A campanha pelo financiamento público do ensino privado conduzida pela Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo tem sido fértil em práticas e declarações que se podem qualificar como, vá lá, pouco honestas. Reúno neste artigo três casos.
- Reunião com o Presidente da República, 25 de Maio. À saída, os representantes dos colégios passaram a impressão de que o Presidente lhes teria manifestado apoio: «o Presidente mostrou-se apostado em encontrar "uma solução para o problema", prometendo "falar nisso ao primeiro-ministro, no seu encontro semanal"». Poucas horas depois, o Presidente da República desmentiu-os: «não cabe ao Presidente fazer qualquer tipo de proposta nesta matéria, que se trata da área governativa». Mais: «não foi pedida autorização prévia a Marcelo para utilizar elementos da conversa que tiveram em privado (...) o documento "é da exclusiva responsabilidade do Movimento e da interpretação que quis fazer das palavras do Presidente da República"». É verdade que o actual Presidente tem
poucanenhuma experiência em cargos executivos e poderia ser mais cuidadoso, mas houve evidentemente distorção e abuso dos colégios na maneira como transmitiram o que teria sido dito pelo Chefe de Estado. E órgãos de comunicação social que o reproduziram acriticamente. - Relatório do Tribunal de Contas, 27 de Maio. As primeiras notícias anunciavam (em manchete) que «Relatório técnico do Tribunal de Contas dá razão aos colégios na guerra contra o ministério», em particular que «contratos (...) não dependem da existência de oferta pública». Passam mais umas horas e o próprio Tribunal de Contas desmente os colégios privados: «o TdC "não se pronunciou nem tinha que se pronunciar sobre as questões contratuais que neste momento estão em discussão pelas partes envolvidas"». (Ver o Anexo 1, mais abaixo.) Mais uma vez, uma singular capacidade de fazer passar uma mensagem falsa para os media.
- Como se diz em inglês: último mas não menor (antes pelo contrário), há a instrumentalização de crianças e encarregados de educação, com a entrega de cartas escritas por crianças, em alguns casos aparentemente sob coação ou pelo menos sob pressão: «M. considera que tanto os alunos como os pais estão a ser “manipulados”. No primeiro caso, quando lhes deram indicações para copiar um texto do quadro, para enviar ao primeiro-ministro e ao Presidente da República, em vez de lhes ter sido pedido para escreverem sobre o colégio de uma “forma livre”. No caso dos encarregados de educação, quando foram convocados para uma reunião na altura em que foi constituído o Núcleo de Acção do CCMI para lhes comunicar o que tinham decidido, e não para lhes pedir opinião». (Ver o Anexo 2, mais abaixo, para um exemplo de uma carta.)
Em resumo: não me recordo de uma luta política conduzida com tanta falta de escrúpulos. Má educação.