O meu artigo sobre o anonimato suscitou um número de comentários pouco vulgar. Esclareço que acho injusto que JPP tenha misturado anónimos inocentes e anónimos indecentes na mesma enumeração, atingidos portanto pelos mesmos adjectivos. Garanto que não defendo a proibição do anonimato ou a intervenção estatal na blogo-esfera. Simplesmente, acho que este media poderá ser melhor se determinados comportamentos forem abertamente repudiados ou (auto)controlados. E mais, tem que ser dito que há colaboradores que desistem de escrever, e comentadores que se afastam das caixas de comentários e dos seus debates devido ao que lá se escreve (ao contrário do que afirma JPP, ninguém frequentaria um café em que se ouvissem os comentários que coligi mais abaixo...).
Deve acrescentar-se que JPP se engana também, no seu artigo, quando se refere aos comentadores anónimos como «igualitários absolutos». Na realidade, no caso dos insultadores compulsivos trata-se de uma aristocracia parasitária, que se permite aquilo que não permite aos autores dos blogues, pois explora a vida pública (e até privada...) dos comentados mas resguarda cuidadosamente a sua identidade. O facto mais significativo, e que deve ser retido da leitura deste artigo, é que os insultos mais violentos e rasteiros vêm, sem excepção, de anónimos que não teriam a coragem de escrever o que escrevem se tivessem que assinar com o nome por que são conhecidos na emprego-esfera ou na socialo-esfera.
Aponto estes exemplos também para que se perceba que não me refiro propriamente à Sabine ou à Maloud. A minha pergunta fundamental é esta: alguém acredita que comentários destes teriam sido escritos se os autores os tivessem que assinar com o nome real?
- «tu cantas cantas e fazes fitinhas mas se um dia te cruzares comigo na rua vais ter motivos para te queixar. E olha que a rasteira ou biqueirada não será anónima. Precisas que te vão ao pelo velho bode estalinista. Depois sim, depois ficam com a cruzada completa e com mártir.» Esta ameaça de agressão física aconteceu no Diário Ateísta.
- Também no Diário Ateísta, há um ou mais anónimos que já publicaram dados pessoais de alguns dos colaboradores. Num dos casos, chegou-se à ameaça de escrever para o emprego de um ateu, denunciando-o por postar em horário de serviço. Noutro, só falta publicarem a morada de um outro ateu, mas já indicaram em que bairro (crêem que...) vive e insinuaram observá-lo no dia-a-dia. Prefiro não usar linques neste caso.
- Novamente no Diário Ateísta, esta linguagem do mais ordinário aparenta pertencer a uma católica anónima: «uma rata?"??" vossência está a imaginar uma musaranha saudável a apanhar uma carga de percevejos ou outras alimárias que essa carcaça velha há-de alojar, só para lhe ir ao lombo?!?
mas que ideia mais tolinha... há-de estar a confundir com a rata da sua mãezinha, por certo». - Um
- Aqui no Esquerda Republicana, as caixas de comentários permitem, geralmente, conversas pacatas. Uma excepção importante aconteceu quando me lembrei de escrever sobre o debate Soares-Cavaco, e um indivíduo chamado João Caetano Dias usou o Pulo do Lobo para instigar um grupo de cavaquistas arruaceiros, todos anónimos, que me vieram aqui insultar (exemplo: acusarem-me de «[me achar tão incompetente que só acredito] singrar mentindo, conspirando e roubando»). O picante da estória é que o JPP era um dos colaboradores do dito Pulo do Lobo e não recordo que se tenha demarcado do açular de cães que por lá se fazia...
- A concluir, o espírito da aristocracia anónima: «tenho pois todo o direito de insultar quem quer que seja. E só não o faço ao vivo porque eles se cortam». Este comentário no Blasfémias evidencia a mentalidade corsária de alguns anónimos: quem insulta tem o direito de o fazer; e se o faz anonimamente, isso não apenas prova a «nobreza» do carácter do insultador, mas também a «cobardia» dos insultados, que nem sequer querem encontrar-se com a anónima para serem «insultados ao vivo»! (Confusos?)
13 comentários :
Oh, a Zazie... já tive discussoes muito interessantes com ela no "Quase em Português" e gosto da mulher!
Não sabia que ela se opunha tanto à retirada dos crusefixos da escola - e já vi que discordo dela.
Caro Ricardo:
Compreendo o seu ponto de vista, mas é impossivel passar um atestado de bom comportamento a qualquer comentador - inclusive a mim! Por outro lado, é impossivel chamar escomalha e doentes a todos - eu nao chamaria à Zazie (nem aos outros, nomeados ou nao pelo JPP). Sinceramente, estou espantada com as reacções dela nesse caso - pois, como lhe disse, já a vi discutir civilizadamente!
«um indivíduo chamado João Caetano Dias usou o Pulo do Lobo para instigar um grupo de cavaquistas arruaceiros, todos anónimos, que me vieram aqui insultar»
Parabéns, topaste o esquema muito bem. Esse gajo é um instigador profissional, pá. Arranjou aquele esquema torcido, de escrever um post num blogue mas como bem interpretaste, tudo não passou dum disfarce para um objectivo maior, o de convocar os hooligans cavaquistas para o insulto gratuito a este ineludível centro de combate democrático anti-cavaquista.
Esse gajo devia ter percebido que não valia a pena inventar nevoeiros porque ninguém ilude a verdadeira esquerda republicana. Esse gajo ainda por cima é anónimo, o gajo assina com João Catano qualquer coisa mas sei de fonte segura que o gajo chama-se Jocelino Cavalcanti Deocleciano, faz uma busca no Google e até te aparece uma foto do gajo.
Força, continua e continua sempre essa nobre luta contra os instigamentos. Estamos ao teu lado, em nome da república.
Sou contra o anonimato!
Alfredo
PS - ;)
«Força, continua e continua sempre essa nobre luta contra os instigamentos. Estamos ao teu lado, em nome da república.»
1) Não afirmei que és anónimo.
2) Afirmo que nunca te vi exprimir a mais pequena repugnância pelas consequências dessas tuas acções.
Sim, fiquei confuso.
Vais desculpar-me, Ricardo, e até pode ser falha minha, mas não consigo vêr como este tipo de erupções rasteiras possam ser inspiradas por qualquer espírito 'aristocrático'.
O teu republicanismo será dos mais sinceros mas não julgo que críticas de carácter se possam decalcar de críticas de classe. Até porque nobreza e aristocracia são conceitos bastante diferentes mas isso é conversa que já há muito deixou de ser interessante.
E acredito que o sr. Wilde concordaria comigo.
Entretanto, ali ao lado...
Parecia-me até há bem pouco tempo que uma das grandes vantagens de um blogue menos popular que aqueles em que participas é a quase ausência desse tipo de arrôtos fedorentos mas logo hoje foi-me apresentada a contra-prova quando vi que tinha finalmente merecido o meu primeiro comentário de 'anonymous'.
A parte menos engraçada do mesmo é que não tem qualquer relação com a posta à qual se sufixou: é simplesmente uma tentativa de insultozinho, assim mesmo, frouxo e insonso... Que se há de fazer senão ignorar-se?
RICARDO, CONCORDO COM TUDO OQ UE ESCREVES NESTE POST, simplesmente acho que os teus objectivos ao denunciares os abusos feitos a coberto do anonimato são totalmente diferentes dos do Pacheco pereira:
a prova está no facto de que tanto aqui como no DA existe uma caixa de comentários. no Abrupto não.
na realidade, tratou-se de uma vingança contra o espectro e de uma ofensiva contra os pequenos blogs e não contra os comentadores propriamente ditos. isto porque os pequenos blogs, que têm audiências de apenas algumas dezenas de leitores,juntos podem ter muita força.
de resto, muitas vezes os anónimos são os próprios autores dos blogs, que, não tendo interesse em assumir certas posições, usam o anonimato para afastar e agredir comentadores mais incómodos. eu próprio fui vítima disso.
seja como for, as ameaças, que são muito graves, permitem aos leitores compreender quão polarizadas estão as posições sobre determinado assunto, e sobretudo revelam uma face escondida da sociedade. é sempre bom que tenhamos consciência dela
«Afirmo que nunca te vi exprimir a mais pequena repugnância pelas consequências dessas tuas acções.»
Repugnância? Meu caro, o preço da sua indignação anda ao nível da uva mijona.
Apenas brinquei com um post seu, em que explicava que o debate Cavaco-Soares era um ponto de viragem para a campanha de Soares. Lido agora, talvez até o ache um pouco ridículo, não? Afinal, a mim deu-me logo na altura alguma vontade de rir, essa sua suposição de que Soares havia ganho o debate que o enterrou definitivamente a níveis nunca vistos no clã da família.
E sim, chamaram-lhe um ou dois adjectivos. E depois? Quando este blogue chegar a 1% dos insultos que já recebi nas caixas de comentários, avise-me e venho cá manifestar-lhe a minha profunda solidariedade.
Até lá, deixe-se disso e ignore quem não merece consideração.
Saudações liberais
«Vais desculpar-me, Ricardo, e até pode ser falha minha, mas não consigo vêr como este tipo de erupções rasteiras possam ser inspiradas por qualquer espírito 'aristocrático'.»
Dorean Paxorales,
são «aristocráticas» no sentido em que os anónimos insultadores se arrogam privilégios - desde logo, o privilégio de não dizer quem são sabendo quem são os outros.
«o preço da sua indignação anda ao nível da uva mijona»
Estes «liberalistas» põem preços em tudo. Até nos sentimentos.
«Quando este blogue chegar a 1% dos insultos que já recebi nas caixas de comentários»
No Diário Ateísta, já me disseram coisas muito piores. Aliás, deixei de fora alguns comentários piores ainda do que estes que aqui estão.
«são «aristocráticas» no sentido em que os anónimos insultadores se arrogam privilégios»
Ó senhor Ricardo Alves, um aristocrata não insulta ninguém. Por essa razão é que é um aristocrata.
Quando não, não é.
O senhor tem muitos «macaquinhos no sótão» ...
Ricardo,
Continuo confuso mas agradeço a tentativa de explicação.
Abraço
A blogosfera portuguesa anda a reboque do Pacheco Pereira. Um blog não é um café e a internet é o sítio ideal para o anonimato. Se os bloggers fossem um pouco mais "relativistas morais" simplesmente ignorariam todos os comentários insultuosos, como tonteiras de crianças.
Deu-se demasiada importância a uma questão simples por causa do peso do Pereira. Por amor de Deus...
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