segunda-feira, 14 de julho de 2014

Revista de imprensa (14/7/2014)

  • «No fundo, o drama da esquerda partidária portuguesa é este: há uma metade que só pensa em governar; a outra metade só pensa em não governar.
  • A esquerda partidária que só pensa em governar acha que, para isso, tem de ser centrista. A esquerda que só pensa em não governar acha que, para isso, tem de ser extremista. A esquerda partidária portuguesa anda há décadas a fazer a espargata e pagou-se um preço considerável por isso. Uma parte grande da população portuguesa nunca esteve representada na governação, com tudo o que isso implica. Política não é só Parlamento, mundo sindical ou círculos de reflexão e debate. É poder, de forma decisiva, contribuir para o destino do país.
  • Porém, a esquerda partidária portuguesa, tradicionalmente estatista, parece sempre comprazer-se no paradoxo de entregar o Estado às mãos da direita. Assim chegámos a uma situação em que a maior parte das conquistas sociais do regime democrático, fortemente identitárias para toda a esquerda portuguesa — o Serviço Nacional de Saúde, a Segurança Social, a escola pública e a universidade para todos — se encontram em perigo e talvez já demasiado perto do ponto de não-retorno. Arriscamo-nos a chegar aos 48 anos do 25 de Abril, quando tivermos mais dias de democracia do que de ditadura, perdendo boa parte do que o 25 de Abril nos deu em termos sociais, e com uma sociedade em que a falta de representação política nos deixará à beira da deliquescência do próprio regime.
  • Mas o quadro partidário à esquerda não corresponde ao quadro social — e foi-se afastando cada vez mais deste. As diferenças cavadas entre as direções partidárias não existem, em grande medida, no eleitorado da esquerda. (...» (Rui Tavares)

1 comentário :

Anónimo disse...

Infelizmente, tem razão no que escreve até pq uma parte dessa esquerda sente-se mais confortável a protestar - pudera! - do que a tentar construir. Depois, a lógica partidária concorre para o perpetuar de situações em que o amiguismo e o carreirismo são condições únicas para a actividade política.