O tremendo estrondo em volta do veto ao estatuto dos Açores pode agora ser apreciado como parte de uma estratégia destinada a ocultar o veto à lei do divórcio, divulgado pela calada a 20 de agosto.
As justificações parecem, incrivelmente, saídas dos manifestos dos movimentos católicos mais reacionários (tipo Comunhão e Libertação), sendo particularmente pasmante a passagem em que nos convida a ter pena da mulher espancada que é «castigada» com um divórcio. Nem sei o que será pior: se o facto de o homem que é Presidente da República não se aperceber do inverosímil da situação, se a circunstância de não compreender que, quer o compreenda imediatamente quer não, quem ganhará com tal divórcio será a mulher.
Neste veto, Cavaco poderia ter perdido a reeleição. Digo poderia, porque não dei por que a esquerda tivesse aproveitado devidamente esta oportunidade para persuadir os 67 mil cidadãos que elegeram Cavaco em 2006 de que, bem, elegeram um conservador (e se até no próprio PSD houve quem tratasse Cavaco de «ultrapassado» para baixo...). Se o conservadorismo não foi de férias, a esquerda que quer conquistar o palácio de Belém parece que estava na praia. Bem enterrada na areia.
4 comentários :
Isto é uma questão puramente ideológica e o curioso é que a direita conservadora percebeu isso perfeitamente e descobriu que tem um aliado em Belém. O resto do espectro político prefere fingir que isto é outra coisa qualquer...
A reacção - ultra-conservadora, tradicionalista, nacionalista, monárquica e religiosa fanática - manifesta-se mais e mais:
http://www.centenariodarepublica.org/centenario/manifesto/
Acho que as tais "67 mil" pessoas estavam bem cientes do conservadorismo de Cavaco... O homem não era propriamente um desconhecido.
Alguns dos votantes em Cavaco eram bem moderados, e até teriam votado no PSócrates nas legislativas. Não sei se seriam 67 mil ou mais, mas seis de alguns que não o acompanham nesta febre conservadora estival...
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