- «(...) Quando, às 17.30, me apercebi que nada pararia uma minoria de idiotas, abandonei o local. Muitos decidiram ficar, mantendo a devida distância dos desordeiros, sem que, como vimos mais tarde, isso os livrasse de ser vítimas da violência policial. Era certa a injustiça: a enorme coragem que tantos trabalhadores portugueses mostraram, ao correr o risco de fazer greve (muitos deles precários e em risco de perderem o emprego) e ao perder um dia de salário que tanta falta lhes faria, seria esmagada pelas imagens de violência que sempre têm a preferência dos media. (...) Disse o ministro que as provocações - que existiram - eram obra de "meia dúzia de profissionais da desordem". Se eram meia dúzia (facilmente identificável depois de uma hora e meia de tensão), porque assistimos a uma carga policial indiscriminada, que varreu, com uma violência inusitada e arbitrária, tudo o que estava à frente? Porque foram agredidos centenas de manifestantes pacíficos, só porque estavam no caminho, naquilo que, segundo a Associação Sindical da PSP foi a "maior carga policial desde 1990"? (...) Como é possível que tenham sido detidas dezenas de pessoas no Cais do Sodré e noutros locais da cidade, sem que nada tivessem feito a não ser fugir de uma horda de polícias em fúria e aparentemente com rédea solta para bater em tudo o que mexesse? Entre os detidos e os agredidos estava muita gente que, estando tão longe de São Bento, nem sequer tinha estado na manifestação ou sabia o que se passava. Como é possível que dezenas e dezenas de pessoas tenham sido detidas em Monsanto e na Boa Hora sem sequer lhes tenha sido permitido qualquer contacto com advogados, como se o País estivesse em Estado de Sítio e a lei da República tivesse sido abolida? (...) O ministro da Administração Interna garantiu que, ao contrário do que foi escrito em vários órgãos de informação, não havia agentes infiltrados na manifestação, a promover os desacatos para excitar os mais excitáveis e justificar esta intervenção. Fico-me por aqui: sei o que vi antes de me vir embora. E os agentes infiltrados começam a ser cada vez mais fáceis de identificar. Já uma vez o ministro desmentiu uma notícia semelhante que depois ficou provada. (...)» (Daniel Oliveira)
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
Quando, às 17.30, me apercebi que nada pararia uma minoria de idiotas, abandonei o local.
ResponderEliminarFez muito bem, e fez o que todos os outros deveriam ter feito.
Está então apresentada a solução para pôr fim a todas as manifestações: uns poucos portam-se mal e todas os restantes fazem o favor de dispersar.
ResponderEliminarFrancisco Burnay,
Eliminarnão havia manifestação nenhuma. A manifestação da CGTP já havia terminado. As pessoas que ali estavam, no meio da rua, perturbando o tráfego e os moradores, não tinham qualquer direito de ali estar.
Ou você julga que tem o direito de fazer ajuntamentos em qualquer local que lhe dê na gana, a qualquer hora do dia ou da noite que lhe dê na gana, perturbando a vida normal das outras pessoas?
As manifestações estão regulamentadas: fazem-se em local permitido e a hora permitida. Para além disso, são ajuntamentos ilegais de pessoas, que podem e devem dispersar quando a polícia lhes ordene.
Caro Luís Lavoura,
ResponderEliminarQuanto à inexistência da manifestação, sem querer cair no fanatismo da certeza absoluta e cingindo-me ao domínio da dúvida razoável no exercício pleno das minhas capacidades racionais, posso dizer-lhe que estou bastante convencido de que teve lugar uma manifestação à porta da Assembleia República no passado dia 14 de Novembro.
A manifestação da CGTP podia já ter terminado. Mas o direito à manifestação não se sublimou da Constituição depois de Arménio Carlos ter desligado o microfone. Os sindicalistas ainda não são demiurgos. Havia pessoas que estavam a manifestar-se de livre vontade e que ali foram convocadas para a manifestação, não tendo ainda abandonado o local.
Quanto aos ajuntamentos em qualquer lugar que me dê na gana, a qualquer hora do dia ou da noite desde que não perturbe a vida normal das pessoas não envolvidas, creio que tenho o direito de os organizar. Nem por isso deixei de sentir que talvez não, já que uma vez fui interrogado pela polícia sobre o que é que estava a fazer numa reunião informal (nem sequer era uma manifestação) de um movimento cívico a que pertenço, num jardim público ao pé do Arco do Cego.
Quanto às manifestações que perturbam a vida dos cidadãos (membros do Governo incluídos), é certo que o Código Civil prevê direitos e responsabilidades. Mas centenas de pessoas não desaparecem de uma hora para outra, nem toda a gente conhece os detalhes da convocatória da CGTP. As pessoas são livres de empunhar cartazes e, de resto, o direito à manifestação como está consagrado na Constituição e no Código Civil envolve detalhes que nem toda a gente conhece. Mas creio que essa ignorância, apesar de não completamente ilibatória, não é caso para bastonadas.
Os "ajuntamentos ilegais" de pessas não são ao gosto do polícia. Há uma cadeia de comando que conhece, ou devia conhecer, a lei. Ordenar uma dispersão é uma coisa. Correr tudo à cacetada depois de 2 horas em que basicamente se deu rédea solta, é outra.
Longe de mim querer ilibar os idiotas que resolveram apedrejar a polícia. Mas porque é que a polícia não interveio imediatamente em relação a esses arruaceiros? Porque os deixou continuar a insultar, a apedrejar, a partir, a queimar? Desde quando é que esse papel cabe exclusivamente aos manifestantes?
Os cidadãos que assistiam - e sim, um cidadão pode assistir a manifestações que não convocou e sem subscrever o manifesto - pagaram pelos erros alheios.