segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

E, às zero horas do dia 31 de Dezembro...

  • «A TSF sabe que Cavaco Silva promulgou o [Orçamento de Estado de 2013] durante o fim-de-semana para ser publicado esta segunda-feira em Diário da República e entrar em vigor no dia 1 de janeiro de 2013» (TSF).
Que grande coragem!

domingo, 30 de dezembro de 2012

E a Laura também é a mesma?

  • «Pedro Passos Coelho recusou que o ‘Pedro’ que assinou a mensagem de Natal na sua página pessoal no Facebook e o 1.º ministro "digam coisas diferentes."» (CM)
Continua sem se saber se a «Laura» que assinou uma mensagem na página do político «Pedro» autorizou que o seu nome fosse utilizado.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O fascínio pelos «técnicos»

Há muito que em Portugal há um enorme fascínio pelos «técnicos». Vem pelo menos desde o Salazar (o pseudo-«mago das Finanças»), passou pelo Cavaco (não o actual, mas o que foi PM) e chegou aos Medinas Carreiras que nos entram em casa todos os dias.

O episódio Artur Baptista da Silva é um lado mau do fascínio pelos «técnicos» de economia e finanças. Os  tais «doutores» e «professores» que são os únicos autorizados/respeitados para nos falarem de dívidas e défices, juros e PIBs, impostos e salários (incluindo os que pagamos e os que nos são depositados na conta). Retiram à política o que é da política, porque o que dizem é exclusivamente/puramente/tecnicamente «técnico». E é suposto ouvirmos e calarmos, desde que falem com desembaraço e convicção, até ao dia em que se descubra que, bem... afinal não era um «técnico» verdadeiro.

O lado péssimo do fascínio pelos técnicos é aceitarmos tão facilmente que «técnicos» não eleitos sejam ministros. Por exemplo, ministros das Finanças: se a wikipédia não me engana, foram quase todos, desde   1975, professores catedráticos. Algo que não critico, note-se: nada tenho (antes pelo contrário) contra o reconhecimento académico de quem (estou em crer que na maioria dos casos) tinha e tem efectivo mérito académico. O problema é termo-nos habituado a que uma ou várias das pastas do governo da República sejam entregues a cidadãos que antes da nomeação governamental nunca tinham concorrido a eleições, respondido a perguntas, sido escrutinados pelos media. É uma prática profundamente anti-republicana, anti-democrática e mais específica de Portugal do que se pensa, que alguém chegue a um alto cargo sem uma carreira política prévia: o normal é os ministros dos governos do Reino Unido, da França e da Alemanha terem sido eleitos (deputados ou senadores ou...) na eleição anterior. E é assim que deve ser, e é assim que deveria ser em Portugal também.


Vítor Gaspar e Artur Baptista da Silva: duas faces do mesmo luso fascínio.

Falta o resto

Acho muito bem que o Canal Parlamento passe a estar disponível para quem tem TDT. Agora fica a faltar o resto: a RTP Informação, e a RTP Memória, e a RTP Internacional... Se é serviço público, é para todos.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Ó Vasco, olhe que não consta que eles aceitem garrafas de whisky

Vasco Pulido Valente, Público, 16/12:
Na Quadratura do Círculo, António Costa, António Lobo Xavier e Pacheco Pereira, sob a moderação muda de um funcionário da SIC, resolveram discutir algumas declarações da dra. Isabel Jonet e o "Banco Alimentar" a que ela preside. (...) Quanto à dra. Isabel Jonet, (...) suspeito que ganhou apoios para o Banco Alimentar. A Quadratura do Círculo irritou muito boa gente. Confesso que me irritou a mim e que decidi logo ajudar com regularidade essa extraordinária empresa.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Compilação incompleta de ataques à Liberdade

Desde que sigo política no nosso país nunca observei um ataque tão agressivo e sistemático à Liberdade como aquele que é perpetrado pelo actual Governo.

A esse respeito, gostaria de deixar aqui referências a alguns dos episódios de que me recordo. Encorajo o leitor a usar o espaço dos comentários para lembrar algumas situações de que me tenha esquecido.

Começo por uma ocorrência muito recente, relativa à violação do Regimento da Assembleia, que foi descrita pela deputada Isabel Moreira do PS nos seguintes termos: «Nunca aconteceu na história da AR. Eis a democracia parlamentar desfeita.». O deputado do PCP Miguel Tiago, a este respeito, afirmou que «A Direita PSD/CDS começam a ganhar tiques muito óbvios de prepotência, de captores da democracia e do funcionamento do Regime. [...] O Regimento da Assembleia foi pura e simplesmente violado abertamente.»

Relembro também a relação problemática que este Governo mantém com a Liberdade de imprensa, desde o episódio mais simbólico da agressão a um repórter de imagem por parte de um segurança de Pedro Passos Coelho, até ao caso mais substantivo e sério de censura de um programa de rádio ("Este tempo") devido a críticas ao regime Angolano, passando pela situação verdadeiramente inadmissível de ameaça a uma então jornalista do jornal Público (além das pressões ao próprio jornal, Miguel Relvas terá ameaçado a jornalista Maria José Oliveira dizendo que publicaria de forma anónima informações sobre a sua vida pessoal).
Sobre a RTP, Nuno Santos alegou que a sua demissão foi o culminar de uma «cilada», um derradeiro ataque do Governo à Liberdade de informação: «Trabalhar com inteira liberdade e total independência não é um detalhe desprezível nestes tempos incertos para o jornalismo e no clima que se vive na empresa e no país». Sobre este episódio suspeito que levou à mudança da direcção de informação na RTP, vale a pena atentar nesta recolha documentada de alguns factos pertinentes.

O Governo tem tomado também um posicionamento de pendor autoritário face às questões da video-vigilância, a começar pela forma como manietou a Comissão Nacional de Protecção de Dados, preferindo contornar as garantias que esta Comissão visava estabelecer, evitando inclusivamente consultá-la quanto à legislação nesta matéria. Mais ainda, optou por obrigar os novos estabelecimentos comerciais a instalar, no prazo de cinco anos, equipamento de video-vigilância, uma medida coerciva que irá na prática criar uma «renda» para as empresas que vendem este tipo de equipamento.

As prioridades orçamentais do Governo também dão razões para preocupação. Apesar de toda a contenção de despesas de que ouvimos falar, poucos parecem saber que, de acordo com o Orçamento de Estado para 2013, «A despesa total consolidada do Programa da Defesa em 2013, ascende a 2.188,4 M€, o que reflete um acréscimo de 14,1%», e isto já depois do Ministro da Defesa ter anunciado um reforço de 4000 militares em 2012.
No que diz respeito à Administração Interna, a SIS também tem usufruído de alguma generosidade no plano orçamental - como o Ricardo Alves questionou neste blogue: «De acordo com o Correio da Manhã de 2008, o SIS terá 270 pides. Segundo o Jornal de Notícias de 2011, serão 600 pides. A acreditar na imprensa desta semana, estes espiões terão ao seu dispor 144 automóveis. Portanto, será algures entre um automóvel para cada dois funcionários e um automóvel para cada quatro funcionários. "Gordura do Estado"?»

Por outro lado, os serviços secretos têm estado envolvidos em alguns escândalos, sendo o mais conhecido aquele protagonizado por Silva Carvalho, a respeito da venda de informações privadas e secretas à Ongoing. Este episódio foi mais tarde complementado pela revelação das relações entre Silva Carvalho e Miguel Relvas, que terão permitido ao segundo fazer as ameaças a Maria José Oliveira acima mencionadas. É grave que os elementos responsáveis pelas denúncias dos crimes de seus colegas contra a República tenham sido exonerados. E é difícil manter a tranquilidade sabendo que o nº 2 do SIS vai trabalhar para a China, tendo em conta tudo o que se passou.

O Governo parece também sentir-se ameaçado pelos movimentos sociais contestatários, e em resposta as forças da autoridade têm-se mostrado dispostas a contornar a lei para inibir este tipo de actividade, recorrendo se necessário à intimidação. Quando quatro (ou oito, consoante a versão) elementos do "Movimento Sem Emprego" tentaram distribuir panfletos sobre as acções da sua associação à porta do Centro de Emprego do Conde de Redondo, a polícia pediu a identificação dos elementos, notificando e acusando uma das participantes de «crime de desobediência e por ter convocado uma manifestação sem autorização». A PSP alegou que perante a lei «duas pessoas já fazem uma manifestação», e que uma manifestação é definida como sendo o «ajuntamento em lugar público de duas ou mais pessoas com consciência de explicitar uma mensagem dirigida a terceiros» - uma definição tão abrangente que incluirá qualquer pedido de grupo num restaurante.
Sobre a perseguição a vários activistas como Paula Montez, já tinha escrito neste blogue, e mais não tenho a acrescentar.


Por último, três manifestações ocorridas nos últimos 14 meses merecem aqui referência.

Começo por relembrar os confrontos entre polícias infiltrados na manifestação de 29 de Novembro de 2011 e agentes do Corpo de Intervenção, um indício forte e preocupante - entre outros - de que os primeiros eram efectivamente «agentes provocadores».

Também no que diz respeito a manifestações, lembro o que se passou a 22 de Março de 2012, quando dois jornalistas (da Lusa e da Agência France Press) foram violentamente agredidos pelas forças da autoridade - o fotógrafo da Agência Lusa foi levado para o Hospital de S. José com vários ferimentos na cabeça. Outros inocentes (inclusivamente uma turista francesa) foram agredidos nesse dia.

Sobre a manifestação mais recente, dia 14 de Novembro de 2012, volto a pedir atenção às denúncias de Garcia Pereira, bem como a esta análise (documentada) sobre os eventos desse dia pois, além de relatarem vários factos preocupantes, dão indícios fortes de que existiam agentes policiais entre o grupo de pessoas que apedrejava a polícia. Bem mais fortes que estas imagens.


[Texto editado para corrigir um lapso quanto ao nome da jornalista alegadamente ameaçada por Miguel Relvas - agradeço ao Luís Humberto Teixeira a chamada de atenção]

domingo, 23 de dezembro de 2012

Amor Cristão e o Espírito do Natal

Li hoje que na semana passada o Papa benzeu a porta-voz do parlamento do Uganda, a senhora Rebecca Kadaga, que está a tentar implementar a pena de morte para a homossexualidade no país dela, e aproveitou a ocasião para declarar que o casamento gay é "un'offesa contro la verita della persona umana e una ferita grave inflita alla giustizia e alla pace."  Uma ferida contra a justiça e a paz.  Não percebi se ele está a pensar em guerra, mas é interessante ver esta organização moribunda atirar-se assim ao pescoço dos homossexuais com tanta energia e tanto ódio, sabendo já que perdeu esta causa. 

A homofobia vai a caminho do panteão das derrotas da ICAR, juntamente com o fascismo, o analfabetismo, o Index, o trabalho infantil, a contracepção, a anestesia epidural, etc., e o mais que os dicursos do papa podem aspirar é uma ou duas dúzias de crimes de ódio sobre a comunidade gay.  Uma consolação magra para quem costumava queimar os judeus!

sábado, 22 de dezembro de 2012

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O salazarista que se esconde no armário

Sempre ouvi toda a esquerda (e alguma direita democrática) referir-se à «guerra colonial». Aqueles que procuram uma expressão neutra usam «guerra d'África» (exemplo clássico, o Presidente Jorge Sampaio na inauguração do monumento aos mortos nessa guerra). Apenas a direita saudosista e cripto-salazarista ainda fala em «guerra do ultramar». Descubra neste linque qual é a expressão usada por Passos Coelho.

O que é que os cientistas nos dizem sobre o Aquecimento Global?

«O  padrão-ouro da ciência é a literatura sujeita a revisão por pares. Se existe discordância entre cientistas baseada não na opinião mas em evidências sólidas, ela será encontrada na literatura sujeita a revisão por pares»

O autor desta frase que traduzi é James Lawrence Powell, um cientista nomeado por Reagan e Bush (pai) para o Painel Científico Nacional dos EUA.
Outra coisa que  James Powell fez foi ler 13950 artigos que contivessem os termos «global climate change» ou «global warming» no tópico, de acordo com a «Web of Science», descontando artigos de revisão ou materiais editoriais. Para cada um destes artigos, verificou se o artigo rejeitava a actividade humana enquanto causa para o aquecimento global, ou alegava alguma explicação alternativa. Os seus resultados foram os seguintes:


Em 13950 artigos sujeitos a revisão por pares, 24 rejeitavam causas humanas para o aquecimento global.

Bom, mas este estudo em si não se trata de um artigo publicado num jornal com revisão por pares. É verdade, mas Naomi Oreskes fez um estudo semelhante e publicou os resultados. Como o artigo dela apenas está acessível para quem assina a Science, deixo aqui um capítulo que escreveu onde falou sobre os seus resultados. No caso dos artigos identificados por Naomi Oreskes, 0% rejeitam uma causa humana para o aquecimento global.

Em resposta à pergunta do título: os cientistas dizem-nos que o aquecimento global está a acontecer, e a actividade humana tem um papel importante.

Já agora, quantos anos mais durará o Polo Norte? Já existem movimentações político-estratégicas que partem do princípio de que não durará muito. Não admira:

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Como se fala do Natal às crianças católicas?

Por esta altura levanta-se sempre a questão de como lidar com a época natalícia e as crianças numa família ateia. Está implícita a ideia de que o Natal como o vivemos hoje, não é uma construção social que mistura conceitos e valores de variadíssimas fontes, mas algo tirado a papel químico do Novo Testamento.
Pelo menos uma vez, eu gostaria de saber como se explica às crianças católicas, uma tradição de origem pagã, onde eles celebram o nascimento de alguém que não nasceu nesta altura do ano, onde há um consumismo desenfreado, onde a figura central é o tal "velho de barbas que distribui prendas aos meninos que se portam bem", e nem a própria data de celebração  tem algo de cristão?

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Mais ataques ao estado de direito

Ainda dizendo respeito ao que se passou na manifestação de dia 14 de Novembro:



Quem tiver tempo e disponibilidade deve ver também este vídeo, que apesar de tudo não me parece tão persuasivo como o testemunho apresentado acima.

Acusações levianas e sinais preocupantes

Porque conheço o suficiente a Paula Montez para ter toda a confiança no relato que faz, partilho-o (destacando algumas partes a negrito) com os leitores.
Parece-me que há situações que começam a atingir contornos sinistros:

«“Peço a quem tiver imagens minhas na manifestação de 14 de Novembro (ou noutra manifestação qualquer) a tirar fotografias que as envie a fim de constituírem prova neste processo. Obrigada pela vossa solidariedade.“
Esta semana recebi um telefonema no meu telemóvel de uma funcionária do DIAP (Departamento de Investigação e Acção Penal) para me convocar para prestar declarações por ter sido “denunciada” por actos supostamente praticados por mim na manifestação do dia da greve geral de 14 de Novembro em São Bento. Quis saber qual a denúncia que recaía sobre a minha pessoa e a senhora do outro lado da linha referiu, para meu grande espanto, que eu tinha sido denunciada por cometer “ofensas à integridade física da PSP”. 

A primeira questão a saber é como conseguiram obter o número do meu telemóvel cujo contrato nem sequer está em meu nome. A segunda questão é saber como posso ter sido denunciada por um crime que não cometi e por actos que não pratiquei.

Ontem apresentei-me no DIAP acompanhada de um advogado. Foi-me lido o auto de denúncia e mostradas imagens captadas na manifestação. As imagens todas elas de má qualidade e inconclusivas, mostram-me de braço no ar com um objecto na mão que os “denunciantes” referiram ser pedras. Na verdade o objecto que tenho na mão é nada mais do que a minha máquina fotográfica que costumo elevar devido à minha estatura ser baixa para captar imagens, como sempre tenho feito em todas as manifestações e protestos onde vou. Nas legendas das várias imagens captadas aparecem aberrações do tipo: “acessório”, assinalando-se com um círculo, pendurada na mochila, uma máscara dos Anonymous; o meu barrete de lã colorido é indicado como sendo um capuz (lá vem o estigma dos “perigosos encapuçados”); até a cor da roupa, preta, aparece referida (!); além disso, na foto de qualidade duvidosa, onde se vê o meu braço erguido segurando o tal objecto (máquina fotográfica) pode-se ler na legenda que arremessei à polícia cerca de 20 pedras ou outros objectos… 

Agora pergunto eu: se a PSP me identificou a arremessar 20 pedras e a colocar em causa a sua integridade física, por que não fui eu detida logo ali? Por que não fui de imediato impedida de mandar mais projécteis que pudessem atentar contra os agentes? Sim, como é possível ter sido vista a atirar coisas, contarem uma a uma as cerca de 20 pedras que eu não atirei, mas que alguém afirma ter-me visto atirar, e deixarem-me à solta para atirar mais?

Colocada perante estas “provas” e com base nesta absurda acusação fui constituída arguida com “termo de identidade e residência”, tendo agora que arranjar forma de me defender.

Como é evidente trata-se de uma perseguição por parte da PSP a pessoas que estiveram naquela manifestação. Faço notar que nem sequer fui das pessoas detidas para identificação, estou sim a ser vítima de uma orquestração por parte da PSP que visa lançar uma perseguição política a pessoas que eles supõem ser os mais activos na contestação, pessoas que costumam ir às manifestações, fotografar, passar informação nas redes sociais (o meu perfil de Facebook lá continua bloqueado a funcionar a meio gás, sem a possibilidade de comentar vai para um mês).

Enfim, tal como antes já tinha previsto, no dia 14 de Novembro começou uma intencional e persecutória caça às bruxas e desde então não param de acontecer fenómenos sobrenaturais em democracia: identificam-se pessoas em imagens duvidosas, denunciam-se situações que não aconteceram, subvertem-se imagens dúbias e de qualidade duvidosa para servirem de prova a acusações infundadas, usam-se telemóveis pessoais para enviar convocatórias do DIAP e hoje aconteceu mais uma situação inédita: um telemóvel de um amigo com quem eu estava tocou; qual o nosso espanto era eu a ligar do meu telemóvel e a chamada apareceu registada no TM dele como sendo minha, mas o meu telemóvel estava ali mesmo à mão, bloqueado, sem registo de nenhuma chamada efectuada… isto para além dos estalidos em certas conversas telefónicas.
Todos os que me conhecem sabem que não sou pessoa para andar a atirar pedras à polícia, que sempre defendi a estratégia da não violência, da desobediência civil e da resistência pacífica. Que em todas as manifestações me movimento de um lado para o outro a captar imagens e que muitas vezes me vejo obrigada a erguer o braço para fotografar acima da minha estatura. Não há ninguém que me reconheça ou possa apontar como sendo violenta ou capaz de andar a arremessar objectos em manifestações, por muito que considere que a violência com que o sistema nos ataca nos nossos direitos e nas nossas liberdades - e agora também acometendo contra a integridade física de todos quantos estávamos naquela praça - possa gerar a revolta e a reacção das pessoas.

A situação não é nova, nem a sinistra estratégia: no dia 5 de Outubro o Ricardo Castelo Branco foi detido e alvo de idêntico processo de acusação, também através de imagens dúbias e da mentira de dois denunciantes (mal) amanhados pela PSP, acusado de atirar garrafas à polícia, mesmo com um braço engessado e outro braço segurando uma máquina fotográfica. Com coragem e determinação levou o caso às últimas consequências até por fim ser ilibado. 

Por tudo isto decidi tornar pública esta absurda acusação e peço a todas e a todos vós que divulguem este caso. Pela minha parte vou fazê-lo por todos os meios ao meu dispor, incluindo a comunicação social. Hoje sou eu a visada mas qualquer um pode vir a ser o próximo a ser alvo de falsas denúncias e acusações. O que sempre mais me empolgou e indignou são as situações de repressão, perseguição e de injustiça. A verdade é mais forte e há de vencer todas as calúnias.
Peço a quem tiver imagens minhas na manifestação de 14 de Novembro (ou noutra manifestação qualquer) a tirar fotografias que as envie a fim de constituírem prova neste processo. Obrigada pela vossa solidariedade.»

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

As manifestações, quem as enquadra e o «sistema»

(Via anarco-ciclista.)

China recruta espião português

O nº2 do SIS vai «trabalhar» para a China. Tudo calmo: como se sabe, nenhum honrado espião ou ex-espião português seria capaz de vender «informações». O Silva Carvalho foi um caso isolado. Isoladíssimo.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Tiroteios nas escolas e capitalismo selvagem

Esta manhã passei os olhos pelos jornais europeus e como sempre fiquei convencido que a maioria dos europeus não percebe uma coisa fundamental sobre a América: aqui tudo é um negócio e em todos os negócios o único objectivo é maximizar o lucro.

Por exemplo, o programa de Bush "no child left behind" só tinha (e tem) que ver com os lucros das empresas que administram os testes.  A educação dos americanos é outra história.  O Partido Republicano, aliás, é contra a educação dos americanos e desde os anos oitenta tem financiado uma campanha global contra os professores.  Este ano o programa do Partido Republicano do Texas contém um parágrafo que diz o seguinte:

Knowledge-Based Education – We oppose the teaching of Higher Order Thinking Skills (HOTS) (values clarification), critical thinking skills and similar programs that are simply a relabeling of Outcome-Based Education (OBE) (mastery learning) which focus on behavior modification and have the purpose of challenging the student’s fixed beliefs and undermining parental authority.

As armas são também um negócio - de 11 mil milhões de dólares por ano - e os 16 tiroteios que este ano já mataram 88 pessoas são uma externalidade sem importância para a indústria.  A máquina de propaganda dos patrões começou a controlar os senadores e os congressistas ontem, um a um, para que não se metam a fazer comentários emocionados no rescaldo desta tragédia que mais tarde lhes custem dinheiro e talvez o emprego.

Desde 2005 a National Rifle Association (NRA) canalizou quase 40 milhões de dólares dos produtores em propaganda e Obama tem implementado continuamente legislação que desregulamenta a venda, posse e uso de armas nos EUA.  A minha universidade tem um grupo de estudantes plantados numa banca todos os dias, a distribuirem folhetos de propaganda para que a universidade ceda perante as pressões de Rick Perry e autorize o porte de armas nas salas de aulas.  Eu perguntei a uma anormal que me deu um folheto como é que se sabe quem é que começou um tiroteio dez segundos depois de ele começar e ela respondeu-me, muito direitinha, com os olhos fechados: "The bad guy is the one who is shooting in all directions."

O lucro é o único valor moral dos americanos.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O governo somos nós

Entrei nesta coisa do facebook e adoro estar em contacto com os meus amigos de há muitos anos, mas horrorizam-me e repugnam-me todos os dias as ladainhas sobre a corrupção do governo e as afirmações saudosas e desgraçadas d' "o Salazar é que era" e d' "a Nossa Senhora é que nos guia".

Ora eu acho que o Salazar era um anormal e um crápula, a Nossa Senhora não existe e o problema de Portugal não são os governos:  são os portugueses.  O governo somos nós.  Estes energúmenos foram todos eleitos e reeleitos.

Hoje um amigo meu meteu um artigo - acho que d'O Público - de uma jornalista muito suspirosa a dizer que os cientistas se vão embora porque não há apoios, etc.

Eu fugi de Portugal há quase 15 anos, mas não foi por causa do governo nem dos políticos:  foi por causa dos portugueses.  Fugi de ser maltratado, desautorizado e humilhado: por exemplo, o homem das facturas fazia-me esperar em pé, no corredor do IPPAR, horas a fio e eu ouvia-o através da porta a calhandrar ao telefone.  Uns dez anos mais tarde encontrei o meu ex-chefe e ele disse-me que o centro do qual eu tinha fugido tinha implodido "por minha culpa":  "desde que eu tinha saído ele nunca mais tinha conseguido que se fizesse nada!"

Fugi porque me fartei de ouvir dizer que tinha de ter respeitinho pelos chefes.  Eram uma data deles, parece que todos importantíssimos.  O IPPAR era um antro de irresponsabilidade e desperdício, onde a pequena corrupção imperava e era a alegria dos calhandreiros.  O desgraçado que recebia uma percentagem das compras e que toda a gente sabia quem era, o que tinha um arranjinho com a garagem onde mudavam o óleo aos carros, o que arranjou um emprego para o sobrinho, que veio da tropa, coitadinho e que - eu vi - no primeiro dia de trabalho desatou a fazer fotocópias "para a prima" e a telefonar "para o estrangeiro".  Os que achavam que o estado lhes pagava mal e iam para a praia de manhã a partir de Maio.  Os chefes que chegavam ao meio dia e iam almoçar e voltavam às quatro.  O desprezo total e absoluto pelos prazos, pelos cidadãos, pelos empreiteiros e pelo património.  Os melindres e as retaliações contra quem se queixava.  As facções.  O tribalismo.  As honras ofendidas de quem era apanhado com a boca na botija.  As vinganças contra quem identificava os problemas.

Os portugueses estão-se nas tintas uns para os outros e não acreditam num modelo de sociedade democrática, em que a responsabilidade é de todos.  E o governo...  aqueles desgraçados que aparecem na televisão - são portugueses.  Roubam mais do que a maioria porque têm acesso a mais dinheiro e baldam-se mais porque podem.


Um antropólogo chamado George Foster escreveu um artigo nos anos sessenta que explicava que em certas sociedades rurais as pessoas têm um sentido do "bem" como uma coisa finita e limitada, que não cresce e portanto cada vez que é consumido se reduz.  Para estas pessoas torna-se mais importante que ninguém goze do que que haja uma repartição equitativa do bem.  O sucesso é um crime e a mobilidade social uma ameaça.  Trabalhar, cooperar e tornar o "bem" numa coisa que cresce e pode ser partilhada, está fora de questão.  São estas pessoas que podem passar anos sem fazer nada mas se levantam às quatro da manhã, se organizam e colaboram com uma energia prodigiosa cada vez que alguém tenta fazer alguma coisa.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Contributo para uma melhor compreensão a respeito do Aquecimento Global

Toda a série de Potholer54 é um instrumento precioso para compreender melhor esta questão.
Não posso deixar de partilhar o seu vídeo mais recente:



É normal o primeiro ministro proteger o acesso indevido do Estado à nossa factura de telemóvel?

Sim.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Esquizofrenia governativa

No espaço de poucas horas, tivemos 3 exemplos da esquizofrenia em que caiu este governo. E não são detalhes a constar numa portaria, são decisões de fundo em áreas fundamentais.
  1. Depois de "sim, queremos as condições da Grécia", "seria péssimo termos as condições da Grécia, entenderam-nos mal", ontem voltámos ao "queremos as condições da Grécia".
  2. Primeiro havia espaço para receitas na educação, depois não haveria "co-pagamentos", hoje já "há margem para explorar co-financiamento das famílias".
  3. Houve um grupo de trabalho governativo há meses para decidir o futuro da TVI, cujas ideias já nem me lembro. Há meses acabava-se com um canal.  Esta semana, 49% da RTP vão ser vendidos a privados.
Estamos entregues à bicharada.

A virgem meretriz

Graças à intervenção do Anjo Gabriel a Virgem Maria concebeu sem pecado original. Dois mil anos depois, em Portugal, há uma meretriz sem pecados, virgem mais virgem não há. Mas sabe-se que a meretriz tinha dormido com o PS, com Cavaco, com banqueiros, tinha saltado do ministério das finanças, depois de um mandato desastroso, para o frenesim das fundações, dos conselhos de administração de empresas, de associações imobiliárias, etc., enfim o habitual bónus para os medíocres que passam pelos governos. Num fenómeno de amnésia coletiva esta meretriz batida conquistou o estatuto de virgem à força do apedrejamento mediático de todos os pecadores que cruzavam a sua mira. Para a meretriz um suspeito era um culpado e reclamava o seu encarceramento para o dia de ontem. Espero que agora seja fiel ao seu discurso. Depois das fortes suspeitas de fraude fiscal e branqueamento de capitais de que é alvo, as jaulas da penitenciária estão à sua disposição.


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Liberalismo e videovigilância

Miguel Macedo é realmente um ministro especial: não apenas tem sido responsável pelas repressões mais violentas de manifestações desde os anos 80, como se assumiu como o grande promotor da videovigilância. Ontem, soube-se algo sobre a videovigilância que não afecta apenas o liberalismo político (direito dos cidadãos à privacidade), mas também o liberalismo económico (criação de «rendas» a partir de negócios privados, diminuindo efectivamente a margem de lucro do comércio).
Atente-se na pérola: «a instalação de câmaras de vigilância será obrigatória para todos os novos estabelecimentos como farmácias, gasolineiras, lojas de arte, ourivesarias e casas de jogo. Para os actuais estabelecimentos haverá um prazo de cinco anos para colocar as câmaras».
Note-se bem: não serão os proprietários de estações de serviço ou farmácias a decidirem, por eles próprios, se querem ou não ter videovigilância. Não têm autonomia para ponderar o risco de assalto e o custo da instalação e manutenção: não, népias, nada disso. O governo mandou, eles obedecem: pagam.
Sendo malicioso, lanço uma suspeita: de quem será a(s) empresa(s) beneficiária(s) desta lei? E será que algum assessor ou secretário de Estado sairá directamente do actual governo para uma dessas empresas? E será um acaso que hoje na TV se ouça a propósito de cada assalto: «não tinha câmara de videovigilância instalada...»?

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A verdade sobre o ensino secundário privado

Aquilo que muita gente já sabia e que já tinha sido objecto de muitas denúncias que o ministério continua a ignorar. Isto é um escândalo, não há outra forma de classificar isto. Mas tudo o que se diz sobre a empresa GPS não se fica por aqui, há atividades e práticas bem mais graves do que é aqui descrito e que têm vindo a ser denunciadas por aqueles que conhecem melhor a empresa.
Esta reportagem é também para os idiotas úteis que andaram a apoiar as manifestações contra o corte nos apoios às escolas privadas. Hoje, alguns deles estão no governo, outros são conselheiros de estado.  




A seguir a 1929, veio 1939

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Revista de blogues (3/12/2012)

  • «Acusar todos os políticos de desonestos é hábito dos políticos que não ocupam cargos e dos demagogos que, fingindo não ser políticos, pretendem ser considerados honestos
    Os ataques moralistas ao carácter dos políticos, indiferentes a opções que, por vezes, os críticos não têm preparação para analisar, não passam de demagogia, que afasta os mais capazes e lança o labéu sobre os mais honestos e dedicados servidores públicos. 
    A ética republicana obriga-nos a distinguir o comportamento crapuloso dos que levaram à falência o BPN dos que tomaram opções, eventualmente erradas, de boa fé, e que cabe aos eleitores julgar em atos eleitorais. 
    Dizer que Passos Coelho é corrupto é uma calúnia de quem, sem provas, pretende ser visto, por contraste, como honesto. Acusá-lo de extremista, reacionário e incompetente é um juízo de valor abundantemente comprovado. Avaliá-lo como um homem perigoso, cuja permanência no Governo pode tornar irreversível a nossa queda no abismo, é, mais do que um direito, um dever cívico com o qual devemos ser consequentes. 
    Em princípio, um governo deveria cumprir uma legislatura e, só aí, submeter-se de novo ao veredicto do eleitorado mas, quando as medidas tomadas contrariam as promessas e as decisões afetam gravemente a vida dos portugueses, devem as manifestações públicas e todas as formas legais de luta mostrar aos governantes a porta de saída. Pode ser pior, para o nosso futuro, a manutenção deste Governo do que a sua substituição. 
    É nestas alturas, perante a gravidade e irreversibilidade democrática de decisões lesivas que se sente a necessidade de um presidente da República. Bem o precisávamos.» (Carlos Esperança)

domingo, 2 de dezembro de 2012

Isto explica mesmo muito

Em mais um fim de semana de "Banco Alimentar", ou lá como aquela coisa se chama (a propósito do qual vezes sem conta se repetiu recentemente a banda desenhada que aqui publico), prefiro chamar a atenção para mais esta parangona, que não é tão inofensiva como parece. Para além de revelar que António Costa é neste momento o único político que a direita realmente teme, é muito elucidativa da forma de "pensar" e ver a sociedade por parte da gentinha que nos (des)governa. A este respeito vale a pena ler por completo este texto de Luís Gaspar, do qual deixo aqui alguns destaques:
Na cabeça desta gente, um pobre é, basicamente, um tipo que tem tudo o que o rico tem, mas tudo o que tem é um bocadinho pior (...). Na cabeça desta gente, há uma linha integralmente contínua que separa o rico do pobre, uma régua onde a distância entre toda a gente pode ser medida numa unidade monetária homogeneizante (ou seja, não há classes, há indivíduos). É sobre esta régua continua que a senhora Jonet queria fazer alinhar os pobres: fazê-los transitar da extremidade mais rica para uma mais consistente com a sua riqueza (é tudo um processo de re-ajustamento horizontal: ninguém cai, é só andar um bocadinho para o lado). É também esta a régua, aliás, subjacente aos modelos económicos que estão por detrás dos "processos de reajustamento" baseados na deflação doméstica que os austeritários impõem sobre o país. (...) Como é óbvio, a pobreza é disruptiva, não é contínua. A fome, a vulnerabilidade, a humilhação, a privação, são condições que determinam o rumo da própria vida, não se limitam a torná-la mais difícil ou menos agradável. Um pobre não tem carro, muitas vezes não tem casa, não faz escolhas.