terça-feira, 4 de outubro de 2005

Freitas falou bem

«A União Europeia não pode ser um clube religioso ou uma academia de uma determinada cultura. A UE é um projecto político. Esse projecto baseia-se nos valores da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, do desenvolvimento económico e da justiça social, sobretudo para os mais pobres. Estes valores são compatíveis com diferentes religiões, culturas e civilizações, desde que estas aceitem a ideia da democracia e da separação entre o Estado e a Igreja. (....) A Turquia foi o primeiro país islâmico que, já há muitos anos, desde o tempo de Ataturk, separou a Igreja do Estado e estabeleceu o Estado laico (...) faltava a componente democrática, que começa agora a ser construída. (...) Ao aceitarmos a adesão da Turquia à UE, estamos a enviar uma mensagem a todo o mundo islâmico [de que] não é a religião que nos separa. O que nos pode separar, nesta fase da História, será o facto de nós continuarmos democráticos enquanto alguns desses países não o são. Portanto, se um dia, voluntariamente, aderirem à democracia, aos direitos humanos e à separação entre o Estado e a Igreja, são bem-vindos à comunidade das democracias e têm as portas abertas. (...) Provavelmente isto desagradará a Ussama ben Laden, que terá feito tudo para evitar que este momento existisse.» (Fonte: Diário de Notícias)

Por uma vez, concordo com Freitas do Amaral, mas com uma ressalva: existem Estados que já foram aceites na UE e que tenho dificuldade em considerar democráticos. A Estónia, por exemplo, que exclui do jogo democrático 40% da população com base em critérios «étnicos». Seria portanto melhor colocar a enfase na falta de respeito pelos Direitos Humanos na Turquia.

De resto, a UE «consolou» os países que resistem à Turquia abrindo a porta à Croácia, esse «farol» do respeito pelas minorias e pelo direito internacional. A realidade, quer se queira quer não, é que a entrada na UE depende, apenas, de ter bons «padrinhos». A Áustria e a Alemanha, que supervisaram a independência da Croácia, pressionaram agora para o início das negociações de entrada deste país. É uma pura questão de interesse nacional, como a Grécia obteve a entrada de uma ilha asiática (o Chipre) por puro interesse nacional. Em Portugal, reflecte-se pouco sobre como funciona a UE, e existe ainda muita gente que pensa, ingenuamente, que há algo mais em jogo do que interesses nacionais. Deveríamos tirar as devidas consequências e entrar em campanha pela entrada de Cabo Verde na União Europeia, o que traria vantagens para Cabo Verde e Portugal...

5 comentários :

CA disse...

A ideia de Cabo Verde na União Europeia parece-me bastante interessante.

Anónimo disse...

"(...) são bem-vindos à comunidade das democracias e têm as portas abertas(...)"

Têm as portas abertas para quê?!... Para a UE?... O Freitas está a dizer que se Marrocos se tornar uma Democracia plena, então Marrocos pode aderir à UE?!! E já agora porque não a Jordânia, a Arábia Saudita, Angola, o Brasil (afinal há apenas um pequeno Oceano a separar a Europa do Brasil...). Estes políticos idiotas só sabem falar para o ar, gostam muito de promessas dúbias, falsas e irrealizáveis para iludir as pessoas, para as "motivar".... Se qualquer povo quiser instaurar um sistema Democrático e Laico deve fazê-lo porque acha que tal é o melhor sistema político-social para si, não porque alguém acena com a cenoura da entrada na UE. Que idea mais estúpida! Para construir uma verdadeira Democracia é preciso uma maioria de cidadãos acreditar nela. Não se constroem verdadeiras Democracias por interesse (ou por imposição, interna ou externa).

A adesão da Turquia é um erro. Tal como seria a da Rússia. ou da Ucrânia. Não é uma questão de religião, mas sim de tamanho. Quanto maior fôr a UE mais se irá reduzir a um simples mercado **obrigatoriamente** sem fronteiras. A UE já é até demasiado grande. Devia se descentralizar mais.

Ricardo Alves disse...

«Não se constroem verdadeiras Democracias por interesse (ou por imposição, interna ou externa).»

Está enganado, caro anónimo. Olhe que alguns países do leste da Europa se tornaram democracias em boa medida por influência da UE. E a Alemanha e o Japão são democracias por imposição das tropas ocupantes de 1945...

«Quanto maior fôr a UE mais se irá reduzir a um simples mercado **obrigatoriamente** sem fronteiras.»

E talvez isso seja melhor do que os delírios federalistas e do que a concentração de poderes na burocracia não eleita de Bruxelas... ou não?

Anónimo disse...

Freitas do Amaral é um dos raros conservadores cuja lucidez e independência o tornam credor do respeito dos progressistas, enquanto suscita um ódio de estimação a reaccionários de diversos matizes.

Geosapiens disse...

...caro carlos esperança...um conservador normalmente gosta de que tudo evolua o menos possível...pelas suas ideias e ultimas tomadas de posição...acho que o Freitas do Amaral soube evoluir...e já passou esse campo ideológico...digamos que é um centrista atento...
...quanto ao post do ricardo...concordo com a questão de cabo verde...mas mais pelo beneficio deles...sobre nós é me indiferente...
...sobre as criticas que fizeste sobre a Turquia relembro-te que num post meu publicado em 8 de Agosto subscrevi as tuas opiniões...este intitulava-se "A ditadura aceite..."...um abraço...