quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Reportagem sobre o CETA - a feliz excepção

A comunicação social, com muito poucas excepções (geralmente no espaço de opinião dos jornais), ignorou quase completamente o CETA.

No que diz respeito às televisões, fora um notável episódio da série Biosfera, esta questão foi quase completamente ignorada. Na verdade, desde que o debate e votação do CETA foram agendados na Assembleia da República até hoje, meses depois de terem sido realizados, os espaços de informação das televisões ignoraram por completo o assunto, com uma única excepção na SIC Notícias.

A feliz excepção é uma reportagem com menos de cinco minutos, que recomendo vivamente pela sua qualidade e, dado este contexto de ausência de informação, coragem.

Infelizmente cinco minutos não podiam deixar de omitir muitos aspectos importantíssimos, por maior que fosse o esforço de síntese. Mas a SIC Notícias tem o mérito de ser o único canal televisivo que, durante o período em que a AR debateu esse assunto, deu espaço a uma questão da maior importância, com muito maior relevância jornalística e importância para o futuro do nosso país do que um jantar no Panteão, o plágio de um artista, ou até um roubo de armas.

Quem fica muito mal na fotografia é a RTP. O dever de informar o público, promover a cidadania e a participação democrática diz respeito a todas as cadeias televisivas, que não deveriam colocar o objectivo de conquistar audiências à frente da necessidade de esclarecer o público sobre as decisões mais estruturantes e consequentes com que a Assembleia da República se debate.
Mas tendo a RTP obrigações acrescidas neste domínio, tendo por objecto a prestação de um serviço público e não a maximização dos lucros, é triste e lamentável que nem uma reportagem tenha sido feita sobre este assunto. A RTP teve portanto uma posição negligente, irresponsável e inaceitável neste domínio, não tendo feito as mínimas diligências necessárias para cumprir a sua missão de serviço público.

É uma situação vergonhosa.


Post também publicado no Espaço Ágora.


segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A mudança do Infarmed para o Porto

É quase inacreditável a leviandade com que o governo decidiu transferir o Infarmed de Lisboa para o Porto. A acreditar na presidente da instituição, a decisão foi tomada pelo Primeiro Ministro na noite de segunda (ou seja, quando se soube que a Agência Europeia do Medicamento iria para Amesterdão), comunicada por telefonema do ministro da Saúde às oito horas da manhã de terça-feira passada, e minutos depois divulgada publicamente em comunicado da Câmara Municipal do Porto. Custa a acreditar, mas não é apenas a rapidez da decisão (e não haver intenção comunicada previamente): é que também não houve qualquer apreciação do impacto nos trabalhadores e na actividade do Infarmed. E mais: se se quer descentralizar (o que nunca pode ser sinónimo de «transferir para o Porto»), faria sentido colocar uma decisão destas a concurso de várias cidades portuguesas. O que nem sequer foi equacionado.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Sobre o jantar do Panteão

Um secretário de Estado (do anterior governo) assina um despacho que prevê alugar-se o Panteão Nacional para jantares - inclui mesmo uma tabela de preços. A diretora do mesmo Panteão decide, na plenitude dos seus poderes, e sem precisar de pedir autorização a mais ninguém, alugar esse mesmo espaço. O Primeiro Ministro, e o Ministro da Cultura, desconhecem essa decisão (e manifestam o seu desagrado pela mesma). Mas nada pode ser apontado à diretora: fez o que lhe pareceu melhor, de uma forma totalmente legal (com uma lei do anterior governo). Nada mais podendo ser feito, e tendo o jantar já decorrido, o atual governo faz a única coisa que verdadeiramente pode fazer quem acha que tais jantares nunca deveriam ter ocorrido: proibi-los (revogando o despacho do governo anterior).
O PSD descarta as suas responsabilidades, dizendo que este evento teria sempre que ser autorizado. Mais extraordinário, sugere demissões - por ter sido feito algo perfeitamente legal, de acordo com o despacho publicado em Diário da República que eles mesmos assinaram.
Daqui resulta claro o conceito de responsabilidade do PSD (lavar as mãos pelo que eles mesmos legislaram), o conceito de justiça laboral (defendendo um despedimento por motivos arbitrários, sem nenhuma justa causa - não podem invocar o "mau gosto" da opção do jantar se eles mesmos a previram e aceitaram), e o conceito de vergonha na cara - algo que eles desconhecem.