- «Quando, há exactamente 10 anos, o carismático João Paulo II visitou Portugal, encontrou um país que tinha acabado de recusar a despenalização da interrupção voluntária da gravidez e onde o conceito de laicidade era ainda um conceito nebuloso, perdido num artigo 41º da Constituição a que poucos ousavam referir.
A evolução nesta última década da sociedade portuguesa alterou drasticamente a "Terra de Santa Maria", expressão com que Bento XVI se referiu recentemente a Portugal. Portugal é um país cada vez mais secular, com igrejas que a própria hieraquia reconheceu cada vez mais vazias, com uma lei de liberdade religiosa que estipula que “o Estado não adopta qualquer religião” e que “nos actos oficiais (…) será respeitado o princípio da não confessionalidade”. Nos últimos anos, Portugal legislou sobre uniões de facto, descriminalizou o aborto e acabou com o divórcio litigioso e, mais recentemente, o Parlamento aprovou a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, cuja publicação aguarda apenas a promulgação por um presidente da República que parece não se ter apercebido da nova realidade social.
A autonomização da sociedade civil em relação à religião institucionalizada, muito acelerada nos últimos anos, não tem sido aceite de bom grado pela hierarquia da Igreja que não parece disposta a aceitar o papel, marginal quando comparado com a influência profunda do passado, que a laicidade lhe reserva. - (...) Há dois anos, Carlos Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa e porta-voz do episcopado, afirmava que «depois do referendo sobre a IVG a sociedade portuguesa pensou que era laica». O timing desta vista papal quer corrigir o que a Igreja considera ser a desatenção da sociedade nacional. E embora o Estado português pareça estar a cumprir um acto de contrição por esse “pecado”, desdobrando-se em tolerâncias de ponto e preparativos completamente desajustados, cabe a nós cidadãos mostrar que somos mesmo laicos.» (Palmira Silva)
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
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