quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A caridade é ideológica

Dizem-nos que quem «faz» caridade o faz de forma desinteressada, sem segundas intenções, sem objectivos ideológicos. Será verdade em muitos casos. Não o é, decididamente, no caso da Cáritas, que recusou dinheiro obtido através de um calendário «semi-erótico». Este preconceito nas doações que recebe esta organização católica deveria ser questionado pelos jornalistas que têm sempre coisas bonitas para dizer destas organizações. E também serve para recordar que nem sempre a «ajuda» prestada pela Cáritas e outras é religiosa e ideologicamente isenta.

3 comentários:

  1. Isto nada tem de especial. Há montes de organizações não-governamentais que consideram prejudicial para a sua imagem aceitarem donativos de certas empresas. Mesmo que esses donativos até se destinem a boas obras, elas rejeitam-nos.
    Suponha por exemplo que uma empresa petrolífera oferecia dinheiro à Greenpeace para esta levar a cabo um programa de salvaçao de baleias, que faria a Greenpeace? Recusaria o donativo, obviamente, ainda que este se destinasse a uma obra meritória!
    Ou seja, a Cáritas está a fazer o mesmo que montes de outras associações fariam no lugar dela - recusar um donativo que seria prejudicial à sua imagem.

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  2. Este tema é muito interessante.

    Por um lado, acho que nenhuma acção consciente de um cidadão é livre de ideologia: quem é voluntário não o é somente pelo fim do acto particular de voluntariado que escolheu, mas também, creio, porque o voluntariado em si é uma manifestação política. Tem uma espinha dorsal que é ideológica.

    A questão da perniciosidade associada é saber se um tipo de actividade tem "água no bico". Como a FFMS, por exemplo, que creio que não é inocente quando promove uma certa visão da sociedade ao abrigo de uma suposta análise imparcial. Posso estar enganado, mas a escolha dos autores da colecção de livros que se vê por aí à venda não me parece inocente.

    Por outro lado, a completa ausência de ideologia é tão má como o oposto hipócrita. Não vejo como manter o Estado Social sem uma forte consciência daquilo para que serve, porque foi criado no passado e porque é necessário mantê-lo. Acredito também que essa é uma das razões que está a contribuir para o seu desmantelamento.

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  3. A missão da Caritas não é simplesmene ajudar os pobres. Segundo o site:

    «A Cáritas Portuguesa tem como missão o desenvolvimento humano e a defesa do bem comum, através da animação da Pastoral Social, intervindo em ordem à transformação social, fomentando a partilha de bens e a assistência, em situações de calamidade e emergência.»

    O problema está, parece-me, em que a maioria das pessoas confunde estas instituições de propagação de certos ideais com organizações de assistência aos desfavorecidos...

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