- «Seja qual for o logotipo ideológico que adotemos, o deslocamento do mercado livre para a ação pública deve ser maior do que os políticos imaginam. O século XX já ficou para trás, mas ainda não aprendemos a viver no século XXI, ou ao menos pensá-lo de um modo apropriado. Não deveria ser tão difícil como parece, dado que a idéia básica que dominou a economia e a política no século passado desapareceu, claramente, pelo sumidouro da história. O que tínhamos era um modo de pensar as modernas economias industriais – em realidade todas as economias -, em termos de dois opostos mutuamente excludentes: capitalismo ou socialismo.
Conhecemos duas tentativas práticas de realizar ambos sistemas em sua forma pura: por um lado, as economias de planificação estatal, centralizadas, de tipo soviético; por outro, a economia capitalista de livre mercado isenta de qualquer restrição e controle. As primeiras vieram abaixo na década de 1980, e com elas os sistemas políticos comunistas europeus; a segunda está se decompondo diante de nossos olhos na maior crise do capitalismo global desde a década de 1930. - (...)
- ###
- A impotência, por conseguinte, ameaça tanto os que acreditam em um capitalismo de mercado, puro e desestatizado, uma espécie de anarquismo burguês, quanto os que crêem em um socialismo planificado e descontaminado da busca por lucros. Ambos estão quebrados. O futuro, como o presente e o passado, pertence às economias mistas nas quais o público e o privado estejam mutuamente vinculados de uma ou outra maneira. Mas como? Este é o problema que está colocado diante de nós hoje, em particular para a gente de esquerda.
Ninguém pensa seriamente em regressar aos sistemas socialistas de tipo soviético, não só por suas deficiências políticas, mas também pela crescente indolência e ineficiência de suas economias, ainda que isso não deva nos levar a subestimar seus impressionantes êxitos sociais e educacionais. Por outro lado, até a implosão do mercado livre global no ano passado, inclusive os partidos social-democratas e moderados de esquerda dos países do capitalismo do Norte e da Australásia estavam comprometidos mais e mais com o êxito do capitalismo de livre mercado. - (...)
- No entanto, uma política progressista requer algo mais que uma ruptura um pouco maior com os pressupostos econômicos e morais dos últimos 30 anos. Requer um regresso à convicção de que o crescimento econômico e a abundância que comporta são um meio, não um fim. Os fins são os efeitos que têm sobre as vidas, as possibilidades vitais e as expectativas das pessoas.
- (...)
- A prova de uma política progressista não é privada, mas sim pública. Não importa só o aumento do lucro e do consumo dos particulares, mas sim a ampliação das oportunidades e, como diz Amartya Sen, das capacidades de todos por meio da ação coletiva. Mas isso significa – ou deveria significar – iniciativa pública não baseada na busca de lucro, sequer para redistribuir a acumulação privada. Decisões públicas dirigidas a conseguir melhorias sociais coletivas com as quais todos sairiam ganhando. Esta é a base de uma política progressista, não a maximização do crescimento econômico e da riqueza pessoal.» (Na Carta Maior, via Cinco Dias.)
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Eric Hobsbawm: «O socialismo fracassou, o capitalismo faliu: o que vem a seguir?»
Eric Hobsbawm, um dos historiadores que mais admiro, continua lúcido aos 91 anos:
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Ricardo Alves
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quarta-feira, 29 de abril de 2009
Specter
Ontem o senador Specter passou-se para o partido democrata e tornou a maioria relativa, de 59 senadores, em maioria absoluta, logo que Al Franken tome o lugar para o qual foi eleito. Coleman, o candidato republicano derrotado está a tentar atrasar a tomada de posse de Franken com artifícios legais, mas todos sabemos que Fraken ganhou as eleições no Minnesota.
O que é engraçado constatar é que de pois de 8 anos Bush 10% dos cristãos americanos abandonaram o cristianismo e hoje só 21% dos americanos é que se reconhecem no coito de aldrabões, de criminosos e de extremistas religiosos, em que o partido republucano se tornou.
Como escrevia outro dia um colunista, a força da extrema-direita no partido republicano vem do facto de nos últimos 30 anos os candidatos extremistas (Reagan e W) terem sido eleitos para dois termos cada um e os candidatos moderados terem perdido as eleições (Bush Sr., Dole e McCain). Ou seja, como os 25 a 30 milhões de evangélicos são quorum suficiente para eleger um presidente, fazia sentido que eles tomassem o partido de assalto.
Mas W foi um desastre que eles não saberiam prever (com Deus do lado deles, o que é que poderia correr mal?)
O excesso de confiança que os levou a repetir "nós fazemos a nossa própria realidade" conduziu o país a um abismo sem paralelo desde a guerra do Vietnam e agora ninguém quer ouvir falar do partido de Jesus. :o)
O que é engraçado constatar é que de pois de 8 anos Bush 10% dos cristãos americanos abandonaram o cristianismo e hoje só 21% dos americanos é que se reconhecem no coito de aldrabões, de criminosos e de extremistas religiosos, em que o partido republucano se tornou.
Como escrevia outro dia um colunista, a força da extrema-direita no partido republicano vem do facto de nos últimos 30 anos os candidatos extremistas (Reagan e W) terem sido eleitos para dois termos cada um e os candidatos moderados terem perdido as eleições (Bush Sr., Dole e McCain). Ou seja, como os 25 a 30 milhões de evangélicos são quorum suficiente para eleger um presidente, fazia sentido que eles tomassem o partido de assalto.
Mas W foi um desastre que eles não saberiam prever (com Deus do lado deles, o que é que poderia correr mal?)
O excesso de confiança que os levou a repetir "nós fazemos a nossa própria realidade" conduziu o país a um abismo sem paralelo desde a guerra do Vietnam e agora ninguém quer ouvir falar do partido de Jesus. :o)
Obama: (quase) 100 dias
Ariana Huffington (mais outra jornalista que eu odeio), escreveu hoje um artigo equilibrado sobre os primeiros 98 dias da administração Obama.
Claro que depois de George W (o Santana Lopes dos EUA) os primeiros 100 dias da administração de José Sócrates teriam o mesmo doce sabor. Mas vale a pena ler o artigo (até porque é curto), que está dividido entre coisas boas e coisas más, das quais a pior é: "The bank bailout. In his appointments at almost every agency, Obama has demonstrated a desire to receive a wide range of opinion. But the exception is a doozy: at Treasury, the range of opinion goes all the way from Goldman to Sachs." :o)
Claro que depois de George W (o Santana Lopes dos EUA) os primeiros 100 dias da administração de José Sócrates teriam o mesmo doce sabor. Mas vale a pena ler o artigo (até porque é curto), que está dividido entre coisas boas e coisas más, das quais a pior é: "The bank bailout. In his appointments at almost every agency, Obama has demonstrated a desire to receive a wide range of opinion. But the exception is a doozy: at Treasury, the range of opinion goes all the way from Goldman to Sachs." :o)
Auto-Warriors
Com a crise mundial, além do desemprego ter aumentado, parte significativa dos trabalhadores que mantiveram os seus postos ficou numa situação de maior fragilidade nas negociações laborais, tendo várias empresas tirado partido dessa realidade. O the Onion fez mais uma excelente sátira relativa a este problema:
terça-feira, 28 de abril de 2009
Revista de blogues (28/4/2009)
- «Pegando na frase de Barack Obama a 16 de Abril, alegando ser falsa a escolha entre "a nossa segurança e os nossos ideias", e remetendo para o passado os métodos de interrogatório, baseados na tortura, Taylor sugere que existe evidência em favor da tese de que métodos brutais de interrogatório "podem ter salvo muitas vidas nos EUA, e a renúncia a esses métodos pode custar muitas mais". (...) Têm mesmo a certeza que fascismo nunca mais?» (O valor das ideias)
- «Na madrugada de 25 de Abril de 1974 iniciou-se um golpe militar, tendo como planos, entre outras coisas, manter a PIDE/DGS parcialmente em funcionamento, libertar só alguns dos presos políticos e entregar o poder a uma junta militar onde, em 7 elementos, 4 não andavam longe de ser de extrema-direita. Horas depois, começou uma revolução nas ruas de Lisboa (e no resto do país nos dias seguintes) que mudou o esquema todo.» (Vento Sueste)
Autor:
Ricardo Alves
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Desatino
Mais outro neo-nazi que desata aos tiros à polícia... Há duas semanas um matou três polícias. Agora este matou dois.
A extrema direita está a desatinar desde antes das eleições. A compra de armas e de munições disparou desde a eleição de Obama, o nosso governador (que é um idiota chapado) fala em secessão, e os mamíferos da FOX (incluíndo Cheney e Rove) babam-se de raiva todas as noites na televisão.
Espero que estes anormais não nos matem o presidente.
A extrema direita está a desatinar desde antes das eleições. A compra de armas e de munições disparou desde a eleição de Obama, o nosso governador (que é um idiota chapado) fala em secessão, e os mamíferos da FOX (incluíndo Cheney e Rove) babam-se de raiva todas as noites na televisão.
Espero que estes anormais não nos matem o presidente.
Por uma frente de esquerda
Assinei a petição «Apelo à Convergência da Esquerda nas eleições para Lisboa». Tenho uma queda para o frentismo de esquerda e irrita-me o sectarismo de várias origens.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
O regresso do terrorismo separatista?
No dia 25 de Abril, a Madeira (e Lisboa) acordou com bandeiras do movimento separatista FLAMA, que fora desactivado aquando da chegada de Alberto JJ ao poder. Há comunicado do grupo de exaltados, e fotografias dos trapos.
A nossa direita «democrática» (falo do PSD e do CDS, não dos delinquentes seriais mais à direita) teve, historicamente, uma atitude de discreta complacência com a violência e as bombas dos separatistas atlânticos. O incidente presente talvez fosse adequado para perguntar a personagens como Pacheco Pereira, Mota Amaral, Helena Matos ou Paulo Portas, o que pensam da ideologia da FLAMA, dos seus métodos e do facto de nem uma única das 200 bombas desta organização ter sido punida em tribunal.
A nossa direita «democrática» (falo do PSD e do CDS, não dos delinquentes seriais mais à direita) teve, historicamente, uma atitude de discreta complacência com a violência e as bombas dos separatistas atlânticos. O incidente presente talvez fosse adequado para perguntar a personagens como Pacheco Pereira, Mota Amaral, Helena Matos ou Paulo Portas, o que pensam da ideologia da FLAMA, dos seus métodos e do facto de nem uma única das 200 bombas desta organização ter sido punida em tribunal.
sábado, 25 de abril de 2009
Grândola
Viva o 25 de Abril!
Autor:
Ricardo Alves
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23:55:00
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Obama e o governo 2.0
Obama mexe-se mais depresa do que a direita e já começou a avançar com um sistema que torna públicos e rapidamente acessíveis quase todos os actos do governo. A direita não sabe o que fazer. E a sociedade civil - os grupos de pressão com quem ele se continua a reunir - também está a avançar o mais depressa que pode - antes que o Murdoch e os think tanks da extrema-direita possam reagir.
No KTC (Know Thy Congressman) pode-se ver em poucos segundos a vida de cada congressista, saber quem os elegeu, quanto dinheiro lhes deu, onde eles votaram depois de eleitos, que leis propuseram, porquê, etc.
Na Sunlight Foundation preparam-se para facilitar o acesso dos cidadãos ao maior número possível de documentos, da forma mais inteligente e rápida possível.
Só um reduzido número de pessoas viu o documentário de Michael Moore Sicko e ouviu a gravação entre Nixon e o crápula que lhe explicou o esquema da privatização do sistema de saúde. E um número ainda mais reduzido de pessoas comprou o vídeo e pode ver as entrevistas que não ficaram na montagem final do documentário e onde as estatísticas demonstram que as seguradoras são um custo (exorbitante e) desnecessário interposto entre os hospitais e os cidadãos, e uma máquina assassina cujos lucros assentam na negação de cuidados médicos à população.
Esta iniciativa de Obama pretende colocar estatísticas e factos ao alcance dos cidadãos, para que eles sejam incentivados a votar.
Obama acredita que se as pessoas votarem tendo os seus interesses pessoais em vista, a direita nunca mais ganha eleições.
No KTC (Know Thy Congressman) pode-se ver em poucos segundos a vida de cada congressista, saber quem os elegeu, quanto dinheiro lhes deu, onde eles votaram depois de eleitos, que leis propuseram, porquê, etc.
Na Sunlight Foundation preparam-se para facilitar o acesso dos cidadãos ao maior número possível de documentos, da forma mais inteligente e rápida possível.
Só um reduzido número de pessoas viu o documentário de Michael Moore Sicko e ouviu a gravação entre Nixon e o crápula que lhe explicou o esquema da privatização do sistema de saúde. E um número ainda mais reduzido de pessoas comprou o vídeo e pode ver as entrevistas que não ficaram na montagem final do documentário e onde as estatísticas demonstram que as seguradoras são um custo (exorbitante e) desnecessário interposto entre os hospitais e os cidadãos, e uma máquina assassina cujos lucros assentam na negação de cuidados médicos à população.
Esta iniciativa de Obama pretende colocar estatísticas e factos ao alcance dos cidadãos, para que eles sejam incentivados a votar.
Obama acredita que se as pessoas votarem tendo os seus interesses pessoais em vista, a direita nunca mais ganha eleições.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Combate ao desemprego?
- «O Governo estimou hoje em cerca de 30 mil o aumento do número de alunos no ensino secundário tendo em conta o alargamento da escolaridade obrigatória» (Público)
Independentemente dos méritos da iniciativa, um dos seus efeitos colaterais será, sem dúvida, diminuir o número de jovens desempregados. E seria interessante que este alargamento fosse acompanhado do regresso ao modelo das escolas profissionais a partir do 9º ano. Caso contrário, será sobretudo uma medida administrativa para exibir em relatórios internacionais.
Coligação de direita: resposta da esquerda?
Já está anunciada uma coligação da direita para levar Santana Lopes à Câmara Municipal de Lisboa. É um facto óbvio que a esquerda só a poderá derrotar com uma coligação que inclua (pelo menos) três das quatro listas que elegeram vereadores nas intercalares. Caso contrário, teremos o regresso de Santana.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
O Paquistão talibaniza-se
O Paquistão tem 170 milhões de pessoas, a bomba nuclear, uns serviços secretos que fomentaram os talibã, reivindicações territoriais sobre a Índia, e territórios que não controla na província do noroeste. Na semana passada, e com a autorização do governo do Paquistão, os talibã implementaram a chária no vale de Swat (as mulheres só podem sair à rua acompanhadas de homens). Aproveitaram-se do armísticio com o governo para invadir de seguida outro distrito, e estão agora a 96 km de Islamabade. O objectivo final, transformarem o Paquistão num califado, continua longe. Mas a Hillary acha que o governo paquistanês está a abdicar. Se o fizer algum dia, um novo mundo nos espera.
Obama não cumpre (2)
Obama prometeu terminar com a tortura e cumpriu (logo ao segundo dia de mandato). Não prometeu punir os responsáveis, é verdade, mas creio que era legítimo esperar que o fizesse de alguma forma (despedimentos, no mínimo, embora o que merecessem fosse mesmo a prisão).
Como já escrevi, os EUA e a Europa perderam boa parte da sua autoridade ética durante os sete anos de «guerra cósmica contra o mal». Tornou-se claro para a geração actual (que provavelmente não o saberia), que avanços civilizacionais como o respeito pelos Direitos do Homem não estão, jamais, imunes a recuos.
Obama promete agora um inquérito do poder legislativo às decisões de autorizar a tortura e outras ilegalidades (detenções ilegais, por exemplo). E admite «consequências legais» para os mandantes. Está bem, mas é pouco. Quanto aos executantes da tortura, garante-lhes que não sofrerão consequências. Condoleeza Rice terá sido a maior responsável pelos contorcionismos legais do período mais negro dos EUA desde a 2ª guerra mundial.
Sempre pensei que uma ordem para torturar fosse sempre ilegal. Parece que a conclusão deste período é que pode não ser. E isso não fica bem.
Como já escrevi, os EUA e a Europa perderam boa parte da sua autoridade ética durante os sete anos de «guerra cósmica contra o mal». Tornou-se claro para a geração actual (que provavelmente não o saberia), que avanços civilizacionais como o respeito pelos Direitos do Homem não estão, jamais, imunes a recuos.
Obama promete agora um inquérito do poder legislativo às decisões de autorizar a tortura e outras ilegalidades (detenções ilegais, por exemplo). E admite «consequências legais» para os mandantes. Está bem, mas é pouco. Quanto aos executantes da tortura, garante-lhes que não sofrerão consequências. Condoleeza Rice terá sido a maior responsável pelos contorcionismos legais do período mais negro dos EUA desde a 2ª guerra mundial.
Sempre pensei que uma ordem para torturar fosse sempre ilegal. Parece que a conclusão deste período é que pode não ser. E isso não fica bem.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Amor cristão
A direita vai-nos explicando os seus valores. Em mais uma manifestação de amor cristão e decência elementar, uma mulherzinha repugnante que escreve para o WSJ, chamada Peggy Noonan, que dá opiniões de direita na imprensa, disse a propósito da tortura: "Some things in life need to be mysterious," Noonan said on Sunday about the release of the torture memos. "Sometimes you need to just keep walking. ... It's hard for me to look at a great nation issuing these documents and sending them out to the world and thinking, oh, much good will come of that."
Virar a cara e fazer de conta que não sabemos que o nosso governo é um ninho de neo-nazis, de psicopatas e de assassinos. Pelo menos enquanto as pessoas que são raptadas e torturadas sem serem formalmente acusadas tiverem a pele escura e não forem da igreja dela.
Virar a cara e fazer de conta que não sabemos que o nosso governo é um ninho de neo-nazis, de psicopatas e de assassinos. Pelo menos enquanto as pessoas que são raptadas e torturadas sem serem formalmente acusadas tiverem a pele escura e não forem da igreja dela.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
As distorções que as quotas agravaram
Ao contrário da maior parte da esquerda, sou contra as quotas. Nas actuais eleições, a quota obrigatória de mulheres (33,3%) distorce a lista do PS (onde as duas primeiras mulheres elegíveis serão candidatas às câmaras de Porto e Sintra), e distorce agora a do PSD (onde se assume que as duas primeiras candidatas sairão imediatamente após a eleição). Fazer leis é bonito. Contorná-las na primeira oportunidade mostra o quanto nelas se acreditou. Não seria melhor investir em combater a discriminação das mulheres no mundo laboral?
domingo, 19 de abril de 2009
Polícia para a prisão
O poder da polícia tem que ter limites. Está muito certo que em qualquer Estado em que valha a pena viver a polícia tem o monopólio da violência legítima e isso tudo. Mas matar manifestantes é «um pouco» demais. Será portanto um significativo sinal civilizacional se um polícia for processado pelo homicídio de um transeunte.
Fim da educação religiosa na Macedónia
Entre os países ex-comunistas do leste da Europa, há aqueles onde a religião voltou em força (caso da Polónia), e aqueles que estão prestes a abandoná-la totalmente (caso da República checa).
Soube-se agora que o Tribunal Constitucional da Macedónia decidiu anular um artigo da Lei da Educação que permitia o ensino da religião nas escolas públicas. A religião será ensinada onde deve sê-lo: em casa e nos templos religiosos.
Sem dúvida um sinal positivo: há pelo menos uma república ex-jugoslava que parece ter tirado conclusões do divisionismo religioso que ensanguentou a região nos anos 90. Permitir a segregação religiosa na escola pública é sempre um erro.
Soube-se agora que o Tribunal Constitucional da Macedónia decidiu anular um artigo da Lei da Educação que permitia o ensino da religião nas escolas públicas. A religião será ensinada onde deve sê-lo: em casa e nos templos religiosos.
Sem dúvida um sinal positivo: há pelo menos uma república ex-jugoslava que parece ter tirado conclusões do divisionismo religioso que ensanguentou a região nos anos 90. Permitir a segregação religiosa na escola pública é sempre um erro.
GObama! Pregação aos nihilistas.
Eu acho que é facílimo sentarmo-nos aqui a inventariar as coisas horríveis que em democracia fazem parte da vida das sociedades mais justas e mais saudáveis: os abusos, as mentiras, as injustiças, os problemas que não se resolvem porque os poderosos têm poder.
Mas se bem me lembro bem, durante os anos sessenta e setenta, filósofos, políticos e intelectuais discutiram as alternativas à democracia parlamentar com intensidade e honestidade, e concluiram que a URSS, a China, Cuba, a Albânia, ou o Laos, não eram os paraísos onde as fraquesas da burguesia (sempre supersticiosa, ignorante e materialista, sempre do lado errado) se corrigiam sozinhas... aliás, como se sabe, nem com uma ajudinha (tipo Pol Pot) a burguesia parece querer endireitar-se, pensar, ansear um mundo melhor e mais justo, trocar segurança por liberdade, etc. (todos conhecemos o rol das queixas).
Eu não acho que Obama seja o Messias, nem que os EUA de repente sejam o paraíso na Terra.
Mas acho que Barak Obama é um político inteligente, culto, honesto e equilibrado, que está a fazer o que pode pelo país dele e pelo mundo, com as pessoas que tem, dentro dos limites estabelecidos pela Constituição, sem uma ponta de cinismo.
O que já não é mau, considerando a sucessão de crápulas, de ladrões, de criminosos e de canalhas que têm ocupado a Casa Branca nas últimas quatro décadas: Bush é um criminoso e um sociopata, Clinton era um aldrabão, o Bush Sr. é um negociante de armas, Reagan era um idiota e um fascista, (Carter foi um curto intervalo de inteligência e de decência), Ford e Nixon dois sociopatas criminosos de guerra... se tivesse seis horas podia escrever aqui um rol dos crimes que os presidentes republicanos dos últimos 40 anos deixaram a CIA e o complexo industrial militar perpetrar no mundo livre.
Aos europeus que acham que Obama é só 'mais um' presidente e que 'não vai mudar nada', digo que já mudou. Muitas coisas. Todos os dias. E peço-lhes que o comparem com o Sarkozy, a Merkel, o Berlusconi, o Brown, aquele homúnculo da Holanda, que acredita que o mundo tem 6,000 anos, ou o nosso pequeno Barrosinho, pequenino mas cuja maldade calosa e a insensibilidade ao sofrimento dos pobres faz corar o ayatolah mais rico, mais putanheiro e mais alcoólico do Irão. As canalhices que o Barroso e os patrões dele cozinharam com os amigos multi-milionários contra os cidadãos da Europa nos últimos anos não têm paralelo da história do pós-guerra.
Se os comentadores do meu posting não conseguem ver as diferenças... :o)
Mas se bem me lembro bem, durante os anos sessenta e setenta, filósofos, políticos e intelectuais discutiram as alternativas à democracia parlamentar com intensidade e honestidade, e concluiram que a URSS, a China, Cuba, a Albânia, ou o Laos, não eram os paraísos onde as fraquesas da burguesia (sempre supersticiosa, ignorante e materialista, sempre do lado errado) se corrigiam sozinhas... aliás, como se sabe, nem com uma ajudinha (tipo Pol Pot) a burguesia parece querer endireitar-se, pensar, ansear um mundo melhor e mais justo, trocar segurança por liberdade, etc. (todos conhecemos o rol das queixas).
Eu não acho que Obama seja o Messias, nem que os EUA de repente sejam o paraíso na Terra.
Mas acho que Barak Obama é um político inteligente, culto, honesto e equilibrado, que está a fazer o que pode pelo país dele e pelo mundo, com as pessoas que tem, dentro dos limites estabelecidos pela Constituição, sem uma ponta de cinismo.
O que já não é mau, considerando a sucessão de crápulas, de ladrões, de criminosos e de canalhas que têm ocupado a Casa Branca nas últimas quatro décadas: Bush é um criminoso e um sociopata, Clinton era um aldrabão, o Bush Sr. é um negociante de armas, Reagan era um idiota e um fascista, (Carter foi um curto intervalo de inteligência e de decência), Ford e Nixon dois sociopatas criminosos de guerra... se tivesse seis horas podia escrever aqui um rol dos crimes que os presidentes republicanos dos últimos 40 anos deixaram a CIA e o complexo industrial militar perpetrar no mundo livre.
Aos europeus que acham que Obama é só 'mais um' presidente e que 'não vai mudar nada', digo que já mudou. Muitas coisas. Todos os dias. E peço-lhes que o comparem com o Sarkozy, a Merkel, o Berlusconi, o Brown, aquele homúnculo da Holanda, que acredita que o mundo tem 6,000 anos, ou o nosso pequeno Barrosinho, pequenino mas cuja maldade calosa e a insensibilidade ao sofrimento dos pobres faz corar o ayatolah mais rico, mais putanheiro e mais alcoólico do Irão. As canalhices que o Barroso e os patrões dele cozinharam com os amigos multi-milionários contra os cidadãos da Europa nos últimos anos não têm paralelo da história do pós-guerra.
Se os comentadores do meu posting não conseguem ver as diferenças... :o)
Revista de blogues (19/4/2009)
- «Eu, ateu, não respeito o ateísmo nem o considero intrinsecamente sério. (...) O respeito reservo-o só para quem sente. Não o desperdiço em ideias abstractas. E uma forma de respeitar as pessoas é precisamente pela crítica frontal e justificada das ideias que propõem. Menos que isso é condescendência ou aldrabice, e nenhuma dessas é respeito.» (Diário Ateísta)
- «Como componente de progressão nas suas carreiras os professores portugueses têm de frequentar acções de formação. (...) Leio no «Expresso» que neste momento um desses cursos de formação é ministrado por uma coisa que dá pelo nome de «Fundação Casa Índigo» que vive de propagar que a «aura» das crianças tem diferentes cores, em razão da sua energia e da ligação que mantêm com o Universo. Como se ainda não bastasse de vigarice, ainda vendem por aí actividades chamadas «prece colectiva das sete chamas sagradas» ou «seminários de cura galáctica e universal».» (Random Precision)
sábado, 18 de abril de 2009
Obama
Ter uma pessoa normal na Casa Branca faz uma diferença enorme. Desde Janeiro, todos os dias o presidente nos espanta com mais uma declaração normal, com mais uma medida sensata, com mais uma avaliação honesta e inteligente duma situação difícil ou complicada.
Depois de 8 anos de loucura desvairada e incompetência irresponsável, a viver entre os rurais do Texas e a dar aulas na universidade pública mais conservadora dos EUA, que dá prémios ao Chuck Norris e convida o ex-presidente para vir cá fazer discursos, esqueço-me com frequência que no norte há um mundo civilizado e emociono-me quando leio estas coisas: "Washington - The Environmental Protection Agency has concluded that carbon dioxide and five other greenhouse gases are a danger to public health and welfare..."
:o)
Depois de 8 anos de loucura desvairada e incompetência irresponsável, a viver entre os rurais do Texas e a dar aulas na universidade pública mais conservadora dos EUA, que dá prémios ao Chuck Norris e convida o ex-presidente para vir cá fazer discursos, esqueço-me com frequência que no norte há um mundo civilizado e emociono-me quando leio estas coisas: "Washington - The Environmental Protection Agency has concluded that carbon dioxide and five other greenhouse gases are a danger to public health and welfare..."
:o)
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Qual é a cultura política do Estado português?
É inevitável que um Estado promova uma cultura política própria. Seria desejável que, em absoluto, não o fizesse, mas é necessário escolher currículos para o ensino secundário, dar nomes a ruas e pontes, e patrocinar eventos.
O actual regime democrático não apresenta uma cultura política marcadamente própria. Talvez por isso, recai frequentemente na cultura política do salazarismo. Quando se construiu uma nova ponte sobre o Tejo, deu-se-lhe o nome de um navegador de há cinco séculos; no Algarve, a principal estrada tem o nome de «Via do Infante» (D. Henrique); recentemente, a TV pública produziu e emitiu uma série sobre o galã António Salazar; e agora, temos o patrocínio das mais altas figuras do Estado à «canonização» do cavaleiro medieval Nuno Álvares Pereira. Estes heróis são alguns dos heróis do Estado Novo. São aqueles que os gurus da política cultural do salazarismo consideraram mais apropriados a uma ideologia estatal de nacionalismo, militarismo, catolicismo e autoridade. Evidentemente, as pessoas reais que foram Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira ou Vasco da Gama terão pouco que ver com a apropriação que a propaganda de um Estado totalitário fez deles séculos mais tarde. Mas têm uma relação ainda mais ténue com o actual Estado democrático e republicano.
Os cidadãos portugueses querem, penso eu, viver em liberdade com direitos garantidos constitucionalmente e desenvolvimento económico. Seria portanto mais lógico que a cultura política da democracia promovesse as figuras a quem devemos os princípios liberais das primeiras constituições, como Manuel Fernandes Tomás ou Mouzinho da Silveira, pensadores da liberdade como Alexandre Herculano ou Raul Proença, e políticos da democracia e da laicidade como o injustamente vilipendiado Afonso Costa ou o muito esquecido António Sérgio. Que os cadáveres de Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira e outras figuras medievais repousem em paz. O Portugal moderno, na prática, foi fundado por Sebastião José. E, para o futuro, penso eu que se o deseja mais à imagem de cientistas e democratas do que admirando os exemplos de santos e guerreiros sanguinários de um passado distante.
O actual regime democrático não apresenta uma cultura política marcadamente própria. Talvez por isso, recai frequentemente na cultura política do salazarismo. Quando se construiu uma nova ponte sobre o Tejo, deu-se-lhe o nome de um navegador de há cinco séculos; no Algarve, a principal estrada tem o nome de «Via do Infante» (D. Henrique); recentemente, a TV pública produziu e emitiu uma série sobre o galã António Salazar; e agora, temos o patrocínio das mais altas figuras do Estado à «canonização» do cavaleiro medieval Nuno Álvares Pereira. Estes heróis são alguns dos heróis do Estado Novo. São aqueles que os gurus da política cultural do salazarismo consideraram mais apropriados a uma ideologia estatal de nacionalismo, militarismo, catolicismo e autoridade. Evidentemente, as pessoas reais que foram Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira ou Vasco da Gama terão pouco que ver com a apropriação que a propaganda de um Estado totalitário fez deles séculos mais tarde. Mas têm uma relação ainda mais ténue com o actual Estado democrático e republicano.
Os cidadãos portugueses querem, penso eu, viver em liberdade com direitos garantidos constitucionalmente e desenvolvimento económico. Seria portanto mais lógico que a cultura política da democracia promovesse as figuras a quem devemos os princípios liberais das primeiras constituições, como Manuel Fernandes Tomás ou Mouzinho da Silveira, pensadores da liberdade como Alexandre Herculano ou Raul Proença, e políticos da democracia e da laicidade como o injustamente vilipendiado Afonso Costa ou o muito esquecido António Sérgio. Que os cadáveres de Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira e outras figuras medievais repousem em paz. O Portugal moderno, na prática, foi fundado por Sebastião José. E, para o futuro, penso eu que se o deseja mais à imagem de cientistas e democratas do que admirando os exemplos de santos e guerreiros sanguinários de um passado distante.
Desonrar a memória do condestável
A estória do olho queimado por óleo de fritar peixe que se cura com um beijo num retrato de um cavaleiro do século 14 é, sobretudo, de um ridículo atroz (e desonra a memória de um militar português). Mas, para além da óbvia exploração política que «alguém» espera fazer disto, é realmente espantoso que ninguém tenha ainda convidado a miraculada Guilhermina para a televisão ou, no mínimo, para um «Prós e Contras». É que um milagre, em directo do século 14 para o século 21, não acontece todos os dias. Os jornalistas estão todos a dormir, ou será que têm medo de alguma coisa?
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Não estamos bem
- «O Banco de Portugal espera, para este ano, uma recessão de 3,5% da economia portuguesa, em relação a 2008. Um valor que é significativamente mais elevado do que a queda de 0,8% prevista em Janeiro.» (Diário de Notícias)
- «Depois de uma paragem de 15 dias, os trabalhadores da Qimonda de Vila do Conde deveriam retomar a produção após a Páscoa. Mas ontem, em vez de "bolachas" (wafers) para preencherem com chips, tiveram na banca a notícia de 600 despedimentos e da passagem de 800 colaboradores para o regime de lay-off - suspensão do contrato de trabalho. Duas centenas de funcionários permanecerão na empresa para assegurar um eventual reinício de laboração.» (Público)
- «A Coindu, a empresa têxtil com fábricas em Vila Nova de Famalicão e Arcos de Valdevez, confirmou esta quarta-feira o despedimento de 387 trabalhadores, por causa da «rápida e significativa deterioração» do mercado de componentes automóveis.» (Agência Financeira)
- «A Platex, Indústria de Fibras de Madeira (IFM), de Tomar, parou a produção no início do mês, por "incapacidade financeira" para manter a laboração, disse hoje à agência Lusa o presidente do Conselho de Administração da empresa.» (Diário de Notícias)
- «Entre Janeiro e Março deste ano, 957 empresas apresentaram declarações de insolvência, um número que aumentou 31 por cento face ao mesmo período do ano anterior. Porto, Braga e Lisboa foram os distritos mais afectados.» (TSF)
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Somália: «paraíso» neoliberal
Se a Helena Matos quer encontrar romantizações ideológicas da Somália, não deve procurar à esquerda, mas sim à direita, concretamente no blogue Causa Liberal, onde o CN tem explicado detalhadamente como «o negócio floresce em várias partes da Somália, sustentada por tradições tribais de respeito por direitos de propriedade exercidos em favor de "business"», que o que é bom é a ausência de Estado, e que «podemos vislumbrar que a total ausência de regulamentação económica e incapacidade de imposição de um qualquer centro de autoridade legislativa e securitária tem levado o território a prosperar em termos comparativos, que a maior parte dos países vizinhos - para não falar em liberdade objectiva». Pelas bandas «liberais», até já se especulou «se o Continente Africano não estaria muito melhor, se os actuais "Estados" (...) desaparecessem». Enfim, se a Somália realiza alguma utopia contemporânea, é a neoliberal. E quando os problemas transbordam para as águas internacionais, talvez fosse hora de reconhecê-lo: onde não há Estado, só há piratas.
Europa em paz? (1)
Dizem-nos que a União Europeia é a grande fautora da paz no continente. Caso principal: a França e a Alemanha envolveram-se em três guerras entre 1870 e 1945, nas quais se pode dizer que a anterior causou a seguinte. No entanto, a paz entre a França e a Alemanha depois da 2ª guerra mundial deveu-se, muito prosaicamente, à guerra fria, que deixou esses dois países do mesmo lado da cortina de ferro. Com a queda desta e a reunificação da Alemanha, temeu-se que a velha animosidade voltasse. Mas, na realidade, as condições tinham mudado: nenhum dos dois velhos inimigos é, hoje, uma superpotência. A União Europeia permite o diálogo e a procura de equilíbrios, mas atribuir-lhe a paz é, neste caso, francamente exagerado. E assim, finalmente, a Europa é governada pelo «eixo», mas pelo eixo franco-alemão.
«Le Chant des Partisans» (1943): hino da resistência francesa à ocupação alemã.
domingo, 12 de abril de 2009
O casamento civil já é maioritário
Num artigo de 2007, arrisquei a previsão de que o casamento civil seria maioritário logo em 2008 ou, no máximo, em 2010. Actualizei a previsão em Janeiro de 2008, arriscando que seria logo em 2008. Só me enganei por excessivo «conservadorismo»: 2007 foi o ano em que, pela primeira vez, o casamento religioso foi minoritário. Efectivamente, segundo dados recentes, em 2007 ter-se-ão celebrado 24 317 casamentos exclusivamente pelo registo civil, e apenas 22 012 religiosos (dos quais são registados, pela primeira vez, 88 casamentos religiosos não católicos). Oficialmente, o casamento católico é, portanto, minoritário em Portugal.
Eu já alertara, numa série de artigos neste blogue, para a secularização da sociedade portuguesa: o crescimento do casamento civil, a elevada taxa de divórcios, e o número de crianças nascidas fora do casamento. Efectivamente, quando um terço das crianças nascem fora do casamento, mais de metade dos novos casamentos são pelo registo civil, e há, anualmente, um divórcio por cada dois casamentos, estamos muito longe do estereótipo da procriação exclusivamente dentro do casamento, necessariamente perpétuo, sacramentado pela ICAR. Nos comportamentos sociais, os portugueses afastam-se, cada vez mais a cada ano que passa, das regras recomendadas pela ICAR.
Portanto, quando ouvirem alguém dizer que «o Estado é laico mas a sociedade é católica», ou então que «o catolicismo é esmagadoramente maioritário» em Portugal, respirem bem e pensem que já deixou de ser assim. A sociedade portuguesa é cada vez mais secular.
Eu já alertara, numa série de artigos neste blogue, para a secularização da sociedade portuguesa: o crescimento do casamento civil, a elevada taxa de divórcios, e o número de crianças nascidas fora do casamento. Efectivamente, quando um terço das crianças nascem fora do casamento, mais de metade dos novos casamentos são pelo registo civil, e há, anualmente, um divórcio por cada dois casamentos, estamos muito longe do estereótipo da procriação exclusivamente dentro do casamento, necessariamente perpétuo, sacramentado pela ICAR. Nos comportamentos sociais, os portugueses afastam-se, cada vez mais a cada ano que passa, das regras recomendadas pela ICAR.
Portanto, quando ouvirem alguém dizer que «o Estado é laico mas a sociedade é católica», ou então que «o catolicismo é esmagadoramente maioritário» em Portugal, respirem bem e pensem que já deixou de ser assim. A sociedade portuguesa é cada vez mais secular.
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
sábado, 11 de abril de 2009
Taslima Nasreen: mais de dez anos de exílio
Taslima Nasreen, a escritora e militante feminista, fala da sua odisseia em fuga permanente ao fundamentalismo islâmico:
- «Je suis née, j’ai grandi dans un pays musulman. Lorsque je critique les fondamentalismes, mais aussi les religions en tant que telles, qu’il s’agisse de l’hindouisme, du christianisme, du judaïsme, du bouddhisme, parce qu’elles oppressent les femmes, personne ne me menace de mort. Mais lorsque je parle de l’islam, alors les fondamentalistes musulmans profèrent des fatwas demandant mon exécution, ma pendaison. Ma tête est mise à prix. C’est ainsi que j’ai été expulsée de mon propre pays, le Bangladesh. Après avoir vécu dix ans en Europe, je suis partie en Inde, à Calcutta. Là encore, j’ai été visée par des fatwas. Mes livres ont été brûlés sur la place publique. Lors de la présentation de l’un de mes livres, j’ai été agressée par des fondamentalistes musulmans à Hyderabad. À Calcutta, ils sont descendus dans la rue pour exiger mon expulsion. En réponse, le gouvernement indien de gauche m’a placée en résidence surveillée à New Delhi, avant de m’expulser. À cause de ces intégristes, je suis aujourd’hui contrainte à un nouvel exil.» (UFAL)
Autor:
Ricardo Alves
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TV RIP
Durou meio século. Mais ou menos do final da segunda guerra mundial ao 11 de Setembro. Agora, a internet prepara-se para ultrapassar a velhinha TV. O principal meio de comunicação mudou. É menos controlável pelos poderes políticos e económicos. É muito menos centralizado. Tem muito mais lixo associado. Respeita menos regras. Estaremos cá para ver no que vai dar.
Luís Amado atrapalhado
Se há coisa que me choca, é a indiferença com que os portugueses olham para o avolumar das provas de que os governos democráticos portugueses, nestes últimos anos, estiveram envolvidos no transporte e eventualmente na tortura de prisioneiros. Eu pensava, na minha ingenuidade, que um dos consensos inabaláveis do regime actual era o repúdio pela tortura, e que a superioridade moral da democracia sobre o salazarizmo passava, em boa parte por aí. Afinal, parece que ando enganado. Há muita porcaria debaixo do tapete da «luta contra o terrorismo». Nesta entrevista de Luís Amado, só não a vê a boiar quem não quer:
- «Sábado: É uma forma de o Governo lavar a face depois de vários voos da CIA terem passado por Portugal?
- Luís Amado: Tem as informações sobre a passagem?
- SAB: O senhor ministro tem as informações?
- LA: Eu tenho as informações que tenho e não tenho informações sobre a passagem.
- SAB: Não passou ninguém?
- LA: Não sei, nem tenho que saber.
- SAB: Não tem que saber?
- LA: É óbvio.
- (...)
- P: Ana Gomes diz que o Governo está a mentir.
- R: Isso é o que a Ana Gomes diz.
- P: Ana Gomes está a mentir?
- R: É o que a Ana Gomes diz.
- P: Um dos lados está mentir.
- R: (Silêncio.)
- (...)»
- «SAB: Alguma vez mentiu na actividade diplomática?
- LA: Um político não pode mentir.
- SAB: Nunca mentiu durante esta entrevista?
- LA: Nunca menti. Mas há verdades que um político não pode nem deve dizer em determinadas circunstâncias.
- SAB: Omitiu alguma coisa?
- LA: Algumas posso ter omitido.»
Haverá alguma maneira de mandar um ministro para a choça por ajudar a transportar prisioneiros para serem torturados? Se não há, deveria haver.
(Via Varredores do Deserto.)
Autor:
Ricardo Alves
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sexta-feira, 10 de abril de 2009
Memória do «reviralho»
A expressão «reviralho» surgiu originalmente para designar as revoltas republicanas contra a Ditadura Militar que tiveram lugar entre 1926 e 1931. O blogue Cinco Dias tem dois artigos interessantes sobre este período mal conhecido da nossa história.
Ao contrário do que pretendem, respectivamente, a mitologia salazarista e a visão histórica comunista, nem o 28 de Maio foi aceite pacificamente por uma nação unanimemente agradecida, nem a resistência ao Estado Novo foi hegemonizada pelos comunistas. Pelo contrário, houve quase duzentos mortos na revolta de Fevereiro de 1927 (incluindo dezenas de militantes republicanos fuzilados sumariamente, e centenas deportados para as colónias), e as redes republicanas mantiveram-se activas em conspirações até 1940 (em 1931, a República foi «restaurada» na Madeira durante 28 dias...), ponto a partir do qual o antifascismo passou, efectivamente, a ser progressivamente dominado pelo PCP. Mas, até lá, viveu-se uma guerra civil intermitente.
Ler mais: «O Reviralho: revoltas republicanas contra a ditadura e o Estado Novo (1926-1940)» (Luís Farinha); «1931: O ano de todas as revoltas» (Francisco Lopes de Melo); ler também no Almanaque Republicano.
Ao contrário do que pretendem, respectivamente, a mitologia salazarista e a visão histórica comunista, nem o 28 de Maio foi aceite pacificamente por uma nação unanimemente agradecida, nem a resistência ao Estado Novo foi hegemonizada pelos comunistas. Pelo contrário, houve quase duzentos mortos na revolta de Fevereiro de 1927 (incluindo dezenas de militantes republicanos fuzilados sumariamente, e centenas deportados para as colónias), e as redes republicanas mantiveram-se activas em conspirações até 1940 (em 1931, a República foi «restaurada» na Madeira durante 28 dias...), ponto a partir do qual o antifascismo passou, efectivamente, a ser progressivamente dominado pelo PCP. Mas, até lá, viveu-se uma guerra civil intermitente.
Ler mais: «O Reviralho: revoltas republicanas contra a ditadura e o Estado Novo (1926-1940)» (Luís Farinha); «1931: O ano de todas as revoltas» (Francisco Lopes de Melo); ler também no Almanaque Republicano.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Sobre o uso do 'comprovativo'
O papa e Jesus lutam na internet a propósito do uso de preservativos. Todas as crianças e todos os adolescentes deviam ver este video.
Há 5769 anos...
o Deus dos judeus fez o mundo. Hoje na telefonia um rabi perdeu uma oportunidade excelente para ficar calado e explicou que o Sol estava precisamente na posição em que estava quando Deus fez... já não me lembro o que é que Deus fez no primeiro dia. Mas deve ter feito o Sol no dia anterior, porque senão, quando fez o Céu e a Terra, o Sol não estava lá?... estas coisas são muito complicadas. :o)
Eu prefiro a teoria dos Raelians: extraterrestres chamados Elohim fizeram a Terra há uns anos, não sei bem quantos. E eles têm uma nave espacial de plástico numa garagem para irem não sei aonde (com milagres não é preciso engenheiros de foguetes).
Eu prefiro a teoria dos Raelians: extraterrestres chamados Elohim fizeram a Terra há uns anos, não sei bem quantos. E eles têm uma nave espacial de plástico numa garagem para irem não sei aonde (com milagres não é preciso engenheiros de foguetes).
The future looks bright
- «A economia poderá ter registado o pior desempenho dos últimos 30 anos no primeiro trimestre do ano, na comparação com o trimestre homólogo transacto. O Núcleo de Estudos de Conjuntura da Universidade Católica estima uma queda de 3,2 por cento do Produto Interno Bruto entre Janeiro e Março deste ano. (...) A criação negativa de riqueza(*) entre Janeiro e Março contribuiu para acentuar o desemprego no mesmo período. A Universidade Católica projecta uma subida da taxa de desemprego para 8,4 por cento, com base nos dados obtidos nos meses de Janeiro e de Fevereiro.» (Público)
Nuno Melo, o republicano do CDS
Este blogue saúda a nomeação de Nuno Melo como cabeça de lista do CDS para as eleições ao Parlamento Europeu. Nuno Melo é tão republicano que até já defendeu publicamente que as ordens honoríficas passassem a ter nomes como «Ordem 5 de Outubro», e tão liberal em matéria de costumes que é favorável ao consumo de cannabis(*) nos corredores do Parlamento. Possui ainda um respeito sólido, inabalável e hiper-coerente pela Constituição da República.
O meu voto fica assim decidido.
(*) Corrigido.
A República não peregrina
Perfeitamente lamentável, o ataque de João Gobern à AAP na Antena 1. Há muita gente que não entende (ou finge não entender?) que a laicidade significa, para além da mera separação entre Estado e igreja, que o Estado não se pronuncia sobre matérias religiosas, não professa uma fé nem avaliza milagres. A República não peregrina, não tem fé, não crê em milagres, não os ataca e não os refuta. Os cidadãos fazem o que querem, mas quando exercem cargos de representação nacional devem abster-se de colaborar em novas Cruzadas. A anunciada peregrinação das duas principais figuras do Estado ao Vaticano é uma vergonha, que infelizmente vem na tradição da presença de Jorge Sampaio em Fátima há uma década atrás para a beatificação dos «pastorinhos», e de todo um historial da 2ª República de cedências institucionais a uma igreja em declínio demográfico. Dentro de algumas décadas, espera-se, tudo isto parecerá ridículo. Ou talvez não. No segundo caso teremos emigrado todos.
A resposta do Carlos Esperança está excelente.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Valeu a pena
Valeu a pena despenalizar a IVG, quanto mais não seja porque as complicações derivadas de abortos clandestinos diminuiram significativamente nos hospitais públicos. É um indicador, seguro, de que a IVG clandestina está em vias de desaparecimento, e mais uma confirmação do que ganha uma sociedade quando abandona os dogmas de origem religiosa que só complicam a vida das pessoas.
Política euro-provinciana
Vital Moreira tem muito a seu favor. Ser um dos poucos políticos portugueses no activo genuína e claramente laicistas, claro. Mas, talvez pela fragilidade de não ser militante do PS, tem alguma posições incompreensíveis.
Entendo melhor isto:
(Mais: para que é que encheram as ruas com cartazes a dizer «Nós, europeus», se o que interessa é discutir o melhor candidato do «nós, portugueses» a Presidente da Comissão Europeia?)
Entendo melhor isto:
- «Manuel Alegre e Paulo Pedroso juntaram-se ontem ao ex-presidente Mário Soares na defesa de que o Partido Socialista Europeu não apoie a recandidatura de Durão Barroso à presidência da Comissão Europeia.»
- «Pedroso defendeu mesmo que o ex-primeiro-ministro António Guterres seja o nome do candidato socialista, na sequência do que a eurodeputada Ana Gomes declarou».
(Mais: para que é que encheram as ruas com cartazes a dizer «Nós, europeus», se o que interessa é discutir o melhor candidato do «nós, portugueses» a Presidente da Comissão Europeia?)
A Europa é uma federação de aldeias
Alguém imagina o cabeça de lista do PS, por exemplo por Braga, a dizer que apoiará o governo de um ex-líder do PSD por serem ambos do Minho? Não? Pois, Vital Moreira acaba de dizer que faria isso mesmo. Ou algo semelhante.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Quem se queimará no óleo de peixe?
- «A Associação Ateísta Portuguesa ficou "absolutamente indignada" com o que considera ser "a cumplicidade que os mais elevados dignitários de Portugal, nomeadamente o Sr. Presidente da República, emprestam" à canonização de Nuno Álvares Pereira, refere um comunicado divulgado domingo. Para os membros da associação, a canonização do "Santo Condestável" não passa de uma "burla pueril". (...) "Que Sua Excelência acredite na cura milagrosa do olho esquerdo da D. Guilhermina, a nível pessoal, é um direito que a AAP defende, mas que participe, em nome de Portugal, num acto de marketing e no obscurantismo religioso da Igreja Católica, é uma posição que nos entristece".» (Jornal de Notícias)
- «A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) insurgiu-se ontem contra a participação de figuras do Estado, como o Presidente da República, na Comissão de Honra para a canonização de D. Nun'Álvares Pereira, acusando--as de "traição ao Estado laico". "O Estado laico, condição essencial de uma democracia, fica, irremediavelmente comprometido com a participação do PR que, de algum modo, estabelece uma lamentável confusão entre as funções de Estado e os actos pios do foro individual", refere o comunicado da AAP.» (Diário de Notícias)
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Ricardo Alves
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Pecado
Um imam saudita avisa-nos que os bio-combustíveis são pecaminosos... Deus tem estas tiradas oportunas, sobretudo em países produtores de petróleo, quando o mundo se prepara para mandar os sauditas darem uma volta.
Sem os petrodólares quem é que vai financiar os wahabis e o Al-qeida e os milhares de mesquitas contruídas pelos sauditas em todo o mundo e providas de clérigos trogloditas e terroristas de vária pena e pelo?
Sem os petrodólares quem é que vai financiar os wahabis e o Al-qeida e os milhares de mesquitas contruídas pelos sauditas em todo o mundo e providas de clérigos trogloditas e terroristas de vária pena e pelo?
Outro!
Um membro do grupo religioso de extrema-direita chamado Focus on the Family foi preso por tentar aliciar uma criança de 15 anos na internet. A menina, que declarou ter de menos de 15 anos, era afinal um agente da polícia. :o)
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Na ausência do Estado
As utopias anarquistas e neoliberais pretendem convencer-nos de que, na ausência de Estado, todos viveríamos em harmonia no respeito mútuo e na renúncia voluntária à violência (versão anarquista), e no equilíbrio entre interesses económicos distintos protegidos por empresas ou alianças de vizinhos (versão neoliberal). A actual situação ao largo da Somália prova a ingenuidade dessas teses. Na ausência de Estado, os piratas usam as costas da Somália como refúgio de onde iniciam os seus ataques contra a marinha mercante internacional, na impunidade de quem sabe que pode fugir para uma zona onde não há Direito porque não há Estado.
Menos cristãos nos EUA
A Newsweek tem um artigo sobre a queda da crença religiosa nos EUA. Parece que há menos 10% de cristãos que há 10 anos.
Depois da experiência com Bush na Casa Branca, a falar com Jesus todas as tardes, e de uma década dos cristãos fundamentalistas no senado e no congresso, o pessoal deve estar a começar a desconfiar...
O partido de Jesus deixou fugir o Bin Laden, perdeu a guerra do Iraque e no Afganistão, desbaratou 5.000 biliões de dólares em esquemas de corrupção, matou um milhão de inocentes no Iraque, aumentou a poluição, a gravidez entre adolescentes, atrasou a investigação científica 8 anos, deixou os empregos irem todos para a China...
E mesmo o próprio Jesus portou-se miseravelmente: a Terra está mesmo a aquecer e Jesus não faz nada para mitigar os problemas; e quando vieram os super-furacões, Jesus afogou os heterossexuais em New Orleans e deixou o bairro dos bares e 'das poucas vergonhas' intocado. ...e no fim arruinou a economia do planeta inteiro! :o)
Depois da experiência com Bush na Casa Branca, a falar com Jesus todas as tardes, e de uma década dos cristãos fundamentalistas no senado e no congresso, o pessoal deve estar a começar a desconfiar...
O partido de Jesus deixou fugir o Bin Laden, perdeu a guerra do Iraque e no Afganistão, desbaratou 5.000 biliões de dólares em esquemas de corrupção, matou um milhão de inocentes no Iraque, aumentou a poluição, a gravidez entre adolescentes, atrasou a investigação científica 8 anos, deixou os empregos irem todos para a China...
E mesmo o próprio Jesus portou-se miseravelmente: a Terra está mesmo a aquecer e Jesus não faz nada para mitigar os problemas; e quando vieram os super-furacões, Jesus afogou os heterossexuais em New Orleans e deixou o bairro dos bares e 'das poucas vergonhas' intocado. ...e no fim arruinou a economia do planeta inteiro! :o)
O elo perdido!
O Vaticano "descobriu" que os Templários guardaram o sudário durante 100 anos, justamente o período em que o sudário andou desaparecido.
Depois de todos os exames feitos por cientistas independentes demonstrarem que o sudário foi pintado na alta idade média, o Vaticano insiste nesta aldrabice sem pés nem cabeça. O C14 e a análise palinológica foram conclusivos. Além disso, antropólogos demonstraram que a cara não é humana. Foi pintada. Por isso os cabelos caem a direito, na horizontal, em vez de cairem para trás. E os braços dum morto também caem ao longo do corpo e com os cotovelos no chão é impossível chegar aos orgãos genitais.
O sudário é falso, como são quase todas as relíquias. Muitas vezes os ossos dentro dos relicários nem sequer são humanos. Esta parte da religião - a crendice acrítica e supersticiosa em coisas disparatadas - é muito irritante. :o)
Depois de todos os exames feitos por cientistas independentes demonstrarem que o sudário foi pintado na alta idade média, o Vaticano insiste nesta aldrabice sem pés nem cabeça. O C14 e a análise palinológica foram conclusivos. Além disso, antropólogos demonstraram que a cara não é humana. Foi pintada. Por isso os cabelos caem a direito, na horizontal, em vez de cairem para trás. E os braços dum morto também caem ao longo do corpo e com os cotovelos no chão é impossível chegar aos orgãos genitais.
O sudário é falso, como são quase todas as relíquias. Muitas vezes os ossos dentro dos relicários nem sequer são humanos. Esta parte da religião - a crendice acrítica e supersticiosa em coisas disparatadas - é muito irritante. :o)
domingo, 5 de abril de 2009
Marcial Maciel: droga e pedofilia...
Hoje 'El Pais' tem mais uma história de encobrimento e cumplicidade do Vaticano - neste caso pelo próprio papa João Paulo II - perante os abusos sexuais continuados do sacerdote mexicano Marcial Maciel, fundador de um movimento designado Legionarios de Cristo, que tem 800 padres, 2.500 seminaristas, uma universidade, uma rede de colégios e uma agência de notícias. O padre Maciel morreu no ano passado, deixou uma filha de uma amante e um número desconhecido de crianças sexualmente abusadas (que 'absolvia' a seguir). As primeiras denúncias de abusos sexuais e consumo de drogas datam de 1956. A ICAR encobriu as alegações durante mais de 40 anos e João Paulo II, amigo pessoal de Maciel, definiu-o como um 'guia eficaz da juventude'.
O regresso (oportunista?) do Condestável
Quem conhece a História da 1ª República e do papel que desempenhou no apressar do seu final uma organização chamada «Cruzada Nacional Nuno Álvares Pereira», não pode deixar de ficar incomodado por ver na «Comissão de Honra» da «Canonização» desse cavaleiro medieval o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República, o ministro dos Negócios Estrangeiros e o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas.
Evidentemente, não se questiona o direito individual a acreditar em intercessões de além-túmulo seja de quem for, mesmo com a finalidade comezinha de curar uma queimadela de óleo de fritar peixe. Simplesmente, quem ocupa altos cargos de um Estado democrático e laico apenas deveria participar neste género de homenagem, se a consciência a isso o obriga, como cidadão privado e discreto, sob risco de estar a comprometer-se numa manobra que poderá ter aproveitamentos políticos e religiosos perigosos e indesejáveis.
Um Estado laico não patrocina crenças nem religiões; não promove igrejas nem cultos. A «canonização» de Nuno Álvares Pereira deveria ser um mero assunto privado entre os crentes católicos e a sua igreja, que decidiu certificá-lo com poderes de curandeiro post mortem, na curiosa data de 26 de Abril. Que algumas das principais figuras do Estado endossem esta campanha clerical, a pouco mais de um ano da comemoração da implantação da República, demonstra que não têm memória histórica da exploração nacionalista que o Estado Novo fez desta figura, e que não compreendem que a laicidade não é a mera separação entre Estado e igreja.
Evidentemente, não se questiona o direito individual a acreditar em intercessões de além-túmulo seja de quem for, mesmo com a finalidade comezinha de curar uma queimadela de óleo de fritar peixe. Simplesmente, quem ocupa altos cargos de um Estado democrático e laico apenas deveria participar neste género de homenagem, se a consciência a isso o obriga, como cidadão privado e discreto, sob risco de estar a comprometer-se numa manobra que poderá ter aproveitamentos políticos e religiosos perigosos e indesejáveis.
Um Estado laico não patrocina crenças nem religiões; não promove igrejas nem cultos. A «canonização» de Nuno Álvares Pereira deveria ser um mero assunto privado entre os crentes católicos e a sua igreja, que decidiu certificá-lo com poderes de curandeiro post mortem, na curiosa data de 26 de Abril. Que algumas das principais figuras do Estado endossem esta campanha clerical, a pouco mais de um ano da comemoração da implantação da República, demonstra que não têm memória histórica da exploração nacionalista que o Estado Novo fez desta figura, e que não compreendem que a laicidade não é a mera separação entre Estado e igreja.
[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
Autor:
Ricardo Alves
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sábado, 4 de abril de 2009
Crianças grandes...
A extrema-direita está a desatinar com a popularidade nacional e internacional de Obama. Sempre idiotas, sempre superciais, sempre iguais a si mesmos. Há mais de 10 anos que oiço e leio os argumentos deles. Umas vezes fazem pena, outras apetece atirar-lhes tomates à cara. Torna-se cansativo levar com os ARGUMENTOS INFANTIS destas crianças grandes e malcriadas, que não sabem o que querem e não param de berrar.
Primeiro levámos com os discursos anormais de Sarah Palin e Joe the Plummer, depois, a seguir às eleições, Rush Limbaugh! Agora andam a promover outro actor idiota (depois de Reagan e Schwarzenegger): Chuck Norris! (a minha universidade deu-lhe um prémio na semana passada!)
Por causa destas coisas é que o partido republicano é conhecido entre as pessoas que sabem ler como 'the stupid party'.
Os ícones da direita têm sempre duas coisas em comum: são implausivelmente ignorantes e agressivos. Muitas vezes não se sabe se eles estão a falar a sério!
Primeiro levámos com os discursos anormais de Sarah Palin e Joe the Plummer, depois, a seguir às eleições, Rush Limbaugh! Agora andam a promover outro actor idiota (depois de Reagan e Schwarzenegger): Chuck Norris! (a minha universidade deu-lhe um prémio na semana passada!)
Por causa destas coisas é que o partido republicano é conhecido entre as pessoas que sabem ler como 'the stupid party'.
Os ícones da direita têm sempre duas coisas em comum: são implausivelmente ignorantes e agressivos. Muitas vezes não se sabe se eles estão a falar a sério!
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Islão
Em Inglaterra, um religioso chamado Anjem Choudary declarou recentemente que os homossexuais deviam ser mortos à pedrada e mais uma data de anormalidades sem sentido. Enfim, fez mais uma das arengas trogloditas dos fundamentalistas, fundadas na estupidez tacanha e violenta a que estes idiotas nos vêm habituando.
Eu acho que ele tem o direito de declarar o que quizer, incluindo que acha que quem beber uma cerveja deve ser chicoteado, ou morto, ou coisa que o valha. E acho que - vistos os antecedentes - a polícia o devia vigiar.
Eu acho que ele tem o direito de declarar o que quizer, incluindo que acha que quem beber uma cerveja deve ser chicoteado, ou morto, ou coisa que o valha. E acho que - vistos os antecedentes - a polícia o devia vigiar.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
«La Lengua de Las Mariposas»
Em baixo, a cena final de um dos meus filmes favoritos, «La Lengua de Las Mariposas» (José Luís Cuerda, 1999).
Ontem, completaram-se setenta anos desde o final da Guerra Civil de Espanha.
PT, e «técnicas de Marketing»
Um amigo meu, que trabalha na PT, recebeu da direcção, tal como todos os trabalhadores, o e-mail que reproduzo:
«From: Direcção de Comunicação Corporativa
Sent: terça-feira, 31 de Março de 2009 18:42
To: Undisclosed recipients
Subject: Sapo e TMN nos Prémios PC Guia
A PC Guia, revista de sistemas e tecnologias de informação de maior tiragem em Portugal, está a promover a 11ª edição dos Prémios Leitor PC Guia.
Estes prémios são um importante factor de distinção pública, pois elegem as marcas, os produtos e os serviços que, na opinião dos leitores, mais se distinguiram durante o ano anterior.
Em 2008, a PT viu a qualidade dos seus serviços ser reconhecida ao ser distinguida com prémios nas categorias de Melhor ISP e Melhor Acesso de Banda Larga Móvel. Por isso, vamos votar e assegurar novamente lugar no pódio para os serviços PT (Sapo ADSL, TMN, portal Sapo).
Votar é muito simples, basta clicar aqui e preencher o formulário. Não é obrigatório votar em todas as categorias a concurso, mas cada pessoa pode votar em outros produtos/serviços do seu agrado (ex: marcas de PC, consolas de jogos, etc.). Cada pessoa só pode votar uma única vez e pode fazê-lo em nome pessoal, não sendo obrigatório preencher o campo de identificação da empresa.
Até 11 de Maio vote e eleja as melhores marcas portuguesas.»
«From: Direcção de Comunicação Corporativa
Sent: terça-feira, 31 de Março de 2009 18:42
To: Undisclosed recipients
Subject: Sapo e TMN nos Prémios PC Guia
A PC Guia, revista de sistemas e tecnologias de informação de maior tiragem em Portugal, está a promover a 11ª edição dos Prémios Leitor PC Guia.
Estes prémios são um importante factor de distinção pública, pois elegem as marcas, os produtos e os serviços que, na opinião dos leitores, mais se distinguiram durante o ano anterior.
Em 2008, a PT viu a qualidade dos seus serviços ser reconhecida ao ser distinguida com prémios nas categorias de Melhor ISP e Melhor Acesso de Banda Larga Móvel. Por isso, vamos votar e assegurar novamente lugar no pódio para os serviços PT (Sapo ADSL, TMN, portal Sapo).
Votar é muito simples, basta clicar aqui e preencher o formulário. Não é obrigatório votar em todas as categorias a concurso, mas cada pessoa pode votar em outros produtos/serviços do seu agrado (ex: marcas de PC, consolas de jogos, etc.). Cada pessoa só pode votar uma única vez e pode fazê-lo em nome pessoal, não sendo obrigatório preencher o campo de identificação da empresa.
Até 11 de Maio vote e eleja as melhores marcas portuguesas.»
quarta-feira, 1 de abril de 2009
A corrupção compensa
João Cravinho e o BE têm razão: quando um condenado por tentativa de corrupção é nomeado, um mês depois, para presidir a uma empresa de capitais públicos, perdeu-se totalmente a vergonha. E sabendo que a referida empresa gere os lixos municipais de vários concelhos, torna-se particularmente escandalosa a conivência dos autarcas desses municípios. Os condenados por corrupção não deveriam ficar impedidos de exercer cargos deste género?
A Europa não existe
A primeira vez que se falou da «Europa» em Portugal foi com Mário Soares. A organização internacional actualmente conhecida como «União Europeia» foi, à época, apresentada como o reconhecimento de que Portugal era uma democracia.
Voltou-se a falar da então CEE durante o período mais populista do cavaquismo. Disse-se que viria dinheiro sob a forma de subsídios, parte a fundo perdido, e que em 1992 (lembram-se do «desafio de 92»?) Portugal assumiria a presidência rotativa da coisa. O que seria um reconhecimento da nossa capacidade tecnocrática.
Entretanto, a instituição transformava-se. A partir da queda das ditaduras do leste da Europa, a CEE acelerou em Maastricht na direcção de uma federação sui generis de Estados. O «europeísmo» passou a ser a nova utopia, uma utopia pós-socialista, pós-nacionalista, fundada no mercado livre e na livre circulação das elites.
Os portugueses provavelmente nunca se aperceberam de que o impulso inicial fora prevenir as guerras que tinham desgraçado o centro e leste da Europa durante a primeira metade do século 20. Mais concretamente, criar um novo equilíbrio entre a Alemanha e a França, arbitrado (quando necessário) pelos países do Benelux. Em Portugal, continuou a encarar-se a «Europa» como pouco mais do que uma burocracia que distribui subsídios e que será necessariamente democrática. O défice de reflexão sobre a «Europa», em Portugal, é tremendo. O que gera imensos equívocos.
A União Europeia de hoje, alargada a quase toda a Europa geográfica à excepção da Rússia e dos seus satélites, é demasiadamente grande e diversa para se poder imaginar um futuro coerente. É uma instituição internacional em que as decisões são tomadas pelo Conselho Europeu, nas reuniões sazonais dos Primeiros Ministros do continente, sempre à porta fechada, e onde é o peso populacional de cada Estado que manda.
O Parlamento Europeu é a fachada democrática da União Europeia. Confere a aparência de uma proto-federação democrática de Estados. Mas não se trata de um Parlamento no sentido de uma câmara legislativa: os grupos parlamentares não podem iniciar legislação. E nenhum «governo europeu» (Comissão Europeia) alguma vez caiu em consequência de eleições para o Parlamento Europeu.
A União Europeia tem um problema grave para resolver: a inexistência de um demos europeu. Não é tanto não existir nem povo nem nação europeia: é mais não existir sequer um «espaço público europeu» no sentido de media comuns, com debate público alargado e participação directa dos cidadãos. É duvidoso que venha a existir, quanto mais não seja porque as razões que levaram alemães, portugueses, britânicos, checos e estónios a juntarem-se nesta empresa são mais divergentes do que parecem à primeira vista.
Voltou-se a falar da então CEE durante o período mais populista do cavaquismo. Disse-se que viria dinheiro sob a forma de subsídios, parte a fundo perdido, e que em 1992 (lembram-se do «desafio de 92»?) Portugal assumiria a presidência rotativa da coisa. O que seria um reconhecimento da nossa capacidade tecnocrática.
Entretanto, a instituição transformava-se. A partir da queda das ditaduras do leste da Europa, a CEE acelerou em Maastricht na direcção de uma federação sui generis de Estados. O «europeísmo» passou a ser a nova utopia, uma utopia pós-socialista, pós-nacionalista, fundada no mercado livre e na livre circulação das elites.
Os portugueses provavelmente nunca se aperceberam de que o impulso inicial fora prevenir as guerras que tinham desgraçado o centro e leste da Europa durante a primeira metade do século 20. Mais concretamente, criar um novo equilíbrio entre a Alemanha e a França, arbitrado (quando necessário) pelos países do Benelux. Em Portugal, continuou a encarar-se a «Europa» como pouco mais do que uma burocracia que distribui subsídios e que será necessariamente democrática. O défice de reflexão sobre a «Europa», em Portugal, é tremendo. O que gera imensos equívocos.
A União Europeia de hoje, alargada a quase toda a Europa geográfica à excepção da Rússia e dos seus satélites, é demasiadamente grande e diversa para se poder imaginar um futuro coerente. É uma instituição internacional em que as decisões são tomadas pelo Conselho Europeu, nas reuniões sazonais dos Primeiros Ministros do continente, sempre à porta fechada, e onde é o peso populacional de cada Estado que manda.
O Parlamento Europeu é a fachada democrática da União Europeia. Confere a aparência de uma proto-federação democrática de Estados. Mas não se trata de um Parlamento no sentido de uma câmara legislativa: os grupos parlamentares não podem iniciar legislação. E nenhum «governo europeu» (Comissão Europeia) alguma vez caiu em consequência de eleições para o Parlamento Europeu.
A União Europeia tem um problema grave para resolver: a inexistência de um demos europeu. Não é tanto não existir nem povo nem nação europeia: é mais não existir sequer um «espaço público europeu» no sentido de media comuns, com debate público alargado e participação directa dos cidadãos. É duvidoso que venha a existir, quanto mais não seja porque as razões que levaram alemães, portugueses, britânicos, checos e estónios a juntarem-se nesta empresa são mais divergentes do que parecem à primeira vista.
Criacionismo no Texas
na sexta-feira o Texas Board of Education rejeitou as propostas tontas dos criacionistas, mas manteve uma frase que refere a possível insuficiência da Teoria da Evolução, que deixou os cientistas envergonhados e convencidos que esta frase vai ser usada pelos criacionistas no ano que vem.
Enfim, as propostas criacionistas perderam 7-8 votos...
Enfim, as propostas criacionistas perderam 7-8 votos...
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