sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A saúde TEM um custo

O lugar-comum, segundo o qual a saúde não tem preço, fica bem num jantar de família, mas não deve ter lugar na discussão política. Se um paracetamol custasse 1 milhão de euros, seria correcto pedir ao Estado que o comparticipasse?
O exemplo é obviamente exagerado, mas há cada vez mais tratamentos com enormes custos. Os gastos em saúde andam perto dos 150€ por português por mês (longe vão os 8%, aka 3x6, do Guterres), e por mais idealistas que possamos ser há um "preço" máximo incontornável: o próprio PIB per capita. Se quisermos ainda alimentação, educação e habitação, o "preço" máximo volta a descer.
Não conheço o caso do momento em concreto, mas o único ponto a debate é se devemos exigir mais ou menos da sociedade em termos de cobertura de gastos de saúde. Dizer que é um sector onde não deve ser feita uma análise custo-benefício, é desconversar.
A caloira (e herdeira na dinastia bloquista) Catarina Martins nem precisava de saber que até na Noruega e na Suíça se fazem análises de custo-benefício, ou de perceber de saúde pública, bastava recordar-se de uma polémica semelhante há poucos anos a propósito da vacinação contra a meningite (?), para perceber que avaliar custos não é um "precedente gravíssimo".

7 comentários :

Shyznogud disse...

Presumo q o ponto de interrogação a seguir a meningite tinha a ver com incerteza se era ou não a vacina q tinha estado em discussão. Foi, QED http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Portugal/Interior.aspx?content_id=1018589&page=-1

Miguel Carvalho disse...

Era, era!
Estava na dúvida se não era a do papiloma humano.
Obrigado!

Filipe Moura disse...

Em abstrato até posso concordar com este post, mas na conjuntura em que ele é publicado tenho que afirmar que acho vergonhosas as alterações propostas às comparticipações aos doentes cancerosos. Tenho mesmo vergonha de um país assim. É isso que está em causa. Para ti isso é menos importante que as declarações da Catarina Martins, para teres dado todo este destaque a estas e teres omitido aquelas?

"Se um paracetamol custasse 1 milhão de euros, seria correcto pedir ao Estado que o comparticipasse?"

Até certo ponto seria, claro. De resto uma das funções dos governos (e dos estados) é fixar e impor preços. Se fosse para deixar os mercados funcionarem livremente, não precisaríamos de governos para nada (uma perspetiva bem liberal).

aveiro123 disse...

Actualizado Blog:aveiro123-portaaberta.blogspot.com,

Miguel Carvalho disse...

Admito que o post pareça uma crítica exclusiva à Catarina Martins, mas não era essa a intenção. A crítica era a todos (de todos os quadrantes) os que vieram desconversar. O casa da CM só me pareceu mais grave por mostrar alguma impreparação.
O caso em concreto não comento, como disse, porque desconheço.

Quanto ao preço... é o habitual problema da palavra "custar" ter significados diferentes para economistas e não-economistas :) Lê isso como "assumindo que o custo é mesmo um milhão (por ter de ser importado, por necessitar de muita mão-de-obra e material, etc.)"

Miguel Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Filipe Moura disse...

Eu conheço a cassete dos economistas... :) António Borges, Álvaro Santos Pereira, Vítor Gaspar, todos eles são excelentes economistas. O problema está mesmo na economia, que enquanto ideia tem que ir para o Index Prohibitorum.