«O "documentário" [Swindle] está repleto de tretas, mas a treta principal vai além disto. Concordo que não há certezas acerca do que devemos fazer. Mas não por o aquecimento ser incerto. Disso as evidências são muito fortes. As medidas da temperatura atmosférica por satélites e balões, a diminuição do gelo glaciar, a temperatura da crosta a várias profundidades e a temperatura e nível dos oceanos todas indicam o mesmo. Isto está a aquecer rapidamente.
E é quase certo que o que nós fazemos tem importância. Não me surpreende que antes de haver humanos as variações climáticas globais fossem causadas por outros factores, mas é desonesto defender que se pode mandar para a atmosfera trinta mil milhões de toneladas de CO2 por ano sem consequências.
Admito uma incerteza intelectual quanto ao rumo a tomar porque não conseguirmos estimar com rigor a relação entre os custos de reduzir as emissões e os custos de nos adaptarmos à alteração do clima. Mas só a um nível intelectual e abstracto e não a um nível ético porque, independentemente dos custos exactos, a redução de emissões será paga pelos ricos e a adaptação a um clima diferente será paga pelos pobres. É claramente injusto que quem está melhor lixe ainda mais quem já está mal só por ser mais cómodo.
[...]
Os Maias, os Anasazi, os habitantes originais da Ilha da Páscoa e de Pitcairn também atribuíam à natureza esta capacidade mágica de aguentar com tudo o que lhe fizessem. Foi asneira.»
Em Treta da Semana: Aquecimento? Nah...
No texto seguinte, o Ludwig responde a alguns comentadores:
«É isto que me parece passar-se com o aquecimento global e o CO2. Há muitas questões em aberto e a prudência, se for prudente, é sempre aconselhável. Mas não é prudente mandar CO2 para a atmosfera sem conhecer os riscos. Nem é razoável traçar uma meta móvel de “melhor tecnologia” e “mais ricos”, pela qual podemos esperar eternamente. E cepticismo não é apontar defeitos como desculpa para procrastinar.
Eu sou céptico acerca do aquecimento global, como sou acerca de muita coisa. E isto quer dizer que abordo o problema subordinando as minhas crenças à informação de que disponho. O cepticismo é este método. Não garante nem exige que eu seja a favor ou contra aquilo em relação ao qual sou céptico. Exige apenas que eu encontre a minha opinião seguindo o peso das evidências e que a mude sempre que este puxar para outro lado.
As evidências são que a temperatura está a aumentar, que o CO2 na atmosfera faz aumentar a temperatura, que nós libertamos muito CO2 para a atmosfera e que o resultado pode ser trágico para muita gente. Por isso – e por cepticismo – rejeito esta “prudência” de quem decide fumar três maços por dia enquanto não tiver a certeza que vai morrer de cancro.»
Em À cautela...
12 comentários :
Eu não ponho em causa um pequeno aquecimento do planeta, mas ainda não vi uma demonstração clara da relação de causalidade entre as emissões humanas de CO2 e esse aquecimento. O Ludwig deveria concentrar-se nessa relação, se for capaz.
Ricardo Alves:
Mesmo sem considerar que desde que h� registos fi�veis, quase todos os anos mais quentes foram no �ltimo s�culo (e neste), e nas �ltimas d�cadas do �ltimo s�culo (principalmente na �ltima); logo quando ocorreram emiss�es "a valer", a verdade � que existem modelos te�ricos s�lidos que explicam porque � que � suposto que um aumento na concentra�o de CO2 resulte num aumento de temperatura.
Quem contesta estes modelos f�-lo alegando que n�o levam em considera�o efeitos de retroa�o negativos que anulariam esse efeito (tipo: aumento de temperatura leva a aumento de nuvens que reflectem a luz antes dela chegar e contraria o efeito de estufa). A generalidade dos especialistas, por outro lado, alega que existem ainda outros efeitos de retroac�o positivos mais relevantes que os negativos (tipo: mais temperatura conduz a mais inc�ndios que provocam emiss�es, ou mais temperatura derrete o gelo, que deixa de reflectir tanta luz e aumenta a temperatura; ou mais temperatura aumenta o vampor de �gua na atmosfera, que tamb�m aumenta o efeito de estufa, etc...).
Para discutir quem tem raz�o neste ponto, o caso j� � mais complicado. O assunto n�o � simples, e exige um conhecimento especializado de que n�o disponho. Apenas verifico que existe debate cient�fico, e n�o tenho a pretens�o de participar nele, ou contribuir para ele. Apenas espero que o debate continue, seja honesto, e que a ci�ncia v� avan�ando.
Mas n�o � sobre isso que o Ludwig fala, e faz bem.
Ele fala sobre o debate em que eu participo, e em que os eleitores todos devem participar, que � o debate pol�tico.
E o debate pol�tico � um debate sobre o que fazer.
Os cientistas t�m d�vidas: a generalidade dos especialistas acredita que as emiss�es de CO2 leva a um aumento da temperatura, que isso deduz-se da teoria e comprova-se na pr�tica, e uma minoria acredita que n�o.
Como sociedade, o que devemos fazer?
H� quem aponte o dedo � "histeria" a respeito do aquecimento global, mas eu n�o vejo grande coisa a ser feita. N�o vejo NADA a ser feito. Por isso parece-me que a "histeria" � insuficiente, passo a express�o, porque o m�nimo de prud�ncia aconselhar-nos-ia a fazer algo para reduzir as emiss�es, mesmo que n�o fosse assim tanto.
esta discussão já foi feita noutros posts e não penso que muita coisa tenha mudado desde então.
saliento apenas alguns pontos ligeiros:
http://vortex.nsstc.uah.edu/data/msu/t2lt/uahncdc.lt
http://www.dailytech.com/Sun+Makes+History+First+Spotless+Month+in+a+Century/article12823.htm
para mencionar resultados recentes,
agosto de 2008 foi mais frio que o agosto médio desde 1979; curiosamente foi também o primeiro mês sem manchas solares desde junho de 1913...
http://cloud.web.cern.ch/cloud/
da CLOUD no CERN ainda nada: o dinheiro deve estar todo focado no LHC (é já amanhã que "o mundo acaba")...
finalmente, acho que sim, devemos rever profundamente a nossa dependência, enquanto sociedade, numa indústria baseada no carbono, mas por razões que me parecem incontornáveis e não sujeitas a serem falsificadas no futuro: dependência energética sobre fontes não renováveis ou sustentáveis; e poluição em geral...
Portanto: há sempre manchas solares desde 1913, seria de esperar que este ano (sem manchas) fosse dos mais frios desde 1913, se esse factor fosse dos mais relevantes. Em vez disso é mais quente que quase todos os anos até 79, e mesmo vários depois de 79.
Afinal, mesmo que as manchas solares tenham importância, esses dados sugerem que algo teve mais, e fez da subida da temperatura um processo sustentado ao longo deste século.
Por "coincidência" foi o século em que andámos a emitir CO2, e a teoria sustenta que isso deveria causar um aquecimento global...
joão, camon!, ninguém é tão ingénuo que sugira que a correlação e o driving são tão simplistas como sugeres! e os meses antes? ou os anos antes? e o número de manchas? e a sua evolução? please! também nunca ouvi ninguém argumentar que era a única causa, antes uma causa que não se conhece quão importante pode ser (e pode ser muito). o meu comentário era apenas no sentido de salientar que esta investigação científica tem que ser feita sem "consensos" dogmáticos que já não se procupam em fazer ciência, mas antes policy making.
para mim, é bem mais urgente fazer policy making no que diz respeito à poluição, à dependência energética, ao desenvolvimento industrial renovável e sustentável, etc, do que a meio grau centígrado...
Ricardo s carvalho,
Claro que ninguém sugere isso. Apenas quis mostrar que mesmo o próprio dado que seleccionaste para dar a impressão que as emissões não são a causa do CO2 pode ser visto de maneira oposta.
Mas apenas respondi a uma "boca" com outra "boca", pois não pretendo entrar na discussão científica de forma séria.
Isso é fazer o mesmo que os criacionistas: "vocês não acham estranho que uma bacvtéria vá dar uma gaivota, por acaso? Alguém já viu isso acontecer?", ou seja, apelos ao senso comum para porem ileterados científicos a discutir assuntos técnicos. Dizem dois ou três casos em que os testes de carbono falharam, e para quem não tem um entendimento de ciência, parece que nenhum é de confiança. E por aí fora: se tratam a ciência como "conversa de café", já têm meio caminho andado para o debate público ganho.
Mas se é verdade que o debate científico deve ser livre, e que o consenso que reune uma posição deve ser irrelevante para esse debate, isso não quer dizer que qualquer indivíduo que tenha lido dois ou três textos de divulgação sobre esse assunto (como eu) possa dar um contributo válido para esse debate. Não pode.
Por isso eu não pretendo discutir ciência quando falo sobre este assunto. Não vou dizer se "me parece" que as manchas solares têm muita ou pouca importância quando comparadas com o efeito da retroacção positiva dos incêdios. Eue perecebo eu para andar aí a mandar bitaites?
Mas atenção! Eu sou um eleitor, e tenho de discutir o que fazer face à alegada ameaça de aquecimento global. Se não vou participar no debate científico, terei de participar no meta-debate. Aqui sim já importa o consenso.
Por exemplo: existem uns indivíduos que acreditam que o LHC vai provocar o fim do mundo. Vários eleitores pagam o LHC, e não estão interessados no fim do mundo. Que devem fazer? Obviamente não podem analisar os argumentos dos alarmistas pelos seus méritos próprios, para então os comparar com os argumentos dos outros físicos, pois faltam conhecimentos científicos para fazer esta avaliação. Então AQUI, no debate político, já importa o consenso: pelo que sei essa posição não é aceite pela generalidade dos especialistas.
Não é para calar esses alarmistas: eles que façam a sua investigação à vontade, e que digam o que quiserem. Quando e se tiverem argumentostão fortes que convençam a generalidade dos especialistas (para quem o "consenso" não deve importar, mas apenas o mérito dos argumentos), então o público em geral poderá dar ouvidos às suas preocupações.
Portanto, o consenso não importa para o debate científico, mas sim para o debate sobre o debate.
Podemos rejeitar as alegações criacionistas, as alegações dos adeptos da fusão fria, as alegações dos que desmentem a teoria da relatividade, a segunda e a primeira leis da termodinâmica, e daqueles que defendem o fim do mundo por causa do LHC, e mesmo dos negacionistas do holocausto, tudo isto sem ter formação em biologia, ou física, ou história, ou seja que área científica for.
Claro que uma minoria pode ter razão, e a generalidade dos especialistas pode demorar a reconhecê-lo. Nesse caso, enquanto esse reconhecimento não surge, esta heurística sairá furada. Mas para quem não é especialista, haverá heurística melhor?
Quero acrescentar uma coisa sobre o meta-debate.
Tu podes equacionar o meta-debate como algo binário: quem tem razão? Em muitos casos, esta é uma boa abordagem: os negacionistas do holocausto não têm razão, os criacionistas não têm razão, os alarmistas do LHC-fim-do-mundo não têm razão. Podes chegar a estas conclusões com algum bom senso, sem perceber grande coisa de história, biologia ou física.
Vou colocar do debate público sobre o aquecimento global (apesar das muitas semelhanças) num patamar diferente.
Aqui podemos não apenas perguntar-nos quem tem razão, mas qual o risco de alguém ter razão.
Para quem entende pouco sobre os aspectos técnicos do debate, não deixa de parecer óbvio que existe um risco significativo que a generalidade dos especialistas tenha razão. Já nem falo em dar isso como certo, mas apenas em considerar que aquilo que defendem não é ridículo o suficiente para ser descartado.
Um dano esperado multipliado por um risco não desprezável vai dar um dano esperado corrigido mais reduzido, mas ainda não desprezável.
E isto quer dizer tão simplesmente que se devia fazer mais para evitar o efeito de estufa - ou seja um esforço INTERNACIONAL conjunto para evitar as emissões - do que aquele que tem sido feito.
Isto não diz quanto esforço deveria ser feito, mas diz que não é nulo. E como o esforço que tem sido feito É nulo (infelizmente), parece claro que se devia fazer mais esforço.
Quanto ao debate científico, ele que evolua livremente. Mas enquanto isso, e é essa a ideia do texto do Ludwig que citei, arregacemos as mangas. Havia um debate sobre se o tabaco provocava danos à saúde, e a generalidade dos médicos achava que sim. Quem esperou fumando para ter a certeza fez uma má opção.
duas coisas:
devias informar-te um pouco melhor antes de comparar cientistas climáticos "desalinhados" com criacionistas ou outros doidos varridos. é que publicam nas mais conceituadas revistas de geofísica, clima, etc, e ocupam posições em universidades e institutos de renome. um pouco mais de crédito!
se realmente o que te preocupa é o debate público, então podias começar por pensar no que disse em cima: para mim, é bem mais urgente fazer policy making no que diz respeito à poluição, à dependência energética, ao desenvolvimento industrial renovável e sustentável, etc, do que a meio grau centígrado...
ricardo:
Não sei se leste bem o que escrevi, portanto vou repetir parte:
«Tu podes equacionar o meta-debate como algo binário: quem tem razão? Em muitos casos, esta é uma boa abordagem: os negacionistas do holocausto não têm razão, os criacionistas não têm razão, os alarmistas do LHC-fim-do-mundo não têm razão. Podes chegar a estas conclusões com algum bom senso, sem perceber grande coisa de história, biologia ou física.
Vou colocar do debate público sobre o aquecimento global (apesar das muitas semelhanças) num patamar diferente. »
Repito: «Vou colocar do debate público sobre o aquecimento global (apesar das muitas semelhanças) num patamar diferente. »
É irónico que depois de ter escrito isto me acuses de estar a colocar ambas as situações no mesmo patamar. Não estou.
A menos que não tenha sido isso que quiseste dizer com "comparar". É que comparar eu comparo muita coisa, e se não fosse diferente não haveria razão para comparar. Posso comparar astrologia com ciência, sem qualquer desmérito para a segunda. Não vou é colocar a astrologia no mesmo patamar, como é óbvio.
Quanto ao debate político, ele deve existir sobre o fenómeno do aquecimento global, os seus riscos, e o que fazer.
Claro que existem outras razões para evitar as emissões: independência energética, sustentabilidade, poluição em geral, etc...
Mas quando equacionas que esforços deves fazer para evitar as emissões deves ter todas as possíveis consequências negativas em conta, e não apenas só algumas.
Por outro lado, esse tipo de problemas exige esforços fundamentalmente ao nível nacional. Um país taxa a gasolina em Y porque considera que isso prejudica a população em Y devido aos problemas que referiste.
Mas se as emissões podem provocar um prejuízo adicional Z ao mundo inteiro, não faz sentido ignorar o risco de existir esse prejuízo, ou mesmo não o debater publicamente. Mas as políticas para resolver esse problema já terão de ser internacionais, pois nesse caso as tuas emissões não vão prejudicar apenas os eleitores do teu país, mas os indivíduos do mundo inteiro.
Por isso discordo das duas observações que fizeste: nem eu coloquei este debate no mesmo patamar que o do criacionismo (apesar, repito novamente, de algumas semelhanças); nem eu acho que os outros problemas associados às emissões justificam que este debate não seja travado pelos eleitores.
Deve ser travado, e deve ser feito ALGO face a este risco.
e o blogger não permite escrever bem o símbolo do dióxido de carbono? Com o doiszinho abaixo das letras e não ao mesmo nível?
O atlântico norte deveria ser mais quente por volta do ano mil. Deve ter sido por isso que se conseguiu colonizar a Gronelândia.
Dados precisos sobre as temperaturas só temos para menos de duzentos anos, e na Europa ocidental. Não chega para tirar conclusões arriscadas sobre a acção humana.
Ricardo:
Se os dados que temos chegam para tirar estas conclusões ou não, ou mesmo se o atlântico norte era mais quente ou não nessa altura, são dois exemplos de questões científicas fora da nossa área. Podemos dizer li X ou li Y, mas são sempre notícias, ou divulgação. Não podemos perceber 2a sério" porque isso exige um estudo aprofundado.
Por isso, vou fazer uma pergunta que é geral, e não apenas em relação a este problema do aquecimento global: quando existe um debate político sobre algo que envolve factos científicos em debate, qual a melhor heurísitca para os não-especialistas envolvidos no debate político?
Imagina que há uns anos atrás um político queria proibir a publicidade ao tabaco na televisão. Mas alguns cientistas alegavam que não existiam provas de que o tabaco fazia mal à saúde. Se este político fosse debater essa questão científica com esses cientistas, seria obviamente "cilindrado" pois eles conehcem o assunto em debate com muito mais detalhe. Citariam os estudos que lhes dão razão, diriam porque é que seriam irrelevantes aqueles que o político pudesse apresentar, etc.. Como o político não é especialista, a sua argumentação seria muito pouco persuasiva para um observador exterior.
Então o político poderia dizer "há um vasto consenso que o tabaco faz mal à saúde, portanto esta legislação justifica-se". E aí os cientistas diriam "a ciência não se faz com consensos, blablabla". Se eu fosse o político responderia "claro que a ciência não se faz com consensos, nem se deve fazer! Investiguem isso à vontade, e encontrem os melhores argumentos para apresentar aos especialistas. Estes especilistas devem olhar para os vossos argumentos pelos seus méritos e não pelo vosso número. Mas isto é gente que PODE avaliar os vossos argumentos pelos seus méritos. Gente que PODE e DEVE. Eu não. Eu confio na comunidade científica, e confio que se os vossos argumentos forem bons, os outros especialistas - que os devem avaliar pelo mérito - acabarão por ser convencidos. Não sou eu - um político - a ser o juiz do debate científico: são os especialistas. Por isso confio na comunidade científica, e observando que existe um vasto consenso de que o tabaco faz mal à saúde, vou pautar a minha acção política pela confiança em que isso é verdade. Um dia que os vossos argumentos convençam os especialistas de que eles estão errados, farei o mesmo."
Porque há muitos assuntos em debate, mesmo que uns debates pareçam mais ridículos do que outros. Há quem negue o holocausto, quem advogue o criacionismo, quem não acredite na relatividade restrita. Qual a heurística mais adequada para um não-especialista?
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