quarta-feira, 8 de junho de 2005

Balançando

O Rui Fernandes respondeu à minha réplica à sua resposta ao meu artigo inicial. Neste seu último texto, ficam claros os problemas de base (de informação, de princípios e de prioridades) da sua posição, que infelizmente está muito generalizada.
  1. O uso do véu raramente é uma escolha individual, ao contrário das informações divulgadas em Portugal por uma imprensa intoxicada de preconceitos francofóbicos, antilaicistas e clericalistas. Várias raparigas testemunharam perante a Comissão Stasi que só usavam o véu porque a tal eram forçadas pelas pressões familiares. E mesmo que assim não fosse, a liberdade vem depois da maturidade: só um adulto esclarecido se pode emancipar da tutela familiar ou religiosa e ser efectivamente livre. Se isto é «autoritarismo», então a escolaridade obrigatória será também uma expressão do mesmo «autoritarismo» estatal, que me parece, de longe, preferível ao autoritarismo das tiranias da «sociedade civil», bem expresso na violência (verbal e, muitas vezes, física) sobre as raparigas que rompem com a tradição e se recusam a usar o véu.
  2. Existe uma sondagem em que uma maioria das mulheres de origem muçulmana se declarou favorável (49% contra 43%) a uma lei que proibisse o véu islâmico nas escolas públicas. Serão, com certeza, más muçulmanas aos olhos dos fanáticos, mas elas sabem bem que só o Estado as pode proteger das pressões e violências a que são sujeitas pela sua «comunidade» religiosa de origem.
  3. É um facto que nas escolas onde o véu religioso entrava, o fazia acompanhado das reivindicações políticas da extrema direita islâmica. O Rui Fernandes pode negar isto quantas vezes quiser, mas eu não posso fazer mais do que remetê-lo para a leitura do relatório Stasi e do relatório Debré, que são elucidativos a este respeito.
  4. Identidade cultural é opressão individual. Os célebres seis milhões de «muçulmanos» residentes em França incluem uma maioria que pratica a sua religião com moderação e distanciamento, e uma minoria fanatizada. Permitir que sejam estes últimos a definir o que é a «identidade cultural» muçulmana, com o pretexto de serem os mais «puros» (os mais integristas, na realidade), é entregar a representação «simbólica» dos muçulmanos de França à sua extrema direita (como tu fazes, Rui Fernandes).
  5. Na integração dos imigrantes, discriminação não é facilitar a emancipação individual, é pretender que uma qualquer minoria permaneça fechada na sua «cultura» de origem. Quem prefere separar um grupo ao preservar a sua especificidade «cultural» engana-se nas prioridades.
  6. Cumprimentos.

2 comentários :

Luís Aguiar-Conraria disse...

Novamente concordo

Ricardo Alves disse...

Rui Fernandes,
já pus o Leileteia na lista de ligações, mas não é por me teres pedido, é por causa dos textos sobre o Caetano Veloso.