Acredito que a União Europeia padece de vários problemas muito graves, que a chamada "crise das dívidas soberanas" pôs a nu, pela extraordinária inépcia da resposta das instituições europeias. Estes problemas não se limitam à gravidade e perversidade desta resposta, sendo também visíveis na política comercial da UE, e de inúmeras outras formas, que mais não são do que sintomas do grave défice democrático de que a União Europeia padece.
Sendo este problema a raiz sistémica dos restantes problemas da UE é absolutamente fundamental apoiar eleitoralmente quem apresenta soluções.
Sucede-se que - excluindo da minha análise partidos ou coligações de carácter quase abertamente fascista num caso, ou de ameaçadoras tendências anti-democráticas no outro - partidos como o PS, PSD, CDS, PDR, PAN, Aliança, IL, NC, PTP e PURP não apresentam propostas para a reforma institucional da UE que façam face a este problema.
Alguns dos partidos mencionados nem sequer chegam a fazer um diagnóstico que identifique o défice democrático nas instituições europeias, mas os que o fazem não apresentam soluções concretas.
Por sua vez, partidos ou coligações como a CDU, MAS, e PCTP-MRPP identificam a UE como sendo irreformável e ela própria o problema. A solução, nuns casos defendida explicitamente (MAS e PCTP) e noutros com mais subtileza (CDU) é a implosão da UE.
O Bloco de Esquerda é um partido peculiar pois tem fortes divisões internas relativamente a esta questão. Embora a posição dominante do partido seja a de que a UE é irreformável (a cimeira Plano B foi elucidativa a este respeito), é possível alegar que não é essa a posição dominante da candidatura ao Parlamento Europeu. Ainda assim, esta discrepância entre a posição dominante do partido e a posição dominante da candidatura cria uma esquizofrenia que em muito prejudicará o esforço dos futuros deputados europeus do BE na luta por uma UE mais democrática.
Neste panorama existe um único partido português que apresenta propostas concretas e exequíveis para resolver O problema sistémico da UE (de que os restantes são na realidade sintomas), e esse partido é o LIVRE.
Esta razão, sozinha, justifica o meu voto no LIVRE.
Mas, felizmente, não é a única.
A participação do LIVRE no projecto transnacional "Primavera Europeia" é uma excelente iniciativa que, por si, pode ser a solução para muitos dos problemas com que as forças progressistas se deparam. Não creio que alguém com a visão, lucidez e convicções de Noam Chomsky tenha apoiado muitos projectos políticos europeus, mas apoia este e não é por acaso.
O programa da Primavera Europeia, mesmo noutras matérias, é ambicioso, transformador, e muito bem conseguido.
Não posso dizer que concordo com tudo - creio que ninguém com espírito crítico concorda a 100% com um programa que seja suficientemente detalhado e construído de forma democrática - mas mesmo que lhe fosse retirado o seu "coração", que são as propostas para fazer face ao Défice Democrático na UE, estou convencido que este continuaria a ser o melhor programa apresentado nestas eleições.
As propostas relativas à resposta aos desafios civilizacionais que o aquecimento global representa (o Green New Deal) ou o que se propõe para a política comercial na UE, só para dar dois exemplos, já justificam o voto nesta candidatura.
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