É muito difícil criticar o futebol. E nem sequer me refiro ao jogo em si (que para o meu gosto pessoal, porém, é menos interessante do que o râguebi ou o judo). Refiro-me a criticar o poder que o futebol tem na sociedade e o modo como leva a que se tomem decisões profundamente irracionais e lesivas do interesse geral. Por exemplo, quando se tenta explicar que o Euro 2004 foi um desperdício de dinheiro público, tem que se enfrentar uma claque de adeptos de cachecol que nos vêm explicar que o futebol é sagrado, que têm emoções sublimes quando vêem a bola saltar, que a equipa da FPF é «Portugal», e que portanto todo o dinheiro gasto é bem gasto.
O Brasil enfrenta há duas semanas uma vaga de manifestações inéditas. Inéditas porque não parecem ser organizadas por partidos, e porque foram desencadeadas pelo protesto popular contra o esbanjamento no Mundial 2014 e nas Olimpíadas, que contrastava com o aumento das tarifas dos transportes públicos. Os manifestantes, nos seus protestos mais articulados, dizem claramente que o dinheiro que se gasta no «circo» futebolístico seria melhor empregue em escolas e hospitais. E têm toda a razão.
Acrescente-se que este movimento é também, muito provavelmente, o início do fim do poder do PT, que se terá tornado auto-complacente em demasia. Mas mostra que o Brasil, longe de ser «o país do futebol e do Carnaval», tem maior maturidade cívica e democrática do que o Portugal em que os estádios do Euro 2004 apodrecem sem que ninguém tire daí as devidas conclusões quanto ao poder do lóbi do futebol.
De acordo, Ricardo. Gostaria muito de escrever sobre isto, mas ando completamente sem tempo. Uma coisa é certa: este já não é o Brasil that we used to know.
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