Mas se bem me lembro bem, durante os anos sessenta e setenta, filósofos, políticos e intelectuais discutiram as alternativas à democracia parlamentar com intensidade e honestidade, e concluiram que a URSS, a China, Cuba, a Albânia, ou o Laos, não eram os paraísos onde as fraquesas da burguesia (sempre supersticiosa, ignorante e materialista, sempre do lado errado) se corrigiam sozinhas... aliás, como se sabe, nem com uma ajudinha (tipo Pol Pot) a burguesia parece querer endireitar-se, pensar, ansear um mundo melhor e mais justo, trocar segurança por liberdade, etc. (todos conhecemos o rol das queixas).
Eu não acho que Obama seja o Messias, nem que os EUA de repente sejam o paraíso na Terra.
Mas acho que Barak Obama é um político inteligente, culto, honesto e equilibrado, que está a fazer o que pode pelo país dele e pelo mundo, com as pessoas que tem, dentro dos limites estabelecidos pela Constituição, sem uma ponta de cinismo.
O que já não é mau, considerando a sucessão de crápulas, de ladrões, de criminosos e de canalhas que têm ocupado a Casa Branca nas últimas quatro décadas: Bush é um criminoso e um sociopata, Clinton era um aldrabão, o Bush Sr. é um negociante de armas, Reagan era um idiota e um fascista, (Carter foi um curto intervalo de inteligência e de decência), Ford e Nixon dois sociopatas criminosos de guerra... se tivesse seis horas podia escrever aqui um rol dos crimes que os presidentes republicanos dos últimos 40 anos deixaram a CIA e o complexo industrial militar perpetrar no mundo livre.
Aos europeus que acham que Obama é só 'mais um' presidente e que 'não vai mudar nada', digo que já mudou. Muitas coisas. Todos os dias. E peço-lhes que o comparem com o Sarkozy, a Merkel, o Berlusconi, o Brown, aquele homúnculo da Holanda, que acredita que o mundo tem 6,000 anos, ou o nosso pequeno Barrosinho, pequenino mas cuja maldade calosa e a insensibilidade ao sofrimento dos pobres faz corar o ayatolah mais rico, mais putanheiro e mais alcoólico do Irão. As canalhices que o Barroso e os patrões dele cozinharam com os amigos multi-milionários contra os cidadãos da Europa nos últimos anos não têm paralelo da história do pós-guerra.
Se os comentadores do meu posting não conseguem ver as diferenças... :o)
20 comentários :
Ou seja, razões objectivas não as tem (mas sinais do contrário abundam) mas pede fé. Onde é que eu já ouvi isto.
Realmente além do factor estético ainda não vi nada de substância.
Subscrevo as suas palavras.
Mas a verdade é que Obama não é o presidente ideal, apesar de ser muito diferente dos outros para melhor.
Repare que o que ele se prepara para fazer juntamente com os restantes lideres do G20 é manter o neoliberalismo apesar da crise.
A prevenção do protecionismo é o quê?...
Repare também na solução para "resolver" a guerra do Afeganistão:
Arrastar com ele toda a Europa para a continuação da derrota contra os talibãns.
Nós europeus nada temos a ver com as guerras que os yankies criaram pela sua ganância e estupidez táctica.
Mas tirando isto, e talvez mais a Palestina, Obama é um grande presidente.
Os europeus têm sido entusiasticamente solidários com TODOS os crimes dos EUA. O assassínio do Allende não teria sido possível sem as embaixadas da Bélgica e do Vaticano.
E lembra-se como TODOS insultaram a Emma Bonino e a quiseram linchar, quando ela emitiu um pio contra os talibans, em 1997?
Os europeus têm TUDO a ver com as guerras criadas pela ganância e a estupidez tática dos EUA.
Fé é a única coisa que não peço. :o)
Peço calma e razão, em vez das críticas generalizadas (é tudo uma malandragem), que é completamente diferente.
E um bocadinho mais de distância. Esta atitude eurocêntrica: europeu-bom; americano-mau; não é diferente da dos drs. arrojas (privado-bom; público-mau); e da do Orwell (4 pernas-bom; 2 pernas-mau).
Sobretudo quando se olha para a Europa pelo que ela realmente é: um continente de assassinos.
Filipe:
Concordo que é um bocado disparatado ter uma visão simplista e maniqueísta da relação EUA/Europa, mas do ponto de vista da esquerda existe um ténue fundamento para essa perspectiva, que até faz menos sentido em Porugal:
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2009/03/inequidade-e-problemas-sociais.html
Se vires os dados entendes aquilo a que me refiro. Nos último anos as sociedades Europeias promoveram muito mais (ou "ligeiramente mais" no caso de Portugal) a equidade do que os EUA. Assim, em termos de saber qual a sociedade mais desejável, há vários aspectos em que os EUA podem ser vistos como o exemplo a não seguir - em particular em matéria criminal. Antes prefiro dar "rendimentos mínimos garantidos" que meter grande parte dos desempregados na cadeia...
E por outro lado, os EUA são mais imperialistas que a Europa, não por terem menos escrúpulos (concordo contigo, não é o caso) mas simplesmente por terem mais poder. Se a UE tivesse o poder militar que eles têm podia bem ser pior, mas não tem, e por isso não é. Por muito poucos escrúpulos que se tenha, é difícil abusar do poder que não se tem...
Mas concordo a 100% contigo quando falas sobre o Obama. As minhas expectativas eram tão elevadas que eu SABIA que me iria desiludir quando começasse a governar. No entanto, até agora ele quase só me surpreendeu pela positiva. Até agora - tirando uma excepção ou outra referida aqui pelo Ricardo Alves - a sua governação está quase a ser boa de mais para ser verdade (atendendo, obviamente às circusntâncias e contragimentos). Vamos ver se isto continua assim.
:)
Pedro Fontela:
Se fizeres uma busca neste blogue por "Obama" vais ver como aquilo que afirmas não faz sentido.
Mas que visão simplista? Só porque há um "buzz" à volta do dito senhor quem não diz amen é preconceituoso?
Então a comparação com arrojas é assassina e despropositada só serve suponho para calar ou como argumento retórico (ex: comparar o outro lado com o partido nazi costuma encerrar a discussão).
João Vasco,
Eu afirmei o quê? Que não tenho razões de crença num senhor que teve a sua campanha financiada pelos mesmos sectores do costume e que quem vai desenterrar a equipa económica do Clinton não merece qualquer tipo beneficio da dúvida.
De resto não sei que imaginam que disse.
Pedro Fontela:
Aquilo que eu "imagino" que tu disseste foi "quem não diz amen é preconceituoso". :p
Era a isso que me referia.
E vocês provaram o contrário? Não. :)
«Só porque há um "buzz" à volta do dito senhor quem não diz amen é preconceituoso? »
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2009/03/as-contradicoes-de-obama.html
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2009/02/obama-nao-cumpre.html
Eu falo dentro do contexto do post. Ao qual respondi e que aliás já vinha de lá de baixo de outro post.
E o Filipe disse o quê face aos meus comentários? Uma série de acusações pouco simpáticas e visões simplistas porque não entrei em delirio com o novo presidente emericano.
ps: os outros links não faço ideia onde entram o que querem provar mas não mudam nada nesta conversa nem na atitude de quem a tem.
Pedro Fontela:
Aquilo que pretendi demonstrar é que neste blogue já se tem dito bem e mal do Obama, em ambas as situações com "substância".
O facto de se ter dito mal com "substância" (nos links que te mostrei) mostra que não tens razão quando afirmas que quem não diz "amen" é visto como preconceituoso. Pelo menos não vi o Filipe ficar revoltado com o Ricardo Alves por ter escrito o que escreveu.
O Filipe respondeu-te que não pede fé, mas sim que olhes para a "substância" em vez de generalizar "os políticos só querem é poleiro". Porque HÁ substância.
Repito o meu desafio: dá uma espreitadela nisto: http://esquerda-republicana.blogspot.com/search?q=obama
"Obama cumpre" é só estética?
João Vasco,
Agora sou eu que peço que não fiques por uma analise pela rama. Eu apontei dois pontos os quais são inegáveis: a campanha foi financiada pelas pessoas do costume e a politica económica é a mesma da era clinton. Só isto devia ser o suficiente para tirar conclusões. Se não é então tenho que deduzir que não sou eu que me fico pelas generalidades.
Pedro Fontela:
A política económica não é a mesma da era Clinton (pacote de estímulos; renegociação dos seguros de saúde, etc...) mas se fosse, isso já seria uma diferença significativa face aos últimos 8 anos - a era Clinton não correspondeu apenas aos anos em que a ecnomia dos EUA mais cresceu, as desigualdades sociais, como acontece quando os democratas estão no poder foram reduzidas em virutde do crescimento do rendimento dos mais pobres ter sido superior ao crescimento do rendimento dos mais ricos.
Além disso, a governação não se limita à política económica. E precisamente nesse sentido, existem muitas e boas razões para congratular aquilo que tem sido feito de positivo. É importante que disntingamos pela positiva quem pelas acções marca a diferença face ao que "seria de esperar".
Eventualmente há várias críticas justas que se podem fazer a Obama, mas pelo menos até agora o balanço do seu mandato tem sido claramente positivo.
Nos últimos dias, quer em relação a Cuba, quer em relação à Venezuela, Obama teve atitudes construtivas que eu não imagino Hillary a ter, se tivesse ganho em seu lugar. E muito feliz teria ficado eu com a vitória de Hillary, sendo a alterativa os republicanos...
As pessoa chave são as mesmas ligadas aos mesmos interesses, daí nada de novo surgiu ou vai surgir - foi na era clinton que a banca e a maior parte dos produtos financeiros foi desregulamentada gerando o que vivemos hoje em dia por isso os parcos ganhos de igualdade foram apenas uns ossos sem consquências de maior.
Quanto ao balanço parece-me ambiguo para dizer o minimo. Ele financia os prejuizos de certos sectores irresponsaveis à custa de todos (querendo incentivar o mesmo comportamento deste lado do Atlântico) e continua a promover a interferência americana na questão Europeia (a começar pela entrada ou não da Turquia) quando não é membro nem tem voto na matéria. Protecção da banca e interferência em questões europeias... realmente um mundo de diferenças em relação aos outros...
Pedro Fontela,
o Obama congelou os salários dos seus assessores e tentou que houvesse alguma decência nos «auto-prémios» dos gestores. É pouco, é «moralista», mas é alguma coisa.
Ricardo,
E autorizou a que os fundos que foram para a AIG (para dar um exemplo) fossem sugados pela banca (sem reentrada no mercado) de forma quase directa. Em face disto o que interessam meia duzia de salários.
Eu não sei se o Obama foi eleito com os mesmos fundos que o Bush. Por acaso acho que não. Não quero dizer que os investidores todos, incluinod os mais sinistros, não dêem dinheiro aos dois lados (dão sempre), mas nestas últimas eleições os crápulas mais perigosos (como o Murdock) escolheram abertamente a Hillary e portanto excluiram-se de um certo círculo privado, que tem acesso directo ao Rahm Emanuel, por exemplo.
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