O Editorial de hoje do Público, assinado por José Manuel Fernandes, consegue, habilidosamente, esconder aspectos fulcrais da saída de Ayaan Hirsi Ali da Holanda. Concretamente: elabora bastante à volta do facto de os vizinhos de Hirsi Ali se terem queixado de viverem próximos de um alvo dos terroristas, mas omite completamente que Hirsi Ali perdeu a nacionalidade por decisão de uma correlegionária do seu partido. Partindo de apenas metade da estória, a conclusão é capciosa: o problema é a Holanda (e os europeus por associação) «baixarem a guarda» face ao «islamismo radical». Se fosse incluída a outra parte da estória (o facto de Hirsi Ali ter perdido a nacionalidade e sido obrigada à demissão de deputada) a conclusão seria outra, e politicamente mais incómoda: Hirsi Ali foi tanto vítima de ter ido muito fundo na sua crítica do Islão como da histeria anti-imigrantes do partido de direita a que pertenceu.
(Adenda 1) Na edição de ontem (quarta-feira) existe uma gralha deliciosa no artigo sobre Hirsi Ali: diz-se que «o seu nome de baptismo era Hirsi Magan». Não sabia que no Islão se baptizam as pessoas... Com o Público, está-se sempre a aprender!
(Adenda 2) Mas, para ser justo, na edição de hoje há um bom artigo de Augusto M. Seabra onde se diz com todas as letras que não é só o islão que tem fundamentalistas, e que a extrema direita católica do governo polaco nos deveria inquietar mais.
2 comentários :
É verdade que as tiranias de extrema-direita europeias ainda não estão assim tão longe de nós, na História. É verdade que a Polónia aderiu muito facilmente aos métodos nazis. É verdade que ainda existe um anti-semitismo latente em algumas partes da população polaca, especialmente a rural, que ainda se encontra apegada a mitos medievais sobre os judeus. Mas eu estive em Marrocos, e mais recentemente na Polónia. E o chão cultural dos dois mundos é completamente diferente, a Polónia é um país europeu, com todos os seus "vícios". Apesar de tudo, apesar da extrema-direita inquietar, e muito mais num país com o passado da Polónia, apesar disso, não parece razão para nos "inquietar mais". Com esforço das forças políticas interessadas, a Polónia até pode arder, não sei. Mas o Islão já arde sem faísca...
CMF,
eu queria dizer que deveríamos prestar mais atenção do que prestamos à extrema direita católica (afinal a Polónia é um dos seis maiores Estados da UE...). Não queria dizer que devemos prestar mais atenção aos fundamentalistas polacos do que ao Islão, que «globalmente» tem causado problemas significativamente piores.
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