terça-feira, 23 de outubro de 2012

Nível de exigência da imprensa ou Como a capa do Público tem uma notícia com mais de um ano

I
06 Outubro 2011 : ONU publica estudo sobre homicídios em vários cidades mundiais
Janeiro 2012: Uma organização mexicana publica um texto baseado no estudo da ONU
Início de outubro 2012: alguma imprensa internacional pega neste último estudo
23 Outubro 2012: a notícia chega à capa do Público

II
11 Outubro
Tendo findado o contrato anterior, o Grupo Parlamentar do PS opta por mudar a empresa com a qual tem o contrato de aluguer de automóveis, ficando com uma factura mais baixa.
O JN tem uma manchete que fala em centenas de milhares de euros gastos na "renovação da frota". A imprensa faz copy paste de modo acefálico.
Assis comenta que mesmo que tivesse escolhido alugar Clios, a imprensa teria caído no mesmo populismo.
A imprensa noticia então que Assis teria dito que "Qualquer dia querem que o líder parlamentar do PS ande de Clio". O copy paste acéfalo repete-se.

III
17 Outubro 
A propósito do meu culpa do economista-chefe do FMI sobre os erros nas previsões sobre o impacto económico de curto-prazo da retração do consumo público, o Público faz um exercício simples de cálculo, que é trazido para a manchete, sobre os novos números do FMI e o orçamento português.
Alguém, fora do Público, mete na cabeça que as contas são do FMI e noticia que é o próprio FMI que prevê o PIB pode cair até 5,3%. A imprensa faz copy paste acriticamente.


São apenas três histórias (entre várias) que notei na última semana, mas muitas mais haverá. Histórias que mostram o funcionamento atabalhoado da imprensa. Bem sei que a queda da procura leva à diminuição de recursos, ao uso e abuso de estagiários com pouca preparação, etc. Contudo um restaurante que vende comida estragada não se pode desculpar com a pouca procura que tem, cabe a ele vender algo melhor.
O financiamento público para o quatro poder, que defendi há dias, deveria ser feito em troca de uma exigência de rigor maior por parte do Estado. O direito de resposta deveria ser alargado e destacado; organismos independentes como o INE e o Banco de Portugal seriam ser incentivado a corrigir notícias em que os seus dados são distorcidos; a imprensa seria obrigada a indicar o link para a fonte (declarações audio, relatórios oficiais) das suas notícias de modo a facilitar a sua verificação; os visados deveriam ter sempre espaço para contraditório.
A exigência que a imprensa tem para consigo, e que nós, cidadãos, temos para com ela, também é um perigo para a democracia.

2 comentários:

  1. Isso não é nada comparado com as notícias do género «Vida marciana começou no Alentejo», que andaram pelos jornais esta semana...

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