quinta-feira, 30 de novembro de 2006

«La gauche antilibérale dans tous ses états»

«Ca y est! La gauche social-libérale a sa candidate: Ségolène Royal. Celle-là même qui est promotionnée par la presse du lobby militaro-industriel. Vous savez, cette presse détenue par les groupes Lagardère-Hachette-Dassault (75% de la presse écrite), cette même presse qui avait promotionné Chirac en 1995 contre Balladur. Le PS est donc en ordre de marche. Sa candidate, y compris soutenue par certains leaders qui il y a encore un an appelaient à voter non au traité constitutionnel, a fait mordre la poussière à ses deux concurrents. La messe est dite.
Laurent Fabius, qui, lui, n'a pas trahi ses engagements du 29 mai 2005 a fait un peu plus que 18% alors que le non dans le PS avait fait fin 2004 plus de 40% et que l'électorat socialiste avait voté à 60% pour le non.
Mais le PS est en mutation avec une arrivée massive de nouveaux adhérents organisée par un site internet extérieur au PS, Désirs d'avenir. La mutation du PS rappelle la mutation du parti travailliste britannique avec Tony Blair qui avait modifié la composition du parti en la coupant du mouvement syndical. Toutes choses étant inégales par ailleurs, ces deux mutations sont de même nature...
Il est étonnant de voir la nouvelle candidate ne pas intervenir sur les sujets qui sont les premières préoccupations des français, dans l'ordre, les propositions en matière de protection sociale, les salaires et l'emploi, la laïcité et le vivre ensemble, la sûreté, le logement social et les services publics. Non, je suis mauvaise langue, elle a dit qu'elle ne laisserait pas insulter Dieu laissant planer le risque de vouloir rétablir le délit de blasphème.

###
(...)
Mais de plus en plus, dans cette crise, des militants pensent que sur les 31,3% du non de gauche du 29 mai 2005, le gros des troupes électorales sont les couches populaires et l'électorat socialiste du non. Et, qui mieux qu'un socialiste du non pour toucher ces deux ensembles d'électeurs?
C'est pour cela que la candidature de Jean-Luc Mélenchon est de plus en plus dans le débat. L'hebdomadaire Marianne a fait un article sur ce point. Comme Jean-Luc Mélenchon ne souhaite pas s'opposer aux candidats anti-libéraux et surtout pas à Marie Georges Buffet, la décision incombe donc au parti dominant de la gauche anti-libérale, le PCF. Trois possibilités s'offrent aux militants anti-libéraux, voilà l'enjeu! C'est le PCF qui a les cartes de la décision dans les mains pour engager la gauche anti-libérale dans l'une des 3 voies suivantes: faire imploser la gauche anti-libérale, faire un score de témoignage ou faire un score à deux chiffres! Rendez-vous le 10 décembre!
»

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Revista de blogues (27/11/2006)

  1. «Quando se envolveu na política chilena, em meados dos anos 70, Friedman ainda não gozava dos favores de governos de países importantes, como um pouco mais tarde veio a suceder com Margaret Thatcher no Reino Unido e Ronald Reagan nos EUA. A vaidade ter-se-ia, portanto, sobreposto ao mais elementar bom senso. Pode ser que sim, mas as próprias declarações de Friedman sugerem que não terá sido apenas isso. Em muitos dos seus escritos encontramos insinuada a ideia de que, para ele, a liberdade económica é primordial, a liberdade política secundária, e a democracia um estorvo no caminho da primeira. Quando aos direitos humanos, pura e simplesmente não figuram na sua cartilha.» («Liberais à antiga(7)», no ...bl-g- x-st-.)
  2. «Para evitar maus comportamentos de deputados que assinam compromissos partidários e depois pôem a lei "burguesa" do país à frente da lei "proletária" do partido para não perderem o lugar dou uma sugestão: de futuro o partido concorre com uma lista sem nomes, apenas números. E na bancada parlamentar obriga os deputados a apresentarem-se sempre, não digo de burka mas de cara tapada e uma tabuleta ao peito com a identificação deputado 1, deputado 2... Assim quando o partido, e muito bem, quiser mudar muda. Muda só o que está por baixo da tabuleta e acaba-se a escandaleira.» («Deputada sofre», no Puxa Palavra.)
  3. «E o Sócrates ao leme tremeu e disse:/Sou Tony Blair Segundo!/Três vezes ao céu as mãos ergueu,/três vezes ao leme as reprendeu,/e disse no fim de tremer três vezes:/Aqui ao leme sou mais do que eu,/sou um partido que quer o que já não é teu./E mais que um Poeta que não arrefece/nem aquece ideias que já estão no fundo,/manda a vontade que me ata ao leme/das finanças globais do nosso mundo!» («O Mostrengo de Fernando Pessoa», no Espírito de Xabregas.)

domingo, 26 de novembro de 2006

Steven Pinker: «Less Faith, More Reason»

«(...)
The report introduces scientific knowledge as follows: “Science and technology directly affect our students in many ways, both positive and negative: they have led to life-saving medicines, the internet, more efficient energy storage, and digital entertainment; they also have shepherded nuclear weapons, biological warfare agents, electronic eavesdropping, and damage to the environment.”
Well, yes, and I suppose one could say that architecture has produced both museums and gas chambers, that opera has both uplifted audiences and inspired the Nazis, and so on. It makes it sound as if the choice between science and technology on the one hand, and superstition and ignorance on the other, is a moral toss-up! Of course students should know about both the bad and good effects of technology. But this hardly seems like the best way for a great university to justify the teaching of science.
###
(...)
Missing from the report is a sensitivity to the ennobling nature of knowledge: to the inherent value, with consequences too far-reaching to enumerate, of understanding how the world works. For one thing, it is a remarkable fact that we have come to understand as much as we do about the natural world: the history of the universe and our planet, the forces that make it tick, the stuff we’re made of, the origin of living things, and the machinery of life, including our own mental life.
(...)
Also, the picture of humanity’s place in nature that has emerged from scientific inquiry has profound consequences for people’s understanding of the human condition. The discoveries of science have cascading effects, many unforeseeable, on how we view ourselves and the world in which we live: for example, that our planet is an undistinguished speck in an inconceivably vast cosmos; that all the hope and ingenuity in the world can’t create energy or use it without loss; that our species has existed for a tiny fraction of the history of the earth; that humans are primates; that the mind is the activity of an organ that runs by physiological processes; that there are methods for ascertaining the truth that can force us to conclusions which violate common sense, sometimes radically so at scales very large and very small; that precious and widely held beliefs, when subjected to empirical tests, are often cruelly falsified.
(...)
First, the word “faith” in this and many other contexts, is a euphemism for “religion.” An egregious example is the current administration’s “faith-based initiatives,” so-named because it is more palatable than “religion-based initiatives.” A university should not try to hide what it is studying in warm-and-fuzzy code words.
Second, the juxtaposition of the two words makes it sound like “faith” and “reason” are parallel and equivalent ways of knowing, and we have to help students navigate between them. But universities are about reason, pure and simple. Faith—believing something without good reasons to do so—has no place in anything but a religious institution, and our society has no shortage of these. Imagine if we had a requirement for “Astronomy and Astrology” or “Psychology and Parapsychology.” It may be true that more people are knowledgeable about astrology than about astronomy, and it may be true that astrology deserves study as a significant historical and sociological phenomenon. But it would be a terrible mistake to juxtapose it with astronomy, if only for the false appearance of symmetry.
(...)
For us to magnify the significance of religion as a topic equivalent in scope to all of science, all of culture, or all of world history and current affairs, is to give it far too much prominence. It is an American anachronism, I think, in an era in which the rest of the West is moving beyond it.
(...)»
(Steven Pinker; ler na íntegra.)

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Manuel Alegre: do bom ao péssimo

Manuel Alegre consegue frequentemente juntar o bom e o péssimo. Na apresentação do livro do cidadão Duarte, o bom foi a maneira clara como se distanciou do europeísmo ingénuo e idealista que tem servido para nos amarrar a prioridades estratégicas e económicas que não são definidas por nós, e que portanto raramente serão as nossas:
E o péssimo foi isto:
Que Manuel Alegre seja amigo do Duarte Nuno(*), é lá com ele; que rejeite o sectarismo, acho muito bem. Agora, o que é chocante é que não compreenda que não se referenda a República como não se referenda a democracia ou os direitos individuais dos cidadãos: colocar em referendo a República seria permitir que uma qualquer família passasse a ter privilégios de linhagem e direitos de governação hereditários.
Mário Soares nunca se diz laico sem acrescentar na mesma frase que «respeita muito» a ICAR. Manuel Alegre fala em «valores republicanos», e minutos depois quer referendá-los. Desgraçada República esta...
(*) Na caixa de comentários, o Dorean Paxorales garante-me que a pessoa em causa se chama Duarte Pio. Fica a correcção.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Iraque: do terrorismo à guerra civil

O que está a acontecer no Iraque só não poderá ser considerado uma guerra civil porque faltam dois ou mais grupos identificáveis a tentarem tomar o poder (ou controlar território). No entanto, a verdade é que há poucas guerras civis em que haja mais de cem mortos num único dia, como aconteceu hoje em Bagdade.
Entretanto, a nossa comunicação social «americanamente correcta» relega o assunto para a página 17. Mas o Iraque, vai explodir, olá se vai...

Revista de blogues (23/11/2006)

  1. «Na escola pública que os meus filhos frequentam, situada no centro da cidade do Porto, existem crucifixos em todas as salas de aula. Nas duas extremidades do corredor principal pode ver-se uma figura da Nossa Senhora de Fátima e numa delas uma fotografia dos videntes Francisco e Jacinta Marto. (...) Em 2004, sem que os pais tivessem previamente conhecimento, realizou-se uma missa no recinto da escola por ocasião da reforma de duas funcionárias muito devotas. Eu e a minha mulher contactámos a responsável da escola, depois da realização da missa, demonstrando-lhe o nosso desagrado pelo facto de o nosso filho ter participado numa cerimónia religiosa dentro de uma escola pública e de os crucifixos continuarem expostos». («Correio dos leitores: "Estado e religião"», no Causa Nossa.)
  2. «AAA escandaliza-se com o facto de o Ministério da Educação se considerar mais bem preparado que os pais para decidir o que os alunos devem estudar. Pelo que me toca, não só isso não é minimamente chocante, como qualquer alternativa me pareceria inquietante. (...) A privatização total do ensino, com "programas diferentes de escola para escola, numa livre concorrência e sempre salutar" teria o potencial para criar focos de proselitismo, sectarismo e comunitarismo, já para não falar nos prejuízos óbvios que traria para a mobilidade social.» («Um inimigo da escola pública», no umblogsobrekleist.)
  3. «Está lá tudo: um dissidente do KGB, um restaurante japonês em Londres, um encontro com 'um homem chamado Mario', uma entrega de documentos e um veneno indetectável e mortal. (...) Exilado em Inglaterra desde 2000, proclamava andar a investigar o assassinato da jornalista Anna Politkovskaya, em Outubro passado. Por isso ou não, está agora sob observação em sala limpa, sistema imunitário debilitado pela ingestão de sulfato de tálio. (...) Há algo de podre nesta história e não é o marisco de Picadilly: gente como Berezovsky foi demasiado lesta a correr para os média para implicar os serviços secretos russos; depois há a visita diária de um 'amigo' comum àquele mafioso a um Litvnenko extremamente debilitado e com guarda armado à porta do quarto.» («O ex-espião envenenado a frio», no Verdade ou Consequência.)

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Revista de blogues humorísticos (22/11/2006)

  1. «Raras são as vozes que alertam para o malefício que a Internet pode causar nas mentes juvenis.Talvez seja a razão porque muitos pais, ingenuamente, colocam os computadores nos quartos de dormir, e locais recatados, favorecendo, desse modo, acesso a sites viciosos. (...) Qual o pai, por mais devasso que fosse, levava a filha ao bordel? Apresentaria a proxenetas? Ou a familiarizava com rameiras? Todavia colocam, nos quartos dos filhos, computadores, sem filtro, que são janelas e portas, às redes mafiosas. Desconhecem, ou os afazeres não lhes permitem esses cuidados, que a pornografia é viciosa!? Pelos olhos entram as imagens perversas que contaminam as mentes sãs.» Sites Viciosos», no Jornal da Família.)
  2. «O direito de fazer filhos é claramente um direito positivo porque os pais não estão a dispor apenas do seu próprio corpo, estão a dispor do corpo de uma terceira pessoa sem a sua autorização. Fazer um filho é dispor da sua vida sem a sua autorização. (...) Dado que o filho normalmente não se pode pronunciar, como é que se pode compatibilizar a ideia liberal de que todos têm os mesmos direitos negativos com a reprodução humana? (...) O direito a não ser criado é um direito negativo de qualquer ser humano porque se trata da maior interferência de terceiros na sua própria esfera de liberdade.» («O direito de fazer filhos é positivo ou negativo?», no Blasfémias.)

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

O blogue do sim

Já existem por aí imensos blogues do não (alguns com imagens não aconselháveis a grávidas e pessoas com estômagos sensíveis ou que tenham visto familiares morrerem em acidente de viação). Os blogues do sim estão muito parados, e neste momento o blogue oficioso do sim é o Glória Fácil quando escrito pela «f.». Atente-se nesta pérola, que responde a uma objecção habitual:
  • «concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, desde que: a) o marido concorde; b) o unido de facto concorde; c) o namorado concorde; d) o gajo que ela não via há séculos e que encontrou há um mês à noite e aconteceu aquilo concorde; e) o gajo de quem ela se divorciou e que já tem outra pessoa (e ela também) mas encontraram-se e pronto, aconteceu, concorde; f) o gajo casado com quem ela anda concorde e já agora a gaja que vive com o gajo casado e os filhos dos dois concordem; g) o gajo que a violou concorde; h) aquele gajo que não lhe atende o telefone concorde; i) o alemão que ela conheceu nas férias na tailândia concorde; j) o padre amaro concorde; l) caso haja dúvidas quanto ao progenitor, a mulher deve convocar todos os possíveis candidatos para análises de dna, posto o que, se ainda se estiver dentro do prazo legal, se procederá à consulta sobre o consentimento; (...) adenda: caso a mulher queira abortar e o fecundador não quiser que ela aborte, e a mesma não se conforme, há várias hipóteses: a) ela deverá ser enclausurada até ao termo da gravidez, posto o que, uma vez o bebé dado à luz, será entregue ao fecundador para que o crie. (...) c) será criado um novo crime, o de 'aborto até às 10 semanas sem consentimento do fecundador'.» (Ler na íntegra.)

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

O Aborto

Como todas as pessoas normais, sou contra o aborto.

Mas não acho que a criminalização do aborto resolva a questão.

Alguém me pode indicar a mais pequena centelha de evidência de que a criminalização do aborto ajuda a resolver a questão? Diminui o numero de abortos? Diminui o sofrimento das mães? Diminui a hipocrisia? Aumenta a informação entre os jovens? Melhora a vida sexual dos adolescentes nalgum sentido obscuro? Gostava de saber o que é que faz as pessoas quererem criminalizar uma prática desesperada, que já é horrivelmente dolorosa para quem tem de recorrer a ela...

Toda esta energia pró-vida... não seria melhor canalizada a promover a educação sexual e a justiça social?

Uma entrevista a ler

A «f.» colocou no Glória Fácil uma entrevista preciosa, de 1998, com uma enfermeira que faz abortos clandestinamente. Entre outras coisas, percebe-se que a lei actual funciona mal:
  • «Esteve aqui uma miúda, há dias, que tinha uma epilepsia, que tinha estado em S. Francisco Xavier a tentar abortar, tinha a carta do ginecologista, tinha a carta do neurologista, tinha a lei toda do lado dela, mas chegou lá e disseram-lhe que não havia vagas, para ir lá daí a quinze dias, a rapariga começou a pensar e quis resolver o assunto de outra maneira porque teve receio de que depois fosse tarde. Estava de cinco semanas, não quis esperar mais. E uma secretária do hospital em que trabalho, há uns três anos, estava grávida e foi infectada com rubéola. Já estava de dois meses e nunca mais lhe resolviam o problema, era empata aqui, venha cá depois, faz mais esta análise, faz mais aquela... Chegou aos quatro meses e nada. Até que teve de ir a uma clínica, por sua conta e risco. (...) E sei de outro caso, com um diagnóstico de hidrocefalia no feto, a senhora tinha decidido abortar — quem é quer um filho hidrocéfalo? Só uma masoquista, por amor de Deus — e tinha opinião de dois médicos, tinha tudo... Mas quando lhe resolveram a situação já estava de seis meses. Provocaram-lhe um parto, foi uma coisa atroz, de tal modo traumática que ela nunca mais quis ter nenhum filho.»

Deve ter-se isto em conta quando se discute a possibilidade de realizar IVG´s em hospitais públicos: a resistência do pessoal hospitalar. Recomendo a leitura da entrevista (que é longa).

###

E, já agora, uma pequena curiosidade científica.

  • «Olhe que eu já encontrei uma miúda grávida que estava virgem. NM - Como? Sra X - Deve ter havido uma brincadeira com o namorado e sem penetração, aconteceu. (...) A miúda dizia que era impossível estar grávida, que nunca tinha tido uma relação normal... Mas foi ao médico, fez uma ecografia e estava de facto grávida de seis ou sete semanas. A mãe não queria acreditar que ela nunca tivesse tido uma relação, mas de facto depois quando fui observá-la disse-lhe — porque eu não sabia dessa história toda — então, tu nunca tiveste uma relação, pois não? E ela: não, nunca tive. Está a ver o meu drama? Tive de fazer tudo com o maior dos cuidados para não desvirginar a moça. E ficou intacta, felizmente.»

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

A questão penal e a questão social

No blogue do Movimento Liberal Social, Luís Lavoura escreveu o seguinte:
  • «No contexto do próximo referendo sobre o aborto, diversas pessoas têm manifestado preocupação com a possibilidade de o aborto passar a fazer parte integrante do Serviço Nacional de Saúde, de o seu pagamento ser comparticipado pelo Estado, de a realização de abortos ir fazer aumentar as listas de espera nos hospitais do Estado, etc. (...) Aquilo que nos será perguntado no próximo referendo NÃO É se o aborto é um direito da mulher (grávida), isto é, se toda a mulher grávida tem o direito de abortar.
    Aquilo que nos será perguntado no próximo referendo É APENAS se os hospitais e clínicas têm o direito de oferecer serviços de aborto.
    »

...E tem toda a razão. A pergunta do referendo refere-se exclusivamente à despenalização da interrupção de gravidez realizada «em estabelecimento de saúde legalmente autorizado». Não institui uma obrigação do Estado de apoiar a realização de interrupções voluntárias de gravidez. Espero que todos os que vamos votar «sim» o façamos conscientes disto: quer os que defendem que o Estado não pague IVG´s, quer os que defendem que sejam feitas em clínicas privadas protocolizadas com o Estado, quer os que defendem que sejam feitas em hospitais públicos. Eu sou favorável à última possibilidade, mas concedo que depende do governo do momento decidi-la. O referendo é exclusivamente sobre a questão jurídica e penal.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

O corpo e o seu domínio

Depois do (estimulante) debate de sexta-feira, continua a discussão (inesgotável?) sobre a despenalização da IVG. O Ludwig Krippahl interpelou-me sobre o «critério da autonomia».
Convém que se diga que não acredito em «direitos naturais» (direitos sem Estado?), nem em «tribunais naturais» (tribunais sem Estado nem Direito?) mas que acredito em «prisões naturais»: o útero é uma prisão natural. O Estado não pode retirar um embrião de oito semanas do útero sem o matar (e o mesmo acontece dez ou doze semanas depois da concepção). Portanto, quer queiramos quer não, em qualquer gravidez o poder coercivo do Estado está limitado por um facto da natureza: o poder da mulher sobre si própria e sobre o seu útero.
Em qualquer debate político ou jurídico, é conveniente começarmos mesmo por aqui: por verificarmos se estamos a falar de algo que a cultura ou a tecnologia criadas pela humanidade permitam controlar. No caso de uma mulher grávida de dez semanas, estamos a falar de algo que a sociedade ainda não controla. Legislar impondo que a mulher prolongue a sua gravidez mesmo que o não queira é mais um caso em que a cultura se vira contra a natureza. Há casos em que isso é legítimo, neste parece-me que não é.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Azar Majedi: «Revisiting the question of the veil: Must the veil be banned?»

«The question of the veil has become a heated debate in the British media. In this debate some fundamental principles seem to be at stake: Individual freedom to practice one’s religion, freedom of choice, freedom of clothing and discrimination against a particular community, that is, the so-called Moslem community. Islamists and some human rights activists maintain that the so-called Moslem community is being stigmatized and have been under racist attack since September 11th. They argue that the latest attempts to ban burke or the nighab is a violation of individual freedom and another racist attack on Moslems. Let’s examine these issues closer.
Two events following one another brought up the question of the Islamic veil in the British media: Jack Straw’s comment on the women wearing the nighab and the case of Aishah Azmi, a 24 year old support teacher, who was ordered to take off her full veil, including the nighab. She took the school to court and the court decided in the school’s favour, and so she appealed against the court’s decision.
In my opinion defending the right to wear the veil in any form or shape and in any circumstances as freedom of choice is fallacious. It overlooks other, just as important, rights recognised by modern civil society. In unconditionally defending the right to wear the veil, one comes, at best, in collision with other set of rights, i.e. children’s rights, women’s rights, societal rights, and the principle of secularism. In debating about the freedom of wearing the veil, one must take different circumstances into consideration. 1. The age of the person wearing the veil. 2. The extent of the veil and 3. Where the veil is worn.
###
(...)
The argument that classifies the veil as a style of clothing is totally misleading. The veil is a religious ritual, a religious costume. Moreover, nowadays the veil has become the political banner of a political movement, namely, political Islam. The veil has become the symbol of Islamic power. Wherever Islamists gain power, they force the veil on women, as a sign of their victory and supremacy.
Why is this argument relevant to our discussion? It may be argued that irrespective of its religious or political character and significance, one must be free to wear any “political or religious symbol” one chooses to wear. My response, and I believe many others’, to this is a categorical NO. It must be said that in most countries, including Western democracies, there are certain dress codes at workplaces and wearing different political symbols or religious ones are not allowed in the workplace. Therefore, the veil must also be viewed in this light. We should tear out all this romantic falsification surrounding the veil. The veil is a religious and political symbol of a religion and movement that degrades and deprives women.
(...)
The veil is both the symbol and the tool for women’s subjugation. Islam, as in fact, all other religions, is a misogynist ideology. Islam is a direct product of sheer patriarchy. Islam, particularly, due to its earthly characteristics, penetrates every aspect of private and social lives of men and women. A woman, according to Islam, is an extension and subject of a man. She does not have an independent identity and is defined by her master. The veil has been prescribed to hide men’s property from potential violators. A “free” woman, according to Islam, is considered an open and free target, a free ride.
(...)
The veil is a pure discrimination against girls. It hampers their physical and mental development. It segregates them from the rest of the society. It restricts their growth and future development. It assigns to them a prescribed social role according to their gender and a division of labour. Therefore it must be banned. Society is duty-bound to safeguard free, healthy and normal development of these girls. It is a crime to ignore this obligation. Freedom of choice is purely nonsensical regarding the veil for underage girls. “A child has no religion”. It is the parents’ religion that is imposed on the child. The society must respect the child’s right to a free development.
(...)
In a secular society, religion must be a private affair of any individual. The state must be separated from religion and stay away from promoting any religion. A secular society can better defend individual rights and civil liberties. Contrary to the commonly held belief, religious hatred or communal stigmatization can better be avoided in a secular society. In a secular society wearing or carrying any religious symbol at state institutions and in the place of education must be prohibited. By doing this, the state and the educational system do not promote any particular religion. Religion remains in the private sphere and clashes between followers of different religions is somewhat avoided. Therefore, I believe that the recent legislation in France regarding the banning of wearing any religious symbols in state institutions and schools is an appropriate step in the right direction.
(...)
when dealing with burke or the nighab, we surpass the sphere of individual rights. Here, we enter the sphere of what I call societal rights. The person under this kind of veil has no identity in the face of fellow citizens. The society cannot work with faceless humans. At a workplace, and I mean any workplace, it is the right of the fellow workers and customers to see the face of their colleagues or the personnel. There is also the issue of trust at stake. You can not trust the person who has covered their face. Eyes and facial expressions are the key to communication, if you hide these, there can be no real communication.
(...)
Hopefully, we come to the agreement that certain limitations must be imposed on the veil: banning of all shapes of the veil for underage girls. The use of the veil at public workplaces and educational institutions and total ban on burke and the nighab

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Revista de blogues (10/11/2006)

  1. «A campanha neo-con que V. Exa. prossegue na direcção desse jornal tem conhecido, até hoje, muitos episódios lamentáveis. Mas a capa da edição da última segunda-feira é positivamente um nojo. A manchete «Tribunal iraquiano condena Saddam Hussein à morte» é ilustrada com uma foto do taxista Khatab Ahmed de braços no ar, celebrando, na sua casa. O que simboliza o taxista Ahmed? A alegria unânime do povo iraquiano pela condenação do tirano? Ou a celebração do próprio jornal Público? A pergunta é necessária, pois a foto não ilustra directamente o acontecimento noticiado – não é uma foto do tribunal, ou do réu – mas uma reacção à sentença. Basta consultar qualquer órgão de imprensa para concluir que a condenação por enforcamento de Saddam Hussein não foi recebida com uma celebração unânime, mas, pelo contrário, com uma profunda divisão segundo as linhas étnicas que neste momento colocam extensas áreas do país em guerra civil. Nas zonas de maioria sunita, a sentença foi acompanhada de um decreto de recolher obrigatório para obviar aos protestos, e em Tikrit tal decreto não pôde sequer ser cumprido face à magnitude das manifestações. O Público opta por ilustrar uma condenação à morte com uma celebração – mas, em termos noticiosos, não se percebe porquê. (...)» («Carta aberta ao Director do Público», no 5 dias.)
  2. «- Festival de poesia do Porto Santo: € 301.338,00 - Restauração de órgãos de igrejas: € 1.534.694,00- Campanha de imagem: € 9.838.173,00 - Material promocional: € 4.937.262,00 - Festa do fim do ano: € 64.720.184,00 - Promoção de provas automobilísticas: € 4.254.725,00 - Promoção do golfe: € 4.893,008,00 - Subsídios aos clubes de futebol «Marítimo» e «Nacional»: € 21.358.448,00 - Ajudas para as deslocações dos clubes de futebol «Marítimo» e «Nacional»: € 10.157.800,00 - Participação no capital das S.A.D.’s dos clubes de futebol «Marítimo» e «Nacional»: € 87.500,00 - Apoios a outros clubes de futebol: € 21.060.936,00 Total destas pequenas e singelas 11 rubricas: € 143.144.068,00.Por coincidência, um valor próximo do tal aumento do endividamento líquido da Região Autónoma.» («O Bailinho da Madeira», no Random Precision.)

Bondade e violência

Entrevista de Martin Amis na Newsweek com algumas coisas interessantes:
  • «You recently wrote a fictional story about Muhammad Atta's last day on Earth. What drew you to him as a character?
    Amis: His face, so rich and malevolent that it haunted me.
    In the story you describe jihad as the most charismatic idea of Atta's generation. Do you really believe this?
    It's self-evidently true. You're always onto a winner if you can persuade people they can be righteous and violent at the same time. Nothing beats that. Officially sanctioned violence is unimprovable. And with this paradise which they've stirred into the mix—whereby with an act of mass murder, you gain the keys—you've got a very attractive idea. Also, it gives the "nobody" a chance to play a decisive role in world history, and there are lots of people who are going to be drooling at the thought of that
Estou cada vez mais convencido de que o poder social da religião, e até a sua sobrevivência ao longo da história, começa aqui: na apresentação de justificações «éticas» para a violência. Convencer as pessoas de que (1) são bondosas porque aderiram à religião certa; (2) que para defender essa religião de bondade é legítimo matar; são passos presentes em quase todas as religiões do tronco abraâmico. E esses passos criam unidade de grupo e guerreiros dispostos a tudo. Que mais é necessário para defender uma sociedade?

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Como criar um rumor racista

  • «Já quase todos ouviram a história: o pai deixou a filha à porta de uma loja chinesa e aguardou no estacionamento. Após uma longa espera, procurou-a no interior da casa comercial, mas ninguém a tinha visto. Num gesto de desespero, chamou a polícia, que, ajudada por cães treinados, conseguiu detectar a jovem. Estava escondida numa zona obscura, de acesso por alçapão, e em várias partes do seu corpo havia marcas enigmáticas. A jovem é libertada... pouco antes de ser "morta para tráfico de órgãos".
    A mensagem navegou na Internet, reenviada de amigo para amigo, daqui para um conhecido, e não tardou a correr de boca em boca por cidades e aldeias. Como qualquer boato, muitas vezes repetido, torna-se em "verdade". Uma verdade construída, ampliada pelo medo
    .» (Diário de Notícias)

terça-feira, 7 de novembro de 2006

O neoliberalismo necessita do clericalismo

Na entrevista atrás referida, Hayek mostra-se agnóstico mas clerical.
  • «Do you believe in God?
    I have never understood the meaning of the word God. I believe that it is important in the maintaining of laws. But, I insist, as I do not know the meaning of the word God, I am unable to say either that I do or don't believe in his existence

O clericalismo de Hayek nada tem de surpreendente: ao enfraquecer o Estado, e particularmente ao esvaziar as funções sociais do Estado, os «neoliberais» necessitam das igrejas tradicionais para manter o conformismo social, e também para substituir serviços públicos de apoio social pela caridadezinha...

Hayek tinha aliás boa impressão de Karol Wojtyla, que o convidara para uma discussão com outros prémios Nobel. Na segunda parte da entrevista, a esperança de que a ICAR aprove moralmente o capitalismo contemporâneo sobe à superfície.

  • «Even if the Church may not be anti-liberal, there have been ecclesiastical pronouncements against capitalism.
    Listen. I don't like the word capitalism either, and I would be happy to change it. But I do not believe that the Church has come out officially against the market economy, and the old doctrines concerning interest are a thing of the past. Indeed, major Church representatives, including cardinals, and among them the primate of Germany, support the social market economy. There is no official opposition from the Church, it has simply abandoned a few restrictions. It has to be said, moreover, that priests' involvement in socialist movements is almost exclusive to Spanish-speaking countries.
    »

Creio que os seguidores do «liberalismo austríaco» estarão ainda mais em sintonia com o actual Papa, Joseph Ratzinger, que aliás se dedicou na sua primeira encíclica a criticar o marxismo e a defender a caridade...

Pois, realmente não estou a imaginar...

Comic

(Jesus and Mo)

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Debate sobre a despenalização da IVG

Debate sobre a despenalização da Interrupção Voluntária de Gravidez
Pelo «sim»: Palmira Silva
Pelo «não»: Ludwig Krippahl
Local: Centro Escolar Republicano Almirante Reis (Rua do Benformoso, nº50, 1º andar, Mouraria, Lisboa)
Data: 10 de Novembro de 2006, às 18h45m
(Organização em parceria Associação República e Laicidade e Centro Escolar Republicano Almirante Reis)

domingo, 5 de novembro de 2006

Os «liberais» e as ditaduras

O «liberalismo austríaco» proposto em blogues como o Blasfémias ou O Insurgente, embora sempre embrulhado num uso profuso e capcioso da palavra «liberdade», é não apenas compatível com regimes ditatoriais como até pode necessitar de uma ditadura para se desenvolver. Efectivamente, o guru dos «liberais», Hayek, deu uma entrevista em 1981, no Chile pinochetista, onde defendeu abertamente que as ditaduras têm as suas vantagens e até podem ser indispensáveis.
  • «What opinion, in your view, should we have of dictatorships?
    Well, I would say that, as long-term institutions, I am totally against dictatorships. But a dictatorship may be a necessary system for a transitional period. At times it is necessary for a country to have, for a time, some form or other of dictatorial power. As you will understand, it is possible for a dictator to govern in a liberal way. And it is also possible for a democracy to govern with a total lack of liberalism. Personally I prefer a liberal dictator to democratic government lacking liberalism. My personal impression — and this is valid for South America - is that in Chile, for example, we will witness a transition from a dictatorial government to a liberal government. And during this transition it may be necessary to maintain certain dictatorial powers, not as something permanent, but as a temporary arrangement
Tendo em conta o local e o momento da entrevista (Chile, 1981), o que Hayek está a dizer é que prefere Pinochet (um «ditador liberal») a Allende (um «democrata não liberal»). E faz disso uma regra geral: pode ser necessário um regime autoritário para defender aquilo que ele chama «liberalismo» (a propriedade privada entendida como direito absoluto, os impostos baixos ou virtualmente nulos, os privilégios das grandes empresas, etc.). A passagem é preciosa porque precisa que o «liberalismo» de Hayek considera secundárias as liberdades que os democratas tomam como fundamentais (direito à vida, liberdades de expressão, de reunião e de associação, julgamento justo), e prioriza as «liberdades» económicas. Mas a seguir vem uma passagem ainda mais interessante:
  • «Apart from Chile, can you mention other cases of transitional dictatorial governments?
    Well, in England, Cromwell played a transitional role between absolute royal power and the limited powers of the constitutional monarchies. In Portugal, the dictator Oliveira Salazar also started on the right path here, but he failed. He tried, but did not succeed.»
Este pedaço é assustador. O que o guru liberal diz, explicitamente, é que Salazar começou «no bom caminho», e que pretendia fazer uma transição para um regime de «poderes limitados» mas que falhou. O «falhanço» de Salazar, para Hayek, será o quê? O 25 de Abril?

sábado, 4 de novembro de 2006

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Peña-Ruiz: «La religion, service public? Cinq questions à Nicolas Sarkozy»

«(...)
Première question. Les humanistes athées doivent-ils jouir des mêmes droits que les croyants?
Dans votre livre sur la République et les religions, vous accordez un privilège à l'option religieuse. Selon vous, en dehors de celle-ci, il ne serait pas possible de donner à la conduite de l'existence les repères de sens dont elle a besoin. Sartre l'athée et Camus l'agnostique devaient donc être perdus devant les problèmes de la vie...Et Bertrand Russel, qui écrivit "Pourquoi je ne suis pas chrétien" devait se trouver démuni devant les questions éthiques. Ne pensez-vous pas que celui qui ne croit pas au ciel a de quoi être blessé par votre préférence?
(...)
###
Deuxième question. Quelle égalité s'agit-il de promouvoir?
Vous dites vouloir l'égalité des religions entre elles, et pour cela vous envisagez de construire sur fonds publics des lieux de culte, notamment pour permettre aux citoyens de confession musulmane de compenser leur déficit en la matière par rapport aux catholiques, qui jouissent d'un usufruit gratuit des églises construites avant 1905, même si cet usufruit, par "affectation spéciale" est limité aux seuls moments de pratique religieuse. Vous ne demandez pas le même financement pour des maisons de la libre-pensée ou des temples maçonniques.
Êtes-vous donc partisan de la discrimination entre les citoyens selon les options spirituelles dans lesquelles ils se reconnaissent? L'égalité républicaine se réduirait-elle pour vous à l'égalité des divers croyants, à l'exclusion des humanistes athées ou agnostiques? Parler en l'occurrence de "toilettage" de la loi de séparation de 1905 est un euphémisme trompeur. Rétablir le financement public des cultes, c'est raturer un des deux articles de cette loi, inscrits sous la rubrique "Principes". "La République ne reconnaît, ne salarie, ni ne subventionne aucun culte" Avouez que renoncer à un principe sur deux, c'est plus que "toiletter" la loi. C'est l'abolir.
On ne peut en l'occurrence assimiler l'entretien du patrimoine historique et artistique constitué par les édifices du culte légués par l'histoire, et laissés en usufruit partiel aux associations cultuelles, à une règle de financement. Dans un état de droit, aucune loi n'est rétroactive. Depuis le premier Janvier 1906, toute construction d'un nouveau lieu de culte est à la charge des seuls fidèles, quelle que soit la religion en jeu. Telle est la règle, et les entorses trop fréquentes qui la bafouent ne sauraient pas plus faire jurisprudence que le fait de griller les feux rouges n'appelle leur abolition.
Troisième question. Quelle priorité pour les pouvoirs publics?
Le rapport Machelon, qui a votre sympathie, utilise le concept de liberté de religion, pour permettre le glissement du "libre exercice des cultes", garanti par le premier article de la loi, à la nécessité supposée de financer les cultes. Joli jeu de mots et vrai tour de passe-passe, qui risque de tromper. En République, seul l'intérêt général, commun à tous, portant sur les biens et besoins de portée universelle, mérite financement public.
Or la religion n'est pas un service public, comme l'instruction, la culture ou la santé. Elle n'engage en effet que les fidèles, c'est-à-dire une partie des citoyens seulement. La puissance publique, dont les fonds résultent des impôts payés par des athées autant que par des croyants, n'a donc pas à financer les cultes, pas plus qu'elle n'aurait à financer la diffusion de l'athéisme. En convenez-vous? La question est grave, à l'heure où l'ultralibéralisme économique entend dessaisir l'État de son rôle social, et soumettre à la loi du marché les services publics préalablement privatisés.
L'État, jugé trop pauvre pour assurer les finalités sociales des services publics qui concernent tous les citoyens (éducation, culture, santé, accès à l'énergie et à la communication) serait donc assez riche pour financer l'option religieuse qui pourtant n'en concerne que certains. Voulez-vous sacrifier l'universel sur l'autel du particulier? Nos hôpitaux manquent de moyens, notre école publique également. Révoltant paradoxe.
(...)
Cinquième question. Que reste-t-il de la laïcité, et de la République, si on rétablit un financement discriminatoire?
La République n'est pas une juxtaposition de communautés particulières. Il n'y a pas en France cinq millions de "musulmans", mais cinq millions de personnes issues de l'immigration maghrebine ou turque, très diverses dans leurs choix spirituels. Une enquête récente dont Le Monde s'est fait l'écho, précise que seule une petite minorité de cette population fréquente la mosquée, la majeure partie faisant de la religion une affaire privée, ou ne se référant à l'Islam que par une sorte de solidarité imaginaire. Dès lors, la République doit-elle renoncer à la laïcité pour satisfaire cette minorité, ou concentrer les deniers publics sur la redistribution par les services publics, la gratuité des soins, le logement social, ou la lutte contre l'échec scolaire, qui concernent à l'évidence tous les hommes, sans distinction de nationalité ou de choix spirituels?
(...)»
(Henri Peña-Ruiz; texto recebido do boletim electrónico ReSPUBLICA.)

Revista de blogues (3/11/2006)

  1. «O socialismo moderno não rejeita o mercado, mas desconfia dele. Ao contrário dos neo-liberais ou dos comunistas, os socialistas não encontram nenhum tipo de valor positivo ou negativo no mercado; e têm a história pelas costas a dar-lhes razão. O credo neo-liberal no mercado é absurdo, porque se trata de evidente ideologia, extremada a quase uma religião; a rejeição do mercado pelos comunistas é absurda por provocar a paralisia social. O mercado, para o socialista moderno, é um instrumento, que deverá ser posto ao serviço da sociedade, e nunca o contrário.» («Breves sobre o socialismo moderno», no 2+2=5.)
  2. «Quando veremos os fazedores domésticos de opinião explicarem-se e retractarem-se publicamente sobre a guerra do Iraque, sobre Guantanamo, bem como sobre a tolerância da tortura e dos cárceres privados nos quatro cantos do mundo a pretexto da guerra contra o terrorismo?» («Onde pára a direita belicista portuguesa?», no Canhoto.)
  3. «1. Amar o Mercado sobre todas as coisas. 2. Usar o nome da Liberdade sempre que possível; clamando, acima de tudo, que as ideias dos outros (leia-se "a Esquerda") a ofendem. 3. Nunca, mesmo em momentos de fraqueza, não rir ao mencionar o "Aquecimento Global". 4. Honrar qualquer governo dos EUA, desde que Republicano. Idem para Israel, mas independentemente do seu governo. 5. Abjurar a ideia de que a sociedade deve proteger os mais fracos; trata-se de uma tirania insuportável sobre os mais fortes e ricos. (...) 10. Acusar quem não acate qualquer um dos Mandamentos supra de iliteracia económica, corrupção científica, má-fé, ateísmo ou mesmo — t’arrenego! — comunismo.» («Os 10 Mandamentos Liberais», no Aspirina B.)

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

"Os ricos"!

Há pessoas que não percebem nada e deixam comentários absolutamente ilógicos neste blog: se eu "não gosto" dos EUA devo ir para a Coreia do Norte, se os EUA funcionam melhor que Portugal, porque é que eu critico os EUA, ou porque é que eu não percebo que os ricos são importantes para a economia, etc.

Quase ninguém entre os mais de 200 milhões de americanos que pensam como eu em relação a este assunto odeia os ricos em abstracto.

Todas as pessoas normais percebem que não se pode classificar e julgar as pessoas assim (“os ricos”, “os judeus”, “os muçulmanos”, etc.). Nos anos sessenta, para gozar com o movimento neo-realista, o cineasta Luis Buñuel fez um filme delicioso - Viridiana – em que os ricos eram católicos e pessoas óptimas e generosas, e os pobres eram feios, porcos e maus, mesquinhos e miseráveis.

O que se discute aqui é o problema da viabilidade da democracia, quando os políticos dependem dos 1% mais ricos para serem eleitos. Só isso.

Ora eu não acho que isto seja uma discussão perigosa, cujo resultado nos leve necessariamente ao comunismo, nihilista e ateu, e que portanto nós todos, que achamos que este sistema é perigoso (200.000.000 de americanos, incluindo o candidato presidencial republicano John McCain, que levantou primeiro esta questão no Senado) nos devamos mudar para a Coreia do Norte.

A unidade da raça humana

(Os dois bebés são irmãos gémeos.)