sexta-feira, 4 de junho de 2010

Endividar-se é tão fácil como jogar à bola

Por estes dias, a banca, o sector que mais responsabilidades tem nesta crise, inunda-nos de publicidade alusiva ao Campeonato do Mundo de Futebol para nos vender a mesma banha da cobra, mas desta vez bem mais cara e embrulhada na camisola da selecção. Vamos todos abrir contas com a mesma facilidade com que o Ronaldo dá toques na bola, embora essas contas comportem despesas correntes mais caras sem qualquer justificação. Vamos todos comprar carro, casa, tralha para a casa e obviamente receber o ordenado meses antes de ser pago, tudo isto com a mesma facilidade com que o Nani dá cambalhotas após cada golo, embora com juros mais altos...
As ilusões e o facilitismo que a banca tem vendido aos seus clientes nas últimas décadas continuam presentes na publicidade sem qualquer decoro, desta vez num clima de cinismo completo. O mesmo contribuinte que já está a pagar através dos seus impostos os roubos perpetrados pelo sector financeiro está a ser aliciado pelos bancos (muito poupados pelas medidas restritivas) a continuar a endividar-se, mas desta vez a preços bem mais elevados. É um conceito interessante em que se pede ao cidadão que pague para poder ser roubado pela segunda vez e se concede uma espécie de amnistia a quem rouba.

10 comentários:

  1. Mas a banca não obriga ninguém a endividar-se. A responsabilidade do endividamento excessivo é de quem se deixou aliciar, não é de quem alicia.

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  2. Também é de quem alicia. Um problema do liberalismo extremo é esse: só responsabilizar quem compra, e não também quem vende (e neste caso, de quem vende gato por lebre a prazo).

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  3. Ricardo,
    uma coisa é vender gato por lebre e isso deve ser regulado (o Banco Portugal aumentou o controlo sobre o marketing financeiro recentemente). Aqui estamos de acordo.

    Para lá disso, há o aliciamento "legítimo". Parece-me que muitas vezes o que está por detrás destas críticas são um preconceito sobre tudo o que cheire a mundo financeiro que acha que -independentemente da situação - a culpa é sempre da banca.

    Dito de outro modo, porquê responsabilizar a banca por quem se endivida e não responsabilizar os restaurantes pela obesidade?

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  4. Miguel,
    justamente. Não há publicidade favorável à obesidade. Até há instituições públicas que alertam para os riscos da obesidade. Com os bancos, é ao contrário.

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  5. Ricardo,
    basta ligar a televisão para ver publicidade a gelados, a hamburgueres, etc.

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  6. Sim, Miguel. Mas também tens escolas e educadores a alertarem para os riscos da obesidade, campanhas nacionais, etc.

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  7. Obviamente!
    E concordaria se defendesses campanhas semelhantes contra o excesso de endividamento.

    O que está em causa é culpar a banca por isto, e não se culpar a restauração pela obesidade. É aqui que vejo o preconceito cego (passe o pleonasmo) anti-banca.

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  8. Então estamos de acordo: Estado e instituições deveriam ser mais pro-activos contra o endividamento excessivo.

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  9. Eu não culpo os bancos pelo endividamento excessivo, tal como não culpo os restaurantes pela obesidade.
    Presumo que culpes os primeiros mas não os segundos.

    É aqui a discórdia. :)

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  10. Miguel,
    eu não culpo exclusivamente os bancos pelo endividamento excessivo. Mas também não culpo exclusivamente os toxicodependentes pelo seu vício.

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