- «A adjectivação da laicidade tem marcado indelevelmente o léxico eclesiástico nos últimos tempos, numa tentativa de convencer os mais desatentos de que há uma laicidade má, normalmente designada por laicismo, e uma versão boa, a «laicidade inclusiva» ou a «laicidade positiva» a que se referiu Sarsfield Cabral. A conferência do cardeal-patriarca Policarpo «Laicidade e laicismo: Igreja, Estado e Sociedade», realizada em 10 de Outubro de 2007 no Centro Cultural de Belém, explica esta confusão. Para o patriarca de Lisboa, «um recto conceito de laicidade ressitua a dignidade e a transcendência da fé cristã» enquanto ao «alargamento abusivo do âmbito da laicidade costuma chamar-se laicismo», abuso que consiste em «uma mundividência laica, que fundamenta a moral, inspira as leis, regula o viver comum da sociedade».Na realidade, a distinção entre laicismo e laicidade é apenas aquela que distingue entre conceito, laicismo, e praxis, laicidade. A laicidade significa simplesmente que há separação entre o Estado e a Igreja, isto é, num Estado laico o Estado é completamente neutro em matéria de religião e as igrejas não detêm qualquer poder político. A laicidade garante simultâneamente a liberdade de todos e a liberdade de cada um ao distinguir o domínio público, o domínio onde se exerce o poder do Estado e onde se cumpre a cidadania, e o domínio privado, onde se exercem as liberdades individuais (de pensamento, de consciência, de convicção, de religião e de associação) e onde coexistem as diferenças (biológicas, sociais, culturais). Pertencendo a todos, o espaço público é indivísivel: nenhum cidadão ou grupo de cidadãos deve impôr as suas convicções aos outros.Parece no entanto que a Igreja católica e alguns dos seus seguidores continuam a confundir laicidade com catolicismo e a pretender que a verdadeira laicidade, a adjectivada, é aquela que impõe uma «mundividência católica, que fundamenta a moral, inspira as leis, regula o viver comum da sociedade». Isto é, confundem uma sociedade laica, no sentido grego da palavra, uma sociedade de todos e para todos, com a sua involução latina, uma sociedade católica imposta a todos!» (Palmira Silva)
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
Sem comentários:
Enviar um comentário
As mensagens puramente insultuosas, publicitárias, em calão ou que impeçam um debate construtivo poderão ser apagadas.