- «O Conselho da Europa confirmou na sexta-feira passada o que o Human Rights Watch tem dito desde há dois anos: que a CIA operou secretamente prisões ilegais para suspeitos de terrorismo, na Polónia e na Roménia, de 2003 a 2005, onde os detidos eram submetidos a "técnicas de interrogatório classificáveis como tortura". (...) Segundo Marty, no caso dos centros de detenção secretos na Polónia e na Roménia, a CIA recorreu a agentes de ligação de confiança que reportavam directamente ao então presidente Aleksander Kwasniewski na Polónia e aos presidentes Ion Iliescu (primeiro) e Traian Basescu (depois) na Roménia. As prisões na Roménia e Polónia foram provavelmente encerradas em 2005, depois das atenções da imprensa se terem concentrado nelas, e os presos devem ter sido transferidos para outro local, mas o sistema de prisões secretas não acabou.» (Reed Brody, da Human Rights Watch, no Público de hoje.)
De 1945 a 2001, a Europa ocidental não ibérica deu de si uma imagem de impecável e democrático respeito pelos Direitos do Homem, em particular de repúdio por interrogatórios usando tortura, por punições bárbaras como a pena de morte, e pela repressão violenta de manifestações (porém, mesmo nesse período houve excepções de monta). Após o 11 de Setembro de 2001, as democracias europeias (o que nesse momento incluía todos os Estados do continente com duas ou três excepções) tornaram-se especialmente indulgentes quanto à detenção e tortura de muçulmanos suspeitos de pertencerem à rede terrorista do cheique Ossama Bin Laden. Por muito que o aumento do repúdio público pela violência e pela tortura esteja a aumentar (o que é inegável), a identificação de um novo grupo a quem se negam direitos universais recorda-nos que o progresso ético não avança em linha recta. E que acontecem regressões.
2 comentários :
acho que já falámos sobre isto anteriormente, mas convém sempre lembrar que esse imaculado período de 45 ao fim do século foi manchado pela operação gládio e os chamados exércitos secretos da nato. não vejo enormes diferenças em relação ao que se passa agora excepto, claro está, o facto de já ninguém falar, ou sequer se lembrar, da operação gládio...
Ricardo,
se seguires os linques no parêntesis das «excepções de monta», encontras material sobre algumas das páginas mais negras das democracias europeias no período posterior a 1945. As que me parecem mais escuras são:
a) O massacre da noite de 17 de Outubro de 1961 nas ruas do centro de Paris (onde morreram dezenas, ou mesmo uma centena, de civis argelinos, espancados e/ou afogados no Sena pela polícia da República francesa);
b) O «domingo sangrento» de 1972, em Belfast, quando uma dúzia de manifestantes (aparentemente deitados no chão e desarmados) foram mortos por agentes da democracia britânica;
c) As acções do GAL, em Espanha e durante os anos 80, em que mais do que uma dezena de pessoas foram mortas por uma organização que contava com cumplicidades ainda hoje não cabalmente esclarecidas no aparelho de Estado.
Refira-se em abono dos espanhóis que neste último caso houve investigação e penas de prisão, ao contrário das outras duas situações, onde a justiça tarda.
Finalmente, também lá está um linque para casos de tortura (por britânicos) de prisioneiros de guerra alemães no imediato pós-guerra, outra situação pouco falada.
Quanto à rede Gladio, na minha opinião é pouco relevante quando comparada com estes casos. A menos que se consiga provar o seu envolvimento no caso da gare de Bolonha.
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