sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O The New York Times, é bem sabido, é dominado pelos comunistas e pela CGTP

Recomendo o visionamento deste álbum de fotografias de Portugal publicado pelo The New York Times, e compará-lo com os comentários (nada ideológicos!) de José Manuel Fernandes, um dos mentores do atual governo, para nos apercebermos do grau de autismo a que a direita liberal chegou. Em Portugal, José Manuel Fernandes foi diretor do Público (recorde-se); nos EUA, talvez encontrasse emprego na FOX News.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mitos da crise II - a culpa é dos mediterrânicos que são corruptos, preguiçosos, morenos,...

Alguns mediterrânicos rancorosos, e outros tantos nórdicos orgulhosos da sua superioridade, apontam alguns traços culturais do Sul como causa da crise actual. Seja a corrupção, a preguiça, a fuga fiscal, a indisciplina fiscal, a dolce vita, a falta de profissionalismo, os maus políticos, a ineficiência económica, a má qualidade institucional, as reformas prematuras, os reduzidos horários de trabalho, etc. há teorias para todos os gostos. O facto de os países terem todos rebentado ao mesmo tempo, parece ser uma coincidência sem qualquer significado para os adeptos desta(s) teoria(s). 
Na verdade há muitas variáveis (históricas, sociais, económicas) que estão correlacionadas nos PIIGS, e que torna difícil a distinção entre correlação e causalidade.
E se houvesse um país, em tudo semelhante aos PIIGS, mas que não estivesse preso no Euro? Existe. Existe a Turquia, certamente pior em termos de corrupção, fuga fiscal, e todas esses pecados mediterrânicos, com uma economia altamente dependente da UE (que representa metade do comércio externo), mas fora do Euro. E o que aconteceu à Turquia desde a crise financeira de 2007-2008?
O seu PIB sofreu uma quebra como qualquer outro país, mas a economia recuperou logo. A dívida pública, que em 2007 era mais alta que a espanhola e a irlandesa, está hoje mais baixa do que então.
A saúde económica turca mostra que é difícil arranjar uma explicação para a crise, que não passe por problemas sistémicos do Euro.
Fonte: AMECO (Comissão Europeia)

Mais um passo para um estado

A Palestina já é membro observador da ONU.

Um governo tão clerical

É uma ideia de loucos: para financiar bancos, passarmos a pagar pela frequência da escolaridade obrigatória na escola pública. Como muitas ideias terroristas que vêm deste governo, pode ser que seja abandonada daqui a meia hora por troca com outra que assuste menos. De qualquer modo, é elucidativo ver quem a apoia: o inevitável Bacelar Gouveia e Braga da Cruz, ou seja, as caridosas almas católicas.

É verdade: alguém sabe o que é feito daquele rapaz que sabe agradar à esquerda ingénua e populista, o Januário «Dom» Ferreira?

Revista de blogues (29/11/2012)

  • «(...) O que leva o governo e a maioria que o suporta a aprovar um Orçamento irrealista? Não demorou muito para percebermos: a inevitável derrapagem orçamental será a base de justificação para a já anunciada ‘refundação do Estado Social’. (...) Na realidade, não há verdadeira alternativa ao Orçamento aprovado que não passe pela redução da única despesa que pode ser cortada sem efeitos recessivos e com benefício na libertação de recursos para o investimento e a criação de emprego: os juros da dívida pública. Os juros da dívida representam 9% da despesa e 4,3% do PIB, quase todo o défice previsto para 2013. Um corte de 1% nos juros vale dois mil milhões de euros. Seria possível diminuir a despesa em quatro mil milhões na despesa (como agora se estima ser necessário) com base num corte de 2% juros. Esse é aproximadamente o valor que os fundos europeus nos cobram acima da taxa a que esses fundos obtêm os seus empréstimos. (...)» (Congresso Democrático das Alternativas)
Ou seja: vamos destruir o Estado social para financiar os bancos.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O aquecimento global não pára

Com crise ou sem ela, o aquecimento global continua. Bem sei que muitos consideram que é alarmista a preocupação que existe entre os climatólogos e a sociedade face a um assunto em relação ao qual existem mais dúvidas que certezas. Nada mais errado: a sociedade tem pecado por inacção e não por alarmismo, e as previsões dos climatólogos têm pecado por conservadoras.

Já que é impossível que evitemos esta situação, face à falta de vontade política e apoio popular para implementar as medidas apropriadas, espero que daqui a umas décadas seja claro quem é que teve a lucidez de identificar o aquecimento global um problema fundamental, e quem é que insistiu na inacção catastrófica que vai marcar a resposta da humanidade a este desafio.

A minha posição é clara: as pessoas queixam-se que a electricidade é cara, mas é excessivamente barata, pois os impactos ambientais devidamente calculados deviam fazer parte do preço. Há negociatas duvidosas que inflaccionam o preço, mas, mesmo sem a sua influência, um custo sustentável da energia seria superior.
As pessoas queixam-se que a gasolina é cara, mas é excessivamente barata. Bem sei que o conluio entre as empresas abastecedoras em Portugal é parte da razão, mas os impostos sobre o consumo de produtos petrolíferos deveria ser superior.
E toda a produção industrial que resulte na emissão de gases que provocam o efeito de estufa deveria ser ainda mais severamente taxada. O custo de vida iria subir, mas isso seria uma forma mais racional de responder a este problema.
Numa situação de crise, onde os preços actuais já têm um impacto perverso sobre a qualidade de vida das pessoas, a braços com menos rendimento, esta é uma posição impopular - mas defendo-a sem hesitações, e infelizmente estou confiante que o tempo me dará razão.

Relvas e a informação na RTP

Recordando a história (via Arrastão):
O segundo caso é este: Nuno Santos foi vítima de uma cilada para colocar a Direcção de Informação (DI) da RTP ao serviço do governo. O assunto ficara esclarecido com o Conselho de Redacção, a Comissão de Trabalhadores e o "director-geral" Luís Marinho (entre aspas porque o cargo continua ilegal), e, através deste, com a administração. Apesar disso, o caso foi reavivado três dias depois pelo "director-geral" e pela administração. Porquê? A meu ver, o "director-geral", o ministro Relvas, e o seu homem na administração, Alberto da Ponte, aproveitaram o caso para desgastar Santos, que vinha a desenvolver uma informação mais independente do poder político, desagradando a Relvas e relvistas na RTP. Apesar de esclarecido o assunto, os relvistas, pensando melhor, concluíram que podiam explorar o caso. Santos, percebendo a cilada, demitiu-se. Foi uma cabala própria dos mais ruins regimes de propaganda, autoritarismo e desinformação. O resto é fumaça, como o inquérito sumário e pré-decidido, tipo pré-25 de Abril, que Ponte mandou fazer. Ponte, cuja capacidade de gestão ainda não se viu, politicamente provou a sua submissão ao ministro Relvas.
Qual é o desenvolvimento mais recente? Paulo Ferreira é o novo diretor de informação da RTP. Quem é Paulo Ferreira, perguntarão alguns leitores? Respondo eu: foi, entre outras coisas, diretor e responsável do Dia D, um suplemento do Público durante a direção de José Manuel Fernandes. E o que era o Dia D? Podem ver aqui e aqui, para terem uma ideia daquilo em que se vai tornar a informação da RTP.

Uma «unidade secreta» na PSP?

Estamos sempre a aprender: segundo o Público, o famoso pedido de imagens à RTP foi feito por um «Núcleo de Informações da PSP, uma unidade de natureza secreta integrada na Unidade Especial de Polícia com base em Belas». Ignoram-se as atribuições deste grupo, que existirá «há pouco mais de uma década». (Desde Guterres? Ou desde o início do governo de Durão Barroso, que tomou posse em Abril de 2002?) Ignora-se também que legitimidade tem para dar ordens à RTP.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Da «abstenção violenta» à oposição mansa

Um PS em sintonia com a maioria da população e com a rua faria todos os possíveis para combater este OE 2013 e apressar a queda do governo. Não é essa a orientação política de Seguro.

O Estado Social dos outros é um luxo

Tem havido uma atitude clara da direita de criticar o tamanho do Estado Social no que toca aos gastos supostamente excessivos, associando-o assim ao défice, à dívida pública, à crise. Nas últimas semanas, a refundação (foi esta a palavra, não foi?), aka emagrecimento, do Estado Social tem sido apresentado como solução para todos os nossos males.
O Eurostat publicou hoje um relatório sobre o peso do Estado Social na economia (em % do PIB), e fica claro que nos países mais atingidos pela crise do Euro, o peso do Estado Social está abaixo da média.

Média UE27: 26.1% (2007) - 29.6% (2009)
Irlanda:   18.9 - 27.4
Grécia:    24.8 - 28.0
Espanha: 20.7 - 25.3
Chipre:    18.2 - 21.1
Portugal: 23.9 - 27.0

A Irlanda passa a média em 2010, mas esse número tem pouca relevância quando sabemos que é a exceção e não a regra: trata-se de um país num ano muito específico, com a economia destruída e com um desemprego anormalmente elevado.
A atitude da direita é um claro aproveitamento do desespero provado pela crise, para se alcançar aquilo que não se consegue em tempos normais. Gato escondido com rabo de fora...

domingo, 25 de novembro de 2012

Leitura de 25 de Novembro

Porque hoje é o 37º aniversário, recomendo «Primeiro Fazem-se Plenários e Depois é que se Cumprem as Ordens», da historiadora Raquel Varela. Essencialmente, é o ponto de vista da extrema esquerda: o PCP no 25 de Novembro só mandou as pessoas para casa, não tinha qualquer golpe de Estado «preparado», toda e qualquer acção foi estritamente defensiva, no fundo traiu a classe operária. Mais: o PCP desde Julho que tentava reparar o erro que cometera ao apoiar alguma iniciativas dos mais radicais (caso República, ocupações...) e do próprio PCP («unicidade sindical») que haviam afastado o PS e os moderados do MFA. As provas documentais apresentadas de que a estratégia do PCP era a recomposição da «unidade da esquerda» são relevantes(*). Todavia, a própria autora assume implicitamente que o PCP nunca tentou isolar a esquerda revolucionária (fora pronunciamentos verbais) e explicitamente que o período analisado inclui o episódio da FUR, pouco «enquadrável» nessa estratégia. Argumenta, com alguma razão, que se havia golpe preparado do PCP e militares afectos, então foi estranhamente mal preparado (mas poderia responder-se-lhe que em todas as revoluções há muitos que faltam à chamada na hora H).

Não se retire do parágrafo acima que «compro» a tese oposta (a da revolução PCPista em marcha a partir de Tancos evitada por valorosos «democratas» que, entendeu-se rapidamente, queriam mesmo era fuzilar uns tantos «comunas»). Pelo contrário, até acho que, por estranho que hoje pareça, a tese de que o PCP andou a reboque (ou quase...) da extrema-esquerda deste Março de 1975, e que ficou «entalado» no V Provisório e depois até Novembro, inclusivamente nos acontecimentos de 25, é a que andará mais próxima da verdade.

E não tenho qualquer dúvida que o 25 de Novembro deu muito jeito ao actual «arco da governabilidade» (aí fundado) e à tal «extrema-esquerda» (salva de si própria). Realmente só não deu jeito ao PCP...

Palestina e Israel - a desproporção de vítimas


Às vezes uma imagem vale mil palavras.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pessoas estranhas

O Director de Informação da RTP demitiu-se. A Administração diz que «responsáveis da Direcção de Informação facultaram a elementos estranhos à empresa, nas instalações da RTP, a visualização de imagens dos incidentes verificados após a manifestação em frente à Assembleia da República, no dia da greve geral». Nuno Santos, o ex-director, nega... ou quase: diz que «nenhuma imagem saiu das instalações da RTP» e que «[não autorizou] de forma expressa ou velada a cópia de quaisquer imagens». E demite-se, o que autoriza que se conclua que se não deixou que as imagens «saíssem» da RTP, pelo menos deixou que as «pessoas estranhas» as «vizualizassem».

O assunto interno da RTP é fácil: houve quebra de confiança, logo demitiu-se. Siga.

Resta a questão de saber quem eram as tais «pessoas estranhas». Ora, «a PSP pediu à RTP brutos das imagens recolhidas junto ao parlamento, material que a estação não fornece (...) as imagens que passaram na edição da RTP e RTP informação, do domínio público, foram enviadas à polícia ao final do dia». A PSP não teria interesse em «vizualizar» imagens sem ficar com as respectivas «cópias»: porque sem as «cópias» não poderia haver procedimento judicial. Haverá um serviço do Estado interessado em «visualizar», mas que dispensa as cópias porque não inicia procedimentos judiciais? Que guarda apenas a «informação» da vizualização?

2+2=...

Mitos da crise I

É raro o dia em que não se ouve baboseiras sobre a crise da Zona Euro. Não me refiro a opiniões de que discordo, mas de afirmações falsas. Já era tempo de lhes dedicar uma série de posts. 
Nada melhor do que dedicar o primeiro post ao Gaspar, Vítor Gaspar. Apesar de não o dizer explicitamente, ele associa a crise à falta de controlo da dívida pública em "alguns países".
Aqui fica a dívida pública dos PIIGS desde 2000, dados da Comissão Europeia:

O que se vê não é um falta de controlo, mas uma descida sustentada que ocorreu todos os anos sem exceção até à crise.

E se Berlim quisesse que Atenas deixasse o Euro pelo seu próprio pé

De todas as hipóteses que se podem levantar numa psicanálise à atitude de Berlim na crise do Euro, é a única que ainda me faz sentido. E cada vez mais.
Todas as outras teorias, como afirmar que Berlim quer acima de tudo fazer dinheiro, ou salvar a sua banca, ou ajudar altruisticamente a Grécia, etc. em nada explicam o porquê da insistência numa receita que só tem agravado a situação e a sustentabilidade da dívida grega, nem porque Berlim dá constantemente uma no cravo e outra na ferradura.

O que se passou ontem à noite, com o Eurogrupo a voltar a adiar o pagamento de uma tranche de 31 mil milhões que já deveria ter sido feito em Setembro, mesmo depois de Atenas ter aceitado cortar 13 mil milhões nos gastos do Estado (ao pé disto, os nossos 4 mil parecem uma brincadeira), foi um vergonhoso puxar do tapete a quem em Atenas defende que a solução passa pela troika. Dificilmente reconquistarão alguma credibilidade.
O percurso parece traçado.

Censos 2011: um milhão de portugueses não católicos

Ao responder aos censos de 2011 (os resultados foram ontem divulgados) quase um milhão de portugueses (maiores de 15 anos) se declararam não católicos: 615 mil assumiram-se «sem religião» (eram 343 mil em 2001) e 348 mil declararam seguir outras religiões que não a católica (eram 216 mil em 2001). Existem ainda 745 mil que se negaram a responder (787 mil em 2001). O número de católicos declarados como tal ao censo mudou pouco: diminuiu de 7,35 milhões para 7,28 milhões.

Em percentagem, os «sem religião» subiram de 3,9% para 6,8%, os de outras religiões de 2,5% para 3,9%, enquanto os católicos desceram de 85% para 81% (os que se recusam a responder pouco variaram, de 9% para 8,3%). Duas tendências crescentes: a dos que não têm religião e a dos que seguem religiões não católicas (entre os quais os grupos mais importantes são os 57 mil «ortodoxos», os 76 mil «protestantes» e os 163 mil que identificaram a sua religião como «outra cristã»). Pode afirmar-se seguramente que existe um aumento da secularização e da diversidade religiosa.
O gráfico mostra apenas a evolução dos três grupos minoritários (a coluna católica seria muito maior). Não será abusivo extrapolar que, a manterem-se as tendências actuais, o número de portugueses sem religião (declarados ao censo) ultrapassará um milhão no censo de 2021, ano em que os portugueses de outras religiões poderão ser meio milhão.

(Poupem-me ao «Portugal esmagadoramente católico»...)

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Na ICAR estas coisas não se votam?

A igreja anglicana recusou hoje, numa votação renhida (faltaram seis votos para os necessários dois terços), que as mulheres (que já podem ser «padresas») possam ser «bispas».

Só uma questão aos católicos portugueses: quando é que uma questão destas irá a votos (votos, democracia, assim mesmo) na igreja católica romana?

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

domingo, 18 de novembro de 2012

Perspectivas

O sonho de Sá Carneiro é um pesadelo: um presidente que é o primeiro que não tenta sê-lo «de todos os portugueses», um governo que com a desculpa da intervenção externa realiza um programa revanchista e extremista, uma maioria que assina por baixo, um PS anestesiado e uma esquerda radical guetizada.

A situação política actual só mudará nos seguintes cenários.

  1. Acontece um segundo resgate antes do Verão, e Cavaco nomeia um novo primeiro ministro (Ferreira Leite?) à frente de um governo de «tecnocratas», com ou sem apoio do PS;
  2. O CDS deixa-se de fitas e sai do governo, passando ao apoio parlamentar (o que não duraria muito tempo);
  3. O PSD tem uma derrota estrondosa nas autárquicas de Outubro de 2013, precipitando uma revolta interna e novas eleições;
  4. Uma entidade externa «demite» Passos Coelho e Gaspar por manifesta incompetência (talvez isso tenha acontecido com Papandreou, fez agora um ano), empurrando Cavaco para o cenário 1.
Na ausência de qualquer um destes cenários, temos pela frente ainda mais dois anos e meio de empobrecimento generalizado, subserviência à Alemanha e violência policial.

Polícia bom, polícia mau

  • «Brigadas infiltradas entre manifestantes esperaram, em vão, que o Corpo de Intervenção cercasse agressores e lhes permitisse detenções cirúrgicas, escreve o 'Correio da Manhã'. De acordo com este jornal, o treino policial para intervenção em conflitos urbanos pressupunha que o Corpo da Intervenção da PSP, ao ser apedrejado à frente do Parlamento, tivesse em poucos minutos formado um cerco à dezena de agressores. Tal teria permitido que os agentes da PSP à civil, no meio dos manifestantes, efetuassem detenções cirúrgicas. Segundo o 'Correio da Manhã', o facto desta manobra tática não ter avançado, por decisão do Comando de Lisboa, causou desconforto junto de responsáveis policiais.» (Diário de Notícias)
Desafio o leitor a deixar a sua opinião na caixa de comentários:
  1. A culpa foi do «Comando de Lisboa», que não deu ordem para fazer as prisões;
  2. A culpa foi das «brigadas»(sic) de infiltrados, que não quiseram fazer as prisões;
  3. A culpa foi do CI, que só queria era dar porrada;
  4. A PSP e o CI são tão incompetentes que não se sabem coordenar;
  5. Esta notícia saiu (no «Correio da Manhã»...) só para baralhar o debate.

sábado, 17 de novembro de 2012

O milagre económico alemão?

A Alemanha tem sido apresentada como uma economia exemplar pela sua pujança, em contraste com o Sul preguiçoso e irreformável. Há contudo que meter as coisas em contexto.
Desde o início do Euro até a crise, de 1999 a 2008, a Alemanha violou frequentemente os limites das finanças públicas estabelecidos em Maastricht, chegando à crise com um nível de dívida pública equivalente ao português. A Alemanha era uma das economias anémicas da Europa (como Itália e Portugal), com um fraco crescimento de 1,6% ao ano. Nesse período a UE cresceu a 2,4% e a Zona Euro a 2,2% (sem a Alemanha em ambos os casos).
A crise inverte esta tendência. De 2009 a 2013 prevê-se um crescimento de 2,2% na Alemanha, bem acima dos 0,2% na Zona Euro e 0,6% na UE. E é difícil não associar esta inversão súbita ao desenrolar da crise. É difícil não pensar na velha queixa dos empresários alemães sobre a falta de jovens com elevadas qualificações numa sociedade envelhecida como a alemã, pensar no elevadíssimo desemprego jovem no Sul, e nas políticas ativas do governo alemão para atrair os tais jovens qualificados. É difícil não ligar o modo com a sua chanceler tem aparecido como a commander-in-chief de toda a Europa, e os enormes fluxos de capitais em direção à Alemanha em busca de alguma estabilidade no meio do pânico - fluxos esses tão grandes que levam a Alemanha a ter taxas de juros mais baixas que a sua vizinha Holanda, apesar de ter o dobro da dívida pública desta (82% contra 45% do PIB). É difícil não pensar na facilidade que há hoje na Alemanha em encontrar financiamento para qualquer investimento, quando até as taxas de juros nominais da dívida pública são negativas.
Não estou a afirmar que Berlim tenha intuitos obscuros na sua condução da crise - tanto que esta também a atinge - mas há que perceber que a Alemanha que nos mostram hoje, é como é, graças à crise.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Revista de blogues (15/11/2012)

  • «(...) Quando, às 17.30, me apercebi que nada pararia uma minoria de idiotas, abandonei o local. Muitos decidiram ficar, mantendo a devida distância dos desordeiros, sem que, como vimos mais tarde, isso os livrasse de ser vítimas da violência policial. Era certa a injustiça: a enorme coragem que tantos trabalhadores portugueses mostraram, ao correr o risco de fazer greve (muitos deles precários e em risco de perderem o emprego) e ao perder um dia de salário que tanta falta lhes faria, seria esmagada pelas imagens de violência que sempre têm a preferência dos media. (...) Disse o ministro que as provocações - que existiram - eram obra de "meia dúzia de profissionais da desordem". Se eram meia dúzia (facilmente identificável depois de uma hora e meia de tensão), porque assistimos a uma carga policial indiscriminada, que varreu, com uma violência inusitada e arbitrária, tudo o que estava à frente? Porque foram agredidos centenas de manifestantes pacíficos, só porque estavam no caminho, naquilo que, segundo a Associação Sindical da PSP foi a "maior carga policial desde 1990"? (...) Como é possível que tenham sido detidas dezenas de pessoas no Cais do Sodré e noutros locais da cidade, sem que nada tivessem feito a não ser fugir de uma horda de polícias em fúria e aparentemente com rédea solta para bater em tudo o que mexesse? Entre os detidos e os agredidos estava muita gente que, estando tão longe de São Bento, nem sequer tinha estado na manifestação ou sabia o que se passava. Como é possível que dezenas e dezenas de pessoas tenham sido detidas em Monsanto e na Boa Hora sem sequer lhes tenha sido permitido qualquer contacto com advogados, como se o País estivesse em Estado de Sítio e a lei da República tivesse sido abolida? (...) O ministro da Administração Interna garantiu que, ao contrário do que foi escrito em vários órgãos de informação, não havia agentes infiltrados na manifestação, a promover os desacatos para excitar os mais excitáveis e justificar esta intervenção. Fico-me por aqui: sei o que vi antes de me vir embora. E os agentes infiltrados começam a ser cada vez mais fáceis de identificar. Já uma vez o ministro desmentiu uma notícia semelhante que depois ficou provada. (...)» (Daniel Oliveira)

Isto não foi um «excesso»


Segundo o presidente da República, afirmar que houve excessos na repressão policial de ontem à noite «só pode ser um insulto à polícia». Portanto, na presidencial apreciação, o que a fotografia mostra não é um excesso. É a «louvável» consequência de «não haver tolerância possível» para «pessoas apostadas na destruição, apostadas na violência, que querem destruir a sociedade», como será (na opinião de Cavaco) o caso da idosa da fotografia.

Subsidio-dependência

Combustíveis fósseis subsidiados em 523 mil milhões de dólares, diz-nos o Diário Económico.

É raro que os liberais com maior acesso aos meios de comunicação social abordem este problema, seja nos EUA (que pagam mais de 80% deste valor), seja noutros países que contribuem para estes valores perfeitamente absurdos. E o escândalo e indignação que estes valores impressionantes mereceriam de um liberal coerente não seriam inconsequentes, pois pessoas de ideologias muito distintas que abarcam grande parte do espectro ideológico sentem igual aversão a estes subsídios. Esta seria uma causa comum, que com publicidade suficiente alcançaria uma fatia muito significativa (certamente maioritária) do eleitorado. Algumas sondagens revelam uma aversão a estes subsídios na ordem dos 70%.

Mas isso nunca acontece. Mais facilmente podemos ouvir críticas quanto aos custos do ITER, que pretende resolver o problema energético de forma sustentável e economicamente viável, e que ao longo do seu programa a 35 anos custará 915 vezes menos que os subsídios à indústria fóssil durante esse período. Porque é que isso acontecerá?

Os interesses dos mais poderosos conseguem efectivamente condicionar o debate público. Sugiro a todos os leitores que se consideram liberais que prestem alguma atenção a este caso escandaloso de subsídio-dependência.  Um mínimo de coerência e informação assim o exigem.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A violência gera violência

A violência da polícia gera a violência dos manifestantes. A violência dos manifestantes gera a violência dos polícias. E desta espiral só se sairia se existissem tribunais que condenassem uns e outros, ou um governo ou um presidente que fossem capazes de serenar os ânimos (não existem).

Os media de amanhã culparão os trinta jovens de cara tapada pela violência policial (e Miguel Macedo fê-lo há poucos minutos). Já escrevi muitas vezes que não compreendo que se tape a cara quando se está a defender direitos de cidadania em democracia. Mas o facto de estes jovens aparecerem na primeira linha das manifestações, aparentemente sem qualquer enquadramento político, mostra como a situação se está a degradar rapidamente. Se ainda existissem FP's-25, daqui a duas semanas estariam a pôr bombas. Mas não há: a manifestação de hoje tornou-se violenta quando a CGTP abandonou o local e o único partido de que se via bandeira era o MAS. Todavia, erram os que culpam unicamente os caras-tapadas: muito possivelmente, os infiltrados(*) do SIS e da PSP foram relevantes no desencadear da violência. E disso pouco se fala, apesar de esse papel estar comprovado e assumido desde o início deste governo.

Na greve geral de hoje avançou-se mais um pouco numa escalada descendente que não augura nada de bom.




O Estado Social está para lá das nossas possibilidades

Os moços (políticos de direita, comentadores, jornalistas e afins) que andam por aí a dar como adquirido que o Estado Social vive acima das nossas possibilidades, parecem um pai que depois de convencer o filho a deixar o emprego, refila com ele por não ter dinheiro para pagar o empréstimo da mota.
Fico na dúvida se esta gente é parva e não percebe que com 16% de desemprego, há 16% da população activa que é uma despesa para o Estado em vez de ser uma receita, ou se nos estão a tomar por parvos para conseguirem em tempo de crise o que não conseguem em tempos normais, a redução do Estado Social. A primeira parece-me mais plausível.

Entretanto o Eurostat divulgou hoje os 5 países da UE onde a indústria mais caiu foram exactamente os 5 PIIGS. Dados os desequilíbrios comerciais e quebra do produto nos PIIGS, este será dos índices a mais ter em conta. A sensatez da actual política europeia está portanto à vista.

Em frente, para trás!

Há um certo conceito de Estado, que se julgava enterrado nos tempos medievais, que faz o seu caminho com este governo. É menos do que o Estado mínimo, é um Estado que apenas retém as funções pré-iluministas de polícia, exército, espionagem e «justiça» (mas só para a plebe). Que gasta dinheiro em vigilância, mas não em saúde e educação. Que aumenta em 10% polícias ao mesmo tempo que anuncia o fim do Estado social. E quando o povo se revoltar... haverá a polícia privada dos senhores feudais, ao redor dos seus condomínios privados...

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Greve é também não fazer trabalhar os outros

Fazer greve não é só não trabalhar. É também não fazer trabalhar os outros. Não comprar. Não andar de transportes públicos. Não meter os filhos na escola. Não gastar.

Eu sei, pode parecer pouco. Até ridículo. Mas convém pensar nisto numa época em que o trabalho já não é o que era. Em que se desequilibrou de tal modo a relação de forças entre capital e trabalho que se tornou facílimo despedir ou até manter presos trabalhadores sem contrato ou sem salário fixo (e trabalhadores que nem sequer são reconhecidos como tal). Em que o sub-emprego e o emprego parcial são a condição do precariado. E em que, infelizmente, os sindicatos e os media se focam naquela minoria de 11% que trabalha directamente para o Estado.

Sobre o Bloco


Estive nesta convenção pela Moção B, a moção dinamizada pelo João Madeira, Daniel Oliveira, Adelino Fortunato, entre outros. Tal como eles não me revi na forma como foi escolhida a atual coordenação do BE.  A minha crítica estende-se ainda à forma como o Bloco tem gerido as suas alianças, por um lado de uma forma muito desconfiada com a esquerda mais moderada (socialistas que não aderiram à terceira via, independentes, etc.) e por outro demasiado condescendente com os ataques dos partidos comunistas do GUE e com as suas políticas de tolerância a ditaduras abjetas (Coreia, China, Angola, etc.). Em suma, cada vez que as táticas e as práticas do Bloco se assemelham ao que de menos interessante tem o PCP, afastamos simpatias e potenciais aderentes.
Com 85 delegados eleitos e apenas 80 presentes, conseguimos 110 votos (~ 25%) para a Mesa Nacional e mais de 120 para a Comissão de Direitos. Não foi nada mau. Tendo surgido muito tardiamente, o movimento que se iniciou com a Moção B deixou no ar um forte potencial contagiante a muitos aderentes da Moção A. 
O discurso final do João Semedo foi inteligente e tomou em conta muitas das nossas críticas. Ainda bem.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O endividualismo em todo o seu esplendor

"Entre 1990 e 2010, construiu-se uma casa a cada seis minutos em Portugal", diz Manuel Maria Carrilho, mal citado no "Público" mas corrigido nos comentários do Jugular. A propósito, o mais notável no texto do João Pinto e Castro (além do patente desprezo pela filosofia) é o reagir como se, independentemente do lapso original, não fosse evidente que há casas a mais em Portugal (e tanta gente para morar nelas e sem poder!).

sábado, 10 de novembro de 2012

O BE não passa disto

  • «Empurrem por favor o PS para a esquerda (...) João Semedo rejeitou hoje um governo de esquerda com o PS» (João Semedo).
  • «Não nascemos para ser gueto (...) sabemos que a pureza não faz maioria (...) O BE deve ter “os dois pés na esquerda” (...) quando o Bloco cresceu mais foi quando se demarcou mais do centro (...) entende que o crescimento do partido, com vista à formação de um governo, está longe do centro político» (Joana Mortágua).
  • «Recusou (...) a ideia de que o seu partido está acantonado e sublinhou que a culpa da falta de convergências à esquerda é do PS e do PCP» (Pedro Filipe Soares).

Revista de blogues (10/11/2012)

  • «Em 2011 as campanhas de recolha em supermercados contribuíram apenas com 10% do valor dos produtos recolhidos pelo Banco Alimentar de Lisboa. A indústria agro-alimentar, reciclando os seus excedentes, doou 43%. A reciclagem de excedentes da UE contribuiu com 22%. O Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (de novo, os excedentes) doou 11%. As retiradas de fruta pelo IFAP (ainda os excedentes) renderam 6%. Ou seja, ao todo, o escoamento de excedentes correspondeu a 82% do valor dos produtos distribuídos.
  • O Banco Alimentar precisa das campanhas de recolha em supermercados por boas razões de marketing e ao fazê-lo mantém ocupados os escuteiros e toda a rede de voluntários ligada à Igreja Católica, que enquanto estão à porta dos supermercados a estender-nos os saquinhos estão a contribuir à sua maneira para o bem comum e a ajudar-nos a - como em todos os actos de caridade - aliviar as consciências sem resolver nenhum problema estrutural. (...) o core business do Banco Alimentar não é a nossa caridade, é evitar o escândalo da destruição de produtos alimentares no nosso país e na nossa Europa. (...)» (Paulo Pedroso)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Schäuble e Vichy

A Reuters conta-nos há poucos minutos que o governo alemão encomendou um estudo interno, pedindo recomendações para a política económica interna francesa.
Não contentes com a domesticação de vários países do Sul, Berlim quer mandar bitaites para Paris também.
Schäuble deveria saber - mas claramente não sabe - que o equilíbrio no eixo Paris-Berlim é sagrado para a estabilidade europeia, e foi ele que nos permitiu o mais longo período de paz e prosperidade na Europa ocidental.
Citando o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros alemão Joschka Fischer, "seria uma tragédia e uma ironia se a Alemanha reunificada voltasse a arruinar a ordem europeia por uma terceira vez".

"Sandwiche" com manteiga: um verdadeiro luxo!

Hoje lembrei-me disto  (a partir dos 3:50).
 

Com amigos destes...

Há um ano e meio escrevi "Pobre Europa controlada pelos egoísmos nacionais tacanhos de direita, onde cabe ao "demónio" do FMI defender Portugal".
Hoje, não me restam dúvidas de que entre o BCE, a Comissão Europeia, o Governo português e o FMI, este último é a única instituição para a qual os portugueses (e gregos, espanhóis, etc.) ainda podem olhar com alguma esperança. Indícios disso aparecem todos os dias:

- JNeg: Schäuble critica abertura de Lagarde para suavizar austeridade
- Público: FMI alerta que austeridade pode tornar-se “socialmente insustentável” 
- Guardian: To make matters worse, there is a deepening argument between the IMF and the Europeans over the merits of austerity and whether the policies being pursued are the right ones. 
The IMF has been pressing the Europeans to accept an official writedown of Greek debt, OSI, but this is strongly resisted by the Germans and the ECB in Frankfurt. 
Triste sina.

«Portugal não é um país de Merkel»

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Um desafio à Chanceler Merkel

Sou subscritor da carta «Um desafio à Chanceler Merkel» reproduzida mais abaixo. Quem a quiser assinar deve fazê-lo até sexta-feira às 11 horas, aqui.
  • «Exmª Srª Chanceler Merkel,

    Escrevemos-lhe em antecipação à sua visita oficial a Portugal no próximo dia 12 de Novembro. No programa dessa visita há uma oportunidade perdida: a Srª Chanceler vai falar com quem já concorda com as suas políticas. E mais ninguém.

    Julgamos poder afirmar que a maioria dos portugueses discorda das suas políticas e poderia ter consigo uma conversa honesta e para si instrutiva acerca do que se está a passar no nosso País e na Europa.

    Uma das primeiras coisas que lhe poderíamos explicar é como Portugal perdeu, só no último ano, 22 mil milhões de euros em depósitos bancários — mais do que aquilo que agora é obrigado a cortar em despesas sociais. Mas há mais: em transferências de capitais, Portugal perdeu pelo menos 70 mil milhões de euros desde o início da crise. Se este número faz lembrar alguma coisa é porque ele é praticamente igual ao montante do resgate ao nosso país. O que isto significa é que a insolvência de Portugal é, em primeiro lugar, o resultado das insuficiências das lideranças europeias e de gravíssimos defeitos na construção da moeda única.

    Portugal tinha à partida problemas e insuficiências. Os cidadãos portugueses sabem disso melhor do que ninguém. É por isso que lhe podemos dizer: as políticas atuais agravam os nossos problemas e impedem-nos de os resolver. Quanto mais prolongadas estas medidas de austeridade forem, mais irreversíveis serão os seus efeitos negativos. É por saberem isso, por verem isso no seu quotidiano, que os portugueses estão angustiados e indignados. Talvez no seu breve percurso por Portugal possa ver que muitos de nós pusemos panos negros nas nossas janelas. A razão é muito simples: estamos de luto.

    Estamos de luto pelo nosso País. A Srª Chanceler virá entregar a cem jovens portugueses bolsas de estudo na Alemanha. Deveria saber a Srª Chanceler que os portugueses vêem como uma tragédia que a nossa juventude, a geração mais formada da nossa história, em que tanto investimos e de que tanto orgulho temos, esteja a abandonar em massa o nosso país por causa das políticas que a Srª Chanceler foi impondo. Esta sua ação é vista como mais um incentivo para a fuga de cérebros, de que tanto precisamos para a reconstrução do nosso país. A maioria dos portugueses não entende como é possível que não se procure criar condições para que os milhares de jovens licenciados que fogem de Portugal todos os anos queiram voltar para ficar. Tal como também se vive aqui como uma provocação a Srª Chanceler vir acompanhada de empresários alemães, com o propósito de fazerem negócios proveitosos para o seu país, mas desastrosos para o nosso que vê todos os dias nas notícias o seu património a ser privatizado para lucro de todos menos do povo português.

    E estamos de luto também pela Europa. O grau de distanciamento e recriminação entre os povos e os países da União é estarrecedor, tendo em conta a trágica história do nosso continente. Desafiamo-la a reconhecer, Srª Chanceler, que cometeu um grave erro ao ter recorrido a generalizações enganadoras sobre os povos do Sul da Europa — ao mesmo tempo que condenamos as expressões de sentimento anti-alemão que mancham o discurso público, onde quer que apareçam. As nossas nações europeias, todas elas históricas, são diversas entre si mas iguais em dignidade. Todas devem ser respeitadas e todas têm um papel a desempenhar na União.

    Cara Srª Chanceler, esta loucura deve parar. A Europa volta a estar dividida ao meio, não por uma cortina de ferro, mas por uma cortina de incompreensão, de inflexibilidade e de irrazoabilidade. Estamos disponíveis, enquanto seus concidadãos europeus, a abrir um verdadeiro debate transparente e participado sobre a saída desta crise e o nosso futuro comum, para que possamos fazer na nossa Europa uma União mais democrática, mais responsável, mais fraterna — e com mais futuro.

    Mude o programa da sua visita a Portugal. Fale com quem não concorda consigo. Use esta visita como um momento de aprendizagem. Use a aprendizagem para mudar de rumo.

    Com os nossos cordiais cumprimentos,»

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A grande desilusão


Não escrevo por mim, escrevo pelos meus colegas e amigos (cientistas, divulgadores, estudantes, etc.) que tinham grandes expectativas neste Ministro da Educação e Ciência. A sua aura de bom divulgador sempre gerou alguma empatia no meio científico. Fui testemunha direta dessa empatia quando lhe atribuímos o título de sócio honorário da Sociedade Portuguesa de Astronomia. No entanto, os indícios da desilusão estavam lá desde o início, quando aceitou participar num ministério de fusão da educação com a ciência, em que a justificação da fusão era de um economicismo puramente populista, e quando aceitou participar num governo cujo primeiro-ministro apresenta um curriculum estranho, muito mais dedicado à Jota do que aos estudos, um primeiro-ministro sem qualquer noção da importância da ciência no desenvolvimento das sociedades modernas. A que se agrava o facto de estarmos a falar do autor de "O Eduquês em Discurso Directo", livro onde são desenvolvidas ideias altamente moralistas do ensino. 
Cedo se percebeu que a componente dedicada à ciência iria ficar mais a cargo da FCT, do que de um ministério saturado com o trabalho relativo ao ensino secundário. Depois começaram os primeiros problemas de financiamento de bolseiros e universidades. A seguir veio o caso Relvas, tratado com muita condescendência e profunda lentidão. Supunham os meus colegas e amigos que o mesmo autor de "O Eduquês em Discurso Directo" atuasse com firmeza ou, pelo menos, coerentemente fizesse um ultimato ao primeiro-ministro: ou ele ou Relvas. Mas não, as conclusões da inspeção à Lusófona deixam margem para tudo, até para Relvas e outros cábulas poderem repetir as cadeiras que fizeram de uma forma ilegal. Pior, até agora Relvas não teve qualquer tipo de sanção.
Nas últimas semanas, as melhores universidades do país, todas públicas, estão a entrar em colapso adotando medidas terceiro-mundistas para não fechar portas, medidas essas que comprometem seriamente a investigação aí realizada, e que é a melhor investigação que se pratica no país.
A desilusão dos meus colegas e amigos é agora profunda, agora que se tornou evidente que a ciência está a ser progressivamente eliminada por um bando de cábulas e chicos espertos bem nas barbas do ministro e autor de "O Eduquês em Discurso Directo".

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A «crise» da natalidade tem meio século

Os políticos, muitas vezes, crêem-se omnipotentes (ou tentam-nos convencer de que o são). Estou tão habituado que ao ouvir falar dos «alertas» (sic) do Presidente sobre o «inverno da natalidade», ou de medidas avulsas (mas talvez valorosas) dos autarcas, só sorrio. Porque a queda da natalidade é uma tendência com já meio século de duração: o último alto pico de nados vivos em Portugal foi em 1962 (220 mil); desde aí, tem sido o que se vê do lado direito do gráfico (em 2011, baixámos até aos 97 mil). Note-se bem: há 50 anos havia guerra colonial, ditadura e o palerma de Santa Comba Dão. Depois, houve uma revolução, acabou a guerra, morreu o Cerejeira, instaurou-se a democracia, vieram os «retornados», entrou-se na CEE, passámos de país de emigrantes a país de imigrantes e, finalmente, chegámos à crise do euro. Não deve ter havido primeiro ministro (na ditadura, na revolução ou na democracia) que não tenha prometido «apoiar a natalidade». Foram dezanove e, sinceros ou não, com boas ou más ideias, pouco puderam fazer para inverter a tendência de algo que resulta de um somatório de dezenas de milhar de decisões individuais nada fáceis e muito íntimas.

Todavia, a natalidade não é completamente indiferente à política: do lado esquerdo do gráfico vêem-se bem os dois anos da pneumónica e os anos em que a segunda guerra mundial realmente afectou Portugal (porém, acontecimentos bem para lá do controlo dos políticos nacionais). E, por outro lado, o pico do ano 2000 (que tem o seu lado cómico) não seria possível sem a (relativa) prosperidade da viragem do século. Se realmente os nascimentos este ano caírem para os 90 mil ou para os 80 mil (!), será um sinal (mais um) da crise económica. Mas também «apenas» o agravamento de uma tendência que é de muito longo prazo.

Já ganhou!

CR7 apoia Barack Obama.

sábado, 3 de novembro de 2012

Mesmo a sério e sem wishful thinking: isto pode realmente ser o princípio do fim do jardinismo

Jardim reeleito no PSD-Madeira... com 51% dos votos (e o apoio da máquina de propaganda do governo regional). Talvez Jardim nunca venha a ser derrotado, mas demonstrou-se que o jardinismo é derrotável.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012