quarta-feira, 31 de outubro de 2007
A consciência que objecta
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Hipocrisias
- «Gordon Brown vai receber em Downing Street o líder de um país que a Amnistia Internacional diz ser palco de violações diárias dos mais fundamentais direitos humanos. É o mesmo Brown que recusa participar na cimeira UE-África, marcada para Dezembro, em Lisboa, caso o líder do Zimbabwe, Robert Mugabe, compareça no encontro.» (Diário de Notícias)
Cheque-ensino
Mas a verdade é que os ricos estão ricos demais e começaram a perder a cabeça há mais ou menos 20 anos. Tanto dinheiro deu-lhes uma vertigem e acabaram por perder a vergonha e o sentido da decência.
Agora, a pequena oligarquia que detém metade da riqueza do planeta – e que se reúne, à porta aberta, várias vezes por ano para combinar estratégias – quer roubar-nos tudo. A privatização da educação tem várias componentes.
Primeiro o desinvestimento no ensino público, para que os filhos dos pobres não possam competir com os dos ricos para os melhores empregos.
Segundo o controlo ideológico das escolas que se pretende que venham a produzir os quadros do futuro.
Terceiro o roubo dos impostos dos cidadãos através dos chamados cheque-ensino, que são um subsidio desavergonhado ao ensino privado.
O resto é conversa de blogues e ideologia de café... não está demonstrado que os privados façam melhor que os públicos em nenhum sector. Esta ideia é um axioma de fé, tão ridículo e improvável como a ideia do homem novo dos marxistas.
É o quê?
«O ensino privado e o ensino público competem com armas desiguais. O ensino público tem os seus custos de funcionamento e de investimento pagos pelo Estado. O ensino privado tem que pagar os custos de investimento e de funcionamento com as receitas que consegue atrair. O ensino público tem preço zero para o cliente, o ensino privado cobra propinas ao cliente.
Tendo em conta a total desigualdade de armas, é notável que algumas escolas privadas consigam aparecer no topo dos rankings.»
A ideia é que o ensino privado é tão mais eficiente que mesmo sem o financiamento público consegue ter resultados melhores. E é verdade que o sector privado é mais eficiente. Mas importa ver em quê.
O sector privado é mais eficiente a dar dinheiro aos donos. É para isto que o sector privado serve. Todas as empresas privadas visam produzir um só produto: o lucro para os accionistas. O resto é acidental. A bolacha, o automóvel, a operação plástica ou a média de 13 no exame nacional são meros efeitos secundários do processo de gerar lucro.
A privatização é uma boa ideia quando o objectivo coincide com a maximização do lucro. Se o objectivo é educar os filhos dos ricos o ensino privado garante a qualidade de educação que optimiza o lucro. Quanto mais ricos os pais melhor será este efeito secundário da produção de dividendos, e temos a garantia que os dividendos serão gerados com eficiência. Se não, fecha-se a escola, monta-se um centro comercial e os miúdos que vão estudar para casa.
Mas se o objectivo é garantir que todos tenham acesso à educação a situação é diferente. O sector privado é notoriamente ineficiente a prestar serviços a quem não os pode pagar.»
Nota: aproveitando a política de ausência de direitos reservados ( ;) ), este texto é descaradamente copiado do blogue Que Treta!.
Petição contra a excisão
- Contra a excisão (ou mutilação genital feminina).
domingo, 28 de outubro de 2007
Beatificai-os também
- «[A guerra é] a Cruzada mais elevada que os séculos já viram (...) uma cruzada onde a intervenção divina a nosso favor é bem patente» (bispo de Pamplona);
- «A guerra é cem vezes mais importante e sagrada do que o foi a Reconquista» (bispo de Segóvia);
- «A guerra foi pedida pelo Sagrado Coração de Jesus que deu forças aos braços dos bravos soldados de Franco» (arcebispo de Valência);
- «A igreja, apesar do seu espírito de paz (...) não podia ficar indiferente na luta (...) Não havia em Espanha nenhum outro meio para reconquistar a a justiça e a paz e os bens que dela derivam que não fosse o Movimento Nacional» (carta pastoral dos bispos espanhóis);
- «[O General Franco] é o instrumento dos planos de Deus sobre a Terra» (cardeal Goma)
- «[A guerra é] uma luta entre a Espanha e a anti-Espanha, a religião e o ateísmo, a civilização cristã e a barbárie» (cardeal Goma);
- «Judeus e maçãos envenaram a alma nacional com ideias absurdas» (cardeal Goma);
- «Ninguém pode negar que o 'deus ex machina' de esta guerra foi o próprio Deus, a sua religião, os seus foros, a sua lei, a sua existência e a sua influência atávica na nossa história» (carta pastoral dos bispos espanhóis);
- «Os galantes mouros (...) embora tenham retalhado o meu corpo apenas ontem, merecem hoje a gratidão da minha alma, pois estão a combater pela Espanha contra os espanhóis... Quero dizer os maus espanhóis... Estão a dar a sua vida em defesa da sagrada religião espanhola, como prova a sua presença no campo de batalha, escoltando o Caudillo e amontoando santos medalhões e corações sagrados nos seus albornozes» (General Millan Astray, fundador da Legião Estrangeira);
- «Para milhões de espanhóis (...) o cristianismo e o fascismo misturaram-se e é impossível odiarem um sem odiarem o outro» (François Mauriac, em carta ao cunhado de Franco);
- «[A guerra é] um teste de força entre o comunismo judeu e a nossa tradicional civilização ocidental» (Hilaire Belloc);
- «Elevando a nossa alma a Deus, congratulamo-nos com Vossa Excelência pela vitória tão desejada da Espanha católica. Formulamos os nosso votos de que o vosso querido país, uma vez obtida a paz, retome com vigor acrescido as suas antigas tradições cristãs que lhe grangearam tanta grandeza. É animado por estes sentimentos que dirigimos a Vossa Excelência e a todo o nobre povo espanhol a Nossa benção apostólica» (Pio 12, papa da ICAR, em mensagem dirigida a Franco na véspera da conquista de Madrid).
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Uma educação cristã
Neoliberalismo: o milagre argentino
Ensino Público/Privado e seus "Rankings"
Notícias como esta acentuam essa noção. Muitos imaginarão que os resultados obtidos nos exames nacionais nas escolas privadas e públicas são muito diferentes.
Isso não é verdade.
A média de todos os exames realizados por alunos do ensino público é de 10,05.
A média de todos os exames realizados por alunos do ensino privado é de 10,75.
Um diferencial de 0.7 numa escala de 0 a 20.
O leitor pode chegar aos mesmos resultados por si. Eis como calculei este valor:
1) O JN disponibolizou os resultados do ranking em excel
2) Na célula H5 colocar: =(IF(D5="PUB";1;0))*F5
Arrastar a célula por forma a abranger toda a coluna.
3) Na célula I5 colocar: =(IF(D5="PUB";0;1))*F5
Arrastar a célula por forma a abranger toda a coluna.
4) Na célula J5 colocar: =H5*G5
Arrastar a célula por forma a abranger toda a coluna.
5) Na célula K5 colocar: =I5*G5
Arrastar a célula por forma a abranger toda a coluna.
6) Na célula H613 colocar: =SUM(H5:H612)
Na célula I613 colocar: =SUM(I5:I612)
Na célula J613 colocar: =SUM(J5:J612)
Na célula K613 colocar: =SUM(K5:K612)
7) Na célula J614 colocar: =J613/H613
Na célula K614 colocar: =K613/I613
E aí estão os resultados.
Para mim foram surpreendentes.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Boas novas vindas da Polónia
A Polónia já se livrou de um dos gémeos severamente castigado nas urnas pela sua política vergonhosa.
sábado, 20 de outubro de 2007
Teresa de Ávila
- «(...) Neste estado, agradou ao Senhor dar-me a visão que aqui descrevo. Vi um anjo perto de mim, do meu lado esquerdo; não era grande, mas sim pequeno e muito belo; o seu rosto afogueado parecia indicar que pertencia à mais alta hierarquia, aquela dos espíritos incendiados pelo amor. Vi nas suas mãos um longo dardo de ouro com uma ponta de ferro na extremidade da qual ardia um pouco de fogo. Às vezes, parecia-me que ele me trespassava o coração com esse dardo, até me chegar às entranhas. Quando o retirava, parecia-me que as levava consigo, e ficava em chamas, totalmente inflamada de um grande amor por Deus. Era tão grande a dor, que me fazia dar gemidos, mas ao mesmo tempo era tão excessiva a suavidade que me punha essa enorme dor, que não queria que terminasse, e a alma não se podia contentar com nada menos do que Deus. Este sofrimento não é corporal, mas sim espiritual, e no entanto o corpo participa, e não participa pouco.»
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Rui Tavares está na casa
As minhas conclusões tenho de tirá-las a partir do debate público. E aí sou forçado a dizer que a posição dos cépticos é cada vez mais frágil e contraditória. Muitos deles começaram por dizer: "não há alterações climáticas". Depois, passaram para: "há alterações, mas não são provocadas pelo Homem". Bjørn Lomborg, grande rival público de Al Gore, admite agora que as alterações climáticas são reais e provocadas pelos humanos mas que não vale a pena perder com elas dinheiro que seria mais bem gasto no combate à malária (alguém sugere que se vá roubar dinheiro à luta contra a malária ou será que não há dinheiro disponível, por exemplo, nos gastos militares?).
Também há quem diga que enquanto não houver certezas não vale a pena combater as alterações climáticas, como quem se recusasse a comprar um seguro contra incêndios enquanto não tiver garantias de que a casa vai pegar fogo. Há outros argumentos: que Al Gore é chato, que é pedante, que até lê livros e escreve livros. Ouvimos tudo isso em 2000, quando os seus adversários tentavam pressioná-lo a que reconhecesse a sua "derrota" nas presidenciais; hoje é tão absurdo que já não faz qualquer efeito. Em desespero de causa chegam a citar a sentença de um juiz britânico que identifica "nove erros" no documentário de Gore omitindo a parte onde diz que o filme está "substancialmente correcto".
Apesar disso tudo, eu gostaria que tivessem razão. Seria preferível que noventa por cento dos cientistas não estivesse do lado de Gore. Seria melhor para o planeta. Seria melhor para nós. Simplesmente, não vejo os adversários de Al Gore ganhar este debate. Vejo-os enterrarem-se cada vez mais.»
Artigo completo em Pobre e Mal Agradecido
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Eu e o aquecimento global - II
O indivíduo A vende um produto ao indivíduo B. O produto vale 10 moedas para A, e 20 moedas para B, e foi vendido a 15 moedas. A ganhou 5 moedas, B ganhou 5 moedas, estão todos felizes. Mas vamos supor que esta venda teve um impacto negativo para um terceiro indivíduo, deveria tal troca ser permitida? Depende.
Se o ganho de A e B fosse maior que o dano feito ao terceiro indivíduo, eles deveriam fazer a troca, pagando a este indivíduo o suficiente para lhe compensar os danos. Assim haveria ganhos sem perdas.
Se o ganho fosse menor, então A e B já não teriam vontade de fazer a troca, pois teriam sempre de pagar mais do que aquilo que poderiam ganhar.
Na prática as coisas não são tão bonitas, mas ainda assim posso dar um exemplo. A gasolina: para o condutor vale X, para o vendedor vale Y. Mas o escape do automóvel lança gases nefastos para o ambiente na cidade, prejudica a saúde, etc... A sociedade é prejudicada pelo facto do condutor queimar gasolina. Assim sendo, o estado cobra impostos mais altos na gasolina que nos outros produtos, beneficiando a sociedade prejudicada pelo fumo (pois tem mais meios de providenciar serviços do que aqueles que teria sem este imposto).
É por isto que o imposto sobre a gasolina é tão alto, e bem.
Mas notem: o imposto é cobrado em função daquilo que o estado português considera que a gasolina prejudica os portugueses. Aqui não está em jogo nada relacionado com o aquecimento global.
Vou deter-me sobre um ponto: eu disse que o imposto cobrado (devido à externalidade) deveria ser um valor correspondente a uma boa estimativa do dano causado. Se for um valor inferior, a sociedade é encorajada a fazer algumas trocas nos quais as perdas para a sociedade são maiores que os ganhos para os intervenientes. Se for um valor superior, a sociedade é encorajada a não fazer algumas trocas em que haveria ganhos e nenhumas perdas.
E quando há incerteza? Sabemos que existe 10% de probabilidade de causar 30 moedas de dano, e 90% de probabilidade de ser inócuo. Em primeira análise poderíamos dizer que o imposto mais adequado corresponderia ao "dano esperado", neste caso correspondente a 3 moedas. Mas é possível argumentar que o valor deveria ser superior, pois o "risco" também tem custos. Não vou tratar esta questão em pormenor, mas espero ter deixado claro que o valor associado ao imposto relativo à externalidade nunca deverá ser inferior ao "dano esperado".
Se a teoria "dominante" estiver certa, a emissão de certos gases causa danos consideráveis: em vidas humanas, em desestabilização, em perda de biodiversidade, mas também em termos puramente económicos. Causa-os não ao país em que eles foram emitidos, não a essa sociedade, mas a todo o mundo.
Como a probabilidade da teoria "dominante" estar certa não é 0%, podemos facilmente entender que o "dano esperado" da emissão de certos gases não é nulo.
Por isso, parece claro que a coisa acertada a fazer seria a criação de um pequeno imposto mundial que reflectisse este dano mundial esperado. Parece claro que a ausência deste imposto é uma asneira que leva a que emitamos mais do que deveríamos tendo em conta a informação de que dispomos.
O protocolo de Quioto foi uma espécie de tentativa de estabelecer algo do tipo. Os países aderiam voluntariamente, estabeleciam limites e multas, o que acabava por criar uma espécie de custo à emissão marginal destes gases, que acabava por reverter a favor dos mais pobres. Obviamente a adesão deveria ser universal, pois de outra forma quem ficasse de fora seria beneficiado às custas dos "tolos" que aderissem, mas ainda assim foi com gosto que vi a UE a dar o bom exemplo neste campo.
Obviamente, estando o protocolo delineado como estava, os custos da emissão estariam longe de reflectir o "dano esperado", mas era um primeiro passo. Fora do protocolo a externalidade devido ao "dano esperado" é nula. Não estou certo que o aquecimento global é causado pelo homem, mas estou certo que, perante a informação que temos, ficar fora de Quioto é mau para o mundo.
Eu e o aquecimento global - I
Mas como cidadão não posso abster-me desta questão tão importante. Quer um lado, quer outro esteja certo, os cidadãos não podem ficar indiferentes! Existem consequências políticas a tomar, e vivemos em democracia.
Para formar uma opinião, dada a minha incapacidade científica, terei de confiar nalguma fonte. Confiar na generalidade da comunidade científica não me parece disparatado.
É certo que a maioria dos cientistas já esteve errada em alturas passadas, e aconteceu que teorias pouco apoio inicial tenham acabado por demonstrar a sua validade. Este poderia ser um desses casos.
Mas creio que muitas ideias disparatadas foram propostas e rejeitadas pela maioria da comunidade científica. Dessas nunca ouvimos falar, mas não devem ter sido poucas... Assim sendo, para o cidadão sem acesso aos aspectos técnicos de uma polémica científica, confiar na opinião geral da comunidade de especialistas nesse campo é capaz de ser a coisa mais sensata a fazer.
Isto levar-me-ia a considerar séria a ameaça do aquecimento global provocado pelo homem. Mas existe uma outra razão que me leva a suspeitar que acreditar nisto é o mais sensato.
Existe uma polémica entre uma minoria de cientistas que contesta a teoria dominante - o homem tem estado a provocar aquecimento global devido às emissões de certos gases, e isso constitui uma ameaça séria para o futuro - e uma mioria que a promove. Mas esta minoria de cientistas não contesta apenas um ponto no encadeamento geral da teoria dominante. Costesta todos.
Vejamos: a teoria dominante diz que a) a temperatura tem aumentado ao longo do último século; b) uma das principais causas desse aumento é a emissão de certos gases por parte do homem c) as consequências de tal aumento serão devastadoras.
A minoria que objecta a isto não contesta um destes pontos. Contesta os três. Pensem nisto. É estranho. Várias vezes já vi as mesmas pessoas a defenderem que há um aumento de temperatura, que é causado pelo Sol (e usam as medições de temperatura para o mostrar), para poucos meses depois dizerem que há medições erradas, e que a temperatura não está a aumentar. Vejo dizer que o aquecimento não é grave (mesmo no artigo anterior que inspirou este...), ou porque promove o turismo, ou porque as temperaturas vão ficar mais amenas, ou por isto ou por aquilo.
Repito, é estranho. Se o que movesse este movimento fosse a procura da verdade, seria bizarro ver que a esmagadora maioria dos cientistas se tinha enganado nestes 3 pontos, e não num deles.
Mas não seria estranho se grande parte desta contestação tivesse contornos semelhantes ao movimento criacionista (não de forma tão flagrante, obviamente): fosse um movimento mais político do que científico.
Se o objectivo fosse impedir quaisquer limitações à emissão de certos gases, mais do que descobrir a verdade, então seria vital lançar a desconfiança sobre a teoria dominante, mais do que descobrir as suas falhas. Atacar-se-ia a teoria dominante em todas as frentes, para criar um clima de dúvida, mais do que nos seus aspectos mais dúbios ou menos comprovados.
Claro que há desconfiança científica genúina, mas o eco mediático que dela é feita parece ser grosseiramente exagerado. Parece que o que importa é que os políticos não se lembrem de limitar as emissões, seja convencendo as pessoas que o aquecimento global não é mau, seja convencendo que o culpado é o Sol e que não há nada a fazer, seja convencendo que ele nem sequer existe.
Mas no fim de tudo, posso estar totalmente enganado, e a teoria do efeito de estufa é mesmo uma fraude que está a ser corajosamente denunciada.
Não sei se sim, nem se não, por isso que é que eu devo achar que deveria ser feito?
domingo, 14 de outubro de 2007
Solidariedade com o catolicismo silenciado!
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Laicidade e hospitais (10/10/2007)
- «Há muito tempo que não existia uma campanha política assim - a da Igreja Católica e seus apoiantes contra a reforma do regime de assistência religiosa nos hospitais -, baseada na desinformação ostensiva, no alarme infundado e na ameaça despropositada. (...) Subitamente, os cidadãos foram alertados para um nefando projecto governamental que, no mínimo, vinha dificultar e, no máximo, vinha extinguir a assistência religiosa. (...) Afinal, o projecto governamental não contém nenhum dos alegados aspectos. Extingue para o futuro o regime das capelanias, mas mantém as que existem até que vaguem, ao mesmo tempo que o novo regime assegura o pagamento dos serviços de assistência em si mesmos. Também não exige uma solicitação pessoal dos próprios doentes, antes permite explicitamente que o pedido seja feito por familiares ou amigos próximos, para além de que a assistência pode ser prestada por iniciativa dos próprios ministros do culto, sem solicitação específica dos doentes (ou de outrem), sempre que estes tenham indicado, querendo, a sua religião para efeitos de assistência religiosa. E tampouco limita a assistência ao horário das visitas; pelo contrário, estabelece explicitamente que ela pode ocorrer em qualquer altura em que seja solicitada, preferencialmente fora das horas das visitas.» (Vital Moreira)
- «A Constituição, a Concordata e a Lei da Liberdade Religiosa concordam todas nos seguintes princípios: – A assistência religiosa nos hospitais deve ser solicitada pelo paciente; – O Estado não é obrigado a pagar a assistência religiosa; Aparentemente, o Governo dispõe-se a respeitar o primeiro princípio e (como é hábito) esquecer que o segundo existe. E isto é uma polémica? Para os bispos, dá jeito que seja: o primeiro a declarar uma “polémica” ocupa território. (...) A “polémica” teve o efeito involuntário de chamar a atenção para isto: mais de cem capelães são pagos nos hospitais com o dinheiro de todos os contribuintes e com acesso irrestrito a todos os doentes, católicos ou não. Para mais, escandalizam-se ao descobrir que a Constituição não lhes dá o privilégio de tratar todo o cidadão como católico à partida. Agora que já fizeram a festa e lançaram os foguetes, eu teria algum cuidado: as canas ainda não caíram todas.» (Rui Tavares)
terça-feira, 9 de outubro de 2007
Mota Amaral e o Pai Natal
E 25 idiotas, numa demonstração eloquente duma estupidez criminosa e implausível, votaram contra.
Ficamos a saber que o parlamento europeu – uma organização aliás ignóbil, onde se decreta o nosso futuro à roda solta, sem qualquer escrutínio – tem pelo menos 25 analfabetos perigosos, que rejeitam os fundamentos mais básicos da ciência.
O que o voto de Mota Amaral representa é a vontade de deixar uma porta aberta aos católicos mais sinistros (os que se flagelam aos dias de semana), aos evangélicos mais ignorantes, aos judeus mais alucinados e aos muçulmanos mais arredados do século XXI, para que eles possam tentar ensinar aos nossos filhos que os dinossauros se extinguiram porque não cabiam na porta da Arca de Noé.
A partir daqui o que mais é que se pode esperar destes desgraçados? Caças às bruxas?
domingo, 7 de outubro de 2007
Socialismo e Liberalismo - III
O argumento dos segundos é o seguinte: numa sociedade tendencialmente liberal, o papel do estado deverá ser cada vez menor, pelo que terá cada vez menor necessidade de sustento, e assim, a violação das liberdade individuais que contitui a cobrança de impostos coerciva terá um impacto cada vez menor. Mais liberalismo implica menos "ataques" à propriedade privada, e consequentemente maior protecção da mesma.
O argumento dos mais liberais de esquerda é o seguinte: é o estado que actualmente protege a propriedade privada, e fá-lo coagindo os indivíduos a não furtar. Se o estado vai limitar menos as liberdades individuais, a propriedade privada será menos protegida.
Acho que nenhum dos lados tem razão nesta discussão. Acho que ambos os lados são "verdadeiros" liberais se, fora destas questões da propriedade, defenderem realmente valores individualistas.
Deveria ser possível a pena de morte? É correcto impedir o consumo de drogas pesadas? E leves? A prostituição deve ser proibida? É legítimo controlar a entrada de emigrantes? A eutanásia deve ser proibida?
Se respondeu "sim" a estas perguntas todas, não invente desculpas: o leitor não é um liberal. Se tem pena, porque gosta da palavra "liberal, pois fá-lo sentir-se um pouco rebelde, mas não gosta nada da bandalheira em que a "ditadura da liberdade" resulta, auto-intitule-se "liberal à la Pedro Arroja" para causar menos confusão.
Socialismo e Liberalismo - II
Este esquema ilustra (na medida do possível) aquilo que me referia na mensagem anterior. A barra vertical refere-se à importância que é dada aos valores do individualismo. Pessoas que partilham de valores mais paternalistas tendem a preferir os regimes acima, e pessoas que partilham de valores mais individualistas tendem a gostar mais dos regimes de baixo.
A barra horizontal refere-se à importância que é dada à propriedade privada. À direita encontram-se as correntes de pensamento segundo as quais a propriedade privada deve ser protegida enquanto valor fundamental. Quanto mais à esquerda, menos valor é dado à defesa da propriedade privada.
Mais coisa menos coisa, o saco de dinheiro assinala valores similares aos de Milton Friedman. O boné militar com estrela comunista assinala os valores de Mao e Estaline. O A de "anarquia" assinala os valores de quase todos quantos se auto-intitulam anarquistas (mais restritos que todos aqueles compatíveis com a inexistência de estado/autoridade). O facho assinala os valores de grande parte dos regimes fascistas, incluindo o corporativismo do Estado Novo. No canto superior direito poderia estar um símbolo alusivo à ditadura de Pinochet. Alguém tem alguma sugestão de um símbolo adequado para isto?
Socialismo e Liberalismo - I
O individualismo é um conceito político moral e social que exprime a afirmação e liberdade do indivíduo frente a um grupo, qualquer que ele seja. Assim sendo, o individualismo é contrário de qualquer forma de totalitarismo, não importa se socialista, fascista, etc...
Existem doutrinas e sistemas de valores mais e menos individualistas. São liberais as doutrinas que prezam bastante o individualismo. São anarquistas as que o prezam ao ponto de considerar que o estado não deveria deter nenhum poder sob o indivíduo: não devia sequer existir.
O socialismo é compatível com isto e com o seu contrário. Isto porque o socialismo corresponde, no sentido restrito, a qualquer sistema de poder sem propriedade privada, e no sentido mais lato a um conjunto vasto de doutrinas para as quais a propriedade privada não é considerada um valor fundamental.
Assim sendo, podemos ter socialismo anarquista, que aliás é o que defendem quase todos aqueles que se dizem "anarquistas", e podemos ter socialismo totalitário, com os exemplos de Estaline e Mao a soarem óbvios. E toda uma gama intermédia que passa pelo socialismo democrático e republicano, e por muitos outros sistemas possíveis.
Laicidade e hospitais (7/10/2007)
- «O mais extraordinário na campanha de alguns dignitários católicos contra a revisão do regime da assistência religiosa nos hospitais (devidamente secundada por uma bateria de fiéis comentadores e editorialistas) foi o recurso a flagrantes falsificações sobre o projecto governamental. Assim, por exemplo, não é verdade que o pedido de assistência só possa ser feito directamente pelos próprios pacientes (pois também pode ser solicitada por familiar ou outra pessoa próxima, ou mesmo por iniciativa do ministro do culto da religião que o paciente tenha indicado como sua); nem é verdade que a assistência só possa ser feita nas horas das visitas (pelo contrário, pode ser prestada a qualquer hora, e preferivelmente fora das horas de visitas). E quanto à exigência de forma escrita, é evidente que ela pode ser feita num formulário entregue ao doente ou familiar à entrada no serviço.» (Vital Moreira)
- «O curioso é que, tendo-se finalmente acesso ao diploma - que, diga-se de passagem, embora não sendo um texto definitivo, deveria, em face da polémica, ter sido divulgado pelo Ministério da Saúde - a maior parte daquilo que foi dele dado como certo é falsa. Nem a assistência é restrita ao horário das visitas - pelo contrário - nem é certo que a sua solicitação possa ser apenas feita pelos pacientes a admissão: pode ser feita a todo o tempo do internamento e por familiares ou amigos, por escrito e com assinatura. Mais: a proposta mantém nos hospitais os capelães católicos com vínculo à função pública até que estes se reformem. Só não lhes permite que tenham acesso aos doentes que não lhes peçam assistência. Afinal, parece que havia uma campanha - e feia e insidiosa - mas jacobina, seja lá isso o que for, de certeza não foi.» (Fernanda Câncio)
The Shock Doctrine, de Naomi Klein
Mas a propaganda organizada dos proponentes do capitalismo selvagem, possível em virtude da concentração dos media nas mãos de uma minoria de multimilionários nos últimos 30 anos, permitiu que uma mentira grotesca e deliberada acabasse por ser aceite pela maioria dos cidadãos da Europa ocidental e dos EUA: a ideia de que o capitalismo selvagem é uma vitória da democracia e da liberdade de expressão. O fim da História dos neocons.
Este livro excelente é sobre a brutalidade dos proponents do capitalismo selvagem e sobre a quantidade de pessoas que morreram e morrem todos os dias às mãos dos nossos políticos mais simpáticos.
A autora resume o tema do livro nas páginas 18 e 19: “This book is a challenge to the central and most cherished claim in the official story – that the triumph of deregulated capitalism has been born of freedom, that the unfettered free markets go hand in hand with democracy. Instead, I will show that this fundamentalist form of capitalism has consistently been midwifed by the most brutal forms of coercion, inflicted on the collective body politic as well as on countless individual bodies. The history of the contemporary free market – better understood as the rise of corporatism – was written in shocks.”
Compreensívelmente, os grandes media têm evitado falar deste livro e os jornais e revistas que lhe fizeram recensões críticas, como de costume, preferiram atacar a autora com chavões e rótulos insultuosos (liberal, radical, etc.) do que contestar o conteúdo do livro.
Mas a verdade está aí, preto no branco. Como dizia Hannah Arendt, os piores criminosos não sujam necessáriamente as mãos: decretam a morte e a tortura de milhões de civis à porta fechada, em hotéis de cinco estrelas, entre dois coctails, nas cimeiras de Davos ou do grupo Bilderberg.
As cartas de Milton Friedman a Pinochet, as missas que o papa lhe rezou, o apoio incondicional de Thatcher ou da família real belga ao governo criminoso do general são exemplos públicos e banais desta realidade.
sábado, 6 de outubro de 2007
«Medida anti-operária e antipopular»
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Duas pernas bom, quatro pernas mau?
Os americanos resolveram privatizar o exército. Se calhar não viram o filme Robocop. :o) Ou se calhar viram e pensaram que eram mais espertos.
Enfim, parece que a coisa não está a correr lá muito bem. Hoje no HuffPo: http://www.huffingtonpost.com/huff-wires/20071001/blackwater-iraq/
Gostava de ouvir o Dr. Arroja explicar as razoes do mercado às famílias das vítimas.
Sem eles não teria havido República
À hora de jantar do dia 3 de Outubro, dá-se a última reunião (Rua da Esperança).
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Naomi Klein
http://www.naomiklein.org/main
Pelo menos aqui está a fazer ondas e a gerar um debate que era capaz de ser benéfico aos portugueses, que são os europeus mais explorados da Europa dos 25. Mas se calhar o futuro do José Mourinho é capaz de interessar mais ao país...
Um crente pela laicidade
- «A ideia central – que me parece correcta – consiste em levar para os hospitais públicos e estabelecimentos militares a imparcialidade e neutralidade do Estado em matéria religiosa. Já era tempo! Neste debate, algumas vozes católicas mais conservadoras consideram estas medidas um ataque inaceitável à Igreja Católica. Mas a verdade é que nesta matéria a Igreja Católica ainda goza de benefícios únicos, que se traduzem numa situação de privilégio inaceitável num Estado que se pretende neutro em matéria religiosa.»
- «Quais serão as comunidades religiosas que poderão prestar assistência religiosa nestes estabelecimentos públicos? Todas? Apenas as radicadas? Apenas as que possuem estatuto de Pessoa Colectiva Religiosa?»
PPd/Psd
Bem sei que reina a apatia geral e que as pessoas querem é bola e telenovelas da TVI, e que votam de qualquer maneira, sem pensar.
Mas eu ainda não me esqueci que Durão Barroso, depois de ter sido escolhido por uma maioria dos portugueses para governar o país e depois de ter prometido aos eleitores que ia fazer o seu melhor, abandonou-os a todos à primeira oferta de mais honras e mais dinheiro, e foi trabalhar para o lobby neocon europeu.
O Psd pede-nos agora atenção para as tricas internas e para as lutas intestinas da organização pelo poder, como se o dirigente eleito fosse alternativa ao P"S".
Sem fazer um único comentário do género: "Desta vez não vos estamos a mentir, queremos mesmo governar; isto não é só uma luta pelo poder e pelo vosso dinheiro; a vergonha Durão Barroso / Santana Lopes não volta a acontecer." Nada. Como se estivesse tudo normal.
Assim, julgo que nada nos garante que o Psd não seja uma organização de malfeitores, onde o que conta é o poder e o dinheiro.
Na eventualidade (catastrófica) de o PPD ganhar um dia as eleiçes, quem é que nos garante que Meneses não vai trabalhar na fundação do Blair e nos deixa o major Valentim Loureiro como Primeiro Ministro?