quinta-feira, 2 de junho de 2005

A metafísica do «G» é um buraco

O João Miranda (JM) do Blasfémias escreveu mais um dos seus artigos confusionistas em que faz uma salganhada pós-moderna que mistura a Física, a Economia, a Metafísica, o Newton e o Constâncio. Levanta algumas questões que até serão interessantes, mas, como de costume, baralha tudo na pressa de ser engraçado. Esclarecem-se aqui as imprecisões de Física, esperando que assim se possa limitar a propagação de mitos urbanos e de incompreensões sobre a ciência para a qual JM pretende contribuir.
  1. É falso que, como afirma JM, o expoente «2» (da distância entre dois corpos com massa na lei da gravitação de Newton) não seja falsificável nem tenha sido testado (o estado actual das experiências nesta área pode ser verificado neste artigo).
  2. Para qualquer força que se propague isotropicamente no espaço (como a atracção entre dois corpos com carga eléctrica, expressa na lei de Coulomb), o expoente seria rigorosamente «2» se o nosso universo fosse euclideano, conforme explicado didacticamente nesta página. No entanto, desde que a relatividade generalizada de Einstein foi corroborada experimentalmente que sabemos que o nosso universo não pode ser euclideano. A mesma relatividade generalizada prevê que a lei gravitacional de Newton não será válida para velocidades próximas da da luz ou para campos gravitacionais fortes.
  3. O valor de «G» (a «constante de atracção gravitacional») é dependente do sistema de unidades, e por isso é arbitrário. Eu posso escolher um sistema de unidades com G=1 e fazer contas com ele. Aliás, há quem o faça, por razões práticas.
  4. Já agora (também tenho direito aos meus devaneios...): a lei de Coulomb já foi refutada a distâncias da ordem de 10-16 metros. A essa distância, as correcções radiativas tornam-se demasiadamente importantes para serem ignoradas.

Resumindo: a lei gravitacional de Newton (incluindo o expoente «2» que tanto preocupa o JM) é uma aproximação de primeira ordem à curvatura do espaço; o valor de «G» é uma convenção que resulta do sistema de unidades que se usa. Não há nisto nada de metafísico.