- «A esquerda perde e a direita ganha eleições. E ganha com a ideologia e as receitas que estiveram na origem da crise. Este paradoxo é a grande questão que se coloca aos socialistas que estão a desaparecer do poder em toda a Europa ocidental. (...) O colapso do capitalismo financeiro, que criou uma oportunidade histórica para a esquerda, está, afinal, a beneficiar a direita. O que levanta o problema de saber para que servem os partidos da esquerda, os de protesto e os de governo. É uma questão ideológica que não pode ser iludida.(...) O capitalismo mudou de natureza para dar lugar a um hiper capitalismo financeiro sem entrave nem regras. Mudou também o processo produtivo. Desapareceram as grandes concentrações industriais que foram a base do movimento operário. A globalização trouxe a deslocalização e a fragmentação. A representação política e sindical tornou-se mais complexa. (...) A ideia de que não há outra saída e estamos condenados ao poder dos mercados financeiros transformou-se num novo consenso, uma espécie de fatalidade veiculada por todos os meios através dos quais se estabeleceu esta nova hegemonia. (...) “Somos pessoas, não somos mercados”, clamou-se na Plaza del Sol. A democracia está cada vez mais refém do poder dos mercados financeiros. Vinte anos depois de Maastricht, não foi a Europa social que venceu o neoliberalismo, é este que está a destruir o modelo social europeu. Está em causa saber se o socialismo ainda tem sentido ou se, como advogou um dirigente do PS, do que se precisa é de “um choque liberal”. Não pretendo deter a verdade absoluta, não sou sectário e nunca fui dogmático, mas entendo trazer a público algumas sugestões:
- a)O PS deve manter uma atitude responsável e dialogante com o governo, mas de firme oposição a qualquer tentativa de ir mais longe do que o memorando da troika, nomeadamente contra a privatização das Águas de Portugal e da CGD. E deve impedir qualquer iniciativa que vise rever e pôr em causa os princípios fundamentais da Constituição, os direitos sociais e os serviços públicos, como o SNS, Educação, Segurança Social, Justa Causa. E deverá reponderar a privatização dos CTT.b)Deve recusar o papel que lhe querem impor no sentido de o encostar aos partidos à sua direita e quebrar o tabu do diálogo à esquerda com base num confronto ideológico sem complexos com o PCP e o BE. Que querem, afinal, esses dois partidos? Fazer uma revolução impossível num país imaginário ou contribuir, no quadro da democracia e da economia de mercado, para a governabilidade à esquerda, baseada em soluções que consubstanciem aquilo a que alguém chamou “um projecto de correcção”, que será, no contexto actual, a única via progressista possível? Talvez tenhamos que voltar aos velhos debates de “Reforma ou Revolução”. Recordo Olof Palme: “Fazer a revolução é fácil, difícil é fazer as reformas”.
- d) Espero que o próximo líder acabe com o culto do chefe, que se instalou nos partidos, e crie um espaço de respiração, liberdade e gosto pelo debate. Um partido onde se volte a discutir política. É sobretudo fundamental restabelecer a ligação afectiva com a base social. e) O PS deve articular com outros socialistas europeus a construção de uma alternativa que reponha na Europa a coesão e a solidariedade. Os povos não vão aceitar que os mercados continuem a impor a sua ganância, a fechar o futuro à juventude e a empobrecer os países, criando cada vez mais desemprego, exclusão e desigualdade. Se a esquerda não inverter esta situação, outros o farão por ela e contra ela. Não seria a primeira vez na História.» (Manuel Alegre)
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
O que aconteceu foi que o capitalismo, após a implosão da união soviética que funcionava como um forte contra-poder, tem vindo a tomar o freio nos dentes, a esquerda sente-se impotente e nesta os mais moderados (os socialistas) tem-se limitado a tentar apaziguar os donos do poder, leia-se o capital, o que obviamente os descridibilza. Agora é de esperar que com o freio nos dentes, o sistema, de derrapagem em derrapagem se auto-destru, so que até lá ainda vai passar muita agua debaixo das pontes. Uma nova guerra de proporções mundiais?! É uma hipotese a não descartar.
ResponderEliminarCom o fim da URSS, os ricos perderam o medo. A partir daí, como diz a Fernanda, tomaram o freio nos dentes. E com Maastricht ataram os socialistas à ditadura dos mercados.
ResponderEliminarO paradoxo é que a direita populista da Europa do norte tem beneficiado com esta crise. A esquerda radical do sul, não.