sábado, 3 de dezembro de 2016

Mais sobre as alterações climáticas

Por muito que se fale neste tema, fala-se muito menos do que aquilo que se devia. Este não é apenas o maior desafio ambiental da nossa geração: é a ameaça civilizacional mais iminente.

Digo isto a propósito de revisitar a série de vídeos de potholer54 que já tinha recomendado várias vezes neste blogue (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16). E revisito-a porque foi agora publicado mais um vídeo desta série. Aqui fica para os interessados:

5 comentários :

Jaime Santos disse...

É de facto e andamos preocupados se podemos ou não regressar a um crescimento de 3% ao ano... Para onde vamos crescer nessa situação? Para Marte? O problema fundamental que se coloca aos progressistas é que as mesmas políticas que podem servir de escudo contra a Extrema-Direita podem não ser viáveis face ao drama ambiental que se avizinha (se o quisermos evitar, isto é)...

João Vasco disse...

Num contexto normal, faria sentido encontrar alguma oposição entre as políticas ambientais mais eficientes (por exemplo taxar severamente toda actividade económica que originasse emissões, internalizando os seus impactos ambientais) e o crescimento de curto/médio prazo. O crescimento de longo prazo está alinhado com a prioridade a uma actividade económica ambientalmente sustentável, já que a depreciação dos recursos naturais terá um impacto muito negativo na economia mais tarde ou mais cedo; mas é verdade que o ignorar desse custo permite atingir valores de crescimento mais elevados no curto/médio prazo e daí a oposição entre "crescimento" e "sustentabilidade".

No entanto, acontece que vivemos um contexto profundamente anormal a dois níveis diferentes:

a) as políticas que são mais eficazes para resolver os problemas ambientais tornam-se insuficientes face à urgência do problema. Temos menos tempo para responder.

b) A Europa (e não só) enfrenta uma impressionante crise de procura agregada que está a destruir a sua economia.

Estas duas especificidades podem conduzir a uma solução que tanto promove o crescimento (de curto-médio prazo) como uma redução rápida das emissões.
A solução está num plano de estímulo orçamental à escala europeia para a instalação de capacidade energética renovável e melhorias da eficiência energética várias. Uma espécie de "New Deal" "verde" para fazer face a uma crise que em muito se assemelha À de 1929.

A enorme quantidade de investimento iria reavivar a economia promovendo o crescimento, e só assim se conseguiria uma redução das emissões tão rápida quanto a situação do planeta obriga.

Repito que esta não é a solução ideal. Se a economia estivesse "em forma" estar a lançar um plano público com este objectivo levaria a todo o tipo de ineficiências na alocação de recursos que uma solução baseada na internalização dos dados ambientais evitaria (por exemplo: a maior disponibilidade de energia renovável pode ter um efeito desencorajador da poupança energética, enquanto que se esse investimento for motivado pela internalização dos custos ambientais a poupança energética e aumento de capacidade renovável surgem na medida certa que melhor promove o bem-estar no longo prazo). Infelizmente, já não temos tempo para outra solução.

Uma "guerra total" facilmente levaria ao grau de consenso político e social necessário para agir com determinação, mas esta ameaça não é muito menos séria, e no entanto a forma como as sociedades têm reagido é tão menos determinada.
Num contexto de falta de procura agregada, é uma verdadeira loucura que não se tome acção.

E a maior ironia é que mesmo aqueles que mais se bateram nas altas esferas por negar o diagnóstico de que existia falta de procura agregada (as elites que se bateram pela "austeridade") têm hoje consciência do seu erro. Infelizmente não o podem assumir publicamente por medo de perderem credibilidade, e isso limita significativamente a sua capacidade de acção.
Como disse um amigo meu: « sto tem sido um bocadinho como mudar a rota do Titanic: um esforço hercúleo ao leme – voltas, voltas e mais voltas – para que o navio comece a alterar lentamente a trajectória. E parte desta dificuldade resulta do facto de o capitão não querer agir de forma brusca, para não dar a entender lá atrás que está a reorientar o barco.»

Mas mesmo que já exista consciência da necessidade de estímulos orçamentais (admitam-na ou não...), a gravidade dos problemas ambientais ainda parece passar ao lado de muitas das nossas elites políticas.

Jaime Santos disse...

Sei que há uma tendência para a estabilização das emissões, o que quer dizer que ou a Economia mundial está a crescer de forma mais eficiente, ou o aumento da capacidade energética necessária está a vir sobretudo de renováveis, ou está a crescer mais devagar. Na verdade, julgo que se trata da combinação destes três efeitos. Sou no entanto cético relativamente à possibilidade de reduzirmos as emissões a zero até 2050, porque o principal problema das renováveis é a sua baixa densidade energética (em Portugal, julgo que todos os locais adequados à exploração eólica on-shore estão mais ou menos ocupados). Vi ainda recentemente um gráfico que mostra que o crescimento económico parece estar desligado do crescimento energético, o que seria a primeira vez que o chamado 'paradoxo de Jevons' não ocorre, mas como isto se referia só às economias ocidentais, não lhe dei muita importância, porque uma parte da capacidade produtiva foi transferida para o Oriente (mas julgo que sei onde o desenterrar).

João Vasco disse...

Jaime Santos, entre a mera "estabilização das emissões" e uma redução a zero até 2050 há um grande espaço intermédio (por exemplo uma redução na ordem dos 60%).
O crescimento económico pode estar desligado do crescimento energético no que diz respeito a ligeiros aumentos da capacidade instalada, mas se estivermos a falar num investimento massivo de reconversão, o investimento em si, independentemente da sua rentabilidade "microeconómica", teria um efeito macroeconómico muito relevante num cenário de falta de procura agregada.

Há poucas situações em que mesmo o enorme desperdício de recursos que constitui mandar operários abrir buracos na terra e outros tantos voltar a cobri-los seria preferível a não fazer nada. 1929 foi uma dessas rara situações, e estamos a viver outra.
Mas lutar por uma reconversão energética mais rápida é muito melhor que abrir buracos e cobri-los.

Em Portugal talvez o aumento da capacidade energética renovável passe pela energia solar, que vai ficando mais competitiva de ano para ano.

Mats disse...

"Por muito que se fale neste tema, fala-se muito menos do que aquilo que se devia"

E prevejo que se fale ainda menos visto que se está a tornar bem óbvio que a religião das "Alterações Climáticas dos Últimos Dias" (previamente conhecida como "O Aquecimento Global", e antes disso conhecida como "A Eminente Chegada da Idade do Gelo") nada mais é que uma farsa financiada pelos grandes grupos capitalistas com o propósito de controlar os recursos.

Mas há que manter a farsa.