terça-feira, 31 de outubro de 2006

Capitalismo e capitalismo selvagem

Eu não tenho (quase) nada contra o capitalismo. Aliás acredito na livre iniciativa e na social democracia como o modelo mais civilizado que se conseguiu implementar nos últimos 5000 anos. E acredito na liberdade individual e no papel do estado como defensor das minorias, promotor da educação e da cultura, da liberdade de expressão, da criatividade, do pensamento crítico e da concorrência.

Acho o capitalismo selvagem que a direita defende e tem implementado continuamente desde meados dos anos 70 um sistema social injusto e disfuncional, em que o poder transitou dos políticos eleitos para as empresas. A chamada "desregulamentação" é um eufemismo para o papel activo do estado na criação de uma cleptocracia desenfreada em que as empresas estão protegidas por lei e os cidadãos não.

Não acho que o capitalismo destrua a família, nem a liberdade individual, nem o ambiente, se for regulamentado e se o poder político existir e servir para controlar o poder das empresas.

Sobre o papel disfuncional do capitalismo selvagem no mundo, acho que a invasão do Iraque e as consequências gravíssimas da guerra religiosa que estamos a viver, entre o Ocidente e o Islão, são um exemplo eloquente.

Começada por um grupo organizado de fundamentalistas cristãos, apoiado por um grupo de milionários que elegeu um presidente fundamentalista (que declara publicamente que fala com Deus todas as tardes e teve de ser proibido de dizer a palavra “cruzada” em público), esta guerra nunca teria sido viabilizada por um parlamento que não fosse controlado por quem paga as eleições.

Come escreveu recentemente Richard Dawkins, o nível de educação dos membros do Congresso e do Senado americanos torna estatisticamente impossível que dois terços dos seus membros não sejam ateus e agnósticos.

E contudo, um grupo conhecido de milionários fundamentalistas cristãos controla os media, a Casa Branca, o Senado e o Congresso, e articulado com um grupo de milionários que planeava controlar os recursos petrolíferos da região e um grupo de milionários que vive de vender armas e depende das guerras para se manter, conseguiu começar uma guerra ignóbil contra um terço da população do mundo (os muçulmanos).

Come escreveu Louis Lapham recentemente, a invasão do Iraque pode ser um fracasso ou um sucesso, dependendo do ponto de vista. Para os humanistas é indubitavelmente um fracasso: dividiram-se dois mundos, morreram 650.000 civis, mais de 2000 militares, estão feridas e mutiladas, física e mentalmente, milhões de pessoas. Mas para quem tem acções da Haliburton ou de qualquer companhia petrolífera esta guerra é indubitavelmente um sucesso.

Revista de blogues (31/10/2006)

  1. «Andava na faculdade quando a conheci. Ela era muito bonita mas tinha um ar um pouco triste e meio-distante. (...) Mas foi só no último ano, quando fizemos um trabalho conjunto para uma cadeira, que nos conhecemos melhor. Soube então que fizera um aborto e que esse facto mudara uma série de coisas na sua vida. O namorado tinha-a apoiado nessa decisão e foi com ele que se dirigiu a uma abortadeira, algures no Alentejo, onde vivia. Acabou com uma hemorragia tão grande que se assustou, e então contou tudo aos pais. Estes levaram-na ao hospital e ela acabou por ficar bem. Mas, oh mas! O pai deixou de lhe falar, e, sendo o chefe da esquadra local, quis mesmo que ela se afastasse, não fosse alguém vir a saber de qualquer coisa! A mãe continuou a protegê-la mas, envergonhada com a gravidez e aborto da filha, aconselhava-a a nunca deixar fugir aquele namorado que devia ser um santo por ainda querer namorar e casar com ela.» («SIM ou NÃO. A questão do aborto #4», no Divas & Contrabaixos.)
  2. «(...) tal como nas escolas públicas, também nos hospitais não deverão existir símbolos discriminatórios afixados nas suas paredes, enquanto que os seus profissionais se deverão abster de exibir a sua filiação em agremiações ou igrejas. As estruturas dedicadas à saúde deverão ser, idealmente, espaços de tolerância, e se não devem existir discriminações no recrutamento de pessoal ou na admissão de pacientes em função de filiações de diversa ordem, a dignidade individual deve ser respeitada de igual forma e com igual peso, o mesmo é dizer, assumindo uma posição de neutralidade relativamente às filiações intelectuais de cada um.» («Símbolos discriminatórios em Hospitais», no Blasfémias.)
  3. «Durante anos a resposta da direita aos problemas das cités foi essencialmente a política da bastonada, com os resultados que se viram. Villepin foi o primeiro político de direita a propor medidas alternativas ao bastão. Villepin propôs o CPE com o objectivo de oferecer mais oportunidades de trabalho nas cités. A esquerda não concordou. Sendo assim, o que eu esperava da esquerda era que centrasse a sua luta contra o CPE no quadro da resolução dos problemas das cités, apresentando alternativas por exemplo, mas não foi isso que aconteceu. Em poucos dias as "vítimas" do CPE deixaram de ser os jovens das cités para passarem a ser os estudantes universitários, que muito dificilmente seriam abrangidos pela lei, visto que esta só poderia ser aplicada a trabalho não qualificado e a jovens até aos 24 anos.» («ACLEFEU, um ano depois dos tumultos em França», no Klepsýdra.)

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Política a sério?

Recebi aqui um texto infantil e demagógico de José António Saraiva, intitulado “Política a sério: Uma cultura de morte”, onde ele sustenta que em vez de se debater o aborto, o casamento homossexual (estéril por natureza, segundo o autor) ou a eutanásia, se devia era debater uma série de medidas socialistas de apoio às mulheres com crianças na sociedade.

Sem me querer alongar muito sobre a hipocrisia de um comentador de direita vir trazer agora para o debate a questão da dignidade das mulheres que trabalham e têm ou querem ter filhos (quando o capitalismo selvagem que a direita advoga já destruíu a família, a sociedade e o ambiente, e ameaça agora destruir o planeta), acho curiosa a falácia de que só se pode discutir uma coisa de cada vez.

Eu concordo que devíamos discutir, e o mais depressa possível, o impacto do capitalismo selvagem e da desregulamentação do trabalho na família e no sucesso escolar, por exemplo. Mas acho que não é por os patrões despedirem sistemática e impunemente as empregadas grávidas que se deve deixar de discutir os direitos humanos dos homossexuais, ou dos moribundos com doenças terminais, ou de mulheres desesperadas.

Mas o texto de José Saraiva é francamente chocante a vários níveis. Diz ele que no debate sobre o aborto não esta “apenas em causa a rejeição dos julgamentos e das condenações de mulheres” que abortam. Segundo Saraiva o que está em causa é que “o Estado não deve passar à sociedade a ideia de que se pode abortar à vontade”. À vontade? Ele acha que as mulheres fazem abortos por prazer? Às vezes é dificil imaginar a crueldade da direita e a insensibilidade desta gente em relação ao sofrimento alheio.

Para não falar da hipocrisia! Eu conheço vários pró-vidas que levaram as namoradas a fazer abortas em Espanha (e um em Inglaterra). Para eles os abortos criminosos são os das mulheres pobres, as que não podem ir a Espanha ou a Inglaterra e têm de fazer os abortos em abortadeiras clandestinas, na margem sul...

Este artigo é paradigmatico no sentido em que traduz o ponto de vista de uma certa direita, arrogante e infantil, que vê o mundo a preto e branco e não consegue reconher a humanidade dos mais pobres, dos que sofrem anonimamente os despedimentos, os cortes da água e da luz por falta de dinheiro, os que são humilhados e não têm a quem se queixar, os que fazem coisas estúpidas porque não tiveram acesso a uma educação decente, os que trabalham a vida inteira e não se conseguem arrancar da miséria e da mediocridade.

Neste sentido apetecia-me escrever aqui vinte paginas sobre as coisas que em meu entender distinguem José Saraiva de um cidadão do mundo, culto e civilizado. Mas a verdade é que não tenho tempo. Quero só comentar uma ultima falácia deste texto desgraçado: no último parágrafo Saraiva diz que “a esquerda” (como se este PS fosse de esquerda!) devia ajudar os casais que querem ter filhos EM VEZ DE ajudar as mulheres que querem abortar.

Se não fosse demagógica a um nível absolutamente infantil, esta afirmação seria de uma desonestidade criminosa.

Falácias da Ética Neo-Liberal IX - o cartel

Tal como Pergonara, Frutuela também é uma pequena aldeia isolada. As semelhanças não se ficam por aí: em Frutuela também impera a "ordem liberal", e as liberdades negativas são todas escrupulosamente respeitadas; e em Frutuela também toda a terra fértil é propriedade de 40 agricultores (não é propriedade comunitária dos 40: são 40 propriedades individuais).

Um dia os agricultores de Frutuela reunem-se. Jerovás, um dos mais novos, diz:

«Frutuela tem cerca de 300 pessoas, mas só nós temos acesso à comida de que necessitam para viver. Se formos inteligentes poderemos fazer um bom uso disso. Em vez de competirmos estabelecendo os preços que estabelecemos, podemos pedir o valor que quisermos»

Garolias, entusiasmado, acrescenta:

«Podemos chegar mais longe! Podemos conjuntamente impôr o que quisermos aos restantes 260 habitantes. Não por via da coerção ou da violência (não estaríamos no nosso direito), mas sim de forma legítima: se os habitantes não quiserem de sua livre vontade obedecer ao que impusermos, então negamos-lhes o acesso à comida que produzimos. Se tivermos um inimigo comum, podemos matar à fome quem quisermos.»


Os agricultores concordam e cedo impõem um código de vestuário: todos os restantes habitantes deverão vestir-se de branco, sob pena dos agricultores deixarem de fornecer comida. Além disso, os preços da comida tornam-se gritantes, tornando a vida dos restantes habitantes desumana.

Estes últimos reunem-se todos. Durateu, o sapateiro, levanta-se e diz:

«Cada um destes agricultores tem, individualmente, um excelente incentivo para quebrar esta combinação. Se cobrar preços ligeiramente mais baratos todos lhe comprarão todos os artigos antes de comprarem a qualquer outro. Se vender enquanto todos os outros a tal se negarem por estarmos a violar o código de vesturário, enriquecerá consideravelmente. No entanto, este incentivo por si não é suficiente. Enquanto eles puderem livremente combinar estas estratégias de cartelização, conseguirão sempre entender a vantagem que têm em manter esta situação, sendo fácil resistir à tentação da concorrência.
Devíamos juntar-nos e proibir a combinação destas estratégias de cartelização. Nem que seja pela coerção.»


Um neo-liberal achará lamentável a sugestão de Durateu, que colocará em causa a «ordem liberal» que prevalece em Frutuela. Perante esta situação, o neo-liberal teria uma sugestão melhor?

Terá o neo-liberal pensado bem sobre a situação em que, sem qualquer violação das liberdades negativas, é possível escravizar uma aldeia inteira?

O consenso sobre o aborto

A sociedade portuguesa poderá dividir-se, nos próximos meses, sobre a despenalização do aborto. Mas no entanto, existe sobre este assunto um consenso mais alargado do que se pensa.
Em primeiro lugar, todos concordamos que a morte deliberada do ser humano nascido completamente e com vida deve ser criminalizada.
Em segundo lugar, todos concordamos que a morte deliberada do óvulo fecundado não deve ser penalizada legalmente.
As nossas leis consideram a primeira situação um crime de homicídio, e a segunda pode acontecer quando uma mulher toma a pílula do dia seguinte (e deve notar-se que em 2005 se venderam 230 mil «pílulas do dia seguinte»).
O que divide os dois lados é o quadro legal entre a nidação do óvulo e o final da gravidez. Existem duas situações extremas: considerar homicídio o aborto após o óvulo se encontrar na parede do útero; e descriminalizar o aborto no nono mês de gravidez. Ambas parecem absurdas, e são tão absurdas que ninguém as propõe. É portanto consensual fixar um momento (ou mais do que um...) após o qual se muda o tipo de crime. O nascimento é um desses momentos, o único após o qual se fala de homicídio.
O que divide os dois lados, portanto, é bastante menos do que parece. É «apenas» saber que tipo de protecção jurídica deve ter o embrião antes das 10 semanas: mais semelhante à da criança nascida, ou à do óvulo fecundado?

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Neo-liberalização

A palavra «liberal» e os seus derivados têm realmente muitos usos diferentes. Veja-se este, por exemplo:
  • «o verdadeiro referendo é sobre a liberalização do aborto. O que está em causa é saber se o Estado deve facilitar e colaborar activamente na prática do aborto». (Blogue do não)

«Liberalizar», neste contexto, significa o Estado colaborar activamente. Noutras paragens, significa o exacto contrário: o Estado não colaborar nem participar.

Israel avança para o casamento civil (ou talvez não)

As negociações para o novo governo israelita, que poderá incluir um partido representando a minoria russófila, provocaram um debate sobre a possível criação do casamento civil em Israel. Actualmente, os únicos casamentos reconhecidos são os realizados pelas comunidades religiosas, e muitos israelitas vão casar a Chipre, quer por quererem casar fora da sua comunidade religiosa, quer por não serem considerados judeus, quer por serem judeus moderados que não querem aturar as aulas pré-nupciais (obrigatórias) dadas pelos rabis ortodoxos (cujo fundamentalismo e intolerância não ficam atrás do pior do catolicismo).
O casamento civil permitiria aos imigrantes recentes de origem russa (cerca de 300 000 indivíduos), muitos dos quais não são considerados judeus, casarem-se. É impossível fazê-lo com os arranjos actuais, dado que em Israel o casamento só existe segundo as leis religiosas medievais e retrógradas das comunidades religiosas: consequentemente, uma judia não pode divorciar-se sem autorização do marido (e dos rabis), e a chária é aplicada aos casamentos entre muçulmanos. Evidentemente, os casamentos mistos são impossíveis, o que tem mantido a sociedade israelita segregada segundo linhas de fractura religiosas (contribuindo assim para os níveis de paz social e harmonia tão conhecidos de todos).
Infelizmente, um dos partidos necessários à coligação governamental é o Shas, um partido que obedece assumidamente ao Rabi-chefe da comunidade sefardita, Shlomo Amar. Este senhor, do alto da sua autoridade clerical, fez o seu submisso partido propôr uma «união civil» exclusivamente para cidadãos sem religião, mantendo a impossibilidade legal de casamentos mistos. Mas nem isso está garantido.
[Publicado originalmente no Diário Ateísta.]

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Revista de blogues (26/10/2006)

  1. «O Manuel é um alto quadro de um banco. O Joaquim é funcionário judicial. São os dois homossexuais e começaram a viver juntos há quase 50 anos. Viviam numa casa comprada por ambos (...) em nome do Manuel (...) A única família do Manuel eram dois sobrinhos que viviam em Trás-os-Montes (...) que ao longo dos anos sempre se haviam recusado sequer a pronunciar o nome do tio que era «paneleiro». Mas no próprio dia do funeral, já à noite, foram a casa do tio. A primeira coisa que fizerem foi correr com o Joaquim (...) Nessa noite o Joaquim dormiu nas escadas do prédio. Tinha 76 anos». («Não sejamos maricas», no Random Precision.)
  2. «Depois do aquecimento global, chega a vez do bacalhau. Baseados em estudos "científicos", os arautos do fim do mundo proclamam agora que o Mar do Norte está quase a ficar devoluto das sápidas criaturas. A pesca em massa estaria a levar o bacalhau à extinção, imagine-se! (...) Com estes disparates, a tropa fandanga de "cientistas", esquerdistas e pseudo-ecologistas só revela, mais uma vez, a sua total iliteracia económica. Então não é óbvio que a pressão da procura levará inevitavelmente a um acréscimo da oferta? Que os simpáticos e generosos bacalhaus, confrontados com um número crescente de barcos pesqueiros, não tardarão a aumentar a sua fertilidade e a densidade dos seus cardumes? Como sempre, as leis do Mercado sobrepõem-se aos caprichos humanos e até à débil vontade das bestas marinhas. Amén». («Bacalhaus e liberalismo», no Aspirina B.)
  3. «O anonimato justifica-se quando: 1. o autor precisa proteger a sua integridade física, que ficaria ameaçada em caso de exposição. Aplica-se nos casos de países com regimes ditatoriais (como Cuba), “democracias musculadas” (como a Rússia) ou tiranias persecutórias (como a China e o Irão). 2. o autor precisa proteger a sua integridade profissional ou o seu nome. A aplicar em democracias, em situações extremas e/ou complexas, como o funcionário público que pretenda denunciar um escândalo, como o assalariado que quer expôr uma falcatrua, como o cidadão que precisa denunciar ilegalidades que conhece e pode (ajudar a) comprovar». («Sobre o anonimato», no Mas certamente que sim!.)

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Propriedade privada e liberdade contratual

O valor fundamental dos «neoliberais» é a propriedade privada, sendo a «liberdade contratual» um valor quase tão importante. O primeiro é o valor estático: os neoliberais defendem acima de tudo o direito dos indivíduos a manterem a sua propriedade, livres de qualquer interferência do Estado, e são indiferentes à origem dessa propriedade, ou à existência de indivíduos que não são proprietários. A liberdade contratual é o valor dinâmico, que organiza as relações entre indivíduos.
É justamente por colocarem estes valores acima das liberdades individuais que os neoliberais podem chegar, sem dificuldade de maior, à defesa de ditaduras que suprimem as liberdades: a total liberdade contratual, embora alguns neoliberais aparentemente não se apercebam disso, limita ou destrói as liberdades políticas.
Regularmente, os «neoliberais» defendem a supressão do salário mínimo, das restrições aos horários de trabalho ou do direito à greve. Sente-se que aceitariam como uma extensão da liberdade contratual a assinatura de contratos de trabalho que proibissem o trabalhador de fazer greve, participar em comissões de trabalhadores, sindicalizar-se, criticar a empresa em público, protestar contra a deslocalização do seu local de trabalho para alhures, e que o obrigassem a aceitar, no limite, que fosse despedido com três segundos de aviso. Alguns dos direitos que assim se destroem, exercidos em empresas ou por motivações laborais, são o melhor das liberdades políticas que se adquiriram nos últimos 150 anos: as liberdades de reunião, de associação e de expressão. Sem elas, o indivíduo não-proprietário não é escravo porque pode exigir remuneração pelo seu trabalho, mas fica sujeito às condições mais desvairadas que o empregador, no exercício da sua «liberdade contratual», lhe queira impôr.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Polly Toynbee: «Only a fully secular state can protect women's rights»

«This has been a real test of Labour politicians. It is the first time in years that there has been a hard choice about women's rights - and many failed miserably. Here is a conflict between two principles - respect for a religious minority and respect for women's equality. For a host of reasons, some honest, some cowardly, an alarming number of leading Labour voices got it badly wrong. But from the top, only silence. Over religion, segregation and education, Tony Blair has led his party badly astray through his own religiosity and by misunderstanding the effect of personal "choice".

When it comes to something as basic as women hidden from view behind religious veils, is it really so hard to say this is a bad practice? Because some racists may jump on the bandwagon to attack Muslims, that's no reason to pretend veils are OK. Meanwhile, Labour has given away yet more state education to all the religions - 42 of the first 100 expensive academies gifted to Christian groups, seven new Muslim schools, with 150 in the pipeline. Why, in this least religious of nations?

###

(...)

The classroom assistant in a Church of England school in Kirklees removed her veil for a job interview, but now expects to go veiled in corridors or whenever she might meet a man. What does that say to children about the role of women as victims and men as aggressors? Of course it should be banned in all places of education, and the community cohesion minister is the right person to say so. The veil is profoundly divisive - and deliberately designed to be.

No one need be a Muslim to understand the ideology of the veil, because covering and controlling women has been a near-universal practice in Christian societies and in most cultures and religions the world over. Western women have struggled hard to escape, but not long ago women here were treated as chattels and temptresses, to be owned by men and kept out of men's way, to be chaperoned, hidden, powerless under compulsory rules of "modesty". Women's bodies have been the battle flag of religions, whether it's churching their uncleanness, the Pope forcing them to have babies, the Qur'an allowing wife-beating, Hindu suttee, Chinese foot-binding and all the rest.

Jack Straw questioned the veil when he found it was not fading out, but increasing in his constituency. No one would ban it in the street: where would fashion dictatorship end? But between teachers and pupils, or public officials and their clients, the state should not allow the hiding of women. No citizen's face can be indecent because of gender.

(...)

It's a danger to other women's "choice" if all "good" Muslims are forced to prove their faith by submission. Linda Riordan, the Halifax MP, says she talks to many veiled Muslim constituents who feel oppressed by it; it's not their choice at all. "And when I see women driving in veils, I am horrified at the danger."

There is only one answer: a completely secular state. It is astonishing that a Labour government has led the country into such a morass. Things are far worse than they were 10 years ago. Labour stood by as Blair gave religion more political influence, leaving one-third of all state schools under religious control.

(...)

Meanwhile, segregation gets worse, with a third of schools now religious. The Young Foundation's study, The New East End, warns that in Tower Hamlets white parents have taken over four church secondary schools, making them virtually all white, so neighbouring secular schools have become 90% Bangladeshi. Church schools aid segregation: the Institute for Research in Integrated Strategies finds that the number of children taking free school meals at C of E and Catholic schools is lower than the average in an area. That means nearby schools take more, magnifying the difference. Selection is the secret "ethos" of church schools. Everyone knows it - I have just met an Enfield taxi driver whose wife goes to church to get their child into a church school. Is that choice?

(...)

Will the next Labour leader be brave enough to confront growing segregation? If so, start by ending all religious state education. It would be popular: a Guardian/ICM poll finds 64% of voters think "the government should not be funding faith schools of any kind".

(...)»

(Polly Toynbee no The Guardian; ler na íntegra.)

«We answer to the name of liberals»

«(...)

We have all opposed the Iraq war as illegal, unwise, and destructive of America's moral standing. This war fueled, and continues to fuel, jihadis whose commitment to horrific, unjustifiable violence was amply demonstrated by the September 11 attacks as well as the massacres in Spain, Indonesia, Tunisia, Great Britain, and elsewhere. Rather than making us safer, the Iraq war has endangered the common security of Americans and our allies.

We believe that the state of Israel has the fundamental right to exist, free of military assault, within secure borders close to those of 1967, and that the U.S. government has a special responsibility toward achieving a lasting Middle East peace. But the Bush administration has defaulted. It has failed to pursue a steady and constructive course. It has discouraged the prospects for an honorable Israeli-Palestinian settlement. It has encouraged Israel's disproportionate attacks in Lebanon after the Hezbollah incursions, resulting in vast destruction of civilian life and property.

###

Make no mistake: We believe that the use of force can, at times, be justified.

(...)

The misapplication of military power also imperils American freedom at home. The president claims authority, as commander in chief, to throw American citizens into military prison for years on end without any hearing, civil or military, that would allow them to confront the charges against them. He claims the power to wiretap Americans' conversations without warrants, in direct violation of congressional commands. These usurpations presage what are likely to be even more drastic measures if another attack takes place on American soil.

(...)

The administration's politics of panic diverts attention from pressing questions of social justice and environmental survival. The president remorselessly seeks to undermine the principle of progressive taxation. Under cover of patriotism, he promotes vast tax cuts to the rich at the expense of policies that strengthen the common ties that bind us together as a community.

We reaffirm the great principle of liberalism: that every citizen is entitled by right to the elementary means to a good life. We believe passionately that societies should afford their citizens equal treatment under the law -- regardless of accidents of birth, race, sex, property, religion, ethnic identification, or sexual disposition. We want to redirect debate to the central questions of concern to ordinary Americans -- their rights to housing, affordable health care, equal opportunity for employment, and fair wages, as well as physical security and a sustainable environment for ourselves and future generations.

Instead of securing these principles, the president and his party view the suppression of votes indulgently and propose new requirements for voting that will make it still harder for the poor and the elderly to exercise their democratic rights.

(...)

Reason is indispensable to democratic self-government. This self-evident truth was a fundamental commitment of our Founding Fathers, who believed it was entirely compatible with every American's First Amendment right to the free exercise of religion. When debating policy in the public square, our government should base its laws on grounds that can be accepted by people regardless of their religious beliefs. Public commitment to reason and evidence is the bedrock of a pluralist democracy. Nevertheless, it has been eroded by the present administration in an ongoing campaign to pander to its hard right wing.

(...)

We insist that America be defended vigorously against its real enemies -- the radical Islamists who organize to attack us. But security does not require torture or the rejection of basic guarantees of due process. To the contrary, this administration's lawless conduct and its violations of the Geneva Conventions only damage our moral standing and our ability to combat the appeals of violent ideologues. By defending torture, the Bush administration engages in precisely the kind of ethical relativism that it purports to condemn. Meanwhile, it refuses to confront its responsibility for the human-rights violations at Abu Ghraib, Guantanamo, and elsewhere. Having failed to plan for obvious contingencies, it has scapegoated low-level military personnel when it should be identifying and punishing broader command failures.

We refuse to confine our criticisms to personalities. We believe that the abuses of power that have been commonplace under Bush's rule must be laid not only at his door -- and the vice president's -- but at the doors of a conservative movement that has, for decades, undermined government's ability to act reasonably and effectively for the common good.

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We love this country. But true patriotism does not consist of bravado or calumny. It resides in faithfulness to our great constitutional ideals. We are a republic, not a monarchy. We believe in the rule of law, not secret prisons. We insist on justice for all, not privilege for the few. In repudiating these American ideals, the Bush administration disgraces America and damages our claim to democratic leadership in the larger world.

(...)»

(Bruce Ackerman e Todd Gitlin na American Prospect.)

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Falácias da Ética Neo-Liberal VIII - o legado

Pergonara é uma pequena aldeia completamente isolada. Nesta aldeia existe alguma terra de pasto repartida entre 40 agricultores.

Cada um destes agricultores tem uma certa quantidade de ovelhas. Eles sabem que ao seu terreno corresponde uma quantidade máxima de ovelhas - se a quantidade for superior a essa, a capacidade de regeneração não é suficiente e o terreno vai-se degradando. Caso se deixe o terreno degradar o suficiente, ele torna-se completamente estéril.

O líder de Pergonara é Rivaldes. Como líder liberal que é, Rivaldes apenas garante que qualquer indivíduo que tente roubar, agredir, exercer coação violenta, ameaçar a integridade física, etc... é punido. Existe um tribunal que funciona para se apurar a verdade, mas a população não tem tido grandes razões de queixa. A "ordem liberal" prevalece.

Mas Rivaldes, um dia, nota algo: todos os agricultores têm um número de ovelhas muito superior ao valor de equilíbrio. Assim sendo, e preocupado porque toda a terra fértil se está a degradar a olhos vistos, Rivaldes pergunta aos agricultores porque é que estão a proceder desta forma.

«Queremos comer mais carne. Se possuíssemos menos ovelhas, não poderíamos comer tanta carne»

Rivaldes, espantado, pergunta:

«Mas e os vossos filhos? E os vossos descendentes? E todos os futuros descendentes de todos os habitantes de Pergonara? Ninguém consegue sequer saír desta terra! Vão todos morrer?»

Ao que os vários agricultores lhe respondem:

«Isso não é problema nosso. Nós estamos no nosso direito de fazer o que quisermos à nossa terra. Os nossos e vossos descendentes que se desembaracem como puderem»


Rivaldes decide que não pode deixar esta situação permanecer.
Decide passar uma lei que limite o número de ovelhas que cada agricultor pode ter. Está convencido que essa lei viola a liberdade dos agricultores, mas que essa violação é menos grave do que impôr a todos os descendentes em Pergonara a morte pela fome como única opção - e a ausência de liberdade que isso implicaria.


No fundo, garante que a liberdade de escolhas desta geração não possa limitar a liberdade de escolhas da seguinte. Será assim?

Um neo-liberal extremista discordará, considerando que Rivaldes agiu mal.

E quanto ao nosso planeta? Que considerações se podem fazer quanto ao seu futuro? Será que o neo-liberalismo dá alguma garantia de sustentabilidade, nesse caso?

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Falácias da Ética Neo-Liberal VII - a discriminação

Rertelius é uma aldeia. Nesta aldeia existe uma crença generalizada: a de que as pessoas que têm sardas são filhas do demónio.

Nesta aldeia as pessoas têm, no dia-a-dia, uma postura compatível com a utopia de qualquer neo-liberal: ninguém tem qualquer comportamento agressivo ou coercivo, e a liberdade comercial, contratual e económica é total. A propriedade privada é respeitada.

Por essa razão ninguém ataca ou magoa uma pessoa que tenha sardas. Mas, no exercício da sua liberdade individual, ninguém lhes dá emprego - o que impede os pobres sardentos de terem dinheiro para saírem desta aldeia. Se nós imaginarmos que a aldeia está numa zona estéril, sobrevivendo através do comércio, podemos supor que a sobrevivência no mato é impossível.

Também podemos supor (se bem que nem seja necessário) que, sendo a liberdade económica total, qualquer vendedor se recusaria a vender qualquer bem ou serviço (incluindo comida) a qualquer sardento se assim desejasse. E sendo o preconceito amplamente difundido, isso aconteceria sempre.

Aos sardentos, cuja liberdade nunca foi ilegitimamente invadida(?), que nunca foram agredidos nem vítimas de coerção violenta, resta-lhes morrer de fome, enquanto vão agnonizando numa existência triste e injusta.

Mas Rertelius faz parte da República Tribuleza, e os eleitores desta república acham indigna esta situação. O governo desta república proíbe este estado de coisas. Decide punir quem se recusar a dar emprego às pessoas com sardas sem causa justa, e obriga os preços de Rertelius a estarem tabelados (por cada um dos lojistas - por oposição ao regateio livre), na convicção que favorecerá todos os cidadãos e tornará mais difícil esta discriminação injusta. Com o tempo - espera-se - a vivência com estas leis irá atenuando o preconceito, à medida que os aldeões se forem deixando de habituar a ver os sardentos morrerem famintos, e se forem habituando a trabalhar e colaborar com eles.

Contada esta história, dificilmente se poderá condenar a atitude do estado. É uma história ridícula e anedótica (embora nos possa relembrar a Índia e as atitudes de alguns políticos - como Gandhi - para combater os preconceitos indús face à casta dos intocáveis), mas em que creio que a generalidade das pessoas sensatas estará de acordo - o estado teria tido, neste caso, uma postura louvável.

Existem dois tipos de extremistas que não deverão concordar: os relativistas extremos, para quem a atitude do estado não é louvável nem condenável, e os neo-liberais extremos para quem a atitude do estado é condenável.

Afinal de contas, o estado coagiu e limitou a liberdade de organização, cooperação e comércio entre os aldeões. Limitou a sua liberdade contratual. Logo, o que fez foi errado.

E eu creio que algo está mal quando se pensa desta forma.

Revista de blogues (17/10/2006)

  1. «Os neo-liberais gostam muito de se afirmar como "defensores da liberdade". (...) Mas vejamos mais detalhadamente esta questão: se todos os hospitais fossem privados, ou seja, empresas (...) necessariamente alguns teriam mais qualidade que outros; esses seriam os que dispusessem dos melhores médicos, enfermeiros e equipamentos. Ora, estes hospitais seriam os mais procurados, o que, na lógica da empresa, permitiria cobrar preços mais elevados que outros menos competitivos. (...) Como se entende, a suposta "liberdade" de escolha de hospitais só se aplicaria a quem dispusesse de 5000 euros para a cirugia; para todos os outros, esta solução resultaria em ainda menor liberdade, uma vez que teriam de utilizar o hospital mais barato, que ainda por cima tem piores médicos, enfermeiros e equipamentos.» («A falácia da liberdade», no 2+2=5.)
  2. «Os Blins são os perfeitos criadores do Universo, omnipotentes, omniscientes e omniverdes. (...) Porquê estudar os Blins? O estudo dos Blins é o mais elevado empreendimento do intelecto humano, pois é a única via para revelar o propósito do Universo, o sentido da vida, e a verdadeira utilidade dos alfinetes com cabeça em forma de joaninha. Mas não há evidências que os Blins existam, pois não? A existência dos Blins é uma questão metafísica e transcendente que não pode ser abordada pela ciência, pois o método científico assume à partida uma posição exclusivamente ablínica. Mais, aceitar a existência dos Blins é um acto de fé, e a única forma de receber a Sua graça.» («Introdução à Blinologia», no Que Treta!.)

655.000

The Lancet. Desde que começou, a invasão do Iraque custou 655.000 vidas de cidadãos iraquianos. Danos colaterais, como se diz agora.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Capitalismo

Este fim de semana fui acampar com os meus filhos e comprámos umas cadeiras óptimas. As coisas sao sempre baratas naquela loja, e eu estava à espera de pagar para aí 25 dólares por cadeira. Custaram sete dólares cada: “Made in China”.

Eu lembrei-me logo dos neo-liberais e das coisas que eles dizem sobre a desregulamentação dos mercados e a abolição dos salários mínimos. Quando os neo-liberais me perguntam se não é óptimo viver num mundo em que as coisas são tão baratas, a pergunta que me ocorre é onde é que eles passavam o Natal quando eram pequeninos.

Para uma cadeira daquelas custar 7 dólares, de certeza que há uma data de desgraçados algures a fazerem cadeiras 18 horas por dia e a ganharem salários de fome. E ninguém se importa?

Ser-se assim miserável e insensível à injustica não me parece normal. O que é que aconteceu ao mundo nos anos oitenta? De onde é que saíram estes sociopatas todos? Quando eu era pequeno, roubar aos pobres ou abusar dos fracos eram coisas consideradas unanimemente como miseráveis, cobardes, ignominiosas, próprias de energúmenos como o Salazar e o Enver Hoxha.

De onde é que saíram estes neo-liberais? Não me parece normal que as pessoas não se importem com a miséria dos outros, que não tenham valores, que não compreendam o significado de conceitos como justiça, solidariedade e respeito pelo próximo. Que não preferissem pagar o preço justo por um par de calças de marca e saber que nas Marianas as trabalhadoras não eram obrigadas a fazer abortos para manter a produtividade...

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Houzan Mahmoud: «It's not a matter of choice»

«The veil is not merely a piece of "cloth", but a sign of the oppression of women, control over their sexuality, submissiveness to the will of God or a man. The veil is a banner of political Islam used to segregate women born by historical accident in the so-called "Islamic World", from other women in the rest of the world.

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I could never have imagined having anything in common with Jack Straw, but I find myself in agreement with him about how it feels talking to a woman covered up in hijab or the "niqab" that covers women fully.

However, I think he has discovered this rather late; in fact, the whole British government is late in drawing attention to this growing phenomenon: women covering up their entire bodies, young boys becoming suicide bombers and the ever growing demands of religious organisations in the UK to implement Islamic sharia law when it comes to "Muslim family affairs".

Jack Straw's government has always been proud of its "multicultural society", in which all kinds of backward and anti-human cultures are respected and given space by the state. Women from an Islamic background will be among the most oppressed.

Celebrating "different cultures" the existence of mosques and religious schools is a place for brainwashing the young people with Islamic values which can only produce political Islamists.

A ghettoised lifestyle, isolated communities, lack of integration and institutionalised racism are all part and parcel of this growing number of brain-washed young generations of girls and boys defining themselves by their religious identity.

Political Islamists are seeking to unify youth from a variety of backgrounds around the project of a "jihad" under which the whole world will be dominated and ruled according to the "ethics" of Sharia law.

More than ever I hear many women claiming that wearing the veil, burqa or niqab is their own choice. I totally reject this view. Not wearing the veil can create harsh problems for women - if it doesn't cost them their life, as in Iraq, it can cost them long-term isolation from their community, with those considered "loose women" having less chance of getting a "decent marriage", and less chance of going out and entering education. When a family sees this as a threat to their "honour", it can have disastrous consequences. The policies of cultural relativism have claimed the lives of many women in the UK, with their killers not properly brought to justice because "culture" and "religion" are taken into account by the courts. Women's rights are universal. A criminal must be sentenced according to the law, not on religious and cultural grounds.

Imagine if a girl has been told to wear the veil from as early as four or five years old, where is the choice in this? If you are born and open your eyes in an environment that imposes Islamic values, norms and lifestyles, alienated from the rest of society, how easy is it to make another choice? I understand why girls would veil, but I cannot see it as anything other than a solitary confinement prison.

The government's endless funding to promote religious activities and run religious schools must be ended. We need a secular education system: universal standards must be applied to all schools and educational institutions. I want my daughter to learn about the wealth of human art, literature, music and science, not religion and the joys of "different religious cultures". Children know no colour, race or religious segregation; they are all friends and part of the same community - until parents impose their beliefs on them.

The veil should be banned for under-aged girls and children must be protected from abusive - yes, that is right, abusive - parents who seek to impose their religion on them.

Having a society free from politicised religion is the precondition for women's freedom and progress. In the west where religion has been pushed back and separated from the state, we see women are more free and equal to men as compared to the countries where Islam is dominant.

In Iraq we have witnessed widespread terror and violence against women who refuse to wear the veil. In Iraq the veil is being imposed at gunpoint - the only choice women are offered is to obey.

In Iran women are lashed or sometimes stoned to death for expressing their simple right to exercise human desires. The Islamic Republic has been repressing women for almost three decades now. Afghanistan, Sudan, Somalia, Pakistan, Saudi Arabia: we witness how women's oppression and terror against women is top priority for every Islamic regime, whatever its stripe.

Therefore: the veil is not merely a piece of cloth, but a political statement, the banner of a political movement, political Islam, in the Middle East, Europe and worldwide. We must take a firm stand against this by demanding secular laws, secular education and equality for all.

Religion must be privatised! Religion is a personal matter and should not be brought into everyday life. Criticising all religions is our right; freedom of expression should not be compromised



(Houzan Mahmoud pertence à Organisation of Women´s Freedom in Iraq e ao Partido Comunista dos Trabalhadores do Iraque.)

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Pôr a Madeira na ordem

O actual Primeiro Ministro tem imensos defeitos, mas merece alguma da minha estima por ser o primeiro Primeiro Ministro de que me recordo a pôr alguma ordem na cleptocracia madeirense:
  • «"O Governo Regional solicitou, este ano, por duas vezes ao Ministério das Finanças, que o autorizasse a contrair um endividamento de cerca de 150 milhões de euros", "tendo-lhe sido dito, por duas vezes, que não se autorizava [o empréstimo]" (...) o Ministério das Finanças "foi confrontado com a situação reportada pelo Banco de Portugal e que nos dava conta de que, afinal, esse empréstimo tinha sido na prática realizado"».

Face a mais esta derrapagem programada madeirense, sempre confiante no eterno pára-choques continental, o Governo atreveu-se a meter travões:

  • «o que o ministro das Finanças fez [suspendeu este mês o montante de 50 milhões de euros relativos à última tranche de transferências] foi "apenas cumprir uma lei da República e o artigo 70.º do OE", redacção herdada de governos anteriores».

O PIB per capita da Madeira é de 121% da média nacional.

(Ver notícia.)

sábado, 7 de outubro de 2006

First They Came for the Jews

A propósito do "socialista" António Costa e do texto de Ricardo Alves, queria dedicar este textozinho (que já tinha metido no meu blogue há uns anos atrás, quando aqui começaram a prender pessoas "suspeitas") a todos os portugueses que acham que estão a salvo deste governo porque não são argelinos, nem suspeitos de pertencer a organizaçoes terroristas:

First they came for the Jews and I did not speak out because I was not a Jew. Then they came for the Communists and I did not speak out because I was not a Communist. Then they came for the trade unionists and I did not speak out because I was not a trade unionist. Then they came for me and there was no one left to speak out for me.

Pastor Martin Niemöller

Assim terminam as democracias

As democracias nos anos 30 vacilaram e caíram sempre em defesa da «ordem», contra um inimigo externo mais ou menos imaginário, a quem se atribuíam os mais horrendos dos crimes.

Actualmente, tem-se exagerado enormemente a dimensão da ameaça da Al-Qaeda. Ouvindo alguns, até parece que esta organização terrorista teria capacidade para conquistar a Europa. Entretanto, o clima de paranóia colectiva ajudou a justificar a guerra contra o Iraque, alimenta a xenofobia, e desculpa o autêntico retrocesso civilizacional constituído por prisões sem lei como a de Guantánamo, ou a «exportação» da tortura para as ditaduras árabes.

Um argelino que cumpria pena de prisão em Portugal, por falsificação de documentos, foi acordado a meio da noite na madrugada de Domingo, metido num avião e despejado na Argélia. Era suspeito de pertencer à Al-Qaeda, mas as polícias portuguesas nada haviam conseguido provar. Teria que ser libertado na segunda-feira, 2 de Outubro, dia em que terminaria a sua pena de prisão. A ordem de expulsão estava suspensa. A sua advogada acusa o SEF de sequestro e desobediência qualificada, e este serviço responde com o «interesse público». «Interesse público» em deportar um argelino a meio da noite? E logo para entregá-lo a um regime torcionário? Para quê? Para tortura e interrogatório?

António Costa, que tem a tutela do SEF, deveria dar explicações no Parlamento. Esta estória cheira muito mal...

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Alguns blogues que celebram a República

Netos da carbonária

No Diário de Notícias de hoje, Ana Sá Lopes escreve sobre a Carbonária:
  • «A Carbonária (a nossa mãe) não era propriamente recomendável - era uma organização terrorista. Agora, foi aos pés de um dos seus homens - Machado Santos, herói e vítima da República, que se barricou na Rotunda até a monarquia cair - que devemos o sucesso do 5 de Outubro. Foi com a Carbonária que o famoso (porque todas as cidades do país lhe dedicaram uma rua) Almirante Cândido dos Reis preparou a revolução».

Em rigor, o 5 de Outubro não foi um acto terrorista. Foi uma insurreição armada organizada pela Carbonária que não dispensou a sublevação de unidades militares, e que se decidiu no confronto com tropas regulares. Não deixando de ser verdade que a Carbonária usou pontualmente métodos terroristas, a implantação da República não se deve a qualquer campanha de «terror», mas sim ao facto de o povo de Lisboa ter pegado em armas contra a monarquia. E essa componente popular do 5 de Outubro (esporadicamente terrorista, e infelizmente descontrolada nos anos seguintes) deveria fazer parte da celebração da República.

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Liberalismo-BL=comunismo de sinal contrário

Numa das últimas postas do Blasfémias, João Miranda critica implicitamente Pedro Arroja: «um liberal baseia o seu juízo sobre a escravatura e o capitalismo num único valor, a liberdade». Tendo em conta que Arroja baseia os seus juízos sobre a escravatura no valor da «produtividade» dos escravos («fantástico», segundo Arroja), João Miranda está, corajosamente, a excomungar Arroja da Igreja Liberalista. É um progresso...
Mas, adiante. Na mesma posta, João Miranda alivia a consciência: «um liberal (...) aprovaria o capitalismo mesmo que num sistema capitalista se vivesse miseravelmente». Os marxistas-leninistas diziam o mesmo: que aprovavam o socialismo real mesmo que num sistema socialista se vivesse miseravelmente. O que lhes importava era «eliminar a exploração do homem pelo homem», e levar a igualdade social às últimas consequências. Os liberalistas preferem eliminar qualquer entrave à «mão invisível», e levar a «liberdade económica» às últimas consequências. O resultado é o mesmo para qualquer das monomanias: a miséria.
As democracias reais são estáveis há décadas justamente porque souberam encontrar um equilíbrio entre as liberdades políticas e a igualdade económica. O liberalismo extremista destruiria esse equilíbrio.

Religião, teorias de conspiração e aproveitamentos

As teorias de conspiração podem originar literatura fascinante, mas são tão alienantes como a religião. Fascinam porque estabelecem ligações imprevistas, mesmo que falsas ou tremendamente especulativas. E alienam porque suspendem a nossa incredulidade explorando o nosso desejo e o nosso medo de que exista uma ordem oculta no universo.

A realidade da existência de uma ou várias redes terroristas islamo-fascistas, responsáveis pelo 11 de Setembro e pelo 11 de Março, é inegável. É também um facto que esses grupos são a ala armada de um movimento islamista mais vasto (embora minoritário nos países de origem), estruturado essencialmente pela Irmandade Muçulmana e pelo dinheiro saudita, e que controla escolas, instituições de caridade e partidos políticos. A teocracia iraniana desempenha um papel estruturante no lado xiíta, minoritário dentro do Islão.

No entanto, atribuir à Al-Qaeda capacidade militar para conquistar a Europa, ou olhar para os imigrantes muçulmanos como a vanguarda de uma invasão programada, ou falar da Europa como um protectorado islâmico, são delírios paranóides que relevam de preconceitos racistas, da angústia demográfica, de entusiasmo deslocado pelas aventuras militares dos EUA e de Israel, ou da obsessão identitária com a «civilização ocidental e cristã».

Nos anos 20 e 30 do século passado, a extrema direita afirmou-se na Europa, manipulando um anti-semitismo que se alimentava de teorias sobre uma «conspiração judaica internacional», na qual participariam organizações reais (mas débeis), e minorias urbanas que só lhes estavam ligadas pela mesma abstracção religiosa.

Hoje, o mesmo sector político tem interesse em conjugar os sentimentos islamófobos, o apoio a guerras de conquista e o apelo identitário-conservador cristão. Existe uma diferença fundamental entre quem ataca simultaneamente uma religião e as suas primeiras vítimas (os próprios crentes), estimulando o racismo, e quem critica todas as religiões por princípio, promovendo a laicidade.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Secular Schools are Hostile to Religion: You're Attacking Christianity if You're Not Actively Endorsing Christianity

Secular Schools are Hostile to Religion: Attacking Christianity if You're Not Endorsing Christianity

(Daqui.)

Richard Dawkins

Só uma linha para chamar a atenção, mais uma vez, para este livro imprescindível: “The God Delusion”.

Prof. Arroja

Eu acho que nem o Prof. Arroja nem o Prof. Karma deviam merecer comentários num blog decente (como este). :-)

Esquerdas e direitas…

A propósito dos que em Portugal ainda defendem os neo-cons - quando em Washington todos os ratos abandonam o barco o mais depressa possível, incluindo um dos ícones mais lascarinos, Bob Woodward, que já morde em público a mão que alimentou durante os últimos seis anos - apeteceu-me escrever este comentário.

A única esperança dos extremistas que tomaram de assalto o partido republicano são as máquinas de voto... mas isso é uma outra história, para outro posting. Em todo o caso, é inquietante saber que ainda há em Portugal quem defenda as invasões do Líbano e do Iraque, a política do ambiente de Cheney, os assaltos à decência de Ashcroft e Gonzales, a tortura, a calúnia organizada como arma de propaganda política ou as outras mil e uma barbaridades cometidas por esta administração.

Ignorância à parte, juntamente com um certo cinismo europeu – os europeus esperam que os seus políticos mintam, roubem, torturem e assassinem e não percebem que nos EUA as pessoas escrevem aos politicos e eles respondem – e para além das opiniões fundadas em interesses porventura inconfessáveis, acho curioso que ainda haja quem defenda em Portugal este amontoado de asneiras que foi a administração Bush nos últimos seis anos.

Numa altura em que todos os republicanos decentes – e são muitos – se escondem o melhor que podem.

Acho que no fim do dia, tal como nos EUA, tudo pesado, parece evidente que as coisas em Portugal são mais entre pessoas sinistras, de esquerda ou de direita, e pessoas decentes, de esquerda ou de direita.

Acho que toda a gente concorda que há muito mais afinidades entre o Jorge Coelho e o Luís Nobre Guedes do que entre qualquer destes dois indivíduos e, por exemplo, o Prof. Freitas do Amaral.

Claro que há ideias incompatíveis entre os dois campos.

As pessoas de direita são geralmente mais moralistas e mais controleiras, tendem a não dormir descansadas com a ideia de haver um casal homossexual no bairro, preferem a ordem à criatividade e à liberdade, odeiam a mudança, têm tendência para respeitar a autoridade e o poder sem fazer perguntas, adoram embasbacar-se com casamentos reais, missas e procissões, demonstram uma insensibilidade total pelo sofrimento dos desfavorecidos, adoram punir os que transgridem, tratam os drogados como criminosos e gostavam de proibir todas as coisas relacionadas com o prazer sexual em geral e os orgasmos que não se destinam exclusivamente à procriação em particular. Além disso, são incapazes de pensar a médio prazo.

As pessoas de esquerda tendem a ter menos respeito pelo poder, menos necessidade de ordem, de polícias e de militares, menos carinho por fardas e por aristocratas, ou por ditadores e por eminências religiosas, paradas e desfiles, são mais sensíveis ao sofrimento dos fracos e dos desfavorecidos, defendem a generosidade e a reabilitação como virtudes sociais, são menos moralistas, tendem a ser mais informados, mais interessados por ideias e mais sensatos quando pensam no mundo que vamos deixar aos nossos próprios filhos.

Fica claro que nesta esquerda não se inclui nem o PC nem a massa informe de arrivistas sem idelogia nem escrúpulos em que o P”S” se transformou. E enfim, tem de se incluir, sem entusiasmo, o mundo absolutamente irracional dos ambientalistas que preferiam ver morrer de fome dez mil mexicanos pobres a destruir o ninho de um condor da California...

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Revista de blogues (2/10/2006)

  1. «Uma pessoa minha amiga, dessas cuja doçura se topa à légua, concorreu a um concurso de funcionários que ficariam sob a tutela da Presidência do Conselho de Ministros. Passou as diversas provas, e quando chegou à última, uma entrevista que acreditava ser mais um pró-forma, colocaram-lhe perguntas como as seguintes: «era capaz de cometer uma ilegalidade por ordem superior?», «era capaz de matar alguém?», «era capaz de torturar uma pessoa para impedir um atentado terrorista?».» («Serviços chico-espertos», n´O Amigo do Povo.)
  2. «O que nos traz de novo à "Europa democrática, cristã e humanista" de Luís Delgado. Não me revejo nessa Europa. A minha Europa é democrática e humanista, sem dúvida ("two out of three ain't bad"), porém laica e secular, pouco dada a ofender-se por suposto vilipêndio dirigido contra um ancião paramentado de branco e escarlate, que julga que existe compatibilidade entre a Religião e a Razão.» («A cada um a sua Europa», no umblogsobrekleist.)
  3. «Da leitura de "American Vertigo", da opinião de diversos intelectuais da direita americana e da comparação com a realidade nacional, fica-se com a certeza que em Portugal existem algumas das opiniões mais radicais e mais fanáticas na defesa da Administração Bush. Pelo prisma nacional até um direitista duro como Fukuyama passaria por perigoso anti-americano.» («American Vertigo: Fukuyama contra guerra do Iraque», no Klepsýdra.)

domingo, 1 de outubro de 2006

O Neo-liberalismo

Acho que na Europa se confunde às vezes o liberalismo político e o liberalismo económico, ou “neo-liberalismo” como às vezes se lê.

O primeiro é uma doutrina política esclarecida e equilibrada que tem as suas raízes no racionalismo e no positivismo.

O segundo é uma ideologia sinistra, que quando é defendida por pessoas inteligentes pretende apenas esconder a ganância mais miserável e o nihilismo mais negro (só o curto prazo é que lhes interessa), e quando é defendida por idiotas é uma religião baseada num conjunto de axiomas de fé indemonstráveis e infantis.

Para ilustrar a posição dos primeiros apetece citar Galbraith: "The modern conservative is engaged in one of man's oldest exercises in moral philosophy; that is, the search for a superior moral justification for selfishness." ou "People of privilege will always risk their complete destruction rather than surrender any material part of their advantage."

Para ilustrar a posição dos segundos apetece citar Galbraith outra vez: "It is a far, far better thing to have a firm anchor in nonsense than to put out on the troubled sea of thought."

O liberalismo económico energicamente defendido pelos neo-conservadores que detém o poder nos EUA é porventura ainda mais sinistro. Baseia-se no darwinismo social do século XIX e pressupõe a existência de grupos de pessoas dominantes e grupos de pessoas dominadas, cuja vida tem menos valor.

Há uns meses Francis Fukuyama, que se há muito se afastou dos neo-cons, dizia na televisão a William Kristol que ele era “leninista”, no sentido em que defendia abertamente a imposição do liberalismo económico pelas armas.

O que Fukuyama quiz dizer foi que a metafora do “comunismo científico” se aplica aqui perfeitamente: os neo-cons são um grupo de tarados que acredita que vai construir um mundo novo e que nos explica com uma cara séria que para isso tem se de matar alguns de nós. Cortar os ramos podres, como diria Estaline.

A sociedade transhumana

Há pessoas que já se estão a preocupar com as empresas que vendem embriões loiros (ou arianos, já não sei como era o anúncio), ou óvulos de atletas, ou de violinistas, etc.

Pode-se ler na internet coisas como: “The World Transhumanist Association is an international nonprofit membership organization which advocates the ethical use of technology to expand human capacities.”

E hoje ouvi uma entrevista, na telefonia, com um senhor que tinha medo que numa sociedade tão desigual como é aquela em que vivemos, os avanços da genética pudessem criar ainda mais desigualdades. Ou seja: que as élites um dia possam usar manipulações genéticas para terem filhos mais bonitos, mais altos, mais fortes, ou mais inteligentes.

Eu não pude deixar de me regojizar com a ideia. Só de pensar nas famílias reais inglesa, espanhola e portuguesa (para citar as que consigo identificar nos escaparates das revistas no supermercado), onde há tantas oportunidades para melhoramentos.

Red States, Blue States

Não há dúvida: a América é um país a duas velocidades e não há volta a dar-lhe.

Em Washington multiplicam-se os escândalos e torna-se público o que era evidente: Bush, Rumsfeld, Ashcroft, Cheney e Rice (e Pearl e Kristol e os neo-cons todos) foram incompetentes e criminosamente irresponsáveis, para além do imaginável, perante a ameaça dos ataques de Bin Laden.

Enquanto isto se passa na capital aqui no Texas discute-se se Clinton não terá sido o responsável pelo 11 de Setembro, por não ter invadido (ilegalmente, contra as opiniões da CIA, do FBI e do Congresso) o Afeganistão nos últimos três meses do seu mandato.

O problema da América rural é este: pessoas profundamente religiosas (e portanto perfeitamente capazes de aceitar argumentos ilógicos), completamente isoladas e sujeitas à propaganda constante de dois ou três grupos de empresas que detêm o monopólio da rádio e da televisão.