, talvez também se verifique o habitual facto de não gostar de cabo-verdianos, ingleses, espanhóis, quirguizes, andorrenhos, monegascos, alemães, tupis, tagalogues, etc. E ainda por cima, se calhar diz "adem" em vez de "hão-de". O Sampaio fazia-o até à exaustão!

Anónimo disse...

A Glória Monteiro e a irmã trabalham em sectores diferentes e não têm assuntos de trabalho para falar. Usam o crioulo quando se cruzam nos corredores para se cumprimentarem e falarem de assuntos pessoais, ou durante a hora de almoço. Se estiverem com mais colegas utilizam sempre o portugês, e durante o trabalho também.

dorean paxorales disse...

Se o que fedra diz é estritamente verdadeiro, então retiro o que disse.

Ricardo Alves disse...

Pois é, Dorean, o problema é esse. Imagina que és um português a estudar, vá lá, na estúpida Albion. Imagina que conheces mais um ou dois portugueses no mesmo edifício. Se te cruzas com eles, cumprimenta-los em inglês?
Eu fui claro quanto à questão do atendimento...