A extrema direita portuguesa anda histérica contra o Ministro Mário Lino por este se ter confessado «iberista». Este fim de semana, a campanha contra esse Ministro chegou mesmo ao Independente e ao Expresso. Mas o que disse Mário Lino de tão grave? O seguinte:
«Soy iberista confeso. Tenemos una historia común, una lengua común y una cultura común. Hay unidad histórica y cultural e Iberia es una realidad que persigue tanto el Gobierno español como el portugués. Y si hay algo importante para estas relaciones son las infraestructuras de transporte.»
Considerando que as declarações foram proferidas em Vigo, o mais provável é que a «língua comum» a que Lino se referia fosse o galego-português. De resto, são as amabilidades diplomáticas da praxe.
No entanto, imagine-se, imagine-se apenas, que dissera o seguinte:
No entanto, imagine-se, imagine-se apenas, que dissera o seguinte:
«Sou um europeísta confesso. Temos uma história comum e uma cultura comum. Há unidade histórica e cultural e a Europa unida é uma realidade perseguida tanto pelo Governo estoniano como pelo português.»
Será que nesta situação haveria escândalo? Talvez sim, porque os mais indignados são quase tão anti-europeus quanto anti-espanhóis. Mas o que não falta são políticos que se orgulham de defender a alienação da nossa soberania a favor de uma entidade não democrática como a União Europeia, e com a qual aliás temos muito menos «cultura comum» (já sem falar em «língua comum»...). Chamam-se «europeístas». O problema real é esse, e não o fantasmático «iberismo».
Será que nesta situação haveria escândalo? Talvez sim, porque os mais indignados são quase tão anti-europeus quanto anti-espanhóis. Mas o que não falta são políticos que se orgulham de defender a alienação da nossa soberania a favor de uma entidade não democrática como a União Europeia, e com a qual aliás temos muito menos «cultura comum» (já sem falar em «língua comum»...). Chamam-se «europeístas». O problema real é esse, e não o fantasmático «iberismo».
21 comentários :
Este post é uma falácia, por duas razões essenciais.
Em primeiro lugar, o europeísmo não está bem definido. Existem vários tipos de “europeísmo”, desde o federalismo até à “Europa das Nações”. O veto dos franceses e holandeses à constituição europeia só prova que o conceito de europeísmo não está definido, não faz ainda parte do léxico linguístico com uma definição precisa. Consulte o dicionário ou uma enciclopédia e verificará isso mesmo.
Em contraponto, “Iberismo” é definido no dicionário Porto Editora “como doutrina política dos que advogam a federação de Portugal com a Espanha, isto é, a constituição da União Ibérica”. Portanto, não brinque com as palavras e conceitos.
Em segundo lugar, parece que na opinião da esquerda republicana o facto de se ser patriota e nacionalista é pecado mortal – terão que condenar aos infernos o Fernando Pessoa, um nacionalista integral como poucos houveram. O que está escrito neste post assemelha-se ao tipo de argumentação gay: quem não é homófilo é homófobo, quem não é a favor da alienação da independência nacional é antieuropeu, exactamente porque a esquerda maçónica não suporta a existência de Portugal como Nação.
Subscrevo "ipsis verbis" o excelente texto de «bom garfo».
Desconfio também que o senhor Ricardo Alves, que associa um tanto levianamente aristocracia com privilégios, deva sentir-se muito próximo do Sr Emannueli que, em conjunto com o Sr Le Pen, derrotou em França - felizmente - a célebre «Constituição Europeia».
Ele há cada aliado inesperado em política, hein senhor Ricardo Alves ?
Caro «bom garfo»,
a União Europeia é uma realidade concreta, o «iberismo» é um fantasma. Há decisões importantíssimas para o nosso futuro colectivo que são tomadas pelas instâncias não eleitas de Bruxelas, ou nos «conselhos de ministros europeus». Sem consulta e sem discussão. Se acha mais importante combater um fantasma do que uma realidade, isso diz muito sobre si.
Quanto a Pessoa, vejo-me obrigado a explicar-lhe o óbvio: não altero as minhas opiniões políticas em função do «nacionalismo» de um poeta ou de um escritor, goste ou não do que ele escreveu (não lhe vou dizer se é esse o caso com Pessoa). Se tivessemos que assumir as opiniões políticas do escritor A, B ou C por ele ser popular ou por lhe termos simpatia estética, estaríamos todos bem tramados... ;)
Pense mais e odiará menos.
É uma pena que o teu bom senso aqui claramente demonstrado seja tão escasso por tantas outras partes.
O problema é claro o europeismo, iberismo, etc.
Mas no caso do Mário Lino, como escrevi no meu blog o problema é mais grave pois ele sugeriu que o tal iberismo faz parte da agenda do Governo, uma agenda secreta, uma agenda que não foi nem referendada nem sequer citada em eleições.
Caro «o raio»,
e se existisse mesmo uma «agenda secreta», o ministro iria revelá-la numa reunião pública com jornalistas?!
Francamente, não tarda nada ainda começam a falar da conspiração dos Illuminati coligados com os homenzinhos azuis...
Caro Ricardo Alves,
O Ministro referiu-se expressamente a que para os governos de Portugal e Espanha, Iberia es una realidad que persigue tante el gobierno español como el portugués.
Isto está escrito e não foi desmentido.
E o que é que esta frase significa? Qual a realidade que quer o governo espanhol quer o governo português querem alcançar?
Pelo menos quanto ao governo português nada no programa eleitoral do PS o sugere. Quanto à integração europeia über alles pode-se concordar ou discordar mas está no programa de governo do partido que ganhou as eleições. Mas a tal Ibéria não, no programa do PS não consta nada sobre este tema. É portanto necessário que o governo o esclareça.
Quanto ao Ministro o ter dito e utilizar este facto como prova de que não existe, desculpa lá, ò Ricardo, mas este argumento é absurdo.
Um abraço
Caro «o raio»,
penso que já tens conhecimento deste esclarecimento de Mário Lino:
«A polémica levantada nalguns blogues fez-me recordar que a expressão "iberismo" fora, efectivamente, utilizada, no passado, para identificar a doutrina política que defendia essa união política, mas hoje tal doutrina não tem qualquer eco significativo em Portugal ou em Espanha, pelo que não me passou pela cabeça que as minhas palavras podessem ter essa interpretação.
Pode, portanto, ficar descansado: nunca fui, não sou, nem prevejo poder vir a ser um "iberista" no sentido de defensor de uma união política de Portugal com Espanha.»
http://estrangeiros.blogspot.com/2006/05/o-iberismo-e-defesa-do-ministro.html
Ah, bom. Depois da explicação do ministro em português, já percebi que afinal não tem mal.
É assim, um lost in translation mas ao contrário; já nos tempos que passei em Madrid me havia parecido que essa palavra iberismo adquire um significado completamente diferente em castelhano.
Acertates em cheio Dorean. Em Espanha o iberismo é utilizado pelos independentistas como programa de coexistência, e pretendem com isso equiparar o seu estatuto (das suas nações) com o de Portugal. Ou seja o iberismo espanhol não coloca em causa a soberania portuguesa, mas mata Espanha, como era seu objectivo. Este iberismo agrada (ou deveria se parassem para pensar no que ele significa) regra geral os anti-iberistas portugueses... se podem imaginar as razões. É o iberismo que Carod Rovira (da ERC catalana) veio uma vez mais propagandear com audiência jet-set lusitana a Lisboa. O iberismo de Lino, é dar nomes a coisas muito mais corriqueiras do que isso, e que não matam nem fazem nascer a ninguém. O iberismo que os guardiães do templo luso temem não existe a não ser na cabeça de mentecaptos e dos mortos (Franco e os Reis Católicos tinham esse iberismo na cabeça). É o tal fantasma de que fala o Ricardo.
As coisas são muitas e as palavras por vezes poucas.
«É o tal fantasma de que fala o Ricardo».
É pá a Koltura por aqui é primorosa ... um fantasma ... e o que é que temos escrito na tese da Academia Militar de Francisco Franco ? E o que nos diz, em jeito de testamento, o magnífico Afonso XIII ? Alguém ao menos sabe ? Vocês são a "esquerda Lulu" ou quê ?
Caro «Lulu»,
e vossemecê é dos anti-espanholistas anónimos ou quê?
Então não sabe que o Franco já morreu? Olhe que já está a fazer pó há mais de 30 anos, veja lá! (E já foi tarde, digo eu...)
Estes comentários são a prova provada de que há paixões que toldam a razão. Está em marcha um projecto para alienar a nossa soberania a favor de um directório germano-francês-britânico, há decisões importantíssimas que são tomadas em Bruxelas, e esta gente preocupa-se com umas palavritas de circunstância que já foram explicadas...
Patético.
Concedo-lhe, senhor Ricardo Alves, e saúdo uma «elegância aristocrática» nas suas respostas.
Só não percebo porque não vislumbra o elo subliminar - que salta ao olho - entre o projecto da Constituição Europeia e a União Ibérica.
E todavia a história da soberania portuguesa na Península, que aparentemente defende, é muito pesada quanto à insistente permanência do fenómeno ...
Quanto ao Ministro, ohh coitado, tropeçou na calçada ... acontece. Não se fala mais nisso.
Vejo bem ?
No último «post» deste Blog, acerca da petição prá Memória, já não há lugar para os «anónimos cordiais» ?
E logo aquele, em que gostava de meter uma pimentinha "memorável e desmemoriada" ...
Caro anónimo das 12:36,
a «Constituição» europeia não favorece a «União Ibérica» nem mais nem menos do que os arranjos actuais. O perigo, por esse lado, é ficarmos entregues a um grupo de países bem mais estrangeiros do que a Espanha. E que mal sabem da nossa existência. Mas isso não interessa nada, não é? Como não interessa o facto de o Parlamento Europeu não poder iniciar legislação, ao contrário do que acontece nas democracias normais...
O que interessa é o «perigo espanhol», essa constante histórica, esse sentimento cactoso que se tem que alimentar com perdigotos...
Anónimo das 4:32,
não alterei as opções de comentários.
(anónimo das 12.36)
O iberismo não é um "sentimento cactoso de perdigotos".
É uma doutrina política de rendeiros, biunívoca na Península, sobretudo com uma vasta expressão em Portugal durante os "aboios" da I República. Essa é que é essa.
Insinua-se sistemáticamente em tempos de grave crise em Portugal.
O Tratado da União empresta-lhe uma cobertura de ouro.
Mas eu sou um liberal.
Ora divirta-se, senhor Ricardo Alves :
http://tapornumporco.blogspot.com/2004_11_28_tapornumporco_archive.html
Cordiais saudações.
Basta olhar para a nossa balança de pagamentos para compreender a importancia comercial do Mercado Espanhol para as empresas portuguesas !
A Espanha representa mais de 85% do poder de compra Ibérico, uma realidade incontornável.
Quem consegue conquistar o imprescindível Cliente Espanhol ?
http://mercadoespanhol.blogspot.com
«Rede de Estudos do Mercado Espanhol»
Talvez você consiga, caro «iace»...
O que todavia Vc. não conseguirá agora, é alterar a estratégia suicida de Portugal em ter colocado todos os ovos debaixo do mesmo cesto Ibérico a pretexto e cobertura da UE.
Mas havia uma "razão", e essa tem a ver com uma Oligarquia corrupta, transpartidária- sim senhor, transpartidária - e vendida, que governa Portugal há largos anos.
Continue a estudar o mercado espanhol que vai ter sorte ... santa ingenuidade !
A ambição de Saramago sendo um militante comunista, era defendendo o iberismo sob pretexto de instalar-se na península ibérica um regime cubano apartado da Europa, para um esquerdista puro na defesa do tal iberismo se esconde a verdadeira agenda.
A ambição de Saramago sendo um militante comunista, era defendendo o iberismo sob pretexto de instalar-se na península ibérica um regime cubano apartado da Europa, para um esquerdista puro na defesa do tal iberismo se esconde a verdadeira agenda.
Acho que era bem mais simples: queria opor uma «comunidade de cultura» à (então) «comunidade económica».
Enviar um comentário