- «Angola é assunto que por cá se trata com pinças. Não foi sempre assim; (...) Seria interessante perceber a partir de que momento se verificou tanta cautela - para, provavelmente, concluir que coincide com o adensar dos interesses económicos "bilaterais" e com os investimentos de empresas angolanas em Portugal, nos media em particular. Portugal não está só nesse silêncio. Há um ano, por ocasião das legislativas angolanas, o jornal britânico The Guardian titulava um artigo "José Eduardo dos Santos, o autocrata menos conhecido de África", frisando manter-se no poder há 33 anos (agora 34) e que, filho de um pedreiro, toda a vida quadro de um partido de génese comunista, acumula na sua família imediata - os filhos, com relevo para a mais velha, Isabel, de 40 anos, considerada a mulher mais rica de África - uma imensa fortuna. (...) Como repórter no Médio Oriente, Henrique Cymerman, embora cerimonioso, nunca surgiu timorato. Perante dos Santos e afirmações como "Angola é uma democracia de carácter social"; "estamos a trabalhar para erradicar a pobreza, a nossa maior preocupação é o fosso entre ricos e pobres mas temos a herança que vem do tempo colonial", ou "a corrupção é um problema em todos os países mas temos agido para que as pessoas não se apropriem do que não é delas", coibiu-se de contrapor o óbvio: apesar da sua abundância de recursos, e de ter sido descolonizada há 38 anos, Angola está na cauda do índice de desenvolvimento humano; a família do Presidente apresenta um nível de riqueza e de proeminência nos negócios dificilmente explicável por outro fator que não a sua proximidade ao poder. O desplante é tal que um dos filhos faz parte da direção do fundo soberano de Angola, criado, com uma dotação inicial de cinco mil milhões de euros, por ordem presidencial em 2012; a outra foi atribuída a gestão de um dos canais da TV pública. Das duas, uma: ou Cymerman veio do espaço no dia da entrevista (Israel não é assim tão longe) ou foi condicionado nas perguntas. (...)» (Fernanda Câncio)
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
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