quarta-feira, 30 de junho de 2010

Os votos dos emigrantes

Há coisas que não fazem sentido nenhum. Dizer que «a sua representação política [a dos emigrantes] é mínima, chega a ser humilhante. Os emigrantes elegem apenas quatro dos 230 deputados. Mais de trinta por cento da população, representada por menos de dois por cento do Parlamento», é absurdo. O sistema eleitoral atribui 226 deputados aos 9,35 milhões de eleitores do território nacional, e 4 deputados aos 167 mil eleitores residentes no estrangeiro que se dignaram inscrever-se. Em ambos os casos, um deputado por cada 41 mil eleitores recenseados. Não há aí qualquer sub-representação, a não ser no défice de inscrição dos emigrantes, os tais miríficos «cinco milhões» de emigrantes que gostamos de imaginar como portugueses, mas que em muitos casos  (mais numerosos nas segundas e terceiras gerações) já nem sequer se considerarão como tal.

Ainda outro dado significativo do desinteresse dos emigrantes pela política nacional é uma taxa de abstenção de 85%, muito acima dos 39% de abstenção dos residentes em Portugal.

O Paulo Morais quereria exactamente o quê? Que os 25 mil emigrantes que  efectivamente votam elegessem 70 deputados?

Extinção imediata


Se há um «serviço público» que não faz falta nenhuma, é o prestado pelos auto-denominados «serviços de informações». A sua extinção seria benéfica para o défice e para o IDN (Índice de Decência Nacional).

terça-feira, 29 de junho de 2010

A ocupação do Afeganistão

Barack "Desilusão" Obama faz um comentário que nos lembra o seu antecessor. Um bom pretexto para rever a mais longa ocupação na história dos EUA:

Jornalistas justiceiros

A capa de hoje do último 24 Horas espelha a visão que muitos jornalistas têm de si próprios, de autênticos heróis de BD servindo o bem contra o mal, acima da lei dos humanos.

Manuela Moura Guedes, que durante anos conduziu um programa de entretenimento televisivo onde o PM era semanalmente injuriado (justa ou injustamente não está aqui em causa), agita-se agora nos tribunais com a única resposta que veio de Sócrates (que nunca colocou a jornalista em tribunal), mostrando pelo caminho que nem percebe porque os cargos políticos mais altos têm direito a imunidade.

O Sol numa brincadeira digna de um miúdo birrento, fintou a Justiça para publicar escutas contra uma providência cautelar. O Público chamou-lhe a "primeira tentativa de censura" desde o 25 de Abril.

Há tempos atrás, quando o Google divulgou o número de intevenções judiciais nos seus conteúdos (e o próprio Google tem o cuidado de dizer que a maioria são legítimos), a imprensa internacional chamou-lhe a lista da censura.

O quarto poder é tão importante para uma democracia como os outros três, mas não nos podemos esquecer que a liberdade de imprensa não é um direito absoluto (aliás, nenhum o é). A democracia precisa de uma imprensa que desempenhe a sua função bem, não de Michael Knights.

Revista de blogues (29/6/2010)

  • «Na verdade, desde o governo de Cavaco Silva (continuando com António Guterres, Durão Barroso e José Sócrates) que não paramos de construir auto-estradas. Chegámos finalmente ao ponto em que temos, proporcionalmente à dimensão do território, a maior rede de auto-estradas da Europa. Nesse mesmo período foi desmantelada grande parte da rede ferroviária. Será, provavelmente, das mais pequenas da Europa. Em simultâneo, privatizou-se a Rodoviária Nacional sem qualquer contrapartida de serviço público. E deixou-se a rede rodoviária secundária ao abandono. Ou seja, não sobraram alternativas para podermos prescindir de muitas das auto-estradas e do uso permanente do transporte individual. A prometida privatização da CP apenas agravará este problema, deixando as zonas menos rendíveis ainda mais abandonadas e ainda mais dependentes dos carros.» (Daniel Oliveira)

Burca e terrorismo

São duas faces do fascismo islâmico. Ler o depoimento de uma argelina.

Desinformação

A «comissão independente para o tratamento dos abusos sexuais na Igreja Católica belga», cuja demissão o portal Esquerda.net refere, só é independente do Estado belga por ser constituída por leigos católicos nomeados pelos bispos belgas. Era (na melhor das hipóteses) um alibi da ICAR, e é natural que a polícia tenha apreendido os seus arquivos recheados de casos abafados. Os abusos sexuais são crimes públicos nos países civilizados, e compete à polícia investigá-los e aos tribunais civis julgá-los, não às comissões de silenciamento da ICAR.

A histeria da ICAR por a polícia belga estar a cumprir os seus deveres tem gerado uma campanha de desinformação. Primeiro, inventaram que os bispos teriam estado sequestrados, a pão e água, o que a polícia belga já desmentiu: os procedimentos policiais foram rotineiros (mas há seres que se acham «acima do mundo», das leis e dos homens, e que nunca aceitarão ser tratados como iguais). Apresentar agora uma comissão de nomeação clerical como «independente» é mais desinformação clerical.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Leitura para as férias

Confirma-se

As sondagens de três institutos diferentes (Aximage, CESOP, Marktest) dão o PSD à frente do PS. É melhor começar a pensar no que se vai seguir.

domingo, 27 de junho de 2010

sábado, 26 de junho de 2010

Deixem a polícia trabalhar

O Vaticano está «indignado» porque a polícia belga se atreveu, veja-se lá, a recolher provas sobre casos de abuso sexual de menores e respectivo encobrimento.

Não entendo. Não são os próprios católicos que insistem que a ICAR é uma «instituição humana», e portanto «falível»? Se assim é, estão sujeitos à justiça humana como qualquer outra instituição.

Deixem a polícia trabalhar. Quem não deve, não teme.

O senhor que se segue

Se Cavaco ganhar a eleição presidencial, e seguidamente houver eleições legislativas com os resultados que as sondagens anunciam, teremos um presidente, um governo e uma maioria da pior direita possível. Aquela que quer privatizar o que resta do serviço nacional de saúde, subsidiar a escola privada obscurantista, e «flexibilizar» ainda mais os despedimentos.

O PS que trate rapidamente da sucessão de Sócrates. Resta menos de um ano.

Diz o Público: enquanto não regionalizarem nem fizerem ciclovias mais vale andarmos todos de popó

O “Público” parece ter descoberto as questões relacionadas com mobilidade. Só é pena que, avaliando pelo suplmento da semana passada, esteja a servir-se dela para promover questões que com ela nada têm a ver, pelo menos diretamente.
Num primeiro artigo, anuncia-nos que “já compramos muitas bicicletas – para andar faltam as ciclovias”. Eu sou um defensor da criação de ciclovias em cidades congestionadas por trânsito automóvel (não necessariamente em lugares turísticos só para efeitos de recreio, como se vê agora). Mas, como utilizador quotidiano de bicicleta (sem ciclovias), não posso aceitar que um jornal “decida” que só com ciclovias é que se pode andar de bicicleta. Essa é uma decisão pessoal, que deve ser estimulada (e a criação de ciclovias onde se justifiquem é um bom estímulo), mas que não deve depender nem ficar à espera da criação das mesmas.
Mas o exemplo mais gritante da utilização das questões da mobilidade para fins políticos que lhe são alheios é esta entrevista onde se defende que “sem regionalização não haverá transportes públicos de qualidade”. Eu compreendo que uma rede integrada de transportes públicos extravasa as autarquias, que têm que atuar em rede de uma forma concertada. Mas o principal problema nos transportes públicos em Portugal é a dispersão de operadores – de empresas.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Que estranho...

Ana Gomes afirmou ontem que o arquivamento dos processos dos voos da CIA foi um «frete político». E, mais concretamente, acusou o governo do PS de ter feito pressão sobre a Procuradoria Geral da República para esse fim. Nem mais.

Passaram-se quase 24 horas, e está tudo calado. O assunto é referido em dois jornais, não há reacções nem do governo nem da PGR, e a blogo-esfera «institucional», da «esquerda» ou da «direita», passa pelo assunto em silêncio.

Imagino que se se tratasse de uma licenciatura terminada por fax, de conversas telefónicas sobre um negócio falhado, ou da estética das casas do Primeiro Ministro Excelentíssimo, já iríamos em muitos megabytes de aceso debate. Como se trata da mera cobertura, ao nível do governo (e portanto da mesma pessoa...), ao trânsito de pessoas ilegalmente detidas que tinham sido/viriam a ser vítimas de crimes de tortura, não deve ter importância alguma.

Sou só eu a achar que há aqui um problema? Um problema de prioridades, de valores, de agenda mediática?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Durma, dr. Soares!


Foi durante o Prós e Contras desta semana (na segunda parte) que Mário Soares contou a história que aqui reproduzo.
Nos anos 80, era ele primeiro-ministro, por duas vezes o ministro das finanças, Silva Lopes, telefonou para sua casa desesperado, às duas da manhã, a dizer que no dia seguinte o país iria entrar em bancarrota e já não haveria dinheiro para pagar os salários. Das duas vezes Mário Soares respondeu que, se isso fosse mesmo verdade como Silva Lopes temia (e em nenhuma das duas vezes tal se confirmou), no dia seguinte ele, Mário Soares, teria de estar bem desperto para decidir o que fazer. "Por isso, ó Silva Lopes, deixe-me dormir!"
Se, aos 86 anos, o velho cometesse a loucura de se recandidatar a Presidente, eu ainda votaria nele. Mário Soares é o último grande português vivo.

Não aprender

Em 2006, Pedro Silva Pereira foi tratado de «hipócrita» por Gilberto Madaíl. Silva Pereira andara a tirar fotografias com os jogadores e as camisolas, e a «associar-se» matreiramente à equipa da FPF, número esse que é, infelizmente, muito popular entre os políticos. Quando Madaíl apresentou a conta (queria isenção de IRS para os prémios de jogo), o Governo fez negas. E Madaíl insultou.

Quatro anos passados, Silva Pereira não aprendeu nada e vai pelo mesmo caminho. Daqui por pouco mais de duas semanas, se, para nossa desgraça, a equipa da FPF ficar nos primeiros lugares do torneio de pé na bola, ela vai chegar. A dolorosa. Seja em isenções de IRS, seja em estádios, a brincadeira pode ficar-nos cara. E o Governo ainda não aprendeu a distanciar-se da camarilha da FPF.

E a novela continua

(Aqui.)

Aguarda-se a qualquer momento a chegada ao SIS do sensacional currículo de Carlos Santos.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ciência e Jornalismo, um exemplo de uma relação complicada



Eis uma das razões pelas quais o debate público sobre este assunto é tão primário: a vontade dos jornalistas em simplificar e «sensacionalizar» as histórias a que têm acesso, mais ainda quando se trata de temas na área das ciências naturais.

O filme «O dia depois de Amanhã» ao menos assume-se como ficção, mas as peças jornalísticas que focaram este tema não foram muito mais rigorosas. Agora os jornalistas denunciam as suas próprias asneiras atribuindo-as a cientistas que nelas nunca incorreram.

Depois, são eles, os cientistas, que acabam acusados de sensacionalismo.

A falta de sentido de Estado de Cavaco

A ausência de Cavaco Silva do funeral de José Saramago só vem confirmar a sua gritante falta de sentido de Estado. Cavaco é o chefe de Estado e José Saramago era só o português mais conhecido no mundo. Basta comparar a ausência de Cavaco com a presença do governo espanhol (que enviou a vice-presidente) e com as reações do líder da direita espanhola, Mariano Rajoy, com quem Saramago teve grandes polémicas e divergências, para se confirmar mais uma vez que o presidente português é um homem mesquinho e rancoroso, que não prestigia o país.
É verdade que, se Cavaco tivesse ido ao funeral, poderia haver quem o acusasse de oportunismo eleitoral. A origem de todo este problema está na atitude do governo de Cavaco perante Saramago, de que Cavaco nunca se retratou (e oportunidades nunca lhe faltaram). A grandeza de um homem também se vê na capacidade de reconhecer os seus erros. Também aqui a grandeza de Cavaco nunca se viu.

A ler: José Vítor Malheiros, citado pela Shyznogud.

(Longo bocejo)

Pedido o levantamento da imunidade parlamentar de José Sócrates (no processo de difamação interposto pela ex-deputada do CDS Manuela Moura Guedes).

terça-feira, 22 de junho de 2010

Resistência ao islamismo

Há alguns sinais positivos, nos países de população maioritariamente muçulmana, de resistência ao islamismo. Em Marrocos, é um grupo de jovens que fazem um pique-nique em pleno dia, durante o Ramadão, arriscando penas de prisão. No Líbano, profundamente dividido em comunidades confessionais, manifestações pela laicidade (ver o blogue). E na Gaza do Hamas há um grupo de Rap contra a violência religiosa.

Papá, o que é o comunitarismo?

Não satisfeitos com terem escolas religiosas ultra-ortodoxas, que separam as suas crianças das dos odiados árabes (muçulmanos ou cristãos, cada uns com as suas escolas), e dos não menos odiados judeus secularizados (que também não são bem vindos nas escolas religiosas), os judeus askhenazis querem agora que as suas filhas não frequentem as mesmas escolas do que as filhas dos judeus sefarditas. E manifestaram-se: 100 mil pessoas em Jerusálem e 20 mil perto de Tel-Aviv, com cartazes proclamando a supremacia da Torá sobre o Supremo Tribunal.

É inevitável: a religião divide. E quando se organiza um Estado em torno da religião, tolerando ou até (é o caso de Israel) promovendo a segregação entre comunidades religiosas, acaba-se a dividir dentro das divisões, até ao delírio e ao ódio mútuo. Porque os «puros» não se misturam com os «impuros». E porque, entre os «puros», há sempre uns mais «puros» do que os outros.

Se o dia da paz entre israelitas e palestinianos continua a parecer longínquo, o dia da paz civil entre comunidades judaicas também não parece mais próximo.

Inquérito: a governação de Obama

Já está a decorrer um novo inquérito. Questão: «a governação de Obama tem sido...».
Respostas:
  • Excelente, como eu esperava
  • Excelente, o que me surpreende
  • Razoável, o que me desilude
  • Razoável, como eu esperava
  • Razoável, o que me surpreende
  • Péssima, o que me desilude
  • Péssima, o que me surpreende
Agradece-se a participação dos leitores (coluna da direita, em cima).

segunda-feira, 21 de junho de 2010

E coitadinho de Dias Loureiro

Serviu tão bem o seu país, e está na miséria. Pergunto-me se não deveríamos organizar uma petição qualquer de apoio. Há que ser solidário para com quem menos pode.

Coitadinhos dos monárquicos

Nem o PSD conseguem convencer.

Faltar à verdade

O Policarpo saiu-se com esta:
  • «A colocação de crucifixos nas salas de aulas das escolas do país, “acabou por ser espontânea e por ser sempre um pouco ao nível da decisão da comunidade local”». (Público)
Acontece que ele não deve ignorar que está a apelidar de «espontâneo» um acto decidido em lei por um Estado autoritário:
  • «Em todas as escolas públicas do ensino primário infantil e elementar existirá, por detrás e acima da cadeira do professor, um crucifixo, como símbolo da educação cristã determinada pela Constituição.
    O crucifixo será adquirido e colocado pela forma que o Governo, pelo Ministério da Educação Nacional, determinar.
    » (Lei nº 1:941, de 1936; ver a «Base XIII»)
A isto, chamo faltar à verdade (porque hoje estou bem disposto).

Of the Corporation, for the Corporations, and by the Corporations

John Stewart, sempre brilhante.

domingo, 20 de junho de 2010

O Presidente de alguns portugueses

O Presidente da República entendeu não estar presente em momento nenhum das despedidas a José Saramago. Seja. Foi o Presidente dos Sousas Laras, do Vaticano e do 31 da Armada. Mas não foi o Presidente de todos os portugueses.

O que vale um ex-diretor do Público

São várias as inconsistências e incorreções neste texto de José Manuel Fernandes. Do lado dos escritores que nunca ganharam o Nobel, para além de referir incorretamente um premiado (como recorda o Nuno Ramos de Almeida), inclui pelo menos dois escritores ainda vivos (Rushdie e Vargas Llosa), que nada garante que não o venham a ganhar.
Do lado dos que ganharam o Nobel da literatura sem grande mérito, esquece-se de mencionar o mais injustificado destes prémios: o atribuído a Winston Churchill. Deve ser por Churchill ser a sua grande inspiração ideológica.
Mas nem isso é o mais importante. O que conta, a meu ver, é esta realidade: JMF lamenta sempre a “falta de reconhecimento do mérito dos melhores” por parte da nossa sociedade – desde que sejam empresários, “empreendedores”. Na hora da morte do mais reconhecido escritor português, JMF prefere desvalorizar desta forma o prémio que o imortalizou, revelando assim a sua mesquinhez e pequenez.
É verdade que Saramago não teria todo o reconhecimento universal que teve se não tivesse ganho o Nobel da literatura (embora já fosse um escritor conhecidíssimo internacionalmente quando o ganhou). Mas também que reconhecimento teria José Manuel Fernandes se não tivesse sido diretor do Público?

sábado, 19 de junho de 2010

Os próximos «retornados»?

O desenraizamento dos «retornados» constituiu o maior drama humano do pós-25 de Abril. Todos cremos que não será repetível, mas na verdade há um número superior de portugueses a residir na Europa ocidental a leste de Portugal do que havia nas várias colónias africanas, e uma Europa cada vez mais dominada por Le Pens, Finis, Wilders e outros semelhantes nunca esteve mais perto de começar a «reverter» os fluxos de imigrantes. Da União Europeia espera-se, evidentemente, que jamais permita tal coisa. Mas a UE é política e até economicamente frágil, como a crise actual tem comprovado.

Ao contrário do que gostamos de acreditar, os portugueses não são necessariamente bem vistos por essa Europa fora. O episódio do e-mail xenófobo e lusófobo posto a circular pela polícia luxemburguesa evidencia o ódio que os nossos compatriotas geram e que não gostamos de admitir. Já esteve mais longe o clima que permitirá novos «retornados».

O fator Deus

Texto de José Saramago, Público, El Pais e Folha de São Paulo, 19/09/2001

Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá "ver" cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes.

Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um
negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro. Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova York. Dois aviões comerciais norte-americanos, sequestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico, lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A História do Mundo

A minha universidade anunciou esta semana que vai ter de fazer cortes orçamentais. O discurso é o do costume: “Nós, os vossos governantes, juntamente com os oligarcas para quem realmente trabalhamos, desbaratámos as vossas poupanças, destruímos a economia, agredimos o ambiente e promovemos a guerra como uma oportunidade de negócios, e agora vocês têm de apertar o cinto, etc., etc.,”

Volta e meia, aqui e ali, grupos de pessoas revoltam-se e apertam o cinto, mas à volta dos pescoços dos governantes. Dá prazer sabê-lo, embora também saibamos que estas coisas nunca têm grandes consequências. Umas vezes os revolucionários tornam-se oligarcas, outras matam-se uns aos outros, outras são mortos e substituídos pelos antigos oligarcas.

Pode ser divertido ler estas histórias nos livros de história, mas a verdade é que as pessoas são todas iguais e a decência é um privilégio da classe média.

Ler os memorandos dos administradores da minha universidade, ver o depoimento do Tony Hayward e o comentário do meu conterrâneo Joe Barton, ou ler as biografias de Stalin ou J. Edgar Hoover, são coisas que dão a volta ao estômago de qualquer pessoa normal. Mas a verdade é que eles fazem o que fazem porque podem, porque a maioria não exige mais.

Obrigado

José Saramago (Azinhaga, 16/11/1922; Lanzarote, 18/6/2010)

Resultados: devem os véus integrais ser proibidos?

Terminou o inquérito com a pergunta: «devem os véus integrais ser proibidos?». Houve 99 respostas: 44 que sim, devem ser proibidos em toda a parte; 26 que sim, nos serviços públicos; 17 que não devem ser proibidos, mas que o seu uso incomoda; e 10 que não, e que o seu uso não incomoda; houve apenas duas respostas na opção «sem opinião».

Alteração no regime de comentários

O Esquerda Republicana tem funcionado tolerando todo o tipo de comentários, inclusivamente de autores anónimos «sem identidade». Sendo o sistema mais aberto que é possível, tem no entanto consequências negativas. A partir de hoje, os comentários só serão possíveis para «usuários registrados», o que, se mantém a possibilidade, tão querida de alguns comentadores, de serem anónimos (usando uma identidade falsa), vai no entanto, espera-se, melhorar a qualidade dos debates.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Revista de blogues (17/6/2010)

  1. «Como explicar que trinta anos depois, com um país mais moderno e desenvolvido os jovens vivam pior e com menos expectativas do que no final dos anos 70? (...) A queda do muro de Berlim levou muitos a achar que não havendo medo do papão comunista podiam dispensar-se os direitos sociais, a globalização levou os nossos empresários a exigir a igualização das regras do mercado de trabalho com a das economias asiáticas, a crise financeira mais recente desencadeou mais uma vaga de propostas que apontam para a destruição da sociedade que o equilíbrio social construiu ao longo de décadas.» (O Jumento)
  2. «1) foi lançada uma guerra contra o euro; 2) o ataque fez-se pelos elos mais fracos - Grécia, Portugal, Espanha; 3) estes países são governados por partidos socialistas; 4) os grandes países e economias da Europa são governados pela Direita; 5) a União Europeia não sabe reagir de forma firme e unida à “guerra”; 6) em vez disso tudo indica que aproveitará a situação para destruir o estado social como se de uma fatalidade se tratasse; 7) das reacções egocêntricas alemãs ao reforço dos nacionalismos de Direita em vários países, o clima é anti-europeu; 8)nem mais democraticidade no processo de construção europeu, nem mais integração ou reforço do governo económico estão à vista.» (Jugular)

Um com consciência

Sabe bem ver que ainda há pessoas de bem entre os políticos. Mandaram-me esta intervenção do Daniel Cohn-Bendit no Parlamento Europeu. Vale a pena ver.

Ai, Bagão!!!...

Cem mulheres católicas (lideradas pela incansável Isilda Pegado) escreverão a Bagão Félix rogando-lhe que se candidate a Presidente da República. E a leitora, já enviou a sua cartinha?

Burca: uma tomada de posição laicista

  • «(...) La burqa, loin de n’être qu’un vêtement exotique ou coutumier, est un uniforme qui a pour fonction de proclamer la condition inférieure et la soumission de la Femme, imposée ou acceptée. En France, elle constitue une insulte symbolique envers les trois termes de notre devise :

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O cavalo de troia

Deus aponta...


...e não falha! :o)

Aqui fica um aviso aos incréus que pensavam que a vista já Lhe vai faltando – sobretudo depois do ataque falhado a New Orleans, onde o furacão Katrina matou os habitantes do bairro ao lado do bairro dos bares e dos desfiles de teenagers com as mamocas ao léu. Aqui fica a prova: Deus ainda tem o Olho e a Mão certeiros.

38 anos para reconhecer a barbárie

Acho interessante quando sou confrontado com opiniões que dão o Reino Unido como uma democracia exemplar. Ontem, 38 anos depois, um Primeiro Ministro britânico reconhece finalmente o bloody sunday, um massacre de cidadãos que manifestavam desarmados por um regimento de para-quedistas britânicos. Isto não é aceitável em democracia e ainda muito menos numa democracia exemplar.

Quem acompanha a política britânica sabe que assim que se passa do território da Inglaterra para os restantes territórios do Reino Unido os atropelos à democracia são frequentes. A não reunificação da Irlanda - a reunificação era uma promessa dos acordos de independência - é uma mancha na história da Europa que continua a ser alimentada por hooligans orangistas ao serviço de Sua Majestade. Para cúmulo, o contribuinte europeu ainda tem que pagar um programa de pacificação da Irlanda do Norte: o programa PEACE II. Ironicamente, o contribuinte europeu tem a seu cargo os custos da exemplaridade da democracia britânica.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Proibição das burcas em Espanha

Depois de Lérida, seguiu-se Tarragona, seguir-se-á Barcelona e ainda Coín (em Málaga). Mais do que a laicidade, o pretexto invocado são os direitos das mulheres e a necessidade de as pessoas estarem identificáveis nos serviços públicos. Estas restrições do uso dos véus integrais aplicam-se apenas nos serviços municipais, mas deveriam ser acompanhas, na minha opinião, da remoção de símbolos religiosos cristãos que se encontrem em edifícios públicos.

A crise ainda não chegou à Madeira

Nem as inundações, nem a crise: Alberto JJ, inimigo de sempre da demagogia e das restrições de despesas, não reduz os salários dos políticos regionais nem elimina a acumulação de pensões.

Com luvas e pinças

Eu sei que o assunto fede, mas há métodos que desqualificam quem os usa (e quem se aproveita deles), e a única maneira de prevenir o seu abuso futuro é denunciá-los no presente.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Cissiparidade

Sou ambivalente quanto a fenómenos como o independentismo da Flandres. Os povos têm direito ao seu próprio Estado, é claro (embora nem todos concordemos no que constitui um «povo»). Por outro lado, sentimentos como a obsessão pelas raízes, a glorificação da língua materna, a hostilidade aos vizinhos ou o egoísmo fiscal dos ricos nortistas que não querem sustentar os sulistas que falam outra língua, são outras tantas paixões que em política me parecem pouco aconselháveis.

Psicologicamente, flamengos e valões já estarão divorciados há muito. Ontem deu-se mais um passo para formalizar a separação. Quando os separatistas atingem os 45% na Flandres (incluindo o maior partido nacional, com 30% localmente), a questão pode ter deixado de ser o «se» para passar a ser o «quando».

O que acontecerá, presume-se, sem dramas. Mas uma Europa que em duas décadas viu surgir dezassete novos países não parece parar num processo que, lá por 2030, talvez nos aproxime das setenta bandeirinhas nacionais. Quem sabe não ficaremos por aí: o sonho de muitos é fazer de cada bairro ou aldeia um Estado independente.

domingo, 13 de junho de 2010

Tradições «Académicas»

Não simpatizo com as tradições académicas.

Não devo dizer que lhes seja declaradamente hostil. Na verdade, nunca lhes dei muita importância, nem nunca fiz parte de um movimento anti-praxe. A sua existência não me revolta.

Sei bem que para muitos as praxes não correspondem a qualquer tipo de abusos, que quem as quiser rejeitar pode fazê-lo livremente (e se não as recusa, não por medo de violência mas sim por vontade de ser melhor aceite no grupo, temos pena, é uma decisão livre feita por um adulto), e que para muitos a "praxe" porque passaram foi uma ocasião divertida da qual guardam boas recordações, uma oportunidade de socializar, de conhecer os colegas mais velhos.

Sei que muitos vêem no traje um símbolo esteticamente apelativo, algo solene ao qual podem associar o muito de positivo que aconteceu ao longo do seu curso. Que a queima ou bênção das fitas é um ritual de passagem que evoca a importância do momento em que se deixou de ser um estudante para seguir para vida profissional, e que pode tornar essa transição importante num evento memorável.

E, assumindo que os abusos que já têm ocorrido nas praxes são a excepção e não a regra, podemos dizer que do ponto de vista material as tradições académicas são em si pouco relevantes. A minha razão para não simpatizar com elas é portanto estética, relaciona-se com todo o simbolismo associado.

Na verdade, as tradições «académicas» evocam, pelo seu simbolismo, um enorme espírito anti-académico.

Socialistas laicistas

Claro que não é em Portugal: o PSOE está a preparar uma Lei da Liberdade Religiosa (que deverá contar com o apoio da ERC) que garantirá a neutralidade do Estado em matéria religiosa, suprimindo símbolos religiosos em edifícios públicos, estipulando que as cerimónias oficiais não integrem actos religiosos (os funerais só serão religiosos a pedido das famílias), determinando que os militares só estarão presentes em cerimónias religiosas voluntariamente, e estipulando que as confissões religiosas serão consideradas «radicadas» em função da duração temporal da sua implantação e do número de locais de culto, sem necessidade da intervenção (que acontecia até agora) da Comissão de Liberdade Religiosa espanhola. A lei é um progresso para as confissões religiosas minoritárias, que gozarão de vantagens fiscais que não tinham anteriormente, mas, tanto quanto se entende, não se aplica à ICAR, que goza de um estatuto próprio.

sábado, 12 de junho de 2010

Aliança judaico-sunita contra xiítas

...Ou como o mundo é realmente complicado: rumores de que a Arábia Saudita terá garantido que deixa passar os bombardeiros israelitas quando forem bombardear o Irão.

Santana ou Bagão ainda podem ser candidatos

Parece que as homilias pelo país fora andam exaltadas contra Cavaco Silva, e dedicadas à análise política do não-veto cavaquiano. Bagão Félix ou Santana Lopes ainda poderão ser abençoados como candidatos presidenciais talassas. O clericalismo é isto: um candidato presidencial fabricado na missa.

Envelhecer bem

Creio que os adolescentes dos anos 80 conhecem estas duas quarentonas (i).

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Revista de blogues (11/6/2010)

  1. «Vem de longe a comemoração do dia em que Camões foi transladado para o Mosteiro dos Jerónimos, em 1880. Feriado nacional desde os anos 20 do século passado, a data ganhou um novo significado em 1944, quando Salazar a rebaptizou como «Festa de Camões e da Raça», por ocasião da inauguração do Estádio Nacional. Mais graves, e bem mais trágicos, passaram a ser os 10 de Junho a partir de 1963. Transformados em homenagem às Forças Armadas envolvidas na guerra colonial, eram a data escolhida para distribuição de condecorações, muitas vezes na pessoa de familiares de soldados mortos em combate (...). Desde 1978 que não é Dia da Raça e, para além de Portugal e de Camões, passou a festejar-se também as Comunidades Portuguesas.» (Joana Lopes)

Carga fiscal em Portugal é menor do que na União Europeia

Lida no Fado positivo, esta informação desmente aqueles que atribuem as desvantagens comparativas de Portugal face a outros países da UE à nossa alegadamente pesada carga fiscal. Passo a citar:

«Eurostat:
Em 2008, as receitas de impostos em percentagem do PIB foram de 37,7% em Portugal. Este valor é significativamente mais baixo que o da média da UE27, 40,5%, e a média da Zona Euro, 40,9%.
O relatório apresenta valores de 1998 a 2008, ficando-se a saber que Portugal teve uma carga fiscal abaixo da média consecutivamente nesses 11 anos.»

É verdade que é diferente a «carga fiscal» e o «peso do estado na economia», pois enquanto a primeira se refere às receitas fiscais, a segunda refere-se às despesas do estado. Mas não só é verdade que mesmo o nosso «peso do estado na economia» está muito próximo da média comunitária, como muitas vezes a alegação é mesmo feita em relação à carga fiscal. Os números falam por si, esperemos que sejam mais fortes que a demagogia e a falta de informação.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O 10 de Junho de António Barreto

Perfeitamente lamentável, o discurso de António Barreto hoje de manhã, nas celebrações do «Dia de Portugal». Acompanhei-o pela televisão, não na íntegra, e a comunicação social dá uma versão dirigida do mesmo.

Se concordo que os veteranos devem ser homenageados, no discurso que ouvi António Barreto insistiu que não haverá «ex-combatentes» (o termo não é neutro) «colonialistas», «fascistas» ou «revolucionários», como não os haveria «socialistas», «comunistas» ou «reaccionários». Não é verdade. Há os ex-combatentes que ainda hoje se vangloriam, em surdina, das mortandades em que participaram, e há os veteranos que se recusaram a torturar ou a participar em sevícias. Há os que continuam a pensar que a guerra colonial fez sentido e deveria ter sido continuada, há os que fugiram e há os que a fizeram contrariados (e há casos mais complicados ainda). Todos devem ser respeitados, é certo. Mas a República democrática não pode celebrar a 25 de Abril o fim da guerra colonial, e a 10 de Junho aqueles que pensam que o 25 de Abril foi uma traição. E não pode abdicar de julgamentos éticos em matérias fundamentais a pretexto de um patriotismo bacoco.

O discurso de Cavaco Silva, dirigido aos «portugueses» (não aos cidadãos e cidadãs) e insistindo nas «marcas» portuguesas espalhadas pelo colonialismo (já não há pachorra...), foi também mauzito. Eu nunca me sentirei mobilizado para homenagear uma «Pátria» intemporal (a-histórica), imaterial e quase metafísica. Sou cidadão de uma República e estou unido aos outros cidadãos por um contrato que é uma Constituição laica e democrática. Se deixasse de ser assim, já não valeria a pena.

O 10 de Junho deveria deixar de ser feriado nacional.

Quando não há laicismo, sobe a islamofobia

As eleições de ontem na Holanda castigaram principalmente o partido do primeiro-ministro, o democrata-cristão Balkenende, que perde 20 deputados. Num contexto de crise económica, a esquerda não beneficia: os trabalhistas e os socialistas têm perdas (-3 e -10), enquanto os liberais de esquerda e os ecologistas sobem (+7 e +3). As maiores subidas são dos conservadores (+9) e dos extremistas de direita de Geert Wilders (+15).

Previsivelmente, o próximo governo será, como sempre acontece na Holanda, uma coligação instável de dois ou três partidos do centro.

As eleições permitem entender que a esquerda, na Holanda como em quase toda a Europa, não encontrou ainda novas respostas nem à crise mundial causada pela financeirização da economia, nem à crescente agressividade do islamismo integrista. Na ausência de respostas social-democratas e laicistas, crescem os que querem acabar com o salário mínimo, eliminar impostos, expulsar muçulmanos e criar novos Guantánamos.

O 10 de Junho dos fascistas

Há 15 anos, um grupo de fascistas espancou pessoas no Bairro Alto e assassinou um português, pela razão única de ele não ser branco, nas proximidades do Largo Camões. Hoje, o PNR desfila entre o Largo do Rato e o Largo Camões, presumivelmente integrando no cortejo alguns dos protagonistas das violências dessa noite.

Dia da raça

 
O «Puro Sangue Lusitano».

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Regresso a Israel

Não sei se fui compreendido: o problema principal de Israel, no momento presente, é ser um Estado que existe para proteger uma religião e não todos os seus cidadãos, independentemente das suas convicções religiosas. Enquanto continuar a tratar uma parte da população como párias, Israel dificilmente terá paz. Não se pode ser simultaneamente uma democracia laica e um Estado judeu (ou católico, ou muçulmano...). A própria administração Obama já o terá compreendido.

Imunidade

Não entendo por que razão o PS mantém Ricardo Rodrigues deputado.

Daqui, sem poder e sem ânsias

É cómico ser acusado de «esquerdismo revolucionário» por alguém que, há menos de um ano, escrevia na revista da UDP(*). Ainda mais cómico é que esse mesmo alguém venha insinuar que «anseio o poder» (creio que queria insinuar que «anseio pelo poder»), quando apenas há sete meses era ele quem estava no blogue de campanha do PS.

Não lhe invejando portanto nem a coerência das ideias nem a gramática, não deixo de achar muito significativo que quem há um ano sugeria a ilegalização do PNR, e usava «ultramontano», «retrógrado» e «populista de direita» com sentido pejorativo, manifeste agora opiniões ultramontanas que fazem César das Neves parecer um moderado, e o PNR o seu voto natural. Seria já assim há um ano, por baixo da máscara?

(*) Trata-se, aparentemente, de outro Carlos Santos. O que não é o caso neste artigo.

terça-feira, 8 de junho de 2010

O anonimato e a responsabilidade

Se eu concordo que, como parafraseia a Shyznogud (nome real aqui), o que conta (principalmente) é o que se diz e não quem o diz, não deixa de ser verdade que quem diz deve assumir a responsabilidade do que diz. E o anonimato é uma fuga às responsabilidades. (Dito isto, não concordo que se faça uma lei para acabar com o anonimato nos blogues; mas acho que se deve fazer a pedagogia da responsabilização.)

Israel tem direito a existir?

Pergunta-se ali. Resposta: sim, direito a existir tem. Mas, enquanto não deixar de ser um «Estado judeu», duvido que exista em paz.

França: uma lei contra o anonimato nos blogues(!)

Não me parece que uma proposta de lei como a referida mereça ser aprovada, mas o problema que a origina é bem real: não há igualdade entre quem mostra a cara e quem a esconde atrás de uma máscara.

João Resina Rodrigues (1930-2010)

Estudante de Engenharia Química no Instituto Superior Técnico, tendo sido colega de curso de Maria de Lurdes Pintasilgo, viria posteriormente a ordenar-se sacerdote, tendo-se doutorado em Filosofia na Universidade de Lovaina. Regressou ao Instituto Superior Técnico como docente de História da Ciência, tendo testemunhado de perto as convulsões e crises académicas da escola antes de 1974. Ao mesmo tempo manteve sempre a atividade de sacerdote, sendo prior da Capela do Rato, que funcionava como lugar de reunião de católicos antisalazaristas. Por estas razões era elemento suspeito para o regime fascista, tendo sido vigiado pela PIDE durante as suas homilias e mesmo fora da igreja.
Já depois do 25 de Abril continuou como sacerdote e a dar aulas de física (História das Ideias e Mecânica Analítica) no Instituto Superior Técnico, tendo sido professor de grande parte dos elementos deste blogue. Das suas aulas recordo o profundo respeito pela diversidade de opiniões. Resina era um homem que sabia ouvir, e respeitava quem pensasse de forma diferente da sua. Nas suas aulas falava-nos do valor inquestionável da ciência (ele próprio foi cientista) e jamais se serviu da sua posição de docente no ensino superior público para qualquer tipo de proselitismo. Fazia questão de frisar que não estava interessado ali em saber se éramos crentes ou não.
A sua posição sobre o aborto, que podemos ler nesta entrevista a António Marujo, e que podemos sumarizar como “as leis do Estado não têm que traduzir a posição da Igreja Católica”, demonstram como um sacerdote católico pode entender o que é a laicidade. É pena que haja tão poucos assim.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

As escalas das escolas

Existem escalas para diversas grandezas, graças às quais nem todos os valores dessas grandezas são fisicamente equivalentes, podendo mesmo determinar valores críticos, abaixo ou acima dos quais certas aproximações podem ou não ser válidas. Por exemplo, a velocidade da luz representa uma dessas escalas (que determina se é válida a aproximação newtoniana ou se se tem de considerar a teoria relativista). A constante de Planck é outra (e determina se um sistema é quântico ou se é bem aproximado pela física clássica). Por que têm estas grandezas os valores que têm e não outros é algo que a física ainda não sabe explicar, mas seguramente as nossas vidas seriam bem diferentes se esses valores não fossem estes. (Quem quiser “imaginar” como tal seria pode ler “As Aventuras do Sr. Tompkins” de George Gamow.) Estes valores possuem, assim, um significado físico bem claro.
Menos claro é o significado da escala que o governo decidiu fixar para o tamanho mínimo (em número de alunos) para uma escola poder funcionar - 20. Mesmo assim, apraz-me perguntar aos opositores desta medida se concordam que tal escala deve existir, mesmo que eventualmente tivesse outro valor, ou acham que tal escala não deveria existir? A segunda hipótese corresponde a uma teoria sem escalas fixas. Para além de tal não existir na natureza ao nível fundamental, tal hipótese equivale a uma escola só com um aluno representar o mesmo que uma escola com cinco mil alunos. É isto mesmo que defendem?
Na primeira hipótese, a de concordarem com a fixação da escala mas não com o valor proposto pelo governo, podem propor outro valor e justificá-lo? Ainda não vi nada nesse sentido.

Cavaco compromete-se a passar férias em Portugal e a cortar nas visitas de Estado

Não basta falar, é necessário dar o exemplo.

Apocalipse

Hoje, casaram-se duas mulheres (uma com a outra).

Amanhã de manhã, casais heterossexuais catolicamente casados vão acordar e dizer: «o nosso casamento ficou destruído desde que as bichas do 2ºE se podem casar». Filhos vão entrar pelo quarto dos progenitores e dizer: «a nossa família ficou desestruturada e agora odiamos os nossos pais». Nos restaurantes, os empregados vão dizer para os patrões: «deixámos de lavar as mãos desde que entrámos numa sociedade porcalhona». Nas empresas, o absentismo vai aumentar porque o totalitarismo do orgasmo fala mais alto. Numa feira de acessórios sexuais, a presidente do Clube das Virgens vai dizer «fiquei com vontade de usar lingerie sexy».

À tardinha, vão chover rãs e o sol vai parar no céu. Nascerão galinhas com dentes, crianças com cauda de diabo e monstros disformes errarão pelas ruas. A electricidade vai faltar, os rios correrem da foz para a fonte, as maçãs caírem para cima e os porcos ganharão asas. Será o apocalipse. Porque mais pessoas podem fazer o que querem.

A pirueta de Fernando Nobre

Fernando Nobre, quando lançou a sua candidatura, foi assinalado como monárquico. Numa entrevista de Fevereiro, respondeu:
  • «Era monárquico? Pertenci há uns anos à Causa Real. Já não pertence e já não é monárquico? Sou simpatizante.»
Passam-se três meses e a resposta é esta:

domingo, 6 de junho de 2010

Revista de blogues (6/6/2010)

  1. «"Yeah, we waterboarded Khalid Sheikh Mohammed," disse o ex-presidente dos EUA no Economic Club de Grand Rapids, Michigan. Ora os Estados Unidos, pela pena de Ronald Reagan, assinaram  a convenção da ONU sobre tortura. E Bush admitiu ter autorizado a tortura de pelo menos um prisioneiro. Ou seja, admitiu publicamente ter violado o artigo 2 da convenção» (Palmira Silva)
  2. «Recebi por email a notícia que o Conselho Pontífice para a Cultura vai encetar um “diálogo aberto” entre o Vaticano e os ateus, «criando uma fundação para focar as relações com ateus e agnósticos». À partida a ideia é boa. (...) A iniciativa responde ao desafio do Papa para que a Igreja Católica venha «renovar o diálogo com homens e mulheres que não acreditam mas que querem aproximar-se de Deus». Parece-me que será uma amostra pequena e tendenciosa do universo de ateus e agnósticos. (...)

Devem os véus integrais ser proibidos?

Eis o novo inquérito do Esquerda Republicana.
Pergunta: devem os véus integrais ser proibidos?
Respostas:
  • Sim, em toda a parte
  • Sim, mas só nos serviços públicos
  • Não, mas o seu uso incomoda-me
  • Não, e o seu uso não me incomoda
  • Sem opinião
Como sempre, agradece-se a participação dos leitores. O inquérito está na coluna da direita, no topo.

Pode votar-se até dia 16 de Junho.

Resultados do inquérito: a Comissão Europeia deve poder vetar os orçamentos nacionais?

À pergunta «a Comissão Europeia deve poder vetar os orçamentos nacionais?», uma maioria dos participantes (54%, 39 votos) responderam que não, não deve poder vetar, 38% (27 votos) responderam que sim, deve poder vetar, 4% (3 votos) responderam que não sabiam, e 4%  (também 3 votos) que lhes é indiferente.

Participaram 72 leitores do Esquerda Republicana.

sábado, 5 de junho de 2010

Mais propaganda monárquica?

Anuncia-se que a RTP produzirá quatro mini-séries para assinalar o centenário da República. Recordo-me logo da série «O dia do regicídio», produzida em 2008, em que os republicanos foram representados como uns demagogos, violentos e sem razões, os monárquicos como uns anjos, cordatos e cultos, e a repressão franquista como inexistente. O actor monárquico Virgílio Castelo compôs um tribuno republicano do qual se insinua que teria mandatado o regicídio, e que chega a beijar a pistola do crime. Rigor histórico: zero. Equilíbrio: nenhum. No momento do regicídio, o ridículo total: a realeza sangra e sofre, os regicidas não soltam uma gota de sangue.

Espero que desta vez a RTP não esteja a programar mais propaganda monárquica.

Assumir responsabilidades

George W. Bush assumiu que mandou torturar Kalid Sheik Mohamed, deu detalhes do método usado e disse que voltaria a fazer o mesmo (mas não explicou se aceitaria de bom grado que lhe fizessem o mesmo).

Será que um dia veremos José Sócrates assumir que mandou a escumalha do Forte da Ameixoeira torturar Sofiane Laib num calabouço do leste da Europa?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Quando dois errados têm que fazer um certo

Manuel Alegre é acusado pela ortodoxia rosa de «se ter disponibilizado» para trabalhar para a «derrocada do PS», e é acusado pela ortodoxia vermelha de «não cumprir a sua missão» de «romper e fragmentar o PS». O que é demais para Tomás Vasques é de menos para Carlos Vidal. São perspectivas incompatíveis.

É evidente que Manuel Alegre cometeu um erro terrível: não ficar quietinho a gozar a sua derrota com (algum) sabor a vitória de 2006, e ter voltado ao terreno, promovendo conferências e editando revistas, animando redes de activistas e estabelecendo pontes com outros sectores políticos. Nunca um candidato presidencial saíra tão fortalecido de uma derrota. E nunca um candidato presidencial deixou tão claro que encarava a derrota como apenas uma batalha perdida numa guerra longa.

Teria sido preferível que se calasse e distanciasse, planando pela Assembleia da República e aguardando um apoio institucional do PS, qual medalha de bom comportamento? Até podia ser preferível. Mas não seria a mesma coisa.

Alegre, em 2010 como em 2006, continua a ser insuportável para os sectários do comunismo e do anti-comunismo. Mas uma vitória em 2011 não será possível sem o apoio, também, destes e daqueles. E é esse o desafio.

É uma chatice a PIDE ter acabado

Porque agora há quem não possa seguir a sua vocação. Resta o SIS, é verdade, mas talvez não satisfizesse as expectativas...

Endividar-se é tão fácil como jogar à bola

Por estes dias, a banca, o sector que mais responsabilidades tem nesta crise, inunda-nos de publicidade alusiva ao Campeonato do Mundo de Futebol para nos vender a mesma banha da cobra, mas desta vez bem mais cara e embrulhada na camisola da selecção. Vamos todos abrir contas com a mesma facilidade com que o Ronaldo dá toques na bola, embora essas contas comportem despesas correntes mais caras sem qualquer justificação. Vamos todos comprar carro, casa, tralha para a casa e obviamente receber o ordenado meses antes de ser pago, tudo isto com a mesma facilidade com que o Nani dá cambalhotas após cada golo, embora com juros mais altos...
As ilusões e o facilitismo que a banca tem vendido aos seus clientes nas últimas décadas continuam presentes na publicidade sem qualquer decoro, desta vez num clima de cinismo completo. O mesmo contribuinte que já está a pagar através dos seus impostos os roubos perpetrados pelo sector financeiro está a ser aliciado pelos bancos (muito poupados pelas medidas restritivas) a continuar a endividar-se, mas desta vez a preços bem mais elevados. É um conceito interessante em que se pede ao cidadão que pague para poder ser roubado pela segunda vez e se concede uma espécie de amnistia a quem rouba.

Polícia: basta de abusos!

Já aqui escrevi que entendo que uma polícia bem preparada e ao serviço dos cidadãos é essencial num estado de direito, pelo que não alinho facilmente em críticas demagógicas, que partem quase sempre de setores que defendem que não deveria haver polícia nem estado.
No entanto, tudo tem um limite. Num estado de direito democrático, nada está acima da lei e ninguém está isento de críticas. A recente sucessão de maus tratos, violência e coação a cidadãos indefesos, portugueses e estrangeiros, é indefensável, e demonstra inequivocamente que algo está muito mal na nossa polícia, por muito más, difíceis e humilhantes que sejam as suas condições de trabalho. É a legitimidade da polícia que está a ser posta em causa, e a seguir será o estado de direito. Os sucessivos abusos de violência por parte da polícia são inaceitáveis. Está mais do que na altura de exigir responsabilidades ao ministro da Administração Interna. A bem da polícia!

A este respeito recomendo a leitura do editorial do Público que aqui disponibiliza a Shyznogud.

O primeiro casamento

Pioneiros no abolicionismo e no fim da pena de morte, esta segunda-feira voltamos a sê-lo na igualdade entre orientações sexuais. Às 9 da manhã, na Conservatória de Lisboa na Av. Fontes Pereira de Melo, Teresa Pires e Helena Paixão vão finalmente poder dar o nó passados 4 anos desde a primeira tentativa.
Parabéns às noivas!

P.S. uma hora depois começará o apocalipse social para o qual a Isilda Pegado nos alertou.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Um autor de telenovelas ganhou o Prémio Camões

Só foi o primeiro a conseguir tal prémio porque Dias Gomes morreu precocemente. Mas nem só poemas escreveu Ferreira Gullar...

Uma democracia pode matar indiscriminadamente?

Um argumento frequentemente usado em qualquer assunto relacionado com Israel, é que Israel é a única democracia na região. Eu não chamaria uma democracia plena a um país que não garante o mínimo dos direitos fundamentais a um extracto da sua população e que em 2009 aparece em 93º no índice de liberdade de imprensa dos Repórteres sem Fronteiras, mas mesmo que fosse.
Como é que o facto de ser uma democracia serve como atenuante para qualquer atrocidade cometida fora (ou mesmo dentro) das suas fronteiras? É um argumento tão parvo como afirmar que o João por ter melhores notas que o Pedro na escola, têm o direito de lhe dar pancada e roubar os brinquedos em casa.

Israel é uma democracia como as da Europa?

Tirando a Bielorrússia e os balcãs a norte de Tessalónica, não conheço nenhum país europeu em que se passem cenas destas.




No vídeo, a deputada árabe Hanin Zoabi tenta falar no Knesset (ontem) sobre a sua experiência na flotilha. Os deputados nacionalistas e conservadores tentam impedi-la e gritam-lhe que vá para Gaza (via Público).

Na morte de Rosa Coutinho

Vasco Lourenço, pela Associação 25 de Abril, repõe a verdade sobre Rosa Coutinho.
  • «(...) O seu profundo patriotismo leva-o a colocar sempre, acima de tudo, os interesses de Portugal.
    Por isso se empenha fortemente nas missões que lhe são cometidas, como militar de Abril, nomeadamente na Junta de Salvação Nacional, no Conselho da Revolução e na presidência da Junta Governativa de Angola.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Israel: traçar uma linha

Embora fosse sempre de uma brutalidade descabida, o ataque desta segunda feira até teria legitimidade se fosse perpetrado em águas de Israel. Mas foi-o em águas internacionais (e mesmo que fosse nas águas de Gaza, estas pertencem à Autoridade Palestiniana, sujeita a um bloqueio ilegal por parte de Israel). O governo israelita mostrou toda a sua crueldade, e mostrou também que não tem limites na sua atuação. Age sempre em total impunidade. Talvez isso esteja finalmente para acabar.
Se os atentados de 11 de Setembro de 2001 permitiram traçar uma linha entre os antiamericanos primários, para quem tudo vale desde que seja contra os EUA, e o resto das pessoas, proporcionando uma (creio que saudável) demarcação, o ataque ao navio turco permite fazer o mesmo em relação aos apoiantes incondicionais de Israel. Quem apoiar, entender, justificar uma atitude destas deixou de distinguir o bem do mal. Está totalmente cego pelo ódio. É isso que se passa com o governo israelita e, receio, com uma boa parte do povo que o elegeu. É isso que os torna perigosos para o mundo.
A diferença (bastante significativa, porém) entre os antiamericanos lunáticos e os pró-israelitas igualmente lunáticos é que nenhum dos primeiros pode escrever um pequeno naco de prosa como este e ser levado a sério. Os segundos podem. Podem repetir esta chantagem até à náusea porque ela até hoje, podem crer, faz efeito.
Dada a crueldade do mais recente ato de Israel, condenado mesmo por muitos dos seus tradicionais apoiantes (que felizmente não perderam totalmente a capacidade de discernimento), pode ser que essa velha chantagem deixe de fazer efeito. E pode ser que, graças a isso, Israel possa finalmente ser tratado como os outros países.

Adenda: o Arrastão tem coligido documentos interessantes. Destaco este muito interessante texto do Bruno Sena Martins.

A polícia é um perigo

Os casos multiplicam-se: turista inglês espancado pela polícia por tirar uma fotografia com o telemóvel.

Bagão reúne apoios

A candidatura de Bagão Félix à presidência da República contaria com o apoio do CDS de Paulo Portas.

Não sabendo rezar, faço um apelo público a quem o sabe fazer para que peça a «Deus» que abençoe esta candidatura.

O erro



O governo Israelita cometeu um erro estratégico, do qual deve estar amargamente arrependido. Veja-se isto e principalmente isto.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Israel e Palestina - um testemunho

O trauma de 2006 e a esperança de 2011

O apoio do PS à candidatura presidencial de Manuel Alegre não é (ainda?) unânime entre a esquerda moderada. Não é outro senão Mário Soares quem diz que Sócrates «cometeu um erro grave», e na blogo-esfera há quem jure, desde já, que não votará em Manuel Alegre.

Compreende-se. Não se perdoa a Manuel Alegre ter provado, em Janeiro de 2006, que tinha razão contra a socrática direcção do PS, que entendeu dividir a esquerda com a candidatura extemporânea de Mário Soares. Alegre, em 2006, concorreu sem o apoio de partido algum, e teve o melhor resultado de sempre para um candidato nessas condições.

Ou não se lhe perdoa, principalmente, não seguir a linha justa, verdadeiramente rosa, do Partido: o ter passado uma parte dos últimos quatro anos a demarcar-se do PS pela esquerda e a construir pontes com o BE. Eu, que nunca tive partido, confesso que tenho uma simpatia instantânea por quem se marimba nos directórios partidários, nos seus tabus e nas suas eminências pardas. E Manuel Alegre, que representa a ala esquerda da social-democracia, é alguém que compreendeu que o sistema partidário implantado pelo 25 de Novembro, ao excluir a esquerda «radical» do governo, desequilibra sistematicamente à direita um país que vota consistentemente à esquerda. Que tente ultrapassar esse bloqueio só abona em seu favor.

É possível a um candidato da esquerda vencer a eleição presidencial sem ganhar o centro político. E Cavaco venceu, em 2006, pela margem mais curta de sempre para uma eleição presidencial. Nada está decidido. E não serão os partidos que irão a votos em Janeiro. (Felizmente.)

Máximo histórico

O desemprego atingiu, em Abril, os 10.8%. É um máximo histórico. A média da UE é 9.7%, mas nós estamos à frente. Como sempre.