Qual será a situação de Portugal daqui a uns anos?
O problema da dívida continuará a agravar-se, o crescimento continuará anémico, o desemprego continuará a aumentar?
Ou,
pelo contrário, o aumento do desemprego estancará e até haverá alguma redução, o crescimento será superior, a
dívida começará a diminuir?
Ao contrário de grande parte da opinião expressa à Esquerda, eu simplesmente não sei. Parece-me possível que pouco antes das próximas legislativas se consigam vislumbrar alguns sinais de melhoria... Seja por causa do
ciclo económico em si, ao que se acrescentará o abrandamento da austeridade em vésperas de eleições, que já vem sendo nossa tradição; seja porque o
BCE consiga comprar mais e mais dívida pela calada, numa tentativa de adiar a crise do Euro sem lidar com as implicações políticas correspondentes. Ou seja porque entretanto a Troika encabece renegociações da dívida que nos sejam mais favoráveis, com medo que acabemos como a Grécia (por hipótese, com a luta dos gregos a garantir-nos que os próprios credores velem com «mais zelo» pelos «nossos» interesses do que o Governo de Pedro Passos Coelho...). Seja ainda porque realmente, e ao arrepio dos nossos representantes eleitos, existam alterações estruturais na UE que permitam efectivamente alterar as regras do jogo a nosso favor(?), para que o Euro não colapse. Ou seja por qualquer outra razão. Há tantos imponderáveis...
Também é possível que não. Que, como muitos prevêem, se o autismo não parou até aqui, não é agora que vai parar. Que a dívida aumente, e aumente, e aumente. Que se atinja uma situação de ruptura, seja a saída de Portugal do Euro, seja o fim da moeda única, sejam movimentações populares sem precedentes que ponham em causa a legitimidade dos governantes.
Neste mundo globalizado, num mercado comum e com uma moeda única, muito do futuro de Portugal não é decidido pelos portugueses. Aquilo que para mim é importante e fundamental é perceber se, naquilo que está nas nossas mãos para sair da crise, tomamos as medidas certas ou agravamos o problema.
E é por isto - não pelas perspectivas de futuro, que para mim são incertas - que eu não confio neste governo.
Facilitar os despedimentos é algo particularmente gravoso na situação de crise que se vive.
Diminuir os subsídios de desemprego também. Tornar os transportes públicos
mais caros tem um impacto negativo na balança comercial. Diminuir o número de
feriados, e logo o
5 de Outubro entre eles, é um
disparate que vai agravar os problemas.
Aumentar as taxas moderadoras é fazer recair os sacrifícios naqueles que mais têm sofrido com a crise. Privatizar ao
desbarato,
sem transparência, é delapidar os recursos públicos. Manter todo o tipo de
desperdícios e
negociatas é indefensável. Investir os parcos recursos disponíveis
na repressão é prejudicar o desenvolvimento do país.
O problema é que as
asneiras são
tantas, que é impossível dar a cada uma a resposta que merece.