Começaram por ocupar as praças, para discutir pacificamente. Mas começaram a achar-se donos delas e agora atacam um parlamento legitimamente constituído tentando impedi-lo de se reunir. Em Barcelona e noutros locais de Espanha está-se a verificar como o movimento da «democracia real», apesar das boas intenções de muitos, pode descambar facilmente no ataque à democracia realmente existente, a que depende do voto secreto, regular e livre da pressão de grupo. Ao quererem deslegitimar a representação, estão a acabar por se deslegitimar a si próprios.
Eu não sei se a questão será assim tão simples como isso.
ResponderEliminarPode argumentar-se que a democracia, para ser legitima, precisa de mais do que a auto-legitimação. Precisa nomeadamente, que exista um contrato de boa-fé entre eleitores e eleitos. Parece-me que há quem defenda que os eleitos não estão de boa fé.
Nesse cenário, não se justificaria uma acção mais directa, por parte dos eleitores?
E os restantes eleitores, que são a larga maioria e que exprimiram a sua opinião através do voto? Presumindo que o fizeram de livre vontade e porque acreditam na boa-fé dos eleitos, é legítimo que um grupo minoritário (que provavelmente teve uma taxa de abstenção muito alta) sobreponha a sua opinião à deles?
ResponderEliminarNote que eu acho salutar a formação destes movimentos, mas não posso concordar com estas acções...
Subscrevo inteiramente, quer o artigo original, quer o comentário do António Matos.
ResponderEliminarMas, e se os movimentos de contestação forem maioritários?
ResponderEliminarSe houver má-fé por parte dos eleitos, isso só se revelará após a legitimação eleitoral. Em que momento é que é aceitável este tipo de contestação?
Concordo em larga medida com o teor do tExto. Porém, resta saber se as leis eleitorais, aprovadas pelos partidos que se alternam no poder, ao converterem os votos em mandatos, traduzem, efectivamente,
ResponderEliminara verdadeira representatividade da vontade manifestada nas urnas. Foco, em particular, o resultado das últimas eleições legislativas em Portugal: Com círculos eleitorais únicos de proporcionalidade estrita, PSD e PS teriam menos 21 deputados do que aqueles que obtiveram com os círculos distritais segundo o método de Hondt. Por outro lado, CDS e BE teriam mais 4 e CDU mais 3. MRPP elegeria 3 e o PAN 2. MPT, MEP, PNR, PTP e PPM teriam obtido 1 deputado cada. Quando a lei não contempla a verdadeira representatividade, não espanta que alguns venham a terreiro com propostas "alternativas".
Zorg: Se os movimentos contestatários forem maioritários, com certeza que poderão apresentar listas próprias, não? E concorrer na plataforma de uma reforma profunda do sistema político e eleitoral? Mas não me parece que seja isso que se passa nesta situação em particular.
ResponderEliminarEu creio que a questão que se coloca hoje é mais profunda do que isso. Creio que o que se começa a observar é a dificuldade dos sistemas políticos democráticos funcionarem sem democracia económica.
ResponderEliminarHá interesses contraditórios entre a minoria que detém a maioria dos recursos e a maioria que detém cada vez menos. Mas a capacidade de influenciar as opiniões públicas essencialmente dos recursos disponíveis e as disparidades acentuam-se cada vez mais.
Resultado: as expectativas dos eleitores em relação aos eleitos saiem cada vez mais vezes defraudadas. Não pode haver democracia sem que as pessoas tenham possibilidade de fazer escolhas informadas e cada vez mais é difícil fazer escolhas informadas. Creio que o problema se agravou depois do fim do blcoo de leste, cuja ameaça serviu para manter as coisas mais ou menos controladas do lado de cá.
Ironicamente, o fim dos regimes socialistas terá significado também o fim do modelo social europeu que, em determinado momento, pareceu a alternativa viável a seguir.
Não é aceitável que alguém impeça o funcionamento de uma assembleia de representantes legítima e democraticamente eleitos. E é contraditório que um movimento que quer mais democracia o faça.
ResponderEliminarIsto já é populismo anti-democrático.
Mas não poderão os defensores do establishmet desta esquerda republicana pensar por uns momentos que esta democracia é cada vez mais deficiente, que o modelo representativo foi a pouco e pouco minado? Vocês que se dizem da esquerda , aquela que era radical estava do lado esquerdo da assembleia durante a revolução francesa por apoiar os sans cullotte! aprendam a nadar companheiros , que a maré se vai levantar!
ResponderEliminarMais uma vez se confirma, aqui nesta caixa de comentários. Quem defende o sistema de democracia representativa dá o nome, a cara se for preciso. Quem não acredita na democracia representativa, seja fascista ou anarquista, refugia-se num pseudónimo.
ResponderEliminarRuaz: Sou de esquerda, sempre fui de esquerda e não faço tenções de deixar de o ser. Mas ainda estou para encontrar um modelo de organização de estado que represente mais o que acredito que a democracia representativa (com todos os seus defeitos). E se há coisa em que nunca me revi, foi no uso da força por minorias que presumem (e presumir é aqui o verbo chave) representar o interesse de maiorias. São feitios, enfim.
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