quinta-feira, 1 de setembro de 2005

O regresso dos mortos-vivos

Em 1995, o país estava farto de Soares e de Cavaco, de Cavaco e de Soares, e das respectivas facadas nas costas, guerrinhas subterrâneas, pontapés debaixo da mesa e outras manifestações de (des)afecto subtis, muitas vezes sem qualquer relação com os problemas reais e concretos que se viviam em Portugal no final dessa década (1985-95) em que foram a dualidade dominante da República.
Em 2005, dez anos depois, o país assistiu conformado à novela estival que trouxe de volta estes dois indivíduos, autênticos zombies da política nacional que julgávamos mortos e enterrados, e que de repente, à esquerda e à direita, se posicionaram com o fatalismo das coisas inevitáveis como candidatos ao mais alto cargo da República.
Estão de parabéns, todos: tanto os da esquerda como os da direita. Na década que passou o pessoal político não se renovou, não surgiram políticos que se destacassem de tal forma que pudessemos olhar para eles como presidenciáveis. Guterres fugiu para o Sudão, Barroso para Bruxelas, Santana Lopes voltou para a 24 de Julho e António Vitorino é demasiadamente fino para a República.
Como republicano de esquerda e independente, lamento que Manuel Alegre não tenha sido ideologicamente mais claro nas suas manifestações de disponibilidade. É no mínimo curioso que um grupo de apoiantes seus tenha escolhido como título para um blogue Esquerda Republicana, antes de descobrirem que já existia outro blogue com o mesmo nome (este) e terem, então, decidido passarem a chamar-se Acção Republicana.
Do discurso de ontem de Mário Soares, retive, entre muitos outros aspectos, o orgulho soarista por participar nos encontros da Comunidade de Santo Egídio e no diálogo ecuménico. Dialoguemos então, mas entre republicanos. Do Acção Republicana aprecio outras coincidências, como a coragem de ser soberanista ou o discurso de Manuel Alegre em que me parece haver a consciência de que a relação entre Portugal e a UE é mais importante para Portugal do que para a UE, e que há que tirar consequências desse facto. Seria igualmente interessante saber como os apoiantes de Manuel Alegre vêem o estado actual das relações entre as igrejas e o Estado, particularmente entre a ICAR e a República...

1 comentário :

Geosapiens disse...

...existem outros candidatos para além dos partidários vejam...a candidatura da Dr.ª Manuela Magno em:http://www.manuelamagno.com.pt/...fica o conselho...um abraço...