O político anteriormente conhecido como Durão Barroso assumiu ontem que a decisão de participar na conquista do Iraque «foi baseada em informações que tínhamos recebido e que, depois, não foram confirmadas: que havia armas de destruição maciça(*)». No excerto das declarações de Jose Barroso que ouvi no SIC-Notícias, o actual Presidente da Comissão Europeia vai o ponto de aceitar que aqueles que criticaram a guerra -por exemplo, o Governo francês- «talvez tivessem razão».
Conclusão a tirar, sobre Barroso: como a sua fuga para Bruxelas evidenciara, o ex-maoísta sabe perceber de que lado sopra o vento.
Conclusão a tirar, sobre a guerra do Iraque: apelar ao instinto de defesa grupal contra um ditador distante e fraco funciona melhor com a adição de armas imaginárias mas terríveis (fazer circular fantasias ideológicas sobre a exportação guerreira da democracia e da liberdade também é útil para entreter os mais abstractos).
Conclusão a tirar, para o cidadão comum: (i) desconfiar dos políticos que mantêm ocultas as provas em que alegadamente baseiam as suas decisões; (ii) seguir acriticamente o mais forte numa guerra, embora quase sempre garanta que se fica do lado dos vencedores, não garante a boa consciência; (iii) a gelatina pode ser maciça na nossa imaginação.
(*) Anotaçãozinha embirrenta: «armas de destruição maciça» tornou-se a tradução para português mediáticamente corrente de «weapons of mass destruction»; armas de destruição massiva parecer-me-ia mais correcto...
5 comentários :
Também já tinha reparado nessa do "maciça" e "massiva" :) Bom texto, caro Ricardo.
José Manuel Barroso é o exemplo típico do político videirinho que procura encostar-se aos vencedores.
Esta declaração é a confissão da derrota dos invasores do Iraque.
Completamente de acordo em relação ao maciça. Também em sou um lutador isolado contra os anglicismos. Infelizmente, a guerra contra o "realizar" está quase perdida. Mais longe ainda vai nome do programa do Portas "Estado da Arte". Já traduzem directamente expressões idiomáticas inglesas e acham muito normal.
Em relação à opinião sobre o Cavaco na Arte da Fuga, acho que não tens razão. O nome dos conselheiros de Estado anunciado previamente não retiraria um voto a Cavaco. É pura e simplesmente irrelevante para quem votou Cavaco. Só é mesmo relevante para quem votou contra ele.
As escolhas de Cavaco indicam que não se preocupa muito em ser o «Presidente de todos os portugueses». Só isso. É claro que tem o direito de escolher quem quiser para o Conselho de Estado, e ainda mais para trablhar com ele. Mas as escolhas têm um significado político claro.
Quanto aos anglicismos escusados, a luta continua...
E tal como na política, aquilo que parece é.
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