Julgo que ninguém, aqui e em França, duvida que Sarkozi é um crápula e que a expulsão de cidadãos da UE, legal ou não, é uma jogada política populista.
Acho importante, no entanto, que nos metamos na pele dos franceses que aplaudem esta iniciativa e tentemos imaginar porque o fazem.
Os imigrantes são frequentemente difíceis de integrar. Não se aprende uma língua de um dia para o outro e não se abraça uma cultura diferente em poucos anos. Sobretudo numa Europa economicamente deprimida e cheia de tensões étnicas e religiosas, onde os tecnocratas conspiram contra a classe média num ambiente tenebroso e anti-democrático.
Parece-me fácil demais atirar pedras a quem está farto de ser roubado, ou vive aterrorizado com a criminalidade associada a grupos de imigrantes. Estes problemas são sérios e requerem soluções sérias. Não se podem ignorar sob pena de vermos a extrema-direita eleita em toda a Europa em poucos anos.
A França tem um atradição longa de tolerância e tem feito um esforço enorme para receber e integrar milhões de imigrantes económicos. Quem é que não viu o filme de Laurent Cantet "Entre les murs"?
Acho que não nos devemos esquecer que as tensões entre franceses - de ascendência francesa ou outra - e imigrantes recentes têm causas reais: criminalidade, ruído, problemas sanitários, diferenças religiosas ou culturais difíceis de conciliar.
Quem de entre os críticos de Sarkozi na imprensa europeia não se importava se o vizinho de cima convidasse os primos todos (dúzias e dúzias de primos) para matar, esfolar e cozinhar um cabrito no andar de cima, ao domingo, a começar às sete da manhã, com a telefonia aos berros e o sangue a escorrer da varanda e pelas escadas abaixo? E o elevador (mais uma vez) vandalizado por magotes de miúdos mal educados?
Tenho um amigo holandês cuja mulher é frequentemente insultada em Amesterdão por andar sozinha e com a cara destapada. Em Zandvoort, o carro da minha sogra foi vandalizado quatro vezes seguidas em frente à casa para lhe roubarem gasolina. O vizinho de cima tentou impedir os miúdos, foi brutalmente espancado e acabou internado num hospital.
Há muitos anos, em Santarém, tive um acampamento de ciganos no jardim da casa em frente da minha durante mais de um ano. Adorei. A minha experiência foi óptima. Eram simpáticos e divertidos, tinham sempre a música aos berros dentro de uma das carrinhas - flamenco! - e tive imensa pena quando se foram embora. Mas sei que há pessoas que têm experiências muito diferentes com vizinhos de outras culturas.
«Há pessoas que têm experiências muito diferentes com vizinhos de outras culturas.» A solução é expulsá-los, construir um mundo em redor da Europa, esvaziada porque não quer ter filhos? Ou escolher raças «limpas» (já houve quem o fizesse...)?
ResponderEliminarEu vivi uns anos na Bélgica, num bairro bem burguês, onde era «descriminada» porque puxava o autoclismo depois das 22h. Também não somos sempre bons vizinhos...
Fácil? Claro que não, mas é assim o mundo - diferenciado e, definitivamente, misturado.
Joana,
ResponderEliminartivemos uma luta difícil com o cristianismo, de séculos, para organizar a sociedade em moldes que fossem aceitáveis para todos - mais ou menos religiosos, ou mesmo anti-religiosos.
Agora, em metrópoles europeias como Amesterdão, Bruxelas, Paris ou Londres, descobrimos (nem todos ainda o descobriram) que vamos ter que explicar tudo outra vez: que o corpo da mulher não é «impuro», que uma mulher pode andar de cara descoberta na rua (!), que se pode criticar a religião, etc. Em cima disto, temos os problemas de pobreza e criminalidade, que não resultando do islamismo, se combinam com o problema religioso por serem as mesmas pessoas.
Tenho o maior asco por Sarkozy, Wilders e Berlusconi. Mas não podemos meter a cabeça na areia e fingir que não existe um problema novo, porque o problema é bem real.
A França tem um a tradição longa de tolerância
ResponderEliminarnunca na prática
os bidonvilles cheios de portugueses ainda existiam nos anos 70
mesmo nos anos 90 se falamos bem francês e não somos pieds noirs nem argelinos podemos ser condescendentemente considerados
bons servos
os pieds noirs já arribaram há 50 anos são franceses
e mesmo hoje os seus descendentes em grenoble levam pancada com os argelinos de recente arribação
e tem feito um esforço enorme para receber...sim
e integrar milhões de imigrantes
não...
os guetos policiados são maiores do que os dos anos 30
quando deportavam os espanhóis para as mãos de franco
o filho do polaco ou português é francês
mas o pai é um corpo estranho
conjuntamente com convertidos
às missões que embora franceses
e católicos ainda têm a pele um poucochinho escura
eu sou francófobo só os do sul se safam e depende das zonas e o midi...
tem tantas variantes