segunda-feira, 14 de março de 2005

Gajas e gajos

Reconheço sem dificuldade que é uma injustiça as mulheres terem maiores dificuldades no mercado de trabalho. Aceito também que o facto de as mulheres terem filhos é penalizado profissionalmente, às claras ou às escondidas, ao contrário de ser valorizado como deveria ser, nem que fosse por uma mera questão de fomento da natalidade.
No entanto, confesso que não compreendo quem faz da paridade um critério de avaliação do elenco governamental, ou da representatividade dos cargos políticos em geral. É evidente que duas mulheres em dezassete ministros (11,7%), e três em trinta e cinco secretários de estado (8,6%) é uma (sub-)representação feminina algo abaixo da média de mulheres portuguesas nos quadros superiores dos institutos públicos, das universidades e das empresas. Mas, que diferença faz? Sobretudo, que diferença faz para os problemas específicos das mulheres, como a violência doméstica?

2 comentários :

Anónimo disse...

O problema de um executivo com tão poucas mulheres, é essencialmente um problema político, não é uma questão técnica. Isto é, a mensagem que o PM passa ao não convidar mais mulheres para o elenco governamental é a de que devem ser quase inexistentes as mulheres portuguesas com as necessárias qualificações politicas e técnicas. Tu acreditas nisto? Ou então é misógino não confia em mulheres... É que as mulheres nem sequer são uma minoria na população portuguesa ... E isto acontece no seio de um partido que diz defender as questões da paridade!

Quanto à violência doméstica, sabemos que existe. Porém, sendo mulher, tenho outros problemas que não esse. Talvez a presença de mais mulheres no executivo, tendo-se estas debatido, provavelmente, com alguns dos problemas com que ainda me debato, a que muitos homens não serão especialmente sensíveis, pudesse ajudar a melhorar a qualidade de vida de muitas das mulheres portuguesas - e dos homens também ;) -.

Anónimo disse...

Sou, por princípio (republicano), avesso a qualquer forma de discriminação social, seja ela positiva ou negativa; donde sou, pelo mesmo princípio, contra os regimes de quotas.

Contudo, quando a discriminação negativa (a marginalização e a exclusão) – e o mesmo acontece pera a discriminação positiva - é em demasia e tem por base atavismos sociais tão antigos, arreigados e persistentes quanto os que, no nosso país, ainda fazem relegar as mulheres para segundos (ou terceiros) planos da vida colectiva, os meus princípios (republicanos) fraquejam... e, assim sendo, confesso-vos aqui que, na questão de «gajos vs. gajas» em lugares públicos, o que eu gosto mesmo é de ver homens a defender o regime de quotas para as mulheres e elas a combatê-lo...!

Quanto ao actual governo do Sócrates, entendo que ele não está a fazer mais do que a espelhar (tristemente) aquele nosso (triste) país real, aquele nosso (pequeno) país provinciano, paroquial e atávico, aquele nosso (velho e caduco) país rural - tudo no pior sentido dos termos - em que estamos todos (republicanos, feministas, socialistas e outros) ainda condenados a viver.