Como complemento deste excelente artigo do Carlos Herdeiro e do Vítor Cardoso, permito-me fazer algumas considerações históricas.
Ao contrário do que foi sendo propalado, apesar dos muitos elogios (alguns bem hipócritas) que recebeu de diferentes quadrantes após o seu desaparecimento há uns meses, a obra do Mariano Gago nunca foi consensual.
Um dos maiores feitos de Mariano Gago, ainda antes de ser ministro, foi a adesão de Portugal ao CERN. Esta adesão fez-se contra a vontade de grande parte da comunidade científica portuguesa, incluindo mesmo muitos físicos. Argumentava-se entre outras coisas que essa adesão custaria dinheiro a Portugal (as quotas anuais a pagar), ignorando os benefícios que poderiam advir para a indústria (passados 30 anos reconhece-se a adesão como benéfica para a economia portuguesa - o CERN é cliente de muitas empresas portuguesas). Ciente da importância dessa adesão para o desenvolvimento da ciência de um país que tinha estado fechado ao mundo por meio século, Mariano Gago convenceu o governo e o primeiro-ministro Mário Soares, apesar da oposição de muitos colegas. E Portugal aderiu ao CERN. A oposição a esta adesão pode ter diminuído (mas não acabado); a inveja do dinheiro que supostamente iria para a "Física de Partículas" (ainda por cima, uma especialidade científica que em Portugal existia sobretudo em Lisboa e principalmente no Técnico) é que não.
Desde o princípio, o objetivo da política científica deste governo era um único: o desmantelar do sistema científico construído por Mariano Gago. Um exemplo simbólico: os concursos de projetos para cooperação no CERN, ao longo de todo este mandato, só foram lançados este ano (deveriam ter sido também em 2013, se a calendarização tivesse sido obedecida). Os físicos de partículas portugueses (muitos deles participam em experiências internacionais) que não têm financiamento internacional estão sem dinheiro para investigação. Neste ano de eleições o concurso dos projetos foi finalmente lançado. A área científica destes projetos, que anteriormente era designada por "Física de Partículas" (uma designação já algo ultrapassada - basta ver o arXiv), passou a ser... "Física Nuclear". Simbolicamente, é como se deixasse de haver "Física de Partículas" (a designação dos dias de hoje é "Física de Altas Energias"), a física do Mariano Gago. Um dos objetivos era esse. As razões de queixa dos físicos de altas energias portugueses são essas, bem expostas neste artigo.
O resto é a treta da "excelência", não como objetivo em si (que isso fique claro), mas como pretexto para as políticas de cortes brutais delineadas à partida (a "excelência" estava para a política científica como a troika estava para a política económica e social). Tal como o artigo que aqui partilhei há dias ("Nunca tanto dinheiro foi para tão poucos projetos") demonstra, o objetivo é outro: a concentração do investimento em ciência em certas áreas (curiosamente, as da secretária de Estado e dos responsáveis pela FCT). Nem só as Humanidades e as Ciências Sociais foram prejudicadas pelas políticas desta FCT e deste governo: a ciência fundamental também o foi e muito. O Vítor e o Carlos, cientistas cuja excelência não pode ser questionada, demonstram-no bem neste artigo, e eu dou-lhes os parabéns por isso.
Ao contrário do que foi sendo propalado, apesar dos muitos elogios (alguns bem hipócritas) que recebeu de diferentes quadrantes após o seu desaparecimento há uns meses, a obra do Mariano Gago nunca foi consensual.
Um dos maiores feitos de Mariano Gago, ainda antes de ser ministro, foi a adesão de Portugal ao CERN. Esta adesão fez-se contra a vontade de grande parte da comunidade científica portuguesa, incluindo mesmo muitos físicos. Argumentava-se entre outras coisas que essa adesão custaria dinheiro a Portugal (as quotas anuais a pagar), ignorando os benefícios que poderiam advir para a indústria (passados 30 anos reconhece-se a adesão como benéfica para a economia portuguesa - o CERN é cliente de muitas empresas portuguesas). Ciente da importância dessa adesão para o desenvolvimento da ciência de um país que tinha estado fechado ao mundo por meio século, Mariano Gago convenceu o governo e o primeiro-ministro Mário Soares, apesar da oposição de muitos colegas. E Portugal aderiu ao CERN. A oposição a esta adesão pode ter diminuído (mas não acabado); a inveja do dinheiro que supostamente iria para a "Física de Partículas" (ainda por cima, uma especialidade científica que em Portugal existia sobretudo em Lisboa e principalmente no Técnico) é que não.
Desde o princípio, o objetivo da política científica deste governo era um único: o desmantelar do sistema científico construído por Mariano Gago. Um exemplo simbólico: os concursos de projetos para cooperação no CERN, ao longo de todo este mandato, só foram lançados este ano (deveriam ter sido também em 2013, se a calendarização tivesse sido obedecida). Os físicos de partículas portugueses (muitos deles participam em experiências internacionais) que não têm financiamento internacional estão sem dinheiro para investigação. Neste ano de eleições o concurso dos projetos foi finalmente lançado. A área científica destes projetos, que anteriormente era designada por "Física de Partículas" (uma designação já algo ultrapassada - basta ver o arXiv), passou a ser... "Física Nuclear". Simbolicamente, é como se deixasse de haver "Física de Partículas" (a designação dos dias de hoje é "Física de Altas Energias"), a física do Mariano Gago. Um dos objetivos era esse. As razões de queixa dos físicos de altas energias portugueses são essas, bem expostas neste artigo.
O resto é a treta da "excelência", não como objetivo em si (que isso fique claro), mas como pretexto para as políticas de cortes brutais delineadas à partida (a "excelência" estava para a política científica como a troika estava para a política económica e social). Tal como o artigo que aqui partilhei há dias ("Nunca tanto dinheiro foi para tão poucos projetos") demonstra, o objetivo é outro: a concentração do investimento em ciência em certas áreas (curiosamente, as da secretária de Estado e dos responsáveis pela FCT). Nem só as Humanidades e as Ciências Sociais foram prejudicadas pelas políticas desta FCT e deste governo: a ciência fundamental também o foi e muito. O Vítor e o Carlos, cientistas cuja excelência não pode ser questionada, demonstram-no bem neste artigo, e eu dou-lhes os parabéns por isso.
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