quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Os soldados perdidos da guerra fria

Nos anos 80, ainda se liam nos jornais notícias sobre soldados japoneses que eram encontrados em ilhas do Pacífico, com cabelo até à cintura e armas obsoletas nas mãos, convencidos de que a 2ª guerra mundial não tinha acabado nos anos passados desde o último contacto com o resto do mundo.

Lembrei-me destes soldados perdidos ao ler alguns artigos de opinião de agosto (exemplo: o inefável João Carlos Espada no último Expresso), onde se argumenta contra a Rússia de Putin agitando o espantalho da «Rússia Soviética» e evocando, portanto, os impulsos da guerra fria. Estes anacronismos são divertidos, mas úteis por nos recordarem de como o mundo efectivamente mudou. As razões do recente conflito no Cáucaso, como anteriormente das guerras na Jugoslávia, são obscurecidas se continuarmos a manter o quadro mental de um conflito, defunto, entre ideologias entrincheiradas em blocos antagónicos. Para compreender a guerra no Cáucaso, basta recordar que Rússia, em mil anos de história, só recuou até Moscovo com Napoleão e Hitler. Desta vez, não perdeu sequer o controlo do norte do Cáucaso. Para as elites russas, do Império dos czares ao dos bolcheviques (e à Rússia de Putin) há mais continuidade do que aquela que quem tem os óculos ideológicos da guerra fria consegue ver.

A Europa deveria distrair-se das sanções contra a Rússia e apostar em construir uma cooperação com um Estado que não é exactamente uma democracia, mas que é mais fácil de lidar do que as teocracias islâmicas que nos deveriam preocupar.

1 comentário :

Anónimo disse...

O núcleo objectivo do comentário é que a Rússia sempre foi autocrata e imperialista, antes e depois da ditadura comunista.

Porém, isto não inviabiliza que a Rússia, além de tentar ter poder e influência mundial, esteja a violar o Direito Internacional (o que se pode associar à Guerra Fria), sendo que, a própria Rússia pode querer imprimir a imagem do regresso a esse estado, que lhe dá importância...

A referência às teocracias islãmicas parece evasiva.
"As sanções contra a Rússia" mostram que a europa é rígida na aplicação dos princípios e regras que subscreve, desencoragam os actos em causa, fortalecem esses mesmos princípios e regras, e ajudam a dar a mensagem para o mundo, mas sobretudo para o povo russo de que o seu Governo não é reconhecido como legítimo internacionalmente. Pois que, essa posição de isolamento e a sua consciência pelo povo é das mais determinantes circunstâncias que contribuem para a falência dos regimenz.