- «O pior que Manuel Alegre poderia fazer seria tentar agradar às segundas, quartas e sextas ao PS; às terças, quintas e sábados ao Bloco; e aos domingos aos seus antigos apoiantes. Quem tenta agradar a todos ao mesmo tempo quase nunca agrada a ninguém. Há equações impossíveis: em tempo de crise, não há como casar as direcções destes dois partidos. O mesmo não se pode dizer dos dois eleitorados: nem o eleitor do BE é estruturalmente anti-PS, nem o eleitor socialista está satisfeito com as grandes opções deste Governo.
Manuel Alegre tem um caminho e tem sido esse que, nos últimos meses, tem seguido: não se preocupar com esta contradição. Dizer o que pensa e confirmar a independência que o levou a contestar José Sócrates quando muitos socialistas que agora mostram incómodo seguiam o chefe. Sabemos que irá muitas vezes desagradar a direcção do PS, que o gostava de ver convertido a porta-voz do Governo, e que irá desagradar à direcção do BE, que o gostava de ver como uma farpa no pé de José Sócrates.
Acontece que Manuel Alegre não é candidato a primeiro-ministro. É candidato a Presidente da República. Ninguém pergunta a Cavaco Silva como votaria este Orçamento do Estado. É natural. Não o vai votar. Ninguém tem de perguntar a Manuel Alegre como votaria o Orçamento. Não é ao lugar de deputado que se candidata.
O que interessa em Alegre e em Cavaco não é se apoiam ou se se opõem a este Governo. Até porque não sabemos se conviverão muito tempo com ele. O que interessa é saber que valores fundamentais defenderão no seu mandato. E aí Manuel Alegre tem um discurso claro. Bem mais claro do que o de Cavaco Silva, para dizer a verdade: a defesa do Estado Social, da Escola Pública, do Serviço Nacional de Saúde e de direitos laborais fundamentais. A agenda que pode hoje definir aquilo a que genericamente chamamos de "esquerda". E que une, se não as direcções do PS e do BE, as suas respectivas bases sociais de apoio.» (Daniel Oliveira)
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
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