- «O poder de um ditador dificilmente se pode chamar república. Poder de 1 = mono + arquia. (...) Uma República que não tem eleições livres, que não tem separação de poderes e que tem um ditador vitalício, a que só uma cadeira teve a coragem de pôr fim, é uma impossibilidade conceptual. O fascismo português, baptizado de «corporativo, democrático-orgânico e anti-parlamentar» como então se aprendia no 7.º ano dos liceus, na OPA, é o que queiram chamar-lhe mas, na minha opinião, não foi república.» (Ponte Europa)
- «É, com efeito, muito simples: se proibimos o desrespeito - de bom ou mau gosto - pela homossexualidade, como não o proibiremos pela sexualidade em geral? Se o proibimos pelo casamento homossexual, como não o proibiremos pelo casamento tout court? Ou pelas convicções políticas e religiosas? Ou pelas tradições culturais?» (Vias de Facto)
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
"E, avançando um pouco mais, se proibimos a expressão de concepções politicamente incorrectas, que têm como corolário, a serem aplicadas, a opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano, a quem confiaremos senão às autoridades do Estado a definição da correcção política, legitimando o seu poder de limitar a liberdade ao que a sua autoridade entender como correcto?"
ResponderEliminarSe recomendas um texto, mesmo que só destaques uma parte, estás a recomendá-lo todo. Tu concordas mesmo com o que eu transcrevi acima, Ricardo?
O Miguel Serras Pereira tem vindo a ser criticado (mesmo dentro do seu próprio blogue) por algumas enormidades que escreveu hoje. Este texto, naturalmente relacionado com o outro criticado, nomeadamente o trecho que transcrevi, não lhe fica atrás.
"Para não irmos mais longe, uma porção não despicienda de criações discursivas que foram obra de homossexuais não escaparia à aplicação dos critérios de censura que seria necessário legitimar para criminalizar as cantigas imbecis do tipo atrás referido. Como não escapariam à censura muitas das canções de Brassens, que tão frequentemente tomam por alvo tanto as versões puritanas como as reciclagens fracturantes da servidão voluntária e da imbecilidade auto-satisfeita do "sexualmente correcto"."
O Carlos Vidal não diria melhor.
Sim, Filipe, estou de acordo com todo o texto, embora só tenha citado a parte que me pareceu mais importante (para mim). Poderia também ter transcrito esta parte:
ResponderEliminar«É assim que a avidez de direitos particulares, muitas vezes redobrada pelos apetites das discriminações positivas, abre caminho à erosão e restrição da concepção democrática dos direitos de cidadania, e, no caso em apreço, à censura generalizada.»
Fundo da questão: o Quim Barreiros tem o direito de cantar canções de mau gosto, e mesmo ofensivas. Proibi-lo de as cantar seria grave. E a seguir, exactamente com os mesmos argumentos, teríamos de proibir a «parada do orgulho guei», que para muita gente é de mau gosto e ofensiva.
E o que tem o Carlos Vidal a ver com isto?
A referência ao Vidal tem a ver com a apologia da pureza da arte, neste caso do Brassens. Isso é o menos importante.
ResponderEliminarA verdade é que eu discordo (e não é pouco) de muitos pontos deste texto.
Eu leio o primeiro parágrafo que transcrevi e não quero acreditar. Prefere "a opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano" a confiar às "autoridades do Estado a definição da correcção política, legitimando o seu poder de limitar a liberdade ao que a sua autoridade entender como correcto?"
Para além de que muitos dos direitos em questão não são "particulares". (Eu nem gosto muito de discriminações positivas.)
Atenção. A questão fundamental do texto do MSP (parece-me a mim...) é a defesa da liberdade de expressão. Não é a defesa da «opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano». É a defesa da liberdade de expressão desses pontos de vista.
ResponderEliminarPois, Ricardo, e ele defende uma liberdade de expressão total, mesmo que implique "a opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano". O texto é honesto, mas eu não estou nada de acordo.
ResponderEliminarFilipe,
ResponderEliminarvou repetir-me: o que esse texto defende é a liberdade de expressão para quem defende «a opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano». Não defende a dita «a opressão ou discriminação de certos grupos ou mesmo do conjunto do género humano». Eu também acho asqueroso o que defendem, por exemplo, os negacionistas, mas acho que não devem ser criminalizados por negarem factos históricos.