segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O apego de Berlim à letra das regras treme como gelatina

Os alemães sabem bem como as convicções de Merkel mudam com o vento. Como é afirmado pelos seus biógrafos, o que a orienta não são princípios ou a suposta obsessão germânica com as regras, mas o poder. Apoiante fiel da energia nuclear (um dos tópicos mais quentes da política alemã), deu uma pirueta de 180º semanas depois do desastre de Fukushima estabelecendo um prazo para encerrar as centrais nucleares e arrancar com o maior investimento de sempre nas renováveis.
Nos "resgates" à Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha, cujas dívidas privadas e públicas constavam dos activos dos bancos alemães, Berlim foi implacável ao defender que o ónus da crise deveria recair no devedor e não no credor. No "resgate" ao Chipre, cujas dívidas estavam ligadas à Rússia e não a Alemanha, Berlim dá nova pirueta e defende que os dois lados são responsáveis, impondo grandes perdas aos credores.
Desde 2008 que todos os bancos centrais duplicaram ou triplicaram a moeda em circulação através da compra de títulos de dívida pública; todos excepto o BCE que sob enorme pressão de Berlim foi sempre recordado que o Tratado de Lisboa o impediria. Muito provavelmente uma tal intervenção teria reduzido a crise do euro de 2010 (que foi mais grave que a de 1929 para muitos países do zona euro) a uma mera crise orçamental em Atenas.
Estamos agora perante uma nova pirueta de Berlim no que toca às regras do euro no Tratado de Lisboa. Segundo este, não há hipótese de um país abandonar o euro dentro da UE. Esta é contudo a hipótese levantada por Berlim, uma saída do euro sem saída da UE, agora que os ventos que sopram de Atenas não são do seu agrado.