quinta-feira, 6 de maio de 2010

Rumo aos 5000

A petição «Cidadãos pela Laicidade» ultrapassou as 2500 assinaturas em 48 horas. Parece possível atingir os 5000. Faça a sua parte: assine e divulgue.

Plano Inclinado (II)

No mesmo programa participaram, para além do conhecido (não pelos melhores motivos) apresentador, e de um não menos conhecido ex-ministro das finanças que defende que se deve cortar em tudo o que seja investimento público menos na sua própria choruda reforma, o também conhecido matemático e (sem favor) excelente divulgador Nuno Crato.
A uma determinada altura, Nuno Crato refere que tem alunos na universidade que lhe pedem que não recomende literatura em inglês.
Devo dizer que já passei por essa situação, como docente do ensino superior, e foi algo que me chocou, comparado com o tempo (afinal, não foi assim há tanto!) em que eu era estudante, e me habituei a estudar em inglês (e mesmo em francês!) logo no primeiro ano.
É claro que, se os alunos chegam à universidade sem saberem ler em inglês (e com graves deficiências em português), é um problema do sistema de ensino (mesmo se agora, percentualmente, muito mais alunos chegam à universidade que há uns anos - se a mesma percentagem que chega hoje chegasse então à universidade, talvez já se notasse esse problema). Mas os alunos, nas universidades, são adultos - e sabem o que têm que fazer. O principal problema destes alunos é o comodismo, o estarem habituados a terem tudo feito e não terem de se esforçar para nada - apesar de já terem sido expostos às línguas, como eu fui. Creio que é isso que um professor universitário deve dizer aos alunos numa situação destas - devem esforçar-se por fazerem melhor, e não conformarem-se e serem mais uns a engrossarem a lista dos que só se sabem queixar-se e não se responsabilizar por nada.
Mas não é isso que Nuno Crato responde aos seus alunos: manda os inocentes, coitados, pobres vítimas do "eduquês"... irem atirar pedras ao Ministério da Educação! Podem confirmar na página web do programa - é perto do fim.
Tantas queixas do "eduquês"... para isto. Os alunos não devem esforçar-se: devem atirar pedras. Falava Vicente Jorge Silva, no meu tempo, da "geração rasca" (de que fiz parte) - afinal, éramos melhores que os alunos do Nuno Crato. Da próxima vez que virem um economista que não saiba fazer contas (eu conheço alguns), não lhe chamem a atenção: atirem pedras ao Nuno Crato.

Plano Inclinado (I)

Tem dado que falar, na blogosfera e não só (sendo prontamente ecoado pelos entusiastas do costume), a entrevista de Guilherme Valente no programa "Plano Inclinado" da SIC.

Tenho respeito por Guilherme Valente e um grande reconhecimento pela sua obra enquanto editor. No entanto se, tal como ele afirma, o problema da educação é "ideológico", as soluções propostas pelo grupo "anti-eduquês" de que faz parte (e repetidas por Nuno Crato no programa) não o são menos, e não podem merecer o meu acordo (começando por "descentralizar" a escola, que é o primeiro passo para instituir as escolas para a elite e as escolas para a ralé).

Sem querer fugir aos aspetos ideológicos, talvez seja mais construtivo começar por identificar os problemas não-ideológicos (e cuja resolução também não o seria). O problema que abordo no meu texto A roupa não faz o profissional é também um problema de educação: dá-se mais valor à aparência que ao conteúdo. Tal como é dito no programa: mais do que aprender, quer-se sobretudo obter facilmente um diploma. Isso não é ideológico, e deveria ter sido bem focado no programa. Para evitar que continuem a acontecer situações como a da própria página web do programa, que chama "Professor" a Guilherme Valente. Guilherme Valente é tão professor como Mário Crespo-

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Novas oportunidades de trabalho (precário)

Rendo-me: a visita do Papa é boa para a economia. Há tolerâncias de ponto, escolas fechadas, hospitais com serviços mínimos, encerramento do trânsito durante horas em Lisboa e no Porto, fecho da linha de metropolitano e até «interdição do espaço aéreo» (sic), um dispositivo de segurança absurdo e desproporcionado que não aconteceria numa visita do Obama, mas, afinal, há novas oportunidades de trabalho: a ICAR procura «Apoiantes (M/F)» do Papa através de anúncio, e paga-lhes à hora para estarem na missa da Avenida dos Aliados, de t-shirt e bandeirinha na mão.

Parece que afinal não basta fechar os serviços públicos, essenciais ou não, desarranjar o sistema de transportes, fazer ameaças e montar uma operação mediática digna de um Estado totalitário. Alguma coisa falhou nisto tudo (talvez a liberdade individual), e a ICAR vê-se obrigada a pagar às pessoas para irem à missa. Delicioso.

Não devo estar a ler bem

Diz um tal Mário Rui Pedras, que aparentemente será padre católico:
Quer dizer que não terei a liberdade de «expressar» a minha «opinião divergente» da putativa «maioria católica» de terça a sexta-feira da próxima semana? Não posso sequer dizer que não gosto do Papa e do que ele representa, ou mesmo, espera lá, ter «menos atenção»? E qual será a pena? Metem-me na prisão por ser ateu?  Mandam-me queimar na Praça do Comércio por anticlericalismo relapso e contumaz? Mas este tipo não se enxerga, ou passou à fase das provocações rasteiras?

Com declarações totalitárias como a deste padre, se vai montando um ambiente irrespirável. Depois não se queixem se saltar a tampa a muita gente...

terça-feira, 4 de maio de 2010

Petição «Cidadãos pela Laicidade»

Senhor Presidente da República Portuguesa,

Nós, cidadãs e cidadãos da República Portuguesa, motivados pelos valores da liberdade, da igualdade, da justiça e da laicidade, manifestamos, através da presente carta, o nosso veemente protesto contra as condições – oficialmente anunciadas – de que se revestirá a viagem a Portugal de Joseph Ratzinger, Papa da Igreja Católica.

Embora reconhecendo que o Estado português mantém relações diplomáticas com o Vaticano e que a religião católica é a mais expressiva entre a população nacional, não podemos deixar de sublinhar que ao receber Joseph Ratzinger com honras de chefe de Estado ao mesmo tempo que como dirigente religioso, o Presidente da República Portuguesa fomenta a confusão entre a legítima existência de uma comunidade religiosa organizada, e o discutível reconhecimento oficial a essa confissão religiosa de prerrogativas estatais, confusão que é por princípio contrária à laicidade.
Importa ter presente que o Vaticano é um regime teocrático arcaico que visa a defesa, propaganda e extensão dos privilégios temporais de uma religião, e que não reúne, de resto, os requisitos habituais de população própria e território para ser reconhecido como um Estado, e que a Santa Sé, governo da Igreja Católica e do «Estado» do Vaticano, não ratificou a Declaração Universal dos Direitos do Homem – não podendo portanto ser um membro de pleno direito da ONU – e não aceita nem a jurisdição do Tribunal Penal Internacional nem do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, antes utilizando o seu estatuto de Observador Permanente na ONU para alinhar, frequentemente, ao lado de ditaduras e regimes fundamentalistas.

Desejamos deixar claro que, se em Portugal há católicos dos quais uma fracção, mais ou menos importante, se regozijará com a visita de Joseph Ratzinger, há também católicos e não católicos para quem o carácter oficial da visita papal, o seu financiamento público e a tolerância de ponto concedida pelo Governo, são agressões perpetradas contra os princípios de laicidade do poder político que a própria Constituição da República Portuguesa institui.

Esta infracção da laicidade a que estão constitucionalmente vinculadas as autoridades republicanas torna-se ainda mais gritante e deletéria quando consideramos que se celebra este ano o Centenário da Implantação da República, de cujo legado faz parte o princípio de clara separação entre Estado e Igreja, contra o qual atentará qualquer confusão entre homenagens a um chefe de Estado e participação oficial dos titulares de órgãos de soberania em cerimoniais religiosos.

Declaramos também o nosso repúdio pelas posições veiculadas pelo Papa em matéria de liberdade de consciência, igualdade entre homens e mulheres, autodeterminação sexual de adultos, e outras matérias políticas.

Porque nos contamos entre esses cidadãos que entendem que a laicidade da política é condição fundamental das liberdades e direitos democráticos em cuja defesa e extensão estão apostados, aqui deixamos o nosso protesto e declaramos a Vossa Excelência o nosso propósito de o mantermos e alargarmos através de todos os meios de expressão e acção ao nosso alcance enquanto cidadãos activos da República Portuguesa.

Mais papistas do que o Papa

O papel do Estado não é fechar igrejas, é abrir escolas. E o papel das igrejas deveria ser abrir as suas portas, e não fechar as das escolas. Não faz portanto qualquer sentido que o Estado encerre todas as escolas públicas do país no próximo dia 13 de Maio, e não admira que as associações de pais critiquem a decisão. Irónico, mas significativo, é que a maioria das escolas privadas manterão as suas portas abertas.

É caso para dizer que o Governo é mais papista do que o Papa.

Outsourcing

A privatização da guerra implementada por Cheney e Rumsfeld foi o que se esperava: uma versão trágica e patética do filme “Robocop”. Para quem ainda acredita que os privados fazem melhor...