sexta-feira, 22 de julho de 2005
Este blogue fica suspenso...
Disparar a matar
quinta-feira, 21 de julho de 2005
Mais atentados em Londres, hoje
sexta-feira, 15 de julho de 2005
O que fazer?
O que fazer face ao terrorismo islâmico?
A resposta à pergunta necessita de um esforço prévio de compreensão dos objectivos dos jihadistas, um exercício que constitui, para estalinistas de direita como Pacheco Pereira, nem mais nem menos do que uma «traição» (sic!). Mas quem não compreende aquilo que combate arrisca-se a errar o alvo...
Xavier Arzalluz (o líder histórico do Partido Nacionalista Basco) dizia, a propósito do terrorismo da ETA, que «uns abanam as àrvores e outros recolhem os frutos». Referi anteriormente que a Al-Qaida não se assumia como o braço armado de uma organização civil com a qual se pudesse negociar. Isto é só parte da verdade, pois a Al-Qaida partilha os seus objectivos e ideologia, genericamente, com a Irmandade Muçulmana, uma organização pela qual passaram muitos dos seus militantes. Portanto, teoricamente a Irmandade poderia fornecer interlocutores civis para uma negociação.
A primeira reivindicação dos terroristas poderia ser satisfeita: a retirada das tropas «ocidentais» do Iraque e restantes países muçulmanos. Evidentemente, tal não acontecerá, quer porque pareceria uma cedência ao terrorismo (e tanto a guerra do Afeganistão como a do Iraque foram feitas na presunção, errada, de que o terrorismo é derrotável através de guerras convencionais), quer porque há interesses petrolíferos a preservar e os regimes implantados no Iraque e no Afeganistão dificilmente sobreviverão sem apoio militar exterior. A prazo, a estratégia de confronto estado-unidense continuará a alimentar a Al-Qaida.
Seriam possíveis outras abordagens. Nomeadamente, isolar diplomaticamente os regimes teocráticos (Arábia Saudita, Estados do Golfo) e ajudar aqueles em que se registam progressos na direcção da democracia e da laicidade (aceitando a Turquia na UE e acenando a Marrocos com um estatuto de parceria, por exemplo). A dependência do petróleo impede que se efective a primeira parte desta estratégia, o que torna uma prioridade geopolítica encontrar alternativas energéticas ao petróleo.
Finalmente, o campo de acção onde se poderá avançar sem grandes constrangimentos é, obviamente, interno. É necessário induzir a criação de um islão reformado nos países europeus. Para o fazer, devem deixar-se de lado os fantasmas do «choque das civilizações» (a ideia, culturalista, de que os princípios democráticos e laicistas são «ocidentais» e intransmissíveis) e os complexos do multiculturalismo diferencialista (que afirma o mesmo, e que portanto justifica a diferença de direitos e o separatismo étnico nas cidades europeias). Estando os outros campos de acção bloqueados, a integração dos imigrantes, como cidadãos individuais que podem alterar o modo como vivem a sua religião ou mesmo abandoná-la, torna-se o processo mais eficaz de demonstrar que os muçulmanos podem viver em democracia.
Fascismo contra fascismo e limitações às liberdades
quinta-feira, 14 de julho de 2005
Sayid Qutb: a teorização do fascismo islâmico
- «It is therefore necessary that Islam's theoretical foundation-belief-materialize in the form of an organized and active group from the very beginning. It is necessary that this group separate itself from the jahili society, becoming independent and distinct from the active and organized jahili society whose aim is to block Islam. The center of this new group should be a new leadership, the leadership which first came in the person of the Prophet-peace be on him- himself, and after him was delegated to those who strove for bringing people back to God's sovereignty, His authority and His laws. A person who bears witness that there is no deity except God and that Muhammad is God's Messenger should cut off his relationship of loyalty from the jahili society, which he has forsaken, and from jahili leadership, whether it be in the guise of priests, magicians or astrologers, or in the form of political, social or economic leadership, as was the case of the Quraish in the time of the Prophet-peace be on him. He will have to give his complete loyalty to the new Islamic movement and to the Muslim leadership.
- Islam, then, is the only Divine way of life which brings out the noblest human characteristics, developing and using them for the construction of human society. Islam has remained unique in this respect to this day. Those who deviate from this system and want some other system, whether it be based on nationalism, color and race, class struggle, or similar corrupt theories, are truly enemies of mankind!
- Islam provides a legal basis for the relationship of the Muslim community with other groups, as is clear from the quotation from Zad al-Mitad. This legal formulation is based on the principle that Islam - that is, submission to God-is a universal Message which the whole of mankind should accept or make peace with. No political system or material power should put hindrances in the way of preaching Islam. It should leave every individual free to accept or reject it, and if someone wants to accept it, it should not prevent him or fight against him. If someone does this, then it is the duty of Islam to fight him until either he is killed or until he declares his submission.»
O ponto central do pensamento de Qutb é que o único regime político legítimo é o Califado. Todos os outros regimes baseiam-se em leis feitas pelos homens e são, portanto, imperfeitos, injustos e ilegítimos. Teorizou sobre a necessidade de formar células militantes que ajudassem a restaurar o califado. Lendo as linhas acima, nota-se que o apelo à formação dessas unidades se aproxima, pelo ascetismo, de algumas «seitas». O termo Jahiliyyah referia-se originalmente ao estado de ignorância anterior ao Islão, mas Qutb aplicava-o às sociedades muçulmanas suas contemporâneas, o que significa que as considerava tão pervertidas que nem deveriam ser consideradas islâmicas.
Um dos irmãos de Sayd Qutb, Mohamad Qutb, foi professor de Estudos Islâmicos na Arábia Saudita, onde teve como aluno Al-Zawahiri, o braço direito de Bin Laden.
quarta-feira, 13 de julho de 2005
O bombismo suicida
When there is a religious difference between the occupier and the occupied, that enables terrorist leaders to demonize the occupier in especially vicious ways. Now, that still requires the occupier to be there. Absent the presence of foreign troops, Osama bin Laden could make his arguments but there wouldn’t be much reality behind them.»
O arrastão nunca existiu
terça-feira, 12 de julho de 2005
Revista de imprensa (12/7/2005)
- O grande livro do momento (na minha opinião pessoal) é «Collapse», de Jared Diamond. Trata-se de um estudo das razões para a decadência das sociedades humanas (os Maias, os habitantes da Ilha da Páscoa, os viquinges da Gronelândia, etc.). Como sabe quem leu «Guns, Germs and Steel», a especialidade de Diamond é a história comparada (a muito larga escala). A procura que faz das razões globais para a História ter acontecido como aconteceu em função de factores geográficos e ambientais é fascinante. «Guns, Germs and Steel», por exemplo, arruma com qualquer explicação racista do avanço tecnológico europeu. Jared Diamond deu uma entrevista que recomendo vivamente.
- Num artigo interessante, Timothy Garton Ash argumenta a favor de um G8 sem a Rússia mas com a Índia e o Brasil (o que seria um G9=G8-1+2). E ainda dois artigos sobre o futuro da democracia na Coreia do Sul e no Uganda.
- Adenda: um artigo (este, académico) sobre as razões do terrorismo suicida. O autor argumenta que as tácticas terroristas suicidas têm trazido resultados práticos. Factos: houve 188 ataques terroristas suicidas desde 1983; desses, 75 foram perpetrados pelos Tigres Tamil do Sri Lanka (que são hindus marxistas-leninistas); todas as campanhas de suicídios terroristas foram feitas contra Estados democráticos; os líderes dos grupos que usam esta táctica estão convencidos de que obterão concessões (e, na maior parte dos casos, conseguem-nas). A lógica parece ser, em todos os casos, provocar a retirada de forças armadas encaradas como «ocupantes».
P.S. Sim, é claro que ando a ler a Political Theory Daily Review.
segunda-feira, 11 de julho de 2005
Os objectivos da Al-Qaida
- Derrubar os governos árabes «seculares» do Médio Oriente (e, secundariamente, de outros países muçulmanos) e substituí-los por formas de governo mais de acordo com a sua concepção, muito extremista, do Islão.
- Restaurar o califado, o governo com autoridade sobre todos os muçulmanos, interrompido desde a queda do Império Otomano.
- No limite, estender o califado a todo o planeta.
Os jihadistas concluíram, correctamente, que os regimes do Médio Oriente (e Israel) dependem em maior ou menor grau dos EUA e da Europa, e colocaram portanto como objectivos estratégicos de curto prazo a retirada das tropas estado-unidenses da península arábica, particularmente da Arábia Saudita (o que aconteceu na sequência da guerra do Iraque) e o fim de Israel (o que parece estupidamente irrealista). O passo seguinte seria a substituição das ditaduras apoiadas no exército (Síria, Egipto) ou das monarquias (Jordânia, Arábia Saudita, Estados do Golfo) por regimes islamistas. O regime dos talibã no Afeganistão permanece o melhor exemplo do tipo de regime pretendido. Deve notar-se que as motivações apresentadas são inteiramente religiosas (ler a «World Islamic Front Statement - Jihad Against Jews and Crusaders» de 1998) e que não há qualquer componente socio-económica nas reivindicações destes grupos. A esquerda europeia deveria portanto opôr-se ferozmente à ideologia islamista, que constitui hoje a pior ameaça para as liberdades individuais, para os direitos das mulheres e mesmo para o progresso material nos países de população muçulmana.
Alguns ingénuos repetem que o objectivo dos jihadistas seria «destruir as nossas liberdades e o nosso modo de vida». Na realidade, os extremistas islâmicos não têm capacidade para tal. Quando muito, poderão servir como pretexto para os nossos governos limitarem as liberdades, quer através de regimes de excepção (conforme proposto na Itália) quer controlando as interacções privadas (conforme proposto no Reino Unido). A possibilidade de as sociedades europeias serem envenenadas por ódios inter-étnicos agrava-se também a cada atentado. Os combates pela liberdade individual face ao Estado e pela integração dos imigrantes são portanto imperativos.
No entanto, são os países árabes que constituem o objectivo principal das acções jihadistas. O objectivo táctico imediato, presumivelmente, é impressionar as massas muçulmanas com atentados espectaculares, fazendo-as aceitar a sua liderança. Deste ponto de vista, esta estratégia tem-se revelado um fracasso. O apoio às suas acções restringe-se a grupos que representam a direita mais extrema dos países muçulmanos. A estratégia jihadista, apesar da ajuda prestada pelos EUA com a invasão do Iraque (que criou as condições políticas e sociológicas para aumentar o recrutamento, e as condições militares para atacar directamente soldados «ocidentais»), está cada vez mais longe de levar a um avanço espectacular do fascismo islâmico.
O irrealismo dos objectivos continuará a alimentar a brutalidade dos métodos.
Atentados de Londres: a segunda reivindicação é pouco credível
sexta-feira, 8 de julho de 2005
IRA e Al-Qaida: diferenças
quinta-feira, 7 de julho de 2005
A outra atrocidade do dia
terça-feira, 5 de julho de 2005
O «politicamente correcto» nunca existiu
segunda-feira, 4 de julho de 2005
Ainda a inventona do arrastão
Revogar as autonomias
Tribunal Supremo dos EUA: O´Connor renuncia...
"Justice O'Connor was a key swing vote on church and state and many other social issues," said the Rev. Barry W. Lynn, Americans United executive director. "We must insist that President Bush replace her with a nominee who respects individual freedom.
"O'Connor was a conservative," Lynn continued, "but she saw the complexity of church-state issues and tried to choose a course that respected the country's religious diversity. Her resignation potentially opens the door to the greatest change in the court's direction in modern history."
Lynn noted that O'Connor's support for separation of church and state was not consistent. She ruled against government-sponsored religion in public schools but supported tax subsidies to private religious schools through vouchers and other forms of aid. Most recently, she opposed government display of the Ten Commandments in a pair of decisions handed down earlier this week.
O'Connor was a strong supporter of free exercise of religion and opposed efforts to give the government increased power to curb religious practices.
Lynn said Bush should avoid selecting an extreme nominee who will unleash a bitterly divisive battle over his or her confirmation.
Said Lynn, "The best way to make sure this process works is for the president to seek the advice of Senators from both parties and select a mainstream nominee who can achieve broad, bi-partisan support, just as presidents from both parties have done in the past.
"During the 2000 election, President Bush said he admires justices like Antonin Scalia," Lynn said. "Putting another Scalia on the high court would be a mistake. It would only escalate already divisive 'culture war' issues and spark a string of decisions that could fragment Americans along religious lines."»
sexta-feira, 1 de julho de 2005
Taslima Nasreen: «No progress without a secular society»
Revista de imprensa (1/7/2005)
- Na Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman só escreveu, o mês passado, sobre a desilusão que é o governo do PT. No desespero de ser eleito, Lula aproximou-se tanto do centro que abandonou todas as veleidades de reforma social. Quem alimentava sonhos de ver o Brasil constituir uma alternativa global ao consenso neoliberal que se tornou hegemónico desde Tatcher e Reagan, terá que procurar alhures. (Artigos: 2/6/2005, 16/6/2005, 30/6/2005.)
- O Tratado de Ateologia de Michel Onfray já está traduzido no Brasil (que inveja...), e este filósofo ateísta deu uma entrevista em que aborda o «renascimento da religião» da seguinte forma: «o desaparecimento do marxismo como ideologia que poderia resolver todos os problemas deixou um grande vazio. Ninguém mais acredita nas soluções políticas. O liberalismo que tomou conta do planeta e gera uma pobreza crescente dos mais pobres, ao mesmo tempo que gera o enriquecimento permanente dos mais ricos, produz angústia, medo, temor, sofrimentos e dores aqui na Terra».
- Numa entrevista, Chico Buarque define-se como «um democrata que ainda crê na possibilidade de um socialismo democrático (...) sou ateu» e fala dos livros, da ditadura e da família.
- E, depois do artigo de Polly Toynbee, mais uma reflexão muito documentada sobre a liberdade de expressão no Reino Unido.
- E ainda a descrição (feita por Michael Shermer) da «Conferência Mundial sobre a Evolução», que se realizou nas ilhas Galápagos entre 8 e 12 de Junho de 2005.
Boas leituras!