- «A comunicação de Cavaco é um veemente apelo à substituição de José Sócrates. A insistência na mudança só pode ser interpretada nesse sentido: se continuarmos na mesma – isto é, se continuarmos com Sócrates – ficaremos pior.
O mais grave, porém, é que a comunicação de Cavaco revela as suas limitações e a sua incapacidade para analisar a situação portuguesa em toda a sua complexidade. Ela não constitui uma análise serena e objectiva da situação. É antes a intervenção de um líder partidário, apenas capaz de analisar as coisas pelo prisma estreito dos interesses que defende e da limitada visão do mundo que o cerca. (...) - Cavaco não questiona o status quo, por mais aberrante que ele seja. A zona euro tal como foi concebida, os seus desenvolvimentos posteriores, a crise financeira internacional, as grandes manobras do capital financeiro e especulativo, coadjuvadas pela acção intrusiva das agências de rating, constituem para Cavaco um contexto inquestionável e indiscutível. As coisas são assim, porque alguém mais poderoso e mais forte do que nós assim o decidiu. Questionar tal contexto apenas servirá para atiçar ainda mais a acção daqueles que devemos respeitar …e se possível imitar. (...)Mas quem é que gasta acima das suas posses: são aqueles que ganham pouco e sucumbem, muitas vezes por necessidade, aos apelos da sociedade neoliberal de consumo que, depois de instaurar uma grande desigualdade na distribuição dos rendimentos, teve de baratear o crédito para garantir a sua própria subsistência e o seu permanente desenvolvimento ou aqueles que ganham muito acima daquilo que o seu trabalho realmente produz, ou os que recebem reformas milionárias por trabalho que não prestaram e descontos que não fizeram, ou os que, actuando no negócio do dinheiro, se endividam no estrangeiro para o emprestarem internamente a quem muitas vezes não está em condições de pagar tudo o que pede emprestado, ou ainda aqueles que constroem por todo o lado grandes superfícies, verdadeiros templos de despesismo e de consumo, que, na profusão com que existem, apenas servem para aumentar o endividamento, as importações e eliminar por completo qualquer hipótese de poupança interna? (...)» (JM Correia Pinto)
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
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