sábado, 12 de dezembro de 2009

Ainda a assistência espiritual nos hospitais

Fernanda Câncio sobre o recuo do Governo PS face às exigências do clericalismo:
  • «(...) Mas o burburinho surtiu efeito: o pré-diploma foi, como disse na altura Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, "metido na gaveta". Dois anos passaram. E eis que em Setembro último, em plena campanha para as legislativas, era publicado um novo regulamento, desta vez sem arrufos nem alarde. À primeira vista, parece ter mudado pouco. A extinção do cargo de capelão mantém-se; o direito a assistência religiosa de qualquer confissão está estatuído, assim como o direito a recusá-la; as unidades de saúde devem ter local específico para essa assistência (sem símbolos religiosos específicos de qualquer confissão) e local de culto misto. Só que, se os pacientes podem requerer a assistência de qualquer confissão, nem todos os assistentes têm direito a remuneração - só os que se encontrem vinculados à unidade "por contrato". E que contrato é este? É "um regime de contrato de trabalho em funções públicas" ou "contrato de prestação de serviços". E o critério? Um assistente por 400 camas - e "respeitando a representatividade de cada confissão religiosa". Tradução: as unidades de saúde vão continuar a contratar assistentes católicos em exclusivo e em permanência e os pacientes de outras confissões poderão continuar a fazer o mesmo que antes: a pedir que lhes chamem a sua gente, que virá de graça e é se quiser. Igualdade religiosa, faz de conta. Quanto à moral da história, é muito boa. Mentira, chantagem e cobiça não só não são pecado como dão lucro. E o governo laico socialista tem dias.» (Diário de Notícias)
Em rigor, a situação é pior do que a explicada por Fenanda Câncio: 1) a ICAR mantém a gestão das capelas que já tem em estabelecimentos do Estado; as outras confissões ficam com um gabinete; 2) o modelo encontrado para os hospitais foi também aplicado às forças armadas e prisões, e estendido para as forças de segurança, onde anteriormente não existiam «capelanias».
Realmente, como «laicos» como os do PS de Silva Pereira - que foi quem realmente negociou estes diplomas- o clericalismo tem a porta aberta no governo.

1 comentário :

Filipe Castro disse...

Acho interessante constatar que muitas pessoas ainda têm medo da ICAR. Há 150 anos que não se condena ninguém em Portugal à morte por apostasia, há quase 50 que o Estado se separou da igreja.

Seja como for, este P"S" lascarino, que lambe as botas aos bispos e aos cardeais, mete imenso nojo. Dá vontade de tomar banho quando se fala nestas coisas.